sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Férias 2012

Kinds of Blue
Chegou aquela época do ano em que este humilde escriba tira o cabo da tomada e se enfia em algum canto inóspito do mundo. O blog fica hibernando até o meio de Setembro. Caso sintam saudades (mãe?), podem ler a resenha que fiz para o Amálgama do livro sobre pensamento econômico da Sylvia Nasar, que acabou de ser lançado por aqui. Também há dois posts meus programados para o blog do GES ao longo do mês, passem por lá. Sjá þig fljótlega!

Som (pré-férias) da Sexta - Kaizers Orchestra

Banda norueguesa, som de qualquer lugar.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Frases do Dia - Uma Distopia Carioca

Ilustração: Pedro de Kastro
Naqueles primeiros anos da década de dez, a cidade começava a se perder de vez para alguns de seus velhos moradores. Quem não tinha como pagar pelo Novo Rio era varrido aos subúrbios escuros e calorentos que seguiam crescendo viroticamente ao longo das sucateadas linhas de trem nos bairros fora do cinturão olímpico. O preço dos imóveis dentro do pequeno colar de pérolas delimitado pelo mar e pelo Maciço da Tijuca passou a ser regulado pelo mercado internacional, em desproporção com o poder real de compra de seus habitantes: em 2013, o aluguel de um conjugado de trinta metros quadrados em um prédio superpopuloso nos tenebrosos corredores de concreto de Copacabana era igual ao de um apartamento similar em Paris ou Nova York e o dobro de outro em Berlim ou Lisboa. 
Em pouco mais de três anos entre a primeira e a segunda década do século XXI, o mesmo processo econômico que fez os preços dos imóveis se multiplicarem por dois ou quatro transformou o real na moeda mais sobrevalorizada do mundo. Nesses tempos, o consultor financeiro de Tomás Anselmo lhe telefonava girando o dedo num copo de uísque com soda e muito gelo às cinco da tarde para dizer coisas como "Olha, meu caro, eu vou jogar todo o investimento no DI e a rentabilidade colocamos naquele fundinho de ações, eu tenho conversado com o pessoal do Factual e eles têm sido obscuros sobre o mercado, então é papo de proteger o seu principal e só tirar a rentabilidade de um fundo de renda fixa". 
Menos informados, nativos de todas as idades arregaçavam as gengivas para repetir orgulhosos as manchetes do New York Times e do Guardian sobre o crescimento e o aumento do custo de vida no país - sem desconfiar ou esquecendo propositalmente que a abundância de dinheiro era a mesma que financiava empréstimos de risco, os negócios de célebres megapicaretas e que drenava a competitividade da indústria. Quando a Economist publicou em novembro de 2009, pouco depois que o Arcanjo Gabriel anunciou a Profecia Olímpica, que o Brasil em algum momento da década "posterior a 2014" seria a quinta economia do mundo, superando o Reino Unido e a França, que o único risco do Brasil, dali em diante, seria o orgulho excessivo, que o Brasil, ao contrário da Índia, não tinha conflitos étnicos e insurgentes, que o Brasil, ao contrário da China, era uma democracia, e, ainda, que o Brasil, ao contrário da Rússia, exporta mais que petróleo e armas, acreditou-se que o futuro do pretérito havia chegado. 
Anos depois, Tomás Anselmo diria com os olhos embotados: - A edição da Economist com o Cristo Redentor decolando na capa foi o início da nossa derrocada. Eles penduraram essa revista nas paredes dos escritórios da cidade inteira, como um quadro num altar. A maioria nunca leu o especial de vinte páginas sobre o futuro mágico do Brasil, mas tinha aquilo enquadrado. Que semanas! Que meses! Havia manhãs naquele tempo! Aceitaram aquela matéria como uma teofania, como se tivesse sido escrita não por um grupo de jornalistas gringos, com tentáculos ligados aos fundos de investimento do próprio Belzebu, mas por um apóstolo em êxtase transcrevendo a voz de trombeta de Deus lhe narrando o paraíso e mandando que enviasse o texto às sete igrejas da Ásia. Acreditamos naquele momento que estávamos condenados à prosperidade - e infelizmente esse não foi o nosso último ato ingênuo. Antes a Economist houvesse reproduzido em suas páginas sobre o Brasil o apocalipse de São João, já que agora as coisas antigas desapareceram e tanta gente enxuga dos olhos toda lágrima, disso não há dúvida.

De Antes da Queda, capítulo de romance que está sendo escrito por J.P. Cuenca e está na edição da Granta dedicada aos jovens escritores brasileiros.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

QE or not QE?

Jackson Hole, sem Bernanke
Na próxima sexta-feira, espera-se que Ben Bernanke faça um discurso no simpósio anual do Fed de Kansas City, realizado no Buraco do Filho do Jão (vulgo Jackson Hole), um lindo vale no estado de Wyoming (uma vez, durante uma viagem, conheci um casal que vivia lá; ficaram muito espantados ao saber que eu já tinha ouvido falar - economistas...). Faço uma pausa, primeiro, para pensar sobre a situação: o mundo vai parar para ver um presidente de banco central falar em um simpósio acadêmico (foi criado para que economistas do Fed apresentassem seus trabalhos de pesquisa, inicialmente com foco em agricultura, depois abrindo para macroeconomia e finanças). Com base no que ele falar (ou não falar), milhares de participantes do mercado financeiro vão tomar decisões especulativas que, potencialmente, vão mudar o rumo dos preços de ativos para os próximos meses. Não importa muito se o que ele anunciar vai ter real impacto na economia e nos lucros das empresas, o que vale é a "sinalização" e a reação dos animais pavlovianos por trás das mesas de operações. Graham e Dodd se reviram nas respectivas tumbas; Keynes provavelmente ficaria espantado ao ver como o "concurso de beleza" hoje está resumido, grosso modo, a adivinhar o que (e quando) bancos centrais vão fazer.

A dúvida, neste caso, é se os indicadores da economia americana justificam mais um festival de impressão de dinheiro, sob o nome sofisticado de quantitative easing. A turma "pró-QE" alega que a economia ainda está muito frágil, com baixa criação de empregos, pouca criação de crédito e "espíritos animais" muito contidos. Se muito pouco é feito pelos políticos para estimular a demanda, que pelo menos o Fed faça sua parte. Os "anti-QE" (contem-me entre esses) podem dizer que os juros já estão no nível mais baixo da história, que não há ameaça deflacionária (o indicador mais confiável que conheço, a taxa forward de  inflação cinco anos x cinco anos, está bem acima do limite de 2%, que, quando ultrapassado para baixo, antecedeu o QE2 e a Operação Twist), que a medida pode afetar o resultado das eleições presidenciais e que é necessário deixar os mercados funcionarem, sem ameaça constante de intervenções que não se provaram inequivocamente efetivas no passado.

O duplo mandato do Fed e a credibilidade (merecida ou não) conquistada por Bernanke nesses anos de crise tornam plausível qualquer escolha. Desanima ver toda as atenções e discussões voltadas para política monetária, que se tornou a única ferramenta de intervenção viável e aceitável. Desanima ver o ceticismo do mercado, que sabe que os fundamentos no mundo desenvolvido são desanimadores e vem sendo guiado pela expectativa de muito ou muito mais tempo de dinheiro barato. Estranho o mundo onde ainda predomina a narrativa do laissez-faire, mas que aceita de bom grado intervenções que acabam por distorcer (e não raro fixar) preços de mercado.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Leituras da Semana

Legítimo representante do "nobre povo"
- Um caveat emptor para os compradores de ações no México.

- Pastore, Gazzano e Pinotti sobre a estagnação da produção industrial no Brasil.

- Dilma na capa da edição da Forbes com as mulheres mais poderosas do mundo.

- A Bloomberg descobriu a mulher mais rica do Brasil.

- PIMCO sobre a "japanização" do mundo desenvolvido.

- Timothy Garton Ash na Foreign Affairs sobre a história do euro.

- Uma história dos regimes de câmbio no mundo.

- O FRED, ótima base de dados do Fed de St. Louis, agora tem versões para tablets e celulares (sei lá, deve ter um tipo de pessoa que sente uma vontade incontrolável, durante um jantar, de checar como anda a criação de empregos nos EUA).

- Algumas coisas que é bom estudar caso queira discutir política externa a sério.

- Uma lista de leitura sobre economia comportamental, por Michael Mauboussin, da Legg Mason.

- Como se explica o sucesso da The Economist.

- Por que estudar Ayn Rand?

- Virou filme a história do ilustre desconhecido Aristides de Sousa Mendes: cônsul de Portugal em Bordeaux durante a Segunda Guerra, emitiu cerca de 30 mil vistos para refugiados (10 mil judeus, entre eles).

- Baroque Yo' Mama, judeu, nascido em Oslo, presidente dos EUA.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Segunda-feira

É o que temos para hoje.


quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Frase do Dia - pra variar um pouco...

"Investment is intolerably boring and over-exacting to anyone who is entirely exempt from the gambling instinct."

John Maynard Keynes, citado por David Denby no brilhante 7º capítulo de American Sucker. OK, zzzzzzzzz, de novo frase do Keynes falando de investimento, mas essa eu não conhecia.

Já que tocamos no tema, Gavyn Davies publicou um texto esta semana sobre o desempenho e o aprendizado de Keynes como investidor (ou pioneiro de várias técnicas comuns aos hedge funds de hoje), vale a leitura.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Gráficos do Dia - Lucky (and Expensive) Country

Estou cada vez mais convencido de um caso pessimista para a Austrália, sobretudo para a moeda (o índice de ações já parece razoavelmente descontado). Minha hipótese é que o momento favorável para termos de troca já acabou, e que a moeda está sendo sustentada sobretudo por compras de bancos centrais (como o da Suíça, notado pelo próprio BC da Austrália) - dinheiro que chega atrasado e é quase insensível a fundamentos e preço.

O caso dos termos de troca da Austrália é bastante parecido com o do Brasil, com a diferença fundamental da postura dos bancos centrais - daí ser possível imaginar que o dólar australiano é ainda mais sobrevalorizado do que o real. Veremos como anda nos próximos meses.

Gráfico do estudo recente da McKinsey

Gráfico do UBS, via FT Alphaville. Clique para aumentar.
Minério de ferro 62% Fe, porto de Tianjin, US$ / tonelada

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Leituras da Semana e Meia

Índia, 65
- O Spiegel acha que o Brasil é um país-modelo. Ouch.

- Mark Dow sobre as dificuldades dos fundos global macro.

- Uma lista de leituras para o verão europeu, por Barry Eichengreen.

- Nicholas Kaldor, há 41 anos, sobre a União Européia.

- A Companhia das Letras lança ainda esta semana a versão brasileira do livro de Sylvia Nasar sobre pensamento econômico. A Folha publicou um trecho e a resenha do NY Times. Eu havia resenhado aqui.

- John Kay sobre a abordagem de Keynes para probabilidade.

- 36 indicadores econômicos bizarros.

- Nassim Taleb acha que não é mais uma boa ideia trabalhar na indústria de investimentos.

- Uma retrospectiva da crise argentina.

- McKinsey sobre a Austrália.

- Começa a esquentar o debate pré-eleições nos EUA: Simon Schama e a escolha entre Franklin Roosevelt e Ayn Rand. A matéria de capa da última Newsweek, com Niall Ferguson panfletando para os republicanos. Entre as dezenas de reações, a de Noah Smith e o comentário de John Cassidy. Ezra Klein e o melhor caso contra o mandato de Obama.

- Jeremy Grantham sobre a crise de alimentos.

- O Oikomania faz um resumo sobre as hipóteses correntes para o desenvolvimento.

- As desigualdades regionais na Europa e uma boa reflexão sobre educação.

- Um manual do Brasil, pelo J.P. Morgan.

- William Easterly prova que as Olimpíadas não produzem medalhas.

- Os guias de viagens e suas concessões a tiranias.

- Como tem crescido o consumo de cerveja no mundo.

- Das Kapital em mangá.

- Caso não saibam, é proibido entrar com livros em estádios de futebol no Brasil.

- O Financial Times lê o quadro de medalhas das Olimpíadas de Londres.

- As 10 verdadeiras lições de gestão dos jogos.

- Sonny Rollins na New York Review of Books.

- A globalização segundo a revista Cosmopolitan (Nova, por aqui).

- Os bons tempos em que se podia beber no trabalho.

- Fotos dos 65 anos de independência do Paquistão e da Índia.

- Escândalo: o bolovo é uma invenção escocesa.

- Um grande dilema de lecionar.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O que ando lendo

E está difícil baixar essa pilha...

O Hedge Fund Market Wizards até que está andando. Com o The Most Important Thing estou brigando há muito tempo, acho que perdi a paciência com o tom professoral do Howard Marks. Expected Returns é mais obra de referência do que para ser lido na ordem, mas é muito muito bom.


P.S. Como disse nos comentários, a pilha acima é a que fica no escritório. A de casa é esta:


P.P.S. Ontem mesmo descobri (com seis anos de atraso) o Goodreads, e coloquei o aplicativo na coluna aí do lado. Agora os leitores podem praticar a saudável bisbilhotice literária em tempo real.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Som da Sexta - Altamiro Carrilho

O incansável Altamiro Carrilho tirou um descanso forçado esta semana. Grande perda, um dos maiores instrumentistas da nossa história.

Crise na Elbonia

Dilbert de hoje.


quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Brasil x México, dados e pitacos em 10 tópicos

"Ah, que saudades de ganhar do México, amigo!"
Galvão Bueno


Em algum momento nos últimos meses, o que chamamos de "mercado" tornou-se convencido que, entre as grandes economias da América Latina, bom mesmo é investir no México. Alguns exemplos:

- Is Mexico the new Brazil, no Financial Times
- Mexico Ousts Brazil As Investors' Top Choice In Latin America
- Why Investors Love Mexico
- Sorry Brazil, Investors Prefer Mexico
- Sorry Brazil, Mexico Is Better
- Can Mexico Overtake Brazil By 2022?
- Economia mexicana pode passar Brasil em 10 anos
- Brazil or Mexico?

Algumas dessas análises fazem sentido, outras não escapam da categoria de modismos passageiros. Compilei alguns dados para dar um contexto melhor para a história e ver se aparece alguma conclusão. Como bons dados, alguns confirmam supostas "obviedades", outros as desmentem. Aí vão:


1. Nos últimos 30 anos, histórias de crescimento de Brasil e México são parecidas - e não muito brilhantes

Separei em períodos arbitrários a história de crescimento dos dois países e do mundo nos últimos 30 anos: de 1981 até o fim da inflação alta no Brasil, em 1993; de 1994 até o início do ciclo de alta de commodities e de lá até o ano passado. O Brasil só cresceu mais que o México neste último período. Na média de longo prazo, os crescimentos são muito parecidos - e mais fracos do que o crescimento mundial:



Em termos per capita, nenhum dos dois países conseguiu fazer um catch-up consistente com os EUA, ainda que o México (em PPP) seja mais rico e esteja mais perto do seu melhor momento nos últimos 30 anos:


2. Ciclos de crescimento de Brasil e México tem sido muito distintos

Pelo gráfico abaixo, dá para perceber certa alternância nos períodos em que os dois países andam melhor ou pior do que o mundo. Não sei bem porque: talvez o ciclo aqui seja mais atrasado com relação aos EUA, ou talvez, grosso modo, o que ajuda a economia brasileira (commodities em alta?) atrapalha a mexicana. Se essa relação se mantiver e de fato estivermos perto do esgotamento do "modelo" de crescimento brasileiro dos últimos anos, o relativo deve ser mesmo favorável ao México:


3. Se EUA vão bem, México vai bem

A partir da implementação do NAFTA, em 1994, o México escolheu, no que diz respeito à economia, ser uma espécie de 51º estado dos EUA. A importância do comércio exterior para o PIB mexicano cresceu muito (enquanto o Brasil só viu algum aumento com o boom de commodities), sendo que hoje entre 80% e 90% das exportações são destinadas aos EUA. Para investidores de mercados emergentes, investir no México é a maneira de comprar a recuperação dos EUA com relação ao resto do mundo desenvolvido, o que, neste momento e antes de olhar para preços, faz todo sentido.



4. Composição das exportações dos dois países

Do fabuloso Atlas de Complexidade Econômica, dados de 2009, ajudam a esclarecer os itens anteriores:

México

Brasil

4. No relativo, México foi ficando muito, muito barato

Já tinha mostrado aqui um estudo do UBS que apontava para isso. Abaixo a evolução do câmbio real dos dois países nos últimos 10 anos:


5. Bolsas contam histórias muito diferentes...

Entre 2002 e meados de 2010, havia uma correlação muito alta entre os principais índices de ações do Brasil (Ibovespa) e México (IPC). Desde então, o Ibovespa tem patinado e o IPC seguiu fazendo novas máximas. Como boa parte do mercado se guia por performance passada, esse deve ser um dos fatores mais importantes para explicar o modismo atual:



6. ... refletindo as grandes diferenças em suas composições

Quem compra Ibovespa compra commodities, bancos e um pouco de consumo doméstico; no México, o peso de consumo é maior e há o "privilégio" de ser sócio de Carlos Slim na America Movil.


7. Investimento estrangeiro no Brasil vem de excessos

O volume de investimento estrangeiro direto que entrou no Brasil nos últimos três anos foi muitas vezes maior do que no México. Parte disso deve ser investimento em portifólio disfarçado para não pagar imposto; mesmo levando isso em conta, creio que boa parte desse dinheiro teve retornos bem menores do que o esperado pelos investidores - pelo movimento do câmbio ou pela dificuldade de gerar lucros no país. 


8. Economia do México maior que a do Brasil?

No ano passado, em dólares correntes, o PIB per capita do Brasil fechou perto de US$ 12.600, contra US$ 10.070 do México. Ajustando apenas pelos movimentos do câmbio neste ano (muito maiores do que as eventuais diferenças de crescimento de PIB e população), essa diferença deve cair de 25% para perto de 9% a favor do Brasil - historicamente é de 14% a favor do México, mas vamos aceitar que os 10 anos de bonança de commodities geraram algum benefício mais duradouro por aqui. 

Em 2020 o United States Census Bureau projeta a população do Brasil em 211,7 milhões e a do México em 124,7 milhões - Brasil quase 70% mais populoso. Para a economia do México ser maior que a Brasileira, seu PIB per capita em dólares tem que crescer, no período, 85% a mais do que o do Brasil, ou 8% por ano. Pelo crescimento, não vai acontecer. Pelo câmbio, só se ocorrer algum alinhamento de astros que faça com que o real fique muito desvalorizado com relação ao peso - não seria inédito (ocorreu entre 2001 e 2004), mas improvável que seja sustentável: se há algo em comum nos dois países é a baixa eficiência recente de suas políticas de desenvolvimento (quando existem).

9. Futebol

Em partidas das seleções principais, o Brasil jogou 37 vezes com o México, ganhou 21, empatou 6 e perdeu as demais.Ocorre que, em cinco finais disputadas, o Brasil perdeu todas (Copa Ouro 1996 e 2003, Copa das Confederações 1999, Mundial Sub-17 2005 e Olimpíadas 2012). Podendo, melhor evitar.

10. Conclusões

Há várias maneiras de interpretar o atual modismo, e provavelmente todas elas se completam:

- A mídia só agora se deu conta de algo que o preço das ações vem mostrando desde 2010: as companhias mexicanas estão melhor no concurso de beleza do mercado. Isso pode ser sinal de que o movimento está perto do fim (ou de uma pausa) - ver as regras de Bob Farrell # 1, 2, 5 e 9.

- Parte do mercado vive de vender em histórias. Por um bom tempo, a história mais vendável era a dos BRICs, da qual o México ficou de fora. Agora, parecendo menos plausível que a China e a Índia vão continuar crescendo a taxas altas sem interrupção e puxando para cima preços de commodities, há a necessidade de criar novos casos de sucesso. O do México é de fato interessante: a essa altura parece melhor apostar em temas ligados a uma recuperação dos EUA do que à manutenção do crescimento da China. Para ações porém, os preços não são evidentemente baratos, e embutem a certa euforia das manchetes que citei no começo do post.

- Os dois países estão longe de serem casos de crescimento acelerado, e assim devem continuar - são duas economias tentando fugir da "armadilha da renda média", com grandes dificuldades de promover reformas estruturais e investir. 

- Em dólares, o Brasil segue relativamente caro - mesmo com o movimento de 15% neste ano no câmbio reais x peso mexicano, os excessos da última década ainda estão longe de serem corrigidos. Para investimentos, isso, na minha opinião, é mais importante que qualquer consideração que se faça sobre perspectivas de crescimento futuro (sem levar em conta características específicas de setores ou empresas).

- Testei um monte de conclusões-clichê para esse post, não gostei de nenhuma. Fiquem com uma frase interessante que li hoje na entrevista de Martin Taylor, do Nevsky Fund, para o Hedge Fund Market Wizards:

"In an emerging market, the smart money is domestic, not international."

Não sei o que os mexicanos andam fazendo com o dinheiro, mas siga eles.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Os países mais saudáveis do mundo

A Bloomberg criou um ranking dos países mais saudáveis no mundo, com base em vários dados da ONU, Banco Mundial e Organização Mundial da Saúde. O Brasil está em 70º, perto da posição do país nos rankings de PIB per capita. Aqui um slideshow com os 20 primeiros, a lista completa e explicação da metodologia estão no pdf abaixo:


sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Som da Sexta - Tom Jobim

Pequena homenagem aos 100 anos de Jorge Amado, que seriam completados hoje.

Leituras da Semana

Still crazy after all these years
- Um bom trabalho do FMI sobre a eterna questão dos juros altos no Brasil.

- A performance de vários ativos nos cinco anos desde o início da crise.

- Saiu a lista de indicados para o prêmio de livro de negócios do ano pelo Financial Times. Vergonhosamente, ainda não li nenhum deles. A Diane Coyle, do The Enlightened Economist, montou sua própria lista.

- Um repórter do Spiegel, alemão nascido na Espanha, refaz a viagem de férias da sua infância e faz uma bela crônica da crise.

- Ezra Klein, do Washington Post, andou pelo Brasil e montou uma compilação interessante de dados sobre o país.

- Raghuram Rajan volta para a Índia, para um cargo que deve ser muito, muito difícil.

- O fim dos "milagres" de crescimento.

- Grande coletânea de gráficos e dados sobre o mercado imobiliário americano.

- Galeria de fotos sobre ouro, da mineração às medalhas olímpicas.

- Última semana de links olímpicos (e eu finalmente vou ter minha vida de volta): o quadro de medalhas per capita. A final dos 100m rasos no último domingo foi a corrida mais rápida da história. Fotos dos momentos de glória em Londres (a do fundista Mo Farah abraçando o mascote é épica). A saga rocambolesca da família dos boxeadores Esquiva e Yamaguchi Falcão. Coisas estranhas acontecem quando a equipe de handebol de um país de 320 mil habitantes ganha uma medalha olímpica. Algumas lições de desenvolvimento aplicado às Olimpíadas. Hoje completa 35 anos Luciana Aymar, a "Maradona de saias", possivelmente a maior jogadora de hóquei da história, e as Leonas disputam a final olímpica contra a Holanda. Fica a torcida da casa.

- E o gráfico do dia, dessa pesquisa esculhambada do FT Alphaville:


Gráfico do Dia - Saias e Preços de Ações

Uma visualização legal da "teoria do comprimento das saias". Xavier Sala-i-Martín explica os problemas com esse tipo de indicador.


quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Passeando pelo mundo das ações

O Merrill Lynch publicou há alguns dias um relatório inspiradamente intitulado The Equity Hitchhiker’s Guide to the Global Galaxy. Para quem olha os mercados a uma certa altura, é uma grande fonte de ideais e dados interessantes. Aí vão alguns que me chamaram a atenção:

- O valor das ações negociadas no mundo é US$ 27 trilhões. O PIB global é US$ 70 trilhões, mercado de dívida US$ 43 trilhões, total de reservas internacionais US$ 10,4 trilhões.

- O setor de tecnologia do mercado dos EUA é maior do que todo o mercado de ações da zona do euro.

- Ações de empresas financeiras (bancos, seguradoras, etc) ainda são a maior fatia do mercado global, quase 20% do total.

- Setor financeiro brasileiro vale tanto quanto o da Alemanha ou da França.

- Ações dos setores de saúde e consumo básico estão, globalmente, bastante perto de suas máximas históricas. Entre os países, México e Malásia são os mais próximos dos melhores dias.

- Setor de saúde como proporção do mercado é ridiculamente pequeno no Brasil - 0,9%, contra 9,6% no mundo.

- Em termos de múltiplo preço / lucro esperado, México é o mercado mais caro do mundo.

- O rendimento de dividendos no Brasil está entre os maiores do mundo, 4,8% nos últimos 12 meses.

- Como eu tinha mostrado, o retorno sobre o capital dos bancos brasileiros não é absurdo ou astronômico: 15,5%, pouco maior que a média do setor nos emergentes (14,4%). Os maiores retornos do setor estão na Indonésia (ah, Armínio Fraga...), na Rússia e no Chile.

- Para entender a atual onda de "largue o Brasil, compre México", olhe o crescimento dos lucros esperado para este ano - deve ser de quase 40% no México; no Brasil, cairão 6,4% - e junte a velha mania de extrapolação que permeia as atividades de analistas e economistas.

- Esse gráfico:


quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Gráficos do Dia - uma bolha estourada

Não há muito tempo parecia genial a ideia de investir em alguns dos elementos menos populares da tabela periódica. Do Valor de hoje (clique para aumentar):


terça-feira, 7 de agosto de 2012

Gráfico do Dia - o sucesso dos PIGS

Hoje é fácil interpretar a história recente dos PIGS (Portugal, Irlanda, Grécia, Espanha) como uma tragédia, mas é sempre bom mudar um pouco a perspectiva. Este estudo do Banco Mundial (que já tinha indicado aqui) mostra que esses países foram dos poucos a escapar da "middle income trap" entre 1960 e 2008. Hoje vi em um interessante relatório da McKinsey sobre o mercado de trabalho no mundo (h/t Urban Demographics) que esses países, entre os desenvolvidos da OECD, foram os únicos a crescer a renda dos mais pobres (último decil da distribuição) em ritmo mais acelerado do que a dos mais ricos (primeiro decil) nos últimos 25 anos.  Resta checar os mesmos dados em alguns anos e descobrir o quanto disso foi sustentado e quanto era devido à fantasia de financiamento barato e câmbio forte do euro.



Estagiários em tempos difíceis

Dilbert de hoje:


segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Mais um para a lista de indicadores contrários

Amanhã chega às bancas a primeira edição da Forbes em Português:



Frase do Dia - Controlando Riscos

"I talk about macro themes a lot because they are fun to talk about, but it is the risk management that is the most important thing."

Michael Platt, fundador da BlueCrest Capital Management, em entrevista para Jack Schwager no novo Hedge Fund Market Wizards. Para meu prejuízo, demorei bastante para aprender isso.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Som da Sexta - Caetano Veloso, 70

Mais uma adição de peso para o ilustre clube dos septuagenários de 2012, o cara que é melhor que o Chico Buarque.

Leituras da Semana

Greatest sungas in the world
- Não sei o que pensar quando o economista de um grande veículo sugere distribuir dinheiro diretamente à população.

- Barry Eichengreen sobre o desaquecimento da economia da China.

- Suíça: país ou hedge fund?

- Um perfil de Mohamed El-Erian, da PIMCO, no New York Times. Se você acha o bônus de banqueiros absurdo, veja quanto ele e Bill Gross levaram no ano passado (em que os fundos da PIMCO não foram bem).

- 10 cidades americanas onde casas custam menos que um carro (Detroit no topo, para provar que a história gosta de produzir ironias).

- A incapacidade da Europa de fomentar empreendedorismo, ótima matéria na The Economist.

- Cinco livros sobre estatística e risco.

- Compartilhamento de arquivos na internet virou uma religião, na Suécia.

- Saiu a atualização desta década da lista dos melhores filmes da história pela Sight and Sound. Cidadão Kane perdeu o topo que vinha ocupando nos últimos 50 anos.

- Uma bela crítica de O Porto, um dos melhores filmes que vi este ano.

- Susan Sontag sobre amor, ilustrado.

- Os links olímpicos: o The Big Picture sempre tem as melhores coletâneas de fotos - aqui a primeira dos jogos.Cartazes das Olimpíadas de Moscou. As escolhas de grandes momentos olímpicos do ótimo Iconic Photos. Uma classificação dos esportes em duas dimensões.Os significados políticos e históricos da cerimônia de abertura. Uma crítica de Christopher Hitchens aos jogos, de 2010.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Frase do Dia - Crescendo até o céu

"Anyone who believes exponential growth can go on forever in a finite world is either a madman or an economist."

De Kenneth E. Boulding, economista inglês citado por Jeremy Grantham, da GMO, em sua última carta trimestral. Granhtam está resgatando o tom pessimista / malthusiano que mostrou em 2010, vale a leitura.

Falando por aí

A Rachel, do Adventures of a Gringa, pediu que eu respondesse algumas questões sobre mim e como anda a economia brasileira. Acho que o resultado ficou bom, confira lá. Agradeço a Rachel pelo palco.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

O mundo do dinheiro

A sacada é meio óbvia, mas nunca tinha visto o resultado. Obrigado ao Batata pela dica, fico sem saber para quem dar o crédito pela arte (avisem nos comentários, caso saibam). Clique para aumentar:


Update: o crédito devido. Foi publicado no no Reddit pelo The310Investigator. Obrigado ao anônimo dos comentários.