quarta-feira, 30 de maio de 2012

Europa, por europeus

Ontem o Pew Research Center (think thank baseada em Washington, financiada com dinheiro da família fundadora da petrolífera Sunoco) publicou um relatório muito interessante, intitulado European Unity on the Rocks - Greeks and Germans at Polar Opposites. O trabalho foi baseado em entrevistas com cerca de 9 mil pessoas em nove países, e busca investigar como os europeus se sentem com relação ao atual arranjo do seu continente e os outros países que o compõe (o projeto do qual faz parte, chamado Global Attitudes, pesquisa 21 países em vários continentes).

O relatório tem inúmeros insights interessantes sobre o espírito do tempo atual; aqui destaco alguns:

- Como os europeus enxergam os outros europeus: o Mark Dow fez uma reflexão muito apropriada sobre a seguinte tabela:


- Como avaliam as condições econômicas e o futuro: a diferença entre Grécia e Alemanha é brutal (mesmo entre Alemanha e todos os outros países pesquisados). Como bem observou o Mark Dow, as forças que atuam no continente são centrífugas, não centrípetas:


Ainda assim, a maioria dos gregos quer permanecer no euro - mais surpreendente que, entre os países pesquisados, são os que mais defendem continuar na moeda única. Talvez isso explique porque até agora não houve uma corrida bancária e porque a opção pelo radicalismo na política está sendo revista (pesquisas para a nova eleição mostram fortalecimento dos partidos moderados).


Quase todos gostam dos alemães:


Daria para destacar outros tantos dados, fica recomendada a leitura do relatório inteiro.

19 comentários:

JGould disse...

Esses gregos são uma piada! Parecem muito um certo povo da Latam, que costumam culpar os outros por seus problemas!

Anônimo disse...

com relacao ao primeiro grafico melhor verem esse link do NYT. sao numeros da OCDE

http://economix.blogs.nytimes.com/2010/05/12/s-koreans-put-in-most-hours/

Patrick disse...

Pra você ver como a imagem sempre se sobrepõe aos fatos. Os gregos são os que trabalham mais duro entre os países europeus membros da OCDE.

Drunkeynesian disse...

Resta saber se o órgão que calcula essas horas trabalhadas não é o mesmo que registrava os déficits para a UE.

Patrick disse...

Basta seguir o link para tirar a dúvida ;). Os dados são do FactBook publicado pela própria OECD.

Drunkeynesian disse...

Hahaha, eu vi... mas a OECD deve recolher de algum órgão grego, não?

Patrick disse...

Ou não?

Anônimo disse...

bom, se confiamos em dados chineses, brasileiros ou ateh mesmo dos EUA, porque nao confiar nesses tbm. Alem disso ja trabalhei em empresa alema e de fato os alemaes nao eram os que trabalhavam mais comparado a brasileiros ou americanos da mesma empresa.
O problema do Euro eh outro, sabemos disso

Anônimo disse...

deviam publicar nome e numero da identidade dos % de gregos que acham que a situação economica esta boa....

Dawran Numida disse...

Muito interessante.
Mas, os dados gregos deviam ser fornecidos por quem que não fossem os gregos?
O que deve ter faltado é o "estilo padaria", para verificar o orçamento deles, na ponta do lápis.

E quem deveria ter feito isso teria a sido a UE. Uma Ana Maria Juhl da UE, com sacola e cabeleira e tudo. Antes de colocar o euro lá.

Coisas do tipo: quanto trabalham mesmo? quantas oliveiras existem? quantas olivas deram? quantas olivas foram esmagadas? quanto de óleo foi produzido? quanto custou cada oliveira? quem comprou, quanto, como e quanto pagou? quantas pessoas entraram para turismo? qual a quantidade de quartos ocupados? E assim por diante.

Dizem que até cabeleiras passaram poder a aposentar-se com cinco anos de trabalho. Por insalubridade.
Assim, nada poderia dar certo mesmo.
Uma cabeleireira alemã aposenta-se com quantos anos de trabalho?

Numa padaria, quando vai ser vendida, o interessado passa uns dias no caixa, junto com o dono. Confere tudo e só depois assina o cheque, se achar que está bem etc.

André disse...

Acho que a questão do trabalho grego é outra. É que esse dado das horas trabalhadas se refere apenas aos que efetivamente estão trabalhando e não aos desempregados ou fora da força de trabalho.
E os gregos possuem um desemprego enorme, além de uma baixa proporção de trabalhadores sobre a população em geral. Logo os que conseguem trabalho acabam trabalhando mais pesado. (além de que a produtividade também deve sofrer).

Anônimo disse...

Horas trabalhadas me parece mais uma consequência de prosperidade econômica e social do que causa de falta dessas.

Talvez seja relevante a questão da intensidade, ligada ao ambiente de trabalho, entre as horas trabalhadas contratuais e efetivas e etc.

Mesmo assim, o que vale mesmo é a produtividade, que depende mais de "hard-study" e acesso a educação e tecnologia de qualidade do que de hard-work.

Anônimo disse...

sim, nao ha duvidas se que produtividade eh o que importa no longo prazo. mas esses dados (se foram bem calculados) soh dismistifica que grego nao eh hard-work. o Problema da crise eh outra. Eh a mesma besteira quando alguem diz que baianos e outros nordestinos nao gostam de trabalhar.

Alex Catarino disse...

Drunkeynesian, não entendi a sua surpresa quando você disse:
Ainda assim, a maioria dos gregos quer permanecer no euro - mais surpreendente que, entre os países pesquisados, são os que mais defendem continuar na moeda única.
Porque, se você for um pouquinho mais acima até a tabela "Stereotyping in Europe", fica tudo explicado: os Gregos acham que são os que trabalham mais (comprovado pelos dados da OECD, temos que acreditar no método até provado que seja errado, senão não há discussão possível) e também acham que são os mais corruptos, LOGO querem ser governados pelos menos corruptos (pelo resto da Europa proxy para os alemães) para potenciar o seu trabalho. Faz sentido.
Depois, pode parecer contraditório que eles não tenham a Alemanha "in high regard". Contudo, isso acontece não porque os alemães são corruptos, mas porque lhes querem infligir austeridade enquanto a solução não passa por aí...
Pessoalmente, estou achando os Gregos BASTANTE lúcidos.

Drunkeynesian disse...

Acho paradoxal eles acreditarem que a situação atual é horrível, com baixa opinião sobre a Alemanha, e ainda assim quererem continuar no euro, sabendo que isso implica em aceitar, pelo menos por um tempo, uma receita de austeridade comandada pelos alemães. Mas provavelmente você tem razão quando diz que eles são mais lúcidos do que parece. Hoje li uma entrevista com o Alexis Tsipras que me surpreendeu nesse sentido, se tiver um tempo, vale a pena ler:

http://www.time.com/time/printout/0,8816,2116075,00.html

Alex Catarino disse...

A entrevista de Tsipras não me surpreendeu, porque eu não engolia o rótulo de "esquerda radical" que quiseram atribuir ao SYRIZA (apesar dessa sigla significar Coligação da Esquerda Radical). Digo isso, já que morei em Portugal durante 20 anos e vi o aparecimento do Bloco de Esquerda que, como o SYRIZA, acaba por albergar muitos socialistas moderados e trabalhistas que não vão argumentar pela implementação de um Estado Socialista na definição de Marx.
Simplesmente, a "extrema esquerda" é a velha esquerda Europeia de François Mitterand, Felipe González e Mário Soares que acredita no Keynesianismo. O que o SYRIZA quer e o povo Grego também é uma solução keynesiana no seio da UE, ou seja, mantendo o euro.

Drunkeynesian disse...

Ótimos insights, Alex. Pelo visto, ainda falta um passo na direção do radicalismo para que o euro possa implodir.

Canvas Art Shop disse...

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art on canvas disse...

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