segunda-feira, 28 de maio de 2012

Um histórico longo de juros no Brasil

Quando se estuda juros e inflação no Brasil (ao menos no mercado financeiro), costuma-se usar a conveniência de assumir que a história começa em 1994 (após o Plano Real) o que torna os dados bem mais tratáveis e compreensíveis. Meu lado masoquista está tentando montar uma base de dados mais longa. Até agora consegui montar o frankenstein abaixo, juntando dados de diversas fontes. Quem souber de uma base melhor, pode indicar nos comentários, agradeço antecipadamente.

Update: O atento e paciente Irineu de Carvalho Filho percebeu uma barbeiragem que eu fiz no tratamento dos dados e gerou grandes distorções no período de juros mais altos. Para os pacientes: eu estava aproximando os juros de cada ano pela média simples dos juros anualizados diários, ao invés de gastar mais três minutos criando um número-índice acumulando a variação efetiva diária. A aproximação funciona muito bem para números pequenos, mas se perde totalmente com as taxas malucas do fim dos anos 1980 - início dos anos 1990. Como penalidade, acabo de perder uma hora refazendo os gráficos e tabelas. Há uma lição de moral aqui.




Update: corrigi o cálculo do juro real para o determinado na equação de Fisher. Agradeço os que apontaram isso nos comentários:


Curioso ver a longa história de 35 anos de juros reais negativos, a maluquice entre o calote de 1987 e o Plano Real e o posterior retorno à sanidade, ao menos olhando para a ordem de grandeza.

21 comentários:

Fernando disse...

Qual a explicação dos juros reais negativos durante todo esse tempo?

Drunkeynesian disse...

Boa pergunta, e não tenho tanta segurança para responder. Imagino que seja algo deliberado, como a Argentina tem feito, mas é só um chute. Também não sei dizer o quanto essas taxas eram representativas para a economia no passado.

Anônimo disse...

Muito boa a iniciativa, mas acho que pode ter algum erro metodológico no período 87-96, em virtude da escolha das séries.

explica isso melhor, por favor.

IPCA, é dezembro sobre dezembro? ou seja, acumulado em 12 meses no último mês do ano? Ou você usou a média de um ano sobre a média de outro ano?
porque isso pode fazer diferença quando a inflação fica muito alta em um mês no meio do ano, mas depois diminui até dezembro.

e a selic? é em frequencia diária ou mensal? o que você usa para a taxa do ano? a taxa no último dia do ano? a média das taxas anuais?

acho que com as taxas altas como tivemos no período, isso distorce muito as coisas.

mas esse tipo de empreitada é muito interessante.

Drunkeynesian disse...

Sim, IPCA é acumulado em 12 meses em Dezembro.

Os dados de juros que peguei são média simples das taxas diárias ao longo de um ano. O Homer fala que os números dele são taxas médias, mas não especifica a frequência.

De fato, deve ter muitas distorções... Entre 1987 e 1996 é o caos, difícil acreditar que o juro real ficou tão alto - mas talvez o mercado fosse tão disfuncional que a taxa não quer dizer muita coisa. Depois vou tentar recalcular usando um histórico de poupança, juros que efetivamente eram pagos. Vou atualizando aqui.

Fernando Antônio Hadba disse...

Sobre o juros reais seria interessante fazer a série ex-ante e ex-post, mesmo que para isso usasse o ex-ante com base na última inflação divulgada e o ex-post com o número verdadeiro do mês. Acho que a série mostrará mais números negativos com a forte aceleração inflacionária dos 70 e 80s.

Delfim Bisnetto disse...

Primeiro teríamos que ver o que exatamente Homer e Silla tomam como "taxa de um dia do Banco Central" antes da constituição do mercado aberto que é posterior a 1964.

Acho que se baseia no art. 1062 do código civil de 1916, que estabelecia os "juros moratórios" e os "juros devidos por força da lei" em 6% ao ano. Era a base da lei da usura, que permitia cobrança de juros de no máximo o dobro dessa "taxa básica".

Na Reforma Bancária de 1964, as instituições do sistema financeiro foram excluídas da lei da usura (que vige até hoje), o que explicaria um aumento das taxas no "mercado"...

Drunkeynesian disse...

Boa dica, Fernando. Vou considerar pra quando refinar a série.

Bisnetto, no livro do Homer não tem muita pista da fonte. Ele cita IMF, International Financial Statistics. Sua observação faz sentido (eu não sabia desse "tabelamento" entre 1916 e 1964), e, de novo, ficamos para descobrir se essas taxas tinham alguma correspondência no mundo real.

Andre disse...

Parabéns pelo belo trabalho de "arqueologia econômica". Todo esforço pra desenterrar a história econômica do brasil é louvável. Tantos planos mirabolantes, cortes de zeros, milagres, gatilhos... Não é nada fácil.

Abs

Anônimo disse...

esses juros reais de 1990 não podem estar certos.

Drunkeynesian disse...

Data is dumb... é o que mostra a série do BC. Concordo que faz pouco sentido, vou tentando achar alternativas melhores.

Paulo Roberto de Almeida disse...

O que eu gosto deste site é colocar graficamente uma série estatística.
Fica uma história emocionante, daria até para fazer uma cronica a la Nelson Rodrigues, com frases retumbantes.
Pena que a realidade foi muito pouco sorridente nesses anos de caos econômico.
Mas hoje temos um legítimo herdeiro dessa fase maldita, um verdadeiro seguidor de seu mestre Celso Furtado, o ministro que se diz das Financas, e para quem um pouquinho de inflação não tem importância, desde que tenhamos crescimento. Estamos recuando, pelo menos mentalmentem para esses tempos tenebrosos...
Paulo Roberto de Almeida

Michel disse...

Achei estranho esses juros negativos ao longo das décadas de 60,70 e 80, pois o Brasil tinha a chamada ORTN, criadas na reforma monetária de 64, que obrigava o governo reajustar suas obrigações de acorda com a inflação. Apenas com Sarney as ORTNs foram substituídas pelas OTNs.

Samuel disse...

Acho interessante esse levantamento de dados. Todavia, a taxa real é calculada não por diferença entre a taxa de juros e a inflação e sim pela relação:

r=(1+i)/(1+j) -1 em que r é a taxa real, i a taxa de juros e j a taxa de inflaçã

Drunkeynesian disse...

Samuel, eu já vi o cálculo dos dois jeitos, e, honestamente, não sei o que determina qual é mais apropriado - talvez tenha a ver com o regime de capitalização. Vou tentar me informar.

Jorge Browne disse...

DK, a fórmula que o Samuel mostrou é a correta para calcular relação entre percentuais.

Exemplo: i=100% e j=80%; taxa real (r) de 20%?; não, r=11,11%. Em séries longas isso faz uma baita diferença.

Drunkeynesian disse...

Mas eu já vi (para os EUA, que usam juros simples) a conta feita como um menos o outro. Vou dar uma olhada na literatura.

Drunkeynesian disse...

Vocês têm razão, vou corrigir as séries acima - http://en.wikipedia.org/wiki/Fisher_equation

Agora preciso descobrir onde vi a conta simples de um menos o outro.

Samuel Hazzan disse...

Parabéns pelo artigo.

O problema com a fórmula de Fisher é que quando se trabalha com taxas contínuas de capitalização, então a taxa real contínua é igual à taxa de juros contínua menos a taxa de inflação contínua.
Todavia para se achar uma taxa contínua é necessário se aplicar a fórmula: k = LN(1+i) e k´=LN(1+j) em que k e k´são a taxa continua de juros e k´a taxa contínua de inflação e i e j as taxas efetivas de juros e inflação.

Assim, fica mais fácil como você fez agora trabalhando direto com as taxas efetivas de juros e inflação, junto com a relação de Fisher , r = (1+i)/(1+j)-1.
Samuel Hazzan

Anônimo disse...

Muito Bom, valeu Drunk!!!

Unknown disse...

Drunk,

Que taxas de juros nominais vc usa no período mais antigo? Havia a lei da usura no Brasil que impunha um cap as taxas de juros nominais.

gjmb disse...

olá, como vai? Eu quero usar o série q vc produzeu aqui pra minha dissertação. 1) tá bom com vc? 2) como debo o citaria? obrigado, Griffin McCarthy Bur