terça-feira, 30 de abril de 2013

Uma nova série de preços de imóveis no Brasil

O Banco Central passou a publicar uma série de preços de imóveis. Do site do BC:

O Banco Central publica a partir de hoje, no Sistema Gerenciador de Séries Temporais, a série nº 21.340, que contém o Índice de Valores de Garantia de Imóveis Residenciais Financiados (IVG-R). Divulgado na última edição do Relatório de Estabilidade Financeira (REF), o IVG-R foi analisado em termos de variação anual real, isto é, a variação entre um mês e o mesmo mês do ano anterior, deflacionada pelo IPCA. Para a série temporal, a divulgação será realizada em número índice (iniciando em março de 2001 com valor igual a 100 e acumulando as variações nominais a partir daquela data), portanto, sem ajuste a qualquer índice de preços, o que permitirá maior liberdade de análise. O IVG-R será atualizado mensalmente, até 90 dias após o fim do mês de referência. O último valor disponível na primeira atualização é janeiro de 2013. Maiores detalhes estão disponíveis nos metadados da série.

Essa é a cara da série:



Seria legal se o BC abrisse a composição dessas séries (provavelmente ainda vão fazer isso), mas é um ótimo começo para um mercado ainda muito carente de dados confiáveis.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Paulo Vanzolini, 1923-2013

Morreu ontem Paulo Vanzolini, poucos dias depois de completar 90 anos. Era um doutor por Harvard que fazia samba. Ou melhor, não era qualquer doutor por Harvard, nem qualquer sambista. Como pesquisador, foi um grande herpetologista, responsável por coletar mais de 200 mil exemplares para a coleção de répteis do Museu de Zoologia da USP e homenageado com mais de 10 novas espécies que têm o descritor vanzolinii no nome científico. Como compositor, não tenho nenhuma dúvida em colocá-lo entre os maiores da história da música brasileira, não devendo nada a outro gigantes mais reconhecidos.

Enfiava-se no interior do Brasil e anunciava que estava "comprando bicho", para levar ao museu. Numa dessas viagens, trouxe também Cuitelinho, de autoria desconhecida e das mais belas canções da nossa língua.



Parou de fazer samba porque, segundo ele, "às vezes ficava uma semana pra resolver uma rima". Com a zoologia, porém, continuou mesmo depois de se aposentar da USP. Quem conviveu com ele no museu dizia que era casca grossa no primeiro contato, mas de uma generosidade imensa depois de quebrada essa barreira.



Cantava mal pra burro (era o primeiro a reconhecer que não sabia a diferença entre tom maior e tom menor), mas tinha grande intuição da sonoridade das palavras e da métrica que um bom samba requer, e sempre soube se cercar de bons músicos.



Um pecado que tenha ficado conhecido só por Ronda e Volta por Cima. Menos pecado que a gravadora Biscoito Fino tenha, em 2002, reunido grande parte de suas composições, interpretadas por cantores famosos (Paulinho da Viola, Chico Buarque, Martinho da Vila...) e colaboradores habituais (sua mulher Ana Bernardo, Carlinhos Vergueiro, Márcia), em Acerto de Contas de Paulo Vanzolini, caixa impecável de 4 CDs e melhor homenagem que ele poderia ter recebido em vida. Aliás, pessoal que vai editar essas homenagens póstumas da TV: ele detestava a versão de Maria Bethânia para Ronda. Gostava mesmo é de Inezita Barroso ("aquele vozeirão, aquele senso de samba") e Cristina Buarque ("afinada que só ela").




No ano passado fui ver uma homenagem a Vanzolini no SESC Pompéia, com presença do próprio. Entrou no palco com dificuldade para andar, sentou-se numa mesa e tomou uma cerveja atrás da outra, ouvindo suas composições, contando "causos" entre elas e brindando com o público. No final, ovacionado, levantou-se chorando, como se depois de tanto tempo ainda não tivesse se acostumado com o reconhecimento da grandeza de sua obra. Um colosso.



Aqui uma ótima entrevista de Drauzio Varella com Vanzolini, mais sobre ciência do que samba. Aqui a íntegra do documentário Paulo Vanzolini: um homem de moral, de Ricardo Dias. Aqui dá pra ouvir todas as faixas do Acerto de Contas.

"Sou um homem em paz. Feliz? Não sei  qual foi o filósofo, se Sólon ou Thales, que disse só ser possível julgar se uma pessoa foi feliz ou não, depois de sua morte, porque é imprescindível ter uma morte feliz também."

sexta-feira, 26 de abril de 2013

I Like Eike

Na verdade, não, nem perto disso. Segue valendo o que escrevi no ano passado. Ocorre que talvez tenha chegado o ponto em que toda's as notícias ruins conhecidas já estão incorporadas às ações do "Grupo X", e que os preços já caíram tanto que ficaram atrativos para novos investidores, mais realistas e com mais margem de segurança. Alguns sinais contrários são gritantes:

1. Muitos dos analistas que recomendavam compra das ações a preços muito mais altos (tenho uma coleção de relatórios com preço-alvo de OGXP3 a R$20, R$30...) tornaram-se pessimistas, agora "prevendo" cotações muito baixas (a mesma OGXP3 a R$2, R$1,20, R$0,80...). Acho que vão se provar errados tanto na ida quanto na volta. Além disso, não entendo a motivação de um analista para recomendar venda de um papel que caiu 95%, por mais que tenha convicção que a empresa não vale nada. Em preços de liquidação forçada (o que parece ter sido o caso para algumas empresas), a assimetria e a margem de segurança estão para o lado oposto (sem contar o aumento da importância de insiders, pessoas familiarizadas com as possíveis negociações para salvar o grupo). Parece uma obediência cega ao modelo de fluxo de caixa descontado, como se este cobrisse todos os fatores que influenciam o preço de uma ação...

2. O sempre atento Arthur M. apontou para a capa da última edição da Exame. Não é um indicador tão bom quanto a capa da Veja, mas vem em hora oportuna.

Se não ficou claro: não gosto das empresas, da gestão, dos negócios. Só acho que há uma oportunidade altamente especulativa, algo como comprar um bilhete de loteria com algum viés a seu favor. Qualquer investimento nessas empresas deve ser feito considerando que há chance não desprezível dele valer, em alguns meses, zero; acredito, porém, que há uma probabilidade maior de que esses preços dobrem ou tripliquem. Caveat emptor.

P.S. E essa é a capa da Época desta semana:


quarta-feira, 24 de abril de 2013

Pensando alto sobre mercados

Esse é daqueles posts que faço pra organizar minha cabeça. Não deve ser de interesse para quem não se interessa por mercados ou futurologia gratuita (devem sobrar dois leitores).

Depois dos problemas com o sistema bancário do Chipre, passei a trabalhar com a possibilidade que poderíamos voltar a ver sombras de uma crise bancária generalizada sobre a Europa. Por um tempo essa tese encontrou correspondência nos mercados: as bolsas do continente, no geral, tiveram desempenho pior do que as dos EUA; e, dentre essas bolsas, sofreram mais as de países com grande peso de bancos no índice e maior percepção de fragilidade (Espanha, França, Itália). Há mais ou  menos dez dias esses movimentos se intensificaram, com bolsas americanas também caindo e alguns movimentos violentos em commodities dando indicações de uma mini-crise deflacionária.

Em algum momento da semana passada, isso mudou, com os movimentos descritos acima sendo descontinuados: bolsas europeias passaram a subir, deixando EUA para trás; entre essas bolsas, os maiores ralis foram nos países mais frágeis. O ouro começou a se recuperar de um movimento particularmente agudo e o iene voltou a se depreciar contra a maioria das outras moedas. O dólar seguiu se fortalecendo e os juros de títulos longos em parte do mundo desenvolvido fizeram novas mínimas.

Como fundo a isso, vejo duas possibilidades:

i. Uma recuperação técnica, já que alguns dos índices europeus estavam testando suportes importantes, que, se respeitados, levariam a uma correção da queda e possível formação de um intervalo bem definido para os próximos meses;

ii. Indicação de corte de juros pelo Banco Central Europeu - isso seria compatível com as indicações de atividade mais fraca na Alemanha, o movimento das bolsas, dos títulos e do euro. Também estaria em linha com o tema geral de iniciativa dos bancos centrais, que deixaram de reagir a choques e passaram a tomar iniciativas para tentar promover crescimento.

Se (ii) estiver correto, poderemos ver bolsas fazendo novas máximas para o ano e, eventualmente, o euro encontrando um novo patamar, mais perto de US$1,20. Com o dólar relativamente forte, é mais difícil para commodities encontrarem espaço para subir, o que daria continuidade à fraqueza relativa de moedas de produtores e suas respectivas bolsas.

Ontem outro fato me convenceu de que provavelmente estamos no início de um período de recuperação das bolsas da Europa com relação às dos EUA: a Apple, que foi claramente a líder dos índices americanos no ano passado, anunciou recompra de ações e aumento de dividendos. Creio que a mensagem é que a companhia perdeu, ao menos temporariamente, a capacidade de gerar lucros com base em inovação, e está gastando caixa para agradar acionistas e comprar tempo (e tomando um risco de cross-border grande, já que o caixa da companhia está no exterior e ela tomará empréstimos nos EUA para pagar as recompras e dividendos). Isso pode ser bom para os preços das ações no curto prazo, mas me parece um sinal claro de que a companhia está num momento de inflexão (como se não bastasse o movimento dos preços). Evidentemente tudo pode mudar com o lançamento de novos produtos, mas não é bom contar com isso (o que também ficou evidenciado desde o ano passado, quando muitos analistas citavam a "capacidade infinita de inovar" da empresa como justificativa para preços-alvo ao redor de $1,000). Se a Apple não lidera, os candidatos naturais são os bancos, novamente registrando lucros recorde. Porém, se é esse o tema dominante, há muito mais espaço para recuperação na Europa, a preços mais descontados e possibilidade de aumento de lucros com juros mais baixos e outras possíveis benesses do BCE.

No médio / longo prazo, é importante notar que quase toda a recuperação dos mercados estará fundada em ideias no mínimo duvidosas: que bancos centrais podem influenciar decisivamente os níveis de atividade e preços, que ações de bancos com problemas graves de balanço podem valer alguma coisa e que bancos são os melhores instrumentos para distribuir dinheiro público para toda a economia. Isso faz com que os níveis atuais sejam extremamente frágeis, já que não parece haver melhora significativa em fundamentos (justo o contrário, em alguns casos). Porém, talvez o confronto com a realidade demore a acontecer, e também é possível que a primeira indicação (dados do Japão neste ano) apontem para a direção oposta, de sucesso da iniciativa de expansão monetária. O "sucesso" levaria, claro, a mais incentivos para repetição desse tipo de política, inflando ainda mais preços e deixando cada vez menos opções à disposição dos governos.

Em resumo, creio que tudo vai acabar em lágrimas, mas provavelmente estamos num período de euforia para alguns mercados, até que um novo esqueleto saia do armário (não são poucos enfiados nos balanços de bancos na Europa). Na dúvida, compre dólares.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Frases do Dia - Risco

And if you bundled together the middle-aged schoolteachers and strictly private dentists with the unemployed single parents and moonlighting plasterers, then sliced the bundles into high-, medium- and low-risk tranches, you could persuade the credit rating agencies like Fitch, Moody's and Standard & Poor's to award the top tranches a triple A. After all, even though the risk is pretty high that there'll be one or two defaults on those NINJA mortgages (No Income No Job No Assets - what the hell did they expect?) they're not all going to default, are they? 
He smiles. It's at times like this that you need a sense of irony. 
People are so stupid. They don't understand about risk. They let themselves be dazzled by returns of 7 per cent, 8 per cent, 9 per cent. Whoever is going to pay you that kind of money unless there's a reason? Then the Government started laying down the law, saying it wasn't their job to bail out reckless gamblers. Too right. But they bailed them out anyway, because they realised they had no choice. As Chicken so brilliantly put it, 'If I owe the bank £10,000, I've got problems. But if I owe it £10 million, the bank's got problems. Ha ha.'

Marina Lewycka, em Various Pets Alive and Dead.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

A união monetária ideal para a Alemanha

Michael Cembalest, do J.P. Morgan, estimou (com base em 22 fatores de competitividade) quais seriam os países mais similares a Alemanha, que, em teoria, formariam uma união monetária melhor que a atual (clique para aumentar):


sexta-feira, 19 de abril de 2013

A teoria Scarlett O'Hara de finanças

The Maastricht Treaty stipulated that no member government could run a deficit of more than 3 percent in any one year. The French, in order to abide by the contract, were the first to institute phony bookkeeping. We will not pay our pension obligations this year, we will pay them next year, they decided. This year things will look good, next year things will look worse, but next year is next year and we are not going to worry about that. It is the Scarlett O'Hara theory of finance: "After all ... tomorrow is another day." The move was seen as pretty outrageous. Even the Italians, who had been using phony bookkeeping for decades - for centuries, in fact - were shocked. After pulling themselves up off the floor, they proceeded to emulate the French, going with their own time-honored recipe for cooking the books.

A versão de Jim Rogers para a adequação de alguns países às regras do Tratado de Maastricht. Está na biografia dele, que já citei aqui.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Thatcher e Keynes

Da última The Economist:


Brasil x México, de novo

Isso é do Financial Times de hoje:


E esse é a razão (em moeda local e sem correção, e, sim, sei que talvez não seja o melhor jeito de comparar) entre o Ibovespa e o principal índice de ações do México (IPC) - estamos em níveis de 1994:




Uma das minhas "previsões" do início do ano é que o desempenho da bolsa brasileira seria melhor do que o da mexicana. Por enquanto estou muito errado (mais de 10% errado), mas tanto o sentimento desse valor relativo quanto os preços são extremos (e por isso sigo acreditando na previsão). Nem o Brasil era tão bom, nem o México é tão bom, nem o Brasil é tão ruim, etc, etc, etc...

Avaliando fundos

Dilbert de hoje:


terça-feira, 16 de abril de 2013

Inflação de alimentos

Respondi algumas perguntas sobre o tema para a sempre atenta e simpática Rachel, do Adventures of a Gringa. Trecho:


Tomatoes, onions, and other vegetables and food products have risen over the last year. There are climatic reasons (drought, rains) and agricultural reasons (less area planted), but what are the bigger economic forces at play?  
I don’t think there are other bigger economic forces acting here, since demand for those items is pretty much stable. As you mentioned, there was a supply shock caused mainly by climatic reasons (heavy rains in the Southeast, a severe drought in the Northeast), and since arbitrage is not possible for several products (there’s no international market, at least not a liquid one where players can hedge or speculate), prices skyrocketed. Curiously, the prices of exchange listed agricultural commodities have been falling consistently since last September, so if there’s any external factor in foodstuff items it should lead to lower domestic prices.

O resto está aqui.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

A inflação no Brasil vai cair

Duas das principais revistas semanais do país falam de inflação em suas matérias de capa das últimas edições (ambas usando a "criativa" alegoria do tomate). Cuidado, compradores de NTN-B.


O mercado já começou a precificar a queda na inflação - o gráfico abaixo é das inflações futuras precificadas por vários dos vencimentos de NTN-B (gráfico roubado da Tullett Prebon - clique para aumentar):


Como de costume, há uma diferença sensível entre as opiniões que não custam e as que custam. Sempre prefiro as da segunda categoria.

P.S. O Mansueto Almeida tem razão, isso é mais marcante que qualquer capa de revista. Só espero que ele esteja errado e não seja essa a influência decisiva em Brasília.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Gráficos do Dia - o tamanho do BNDES

Da ótima matéria do caderno de final de semana do Valor:


Som da Sexta - The Sachal Studios Orchestra

Roubada do Open Culture, versão da orquestra de Lahore, Paquistão, para o clássico do Dave Brubeck Quartet. Supostamente Dave Brubeck disse que essa foi a versão mais interessante da música que ele escutou; não é difícil concordar.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Época de imposto de renda...

Caso não saibam, assim são feitas as leis tributárias (roubado do Dilbert dos últimos dias):





quarta-feira, 10 de abril de 2013

Leituras da Semana

- Pesquisa do Deutsche Bank sobre preços pelo mundo.

- Uma aula de humildade (parece sincera) por Bill Gross.

- O que a Europa tem a aprender com as crises de dívida da América Latina.

- Charles Gave prevê uma depressão para a França.

- Entrevista da Salon com Jim Chanos.

- John Cassidy sobre Janet Yellen, a possível futura presidente do Fed.

- Robert M. Solow sobre Ben Bernanke e a financialização nos EUA.

- George Soros volta a defender a emissão de eurobônus.

- Barry Eichengreen e a influência da história nas políticas monetárias dos EUA e da Europa.

- A entrevista mais recente de Stanley Druckenmiller, para a Bloomberg.

- Um documentário sobre planos de estabilização no Brasil (ainda não vi).

- Os departamentos de história nos EUA voltaram a estudar o capitalismo.

- Qual questão vários cientistas temem ser perguntados?

- Quatro livros de Tony Judt estão sendo relançados nos EUA.

- Como investir na Coreia do Norte.

- O tratado definitivo sobre tretas na internet.

- Uma tabela periódica do jazz.

- Ian McEwan sobre Margaret Thatcher. Sua carreira em 10 momentos e pelas capas da The Economist. Recomendação de livros sobre o thatcherismo.

- Dana Stevens, a ótima crítica de cinema da Slate, sobre Roger Ebert. Duas das críticas mais legais dele: a do lançamento de Apocalypse Now e  a de Waking Life para a série Great Movies.

- Literatura erótica, literalmente.

- A explicação definitiva para a escalada dos preços do tomate.

terça-feira, 9 de abril de 2013

O último post sobre tomate (ou: uma anedota do Brasil que não dá certo)

Imagino que, como eu, o leitor não aguenta mais ouvir falar do preço de tomate. Já me desculpo antecipadamente por voltar ao tema, prometo, pela última vez.

O infográfico abaixo está na capa da Folha de hoje, mostrando a viagem de 65 dias que o tomate faz do interior da China até às fábricas que o processam em ketchup e molho, em Goiás:


A história pode ser lida como um imenso jogo de erros, da taxa de câmbio à ridícula ineficiência do produtor e da logística brasileira - de tudo isso já sabemos. Só queria chamar atenção para um detalhe, a cereja do bolo recheado de absurdos: eu já tinha ouvido falar de Urumqi enquanto alimentava minha pequena obsessão por curiosidades geográficas. Da Wikipedia:

Ürümqi has earned a place in the Guinness Book of Records as the most remote city from any sea in the world. It is about 2,500 kilometres (1,600 mi) from the nearest coastline as Ürümqi is the closest major city to the Eurasian pole of inaccessibility.

Em Português claro: o país com a maior área de terras aráveis do mundo está importando tomates cultivados no lugar do mundo mais longe de uma saída para o mar. Para o comprador brasileiro, aparentemente faz mais sentido financeiramente esperar a viagem de 65 dias de Urumqi até Goiás do que confiar em um produtor nacional. Alguém poderia argumentar que o problema é pontual e vai desaparecer quando o preço do tomate no mercado local ceder, mas ninguém monta uma rede de comércio intercontinental pensando apenas na semana que vem. O tomate de Urumqi é o atestado definitivo (se é que faltavam algum) da enorme incapacidade do país em criar vantagens comparativas. Muito deprimente, mas se há algum lado bom é que o espaço para melhoras é imenso - resta saber o que nos tirará da inércia.

P.S. Notem também que o tempo de transporte de Urumqi até Tianjin é menor do que o tempo de desembaraço em Paranaguá.

Fronteiras da Análise Técnica - O Martelo de Thor (Batista)

Thor chegando para salvar as combalidas ações da OGX.


Ideia roubada do Plato's Bunker.

Mais fronteiras da análise técnica:

- Intraday Bart
Velociraptor
Vampire Black Swan
Bullish Cyclist
Evil Knievel Formation

segunda-feira, 8 de abril de 2013

7 mitos sobre a economia brasileira que foram / estão sendo / serão destruídos

Diz George Soros (vou citar de orelha porque meus livros sumiram; se notarem algum erro, por favor corrijam) que bolhas especulativas nascem de uma percepção de mudança de paradigma. Na medida em que aparecem sinais dessa mudança, mais pessoas investem nela, o que reforça os sinais e atrai mais gente. Depois de algumas rodadas desse auto-reforço, a percepção se descola tanto da realidade que, mesmo que a mudança inicialmente prevista ocorra, é impossível que as expectativas embutidas nos preços sejam confirmadas. Isso ocorrendo, é questão de tempo para que a bolha estoure, ativos sejam liquidados e percepção e realidade voltem a se encontrar.

Esse esquema me parece bastante correto para descrever o passado recente do Brasil: do país que ia "decolar" para o pior mercado de ações do mundo e grandes dificuldades em crescer. Abaixo uma lista (sem a menor pretensão de ser exaustiva) dos mitos que foram, estão sendo e (acho que) serão destruídos sobre o Brasil:

1. O PIB potencial do Brasil cresceu

Nos últimos 20 anos, o PIB brasileiro cresceu em média 3,2% ao ano. Entre 2003 e 2010, com o boom de commodities, essa média foi de 4,05% ao ano, e muita gente achou que estávamos entrando em uma nova era de crescimento mais acelerado: no início de 2011, a Fitch dizia que o novo crescimento potencial era de 4,5% anuais, e o recém-empossado governo Dilma determinou uma absurda "meta" de 5,9% de crescimento durante o mandato. O choque de realidade veio com sucessivos "pibinhos", mesmo após cortes de juros e inúmeros pacotes de crescimento. Mais provável mesmo que o PIB potencial esteja ao redor da média de longo prazo (3% anuais, talvez um pouco menos), e todo o crescimento adicional tenha sido função da alta dos preços do que exportamos.

2. O Brasil autossuficiente em petróleo

Em 2006 Lula declarou a "autossuficiência" do Brasil em petróleo. Sete anos depois, nunca antes na história deste país se importou tanta gasolina, a ponto disso preocupar os acionistas e detentores de dívida da Petrobras e prejudicar as contas externas do país.

3. O que trava o país é a Selic alta

Claro que provavelmente ainda estamos passando pelos efeitos defasados da grande queda dos juros no ano passado, mas parece evidente que não vai ser isso que vai fazer o país decolar. Pelo menos serviu para evidenciar outros problemas estruturais.

4. O Brasil não depende tanto de commodities

A dependência no principal índice de ações é claríssima - e volta a ficar claro que, no que depende do mercado interno, o Brasil é um país com inúmeros gargalos e dificuldades estruturais.

5. Eike Batista como empreendedor e possível homem mais rico do mundo

O fundo do poço estava longe de chegar quando escrevi isso, em junho do ano passado. Hugh Hendry acertou em cheio. É o caso mais emblemático (e alavancado) do descolamento entre realidade e percepções do Brasil recente.

6. O triunfo do "capitalismo de estado"

Após a crise de 2007/2008, muita gente defendeu a ideia (mais aqui) de que grandes empresas estatais (ou de capital misto) e bancos de fomento seriam os grandes indutores de crescimento no futuro. Talvez haja versões mais ou menos efetivas do "capitalismo de estado"; a brasileira, aparentemente, não mostrou nenhum novo dinamismo, a não ser a capacidade de prover o crédito que os bancos privados não quiseram conceder, com resultados ainda para serem discutidos.

7. O fim das crises cambiais

Já disse várias vezes por aqui que a história econômica do Brasil pode ser contada pelas suas inúmeras crises cambiais. A bonança de commodities e o consequente aumento de reservas internacionais parece ter afastado o risco de uma nova crise no futuro recente. Desde 2007 o país tem financiado com relativa facilidade déficits sucessivos em conta corrente; resta saber se esse padrão se repetirá no futuro ou quanto tempo levará para que as aparentemente grandes reservas sejam consumidas se o dinheiro estrangeiro que entrou nos últimos anos resolver voltar para casa.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Gráfico do Dia - a "bolha" do tomate

OK, o preço do tomate quase triplicou desde novembro, mas... quando começou a subir, o preço era só 15% mais alto do que era no início de 2009 (variação do IPCA no período = 25%). Confiemos na regressão à média e, por enquanto, comamos molho branco.

Obrigado à minha amiga mais sortuda pelos dados.

Meus 5 ienes sobre o Japão

5 centavos de dólar (e caindo)
Primeiro, atualizando os que não se interessam tanto pela página 5 do caderno de economia dos jornais: ontem o banco central do Japão anunciou que vai aumentar seu programa de compra de títulos da dívida soberana e que pretende, em dois anos, dobrar a base monetária. Se de fato levado à prática, será um dos maiores experimentos monetários da história. Aqui alguns pensamentos que juntei nesse par de dias, ajudado pela discussão de ontem no Twitter (muito obrigado aos interlocutores):

- Uma das consequências do anúncio foi uma queda nos juros longos, de patamares já ridiculamente baixos (0,56% aa para 10 anos) para novas mínimas históricas (0,32% - salvo engano, menor taxa já negociada para um título desse vencimento na história da humanidade). Essa taxa, a meu ver, embute duas fortes convicções: i) os juros curtos, ditados pelo banco central, serão próximos de zero por muito tempo; ii) o BC aceitará essas taxas (e possivelmente mais baixas) na recompra de títulos. Como consequência, um comportamento que em qualquer condição inicialmente pareceria irresponsável, como se alavancar o quanto possível para comprar títulos rendendo menos de 1%, terá se convertido em uma estratégia muito vencedora.

Considerações de risco moral à parte: o que impediria essa taxa de cair ainda mais, já que, aparentemente, o poupador que carrega os títulos não se importa com sua rentabilidade e, para o governo, quanto mais baixa, melhor (mais fácil servir a dívida, mais potencial de gerar inflação e crescimento nominal)? Na medida em que os juros longos se aproximam a zero, há cada vez menos diferença entre emitir títulos e simplesmente imprimir dinheiro (papel moeda é um título perpétuo do governo que não paga juros) para cobrir os déficits?

- Antes de começar a gritar "Weimar! Hiperinflação!", é bom lembrar que hiperinflações não são fenômenos exclusivamente monetários (mais nesse trabalho do James Montier). A questão aqui, como diria meu chefe, é quanto tempo o senhor e a senhora Watanabe aceitam trocar horas de trabalho e mercadorias por papel pintado cada vez mais abundante. Ou, vendo por outro lado, transferir dinheiro de suas poupanças para especuladores, bancos e outros que se posicionem para lucrar com juros reais negativos. Poderia aqui entrar em uma discussão de botequim sobre a coesão da sociedade japonesa e sua disposição a sacrifícios, mas não conseguiria ir além dos estereótipos - de qualquer forma, o Japão de hoje está longe de parecer um ambiente propício à convulsão social (claro que isso pode mudar relativamente rápido, como a história já mostrou tantas vezes).

- Afinal, o que quer o governo do Japão? Aqui me apoio na opinião de Noah Smith, que provavelmente já esqueceu sobre economia e Japão mais do que vou aprender na minha vida. Quando Shinzo Abe foi eleito (a votação foi em 16 de dezembro, mesmo dia em que o Corinthians ganhou o mundial de clubes - os sinais de mudanças tectônicas estavam lá para quem quisesse interpretar!), ele achou que o principal objetivo da nova política econômica era provocar uma forte depreciação no iene para atender interesses "mercantilistas" (mais aqui). Esta semana ele mudou de opinião, e acha que as mudanças podem ser mais profundas (aqui). Em resumo, o Japão parece estar disposto a fazer a maior aposta de política monetária da história para tentar aumentar o patamar da inflação no país e gerar algum crescimento. No mínimo vão gerar excelente material para os historiadores econômicos do futuro.

- Para concluir: se tudo der certo, daqui a alguns meses o Japão terá uma moeda mais depreciada, algum crescimento e inflação subindo, mas sob controle. Seria um caso de sucesso (ainda que temporário, alguém pode dizer) que geraria grande clamor por imitações em outras partes do mundo (possíveis consequências em um outro post futuro - só fiquemos em mente que o contexto do Japão é muitíssimo específico). Se der meio errado, a economia segue emperrada e com inflação muito baixa, e aí ou a definição de insanidade de Einstein segue sendo aplicada (fazer mais da mesma coisa esperando resultados diferentes) ou os japoneses buscam outros caminhos (eventualmente um novo líder). Se der muito errado, o que parecer bom no início (mais inflação) sairá do controle e veremos o desenrolar da maior crise de dívida da história (mas não Weimar - comparações com Weimar deveriam render uma Lei de Godwin aplicada à história econômica). Tempos interessantes, tempos interessantes...

quinta-feira, 4 de abril de 2013

William Shakespeare, especulador, sonegador

Neither a borrower nor a lender be
Do Telegraph:


Court and tax records show that over a 15-year period Shakespeare purchased grain, malt and barley to store and resell for inflated prices, according to a paper by Aberystwyth University academics Dr Jayne Archer, Professor Richard Marggraf Turley and Professor Howard Thomas.
The study notes: "By combining both illegal and legal activities, Shakespeare was able to retire in 1613 as the largest property owner in his home town, Stratford-upon-Avon. His profits - minus a few fines for illegal hoarding and tax evasion - meant he had a working life of just 24 years."


Lembra um pouco a história (supostamente apócrifa) de Tales de Mileto contada por Aristóteles.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Gráficos do Dia - dívida local na mão de estrangeiros

Gráficos de um ótimo relatório do Deutsche Bank:

- O Brasil aumentou muito a participação de estrangeiros no financiamento de sua dívida local...


- ... mas essa participação ainda é muito pequena comparada a dos outros grandes emergentes:


Leituras da Semana

Cuidado com o tomate
- Entrevista com André Esteves no Estado.

- Jim O'Neill sobre sua aposentadoria.

- O melhor livro sobre a crise recente? Resenha entusiasmada de Roger B. Myerson (Nobel 2007) de The Bankers' New Clothes.

- Olivier Blanchard e cinco lições da crise para economistas.

- Barry Eichengreen sobre Chipre e União Europeia.

- Os possíveis sucessores de Ben Bernanke.

- Curso novo da Marginal Revolution University sobre a economia do México.

- O país mais afetado pela Grande Depressão (não foram os EUA).

- Edward Chancellor sobre o Japão recente.

- Charles Gave sobre o poder dos governos e supressão de livres mercados.

- Uma cantina contra a "bolha" nos preços do tomate em São Paulo, que, claro, é culpa do governo. Como agir nesses tempos.

- John Kay relembrando Jane Jacobs.

- Salários de professores na OCDE. Alguém já cruzou isso com os resultados nos testes padronizados?

- O mapa dos EUA redesenhado pelo movimento do papel-moeda.

- Usando SimCity para melhorar o trânsito de São Paulo.

- Escolhendo destino de férias aleatoriamente (e economizando).

- Os 25 países menos visitados no mundo.

- Os livros de viagem mais influentes da história.

- Entrevista bacana com Ted Gioia, sobre escrever e jazz.

- Os 70 anos de Manfred Eicher, da icônica ECM.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Uma olhada nos sistemas bancários do mundo

Fiz esse gráfico há um tempinho, com dados do Banco Mundial (clique para aumentar). No eixo vertical está o crédito doméstico criado pelo sistema bancário, como percentual do PIB. No horizontal, a razão entre o capital dos bancos e seus ativos. Dividi o gráfico em quadrantes, pela mediana das métricas. A amostra inclui os países do G20 e a zona do euro (estes com marcadores em vermelho).

No segundo quadrante (verde), estão os sistemas bancários relativamente pouco alavancados e relativamente bem capitalizados - onde estão a maioria dos emergentes e apenas dois países (pequenos) da zona do euro. No primeiro e no terceiro quadrantes (vermelho claro) estão países com uma das métricas acima da mediana - notem o caso dos EUA, com um sistema bancário entre os mais capitalizados, mas muito alavancado, e a Itália, bastante próxima do quadrante "desejável". No quarto quadrante (vermelho escuro) estão a maioria dos países que usam o euro, Suíça, Reino Unido, Dinamarca e Japão - bancos muito alavancados e com pouco capital. O Japão é a aberração de costume, e vejam onde está Chipre (OK, agora não adianta mais).


Esse gráfico, creio, bate com a minha opinião de que os problemas com bancos na Europa ainda não acabaram - creio que muitos ainda precisarão reduzir drasticamente os balanços ou buscar novo capital. Também, de certa forma, confirma a ideia de que a Itália é um investimento melhor do que parece - ou ao menos melhor do que Espanha e, possivelmente, França.

Opiniões ou algo que eu esteja perdendo ou superestimando?

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Gráfico do Dia - as reservas do mundo

Do último relatório do FMI com dados de reservas internacionais. Os rumores sobre a morte do dólar ainda são amplamente exagerados...