sexta-feira, 30 de abril de 2010

Adeus, Angus Maddison

O obituário da The Economist para o incansável colecionador de dados econômicos. Economistas e políticos podem fazer muita coisa errada, mas não por falta de informação, graças à profissionais como Maddison.

Notícia & Frase do Dia - Milton Friedman, Brasil e Silicone

Fantástica matéria da Bloomberg:

Tummy Tucks, Breast Implants Slice Brazil Income Tax

(tummy tucks, como acabei de descobrir, é o inglês para lipoaspiração abdominal)

Pra quê, mesmo, taxar o supérfluo? Bom mesmo é manter o imposto alto para energia elétrica, que ninguém usa.



Por outro lado...

"I never met a tax cut I didn't like."
Milton Friedman (não concordo 100%, mas cabe na situação).
Leitoras, perdoem o sexismo. Já passou.

Motivos para gostar da The Economist (parte n...)

Capa da última edição:























I watched a snail crawl along the edge of a straight razor. That's my dream; that's my nightmare. Crawling, slithering, along the edge of a straight razor... and surviving.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

beyondbrics

É o nome do novo blog do Financial Times, sobre mercados emergentes. Se replicar a qualidade do Alphaville, vira leitura obrigatória.

Frase do dia - Liev Tolstói

"At the approach of danger there are always two voices that speak with equal force in the heart of man: one very reasonably tells the man to consider the nature of the danger and the means of avoiding it; the other even more reasonable says that it is too painful and harassing to think of the danger, since it is not a man's power to provide for everything and escape from the general march of events; and that it is therefore better to turn aside from the painful subject till it has come, and to think of what is pleasant. In solitude a man generally yields to the first voice; in society to the second."

Em Guerra e Paz, de 1869.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Porque a Grécia vai calotar a dívida

Martin Feldstein explica, no Project Syndicate.

Benvinda, Grécia!

Ao seleto clube dos países que pagam juros nominais de dois dígitos para se financiar com dívida de longo prazo (dez anos). De ontem para hoje as taxas de retorno dos títulos de dez anos do governo grego subiram de 9,69% para 11,28% (enquanto escrevo). Dos mais de vinte mercados que acompanho, apenas o Brasil-sil-sil, o Paquistão e a Turquia compartilham dessa interessante condição (preciso dizer novamente que há algo errado com o juro brasileiro?).

terça-feira, 27 de abril de 2010

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Lição de psiquiatria aplicada do dia

Da Wikipedia:

"...o transtorno bipolar ou distúrbio bipolar é uma forma de transtorno de humor caracterizado pela variação extrema do humor entre uma fase maníaca ou hipomania, hiperatividade e grande imaginação, e uma fase de depressão de inibição, lentidão para conceber idéias e realizar, e ansiedade ou tristeza."
Do Estadão, 16 de março de 2009:

Morgan Stanley prevê contração de 4,5% da economia brasileira
Do Brasil Econômico, hoje:

Morgan Stanley: PIB do Brasil irá crescer 6,8% em 2010

Mercados x realidade econômica

Para os fãs do assunto, mais uma aula de Jeremy Grantham.

GMO's Jeremy Grantham quarterly letter - 2Q10

Ações do Citigroup, alguém?

O Tesouro americano começa hoje a vender suas 7,7 bilhões de ações do Citigroup, adquiridas durante a crise. A tarefa dos tecnocratas americanos é convencer o contribuinte que salvar o banco (sem sequer precisar trocar o presidente) foi um bom negócio, já que as ações devem ser vendidas a um preço maior que o de aquisição. Tim Geithner falou que o custo fiscal da crise será menor que o do resgate do equivalente americano das caixas (savings & loan), no início dos anos de 1990 (cerca de US$ 150 bilhões de dólares). E esse é o estado atual do capitalismo. Risco moral? Vai precisar ser redefinido.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Som da Sexta - Mayer Hawthorne

Devo agradecer ao Arthur Dapieve pela dica de um dos melhores discos dos últimos tempos: A Strange Arrangement, do Mayer Hawthorne (pseudônimo para Andrew Mayer Cohen). A música do vídeo abaixo é o single de estréia, lançado em 2008 (e que também está no disco) -- o vinil de sete polegadas era em formato de coração, como o que aparece no clipe. Semelhanças com os melhores momentos de Smokey Robinson não são mera coincidência. E, segundo consta, o figura (um branco de Ann Arbor, Michigan) tocou todos os instrumentos e gravou a voz para esta faixa, na melhor tradição Stevie Wonder.

Mais um modelo para a Copa do Mundo




Desta vez é o banco suíço UBS, que prevê o Brasil como o favorito para a Copa deste ano. A Espanha, mais bem cotada nas casas de apostas, é apontada com apenas 4% de probabilidade de vencer.

O relatório completo está abaixo.







UBS - 2010 World Cup Guide

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Ponzi do dia - arbitragem entre supermercados

Acredite se quiser: foi revelado ontem, no sul da Flórida, um esquema Ponzi de US$ 900 milhões, no qual um tal Nevin Shapiro prometia retornos anuais entre 10% e 26% para uma operação que consistia em comprar mercadorias de supermercado em uma região e revender em outra, onde os preços fossem mais altos.

Mais no Dealbreaker.

Jeremy Grantham sobre bolhas e sua utilidade

No Financial Times.

Silvio Santos versus Grécia

Chegou o dia em que o Banco Panamericano (do homem do baú) consegue se financiar, em moeda forte, a taxas menores que a Grécia, membro da União Européia. Depois de o mercado descobrir que, novamente, foi enganado pelo governo grego (que estimou, há duas semanas, um déficit fiscal de 2009 menor que o reportado pela Eurostat), a taxa de retorno dos títulos de dez anos da dívida grega (em euro) explodiram, sendo cotadas enquanto escrevo a 8,80% ao ano. O Banco Panamericano, por sua vez, tem uma emissão de dez anos em dólares, feita semana passada, cotada a 8,20% no mercado secundário. Deve ser porque a Grécia não tem a opção de pagar em mercadorias do Baú...

terça-feira, 20 de abril de 2010

BRICs, o clube de um trilhão de dólares

Para quem ainda aguenta ouvir do tema, a The Economist tem um texto interessante sobre o balaio de gatos -- e, para quem gosta de acrônimos, alguns talvez inéditos, como IBSA e BASICs.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Evidência anedótica do dia - figurinhas da Copa

Para adicionar à tese do Brasil bombando:

Falta de figurinhas gera irritação, cota em bancas e silêncio da Panini

A beleza de um cisne negro

Eyjafjallajokull é o nome da vez. Um vulcão na Islândia deixa o espaço aéreo da maior parte da Europa fechado por dias, atrapalhando (mais ainda) a vida das companhias aéreas e de milhões de pessoas. Mais uma lição de humildade para o homem.

O Washington Post tem uma galeria de fotos espetacular sobre a história.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Oxímoro, alguém? A "ditadura benevolente" de Ricardo Amaral

A essa altura o leitor informado já deve saber da história: um até então desconhecido Ricardo Amaral (segundo consta, "membro das duas famílias mais politicamente influentes da história brasileira" - grande merda) escreveu um texto para o RGE Monitor (um site de opiniões da consultoria de Nouriel Roubini -- evidentemente ele não tem nada a ver com o conteúdo, embora vá precisar de um certo esforço de relações públicas depois desse episódio) cujo título (traduzido) é: A Fórmula Brasileira para o Sucesso: Ditadura. Segundo ele, "é tempo para uma nova ditadura benevolente no Brasil", já que "o problema do crime que está devastando a população brasileira não pode ser resolvido sob um sistema de governo democrático". Democraticamente, o artigo foi tirado do ar (mas pode ser lido no blog do Financial Times). Leia e tire suas próprias conclusões.

É cômodo pensar que o tal Ricardo Amaral é simplesmente um cretino (o que não deixa de ser verdade); mais difícil é reconhecer que a coincidência de períodos de crescimento acelerado com regimes políticos não-democráticos ainda gera uma incômoda nostalgia para uma parcela não desprezível da população brasileira. O passar do tempo pode remediar parte disso; ajuda se a atual democracia provar que é capaz de gerar crescimento e redução da desigualdade (desde que o senhor acaso não atrapalhe muito, claro).


Update (19/abr): a nota da Roubini Global Economics sobre o assunto.

SEC versus Goldman Sachs, ou: o povo versus os bancos

Para a explicação técnica da denúncia feita hoje pela equivalente americana da CVM contra a Goldman Sachs, veja o blog do Felix Salmon. Para os realmente puristas, lá tem inclusive o link para o documento original da SEC.

Para entender a possível implicação da notícia: não sei o que aconteceu nos bastidores, mas a notícia de hoje parece ser um recado dos reguladores para os bancos. Talvez tenha chegado a hora em que o povo americano (representado por seus políticos e reguladores) cansou da socialização de prejuízos (e de bônus milionários que, evidentemente, são embolsados nos bons tempos e não devolvidos quando as fraudes aparecem). Pode parecer a morte da galinha dos ovos de ouro dos últimos anos, mas, para o futuro, é um passo absolutamente necessário -- por mais que não se concorde em teoria com um aumento de regulação e regras criadas por burocratas com dez anos de atraso, mas os responsáveis pelos erros passados tem de ser punidos de alguma forma. Talvez alguém, finalmente, esteja desligando a música para acabar com a festa -- às 11 da manhã do dia seguinte, mas ainda a tempo.

Os profissionais do mercado, vistos por seus colegas

Piada interna, mas muito boa. Recebi por e-mail (clique para aumentar).



Unidos pela Goldman Sachs

A piada de mau gosto não tem fim...




Minha opinião não mudou, e está aqui.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Para quem ainda aguenta...

... tem uma entrevista com o Taleb no Business Insider, falando mal de Paul Krugman, Thomas Friedman, Tyler Cowen...

Brincando de Grécia

É um pouco (um pouco?) nerd achar divertido brincar com isso.... em todo caso, Felix Salmon colocou no seu blog uma planilha feita pela Reuters que permite simular a trajetória da dívida da Grécia (e verificar quão róseas são as projeções oficiais do país -- acredite se quiser). Pelo meu chute, a dívida / PIB só cresce... Volta, dracma.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Dose de realidade (para mim) do dia



S&P 500 futuro a 1,200 pontos. Nenhum comentário adicional.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Lords of Finance - Pulitzer de história

Depois do prêmio do Financial Times de Business Book of the Year, a história dos principais banqueiros centrais do mundo durante a Grande Depressão levou o Pulitzer de melhor livro de história.


Lords of Finance: The Bankers Who Broke the World. Liaquat Ahamed, The Penguin Press. US$ 12,24 na Amazon. Lançado no Brasil como Os Donos do Dinheiro, pela Campus. Extorsivos (como de costume para os lançamentos dessa editora) R$ 109,90 na Cultura - quer mais incentivo para ler em Inglês?

O silêncio que precede a tempestade

Andrew Shawn fala sobre a queda do VIX, o índice de volatilidade das ações do índice S&P 500. A acomodação desse índice em níveis muito baixos pode ser sinal de turbulência à frente.

Uma leitura de 15,58 (o fechamento de ontem) é, grosso modo, compatível com variações diárias no S&P 500 de menos de 1% (para os interessados nas contas 15,58% dividido pela raiz quadrada de 252 -- o número de dias úteis num ano). Esse tem sido o padrão nas últimas semanas (há mais de um mês não há um movimento desse tamanho), mas faz muita gente -- este escriba incluso -- desconfiar de uma certa complacência dos investidores americanos.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

A volta da política industrial (lá e aqui)

Dani Rodrik, de Harvard, escreve no Project Syndicate:

"Industrial policy is back."

E José Serra, numa entrevista para a Folha de ontem:

FOLHA - Qual é o modelo de desenvolvimento que o sr. prega hoje?
SERRA - Temos três modelos de desenvolvimento que estão postos. O primeiro é voltar à economia primária exportadora -com um pouco mais de valor agregado, mas ainda assim primária exportadora. O segundo é o da chamada economia de serviços, que prega que a indústria já foi. O primeiro não tem condições de gerar empregos num país com 200 milhões de habitantes como é o Brasil. O segundo é uma bobagem, porque os serviços são importantes, têm valor adicionado, mas se desenvolvem a partir de uma economia industrializada. O terceiro é um modelo industrial competitivo, não fechado, como no passado. É o único modelo capaz de gerar empregos e crescimento sustentado. O problema é que o Brasil está caminhando para o primeiro modelo, e eu acho isso errado. Não é que não tenha de exportar recursos primários, mas o Brasil tem um tamanho, uma dotação de recursos naturais e uma população que lhe permitem se desenvolver em várias direções. É um país agrícola, industrial, pode exportar produtos primários e mais elaborados. Esse é o grande desafio.

Frase do dia - Michael Lewis

"The problem wasn't that Lehman Brothers had been allowed to fail. The problem was that Lehman Brothers had been allowed to succeed."

Do epílogo de The Big Short, o livro de Michael Lewis que conta a história do mercado de hipotecas subprime e como ele derrubou o sistema financeiro americano. Michael Lewis deve ser dos poucos autores que consegue transformar as minúcias mais obscuras do mercado financeiro em material atrativo para o leitor médio, o que faz da leitura de The Big Short uma experiência agradável e enriquecedora.

The Big Short conta a história do ponto de vista de quatro investidores que estiveram entre os primeiros (segundo o autor, mais de dez, menos de vinte) a enxergar um grande esquema Ponzi por trás do motor de crescimento do mercado financeiro durante boa parte dos anos 2000 e conseguir lucrar com isso. Steve Eisman, Michael Burry, Greg Lippmann e o grupo da Cornwall Capital têm origens e métodos muito variados, mas conseguiram manter a sanidade em um ambiente em que quase todos estavam loucos -- o que é muito fácil de se ver olhando para o acontecido, mas que custou a eles diversas noites de sono, problemas de saúde e parte de suas reputações.

Para Lewis, a irresponsabilidade de Wall Street começou a acelerar quando os bancos de investimento deixaram de ser partnerships (cujos donos eram os próprios sócios e funcionários) e venderam suas ações no mercado, para diversos investidores anônimos. Com dinheiro alheio (e a "pressão dos acionistas por resultados"), foi mais fácil justificar a alavancagem das operações e a entrada em mercados com riscos enormes e retornos muito limitados -- não importava mais a sobrevivência do negócio, e sim um resultado anual que pudesse justificar os bônus dos executivos, mesmo que esse resultado fosse ficcional.

Talvez o mais chocante é perceber que pouco mudou nessa cultura: a crise parece fazer parte do passado, e os modelos de incentivos seguem praticamente intactos, com a adição de dinheiro público e a impressão que o Estado não deixará ninguém sofrer as consequências de más decisões. Provavelmente mais uma crise de grandes proporções será necessária para que isso comece a mudar.


The Big Short: Inside the Doomsday Machine. Michael Lewis, 2010. US$ 15,37 na Amazon. Ainda não ouvi notícias de tradução para o Português.

sábado, 10 de abril de 2010

Som da sexta (atrasado) - Gene Kelly

Uma homenagem (não irônica, juro!) a joie de vivre do carioca.

Baixo Gávea Debaixo D'água from Mellin Videos on Vimeo.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Inflação, a Fazenda e esses pobres empresários brasileiros


Minha opinião sobre o empresariado (industrial) brasileiro é bastante volátil. Primeiro eu tendo a achar que trata-se de um bando de chorões, que reclamavam do câmbio a R$ 3,80 / US$ e seguiram reclamando até R$ 1,60 / US$. Alguns aproveitaram todo esse movimento de apreciação para tentar lucrar com especulação no mercado de derivativos, e, quando veio a crise no final de 2008 e o real voltou a se depreciar, foram varridos e socorridos pelo governo. Outros se beneficiam dos impostos sobre importações para obter a combinação mágica de produzir e vender produtos inferiores aos similares produzidos fora do país a preços mais altos (roupas, calçados, automóveis, eletrônicos... a lista de exemplos chocantes é extensa). Por uma ótica mais generosa, tenho que reconhecer que investir, empreender e gerar empregos em um país que pratica juros reais de 6%, com estruturas tributárias, trabalhistas e legais bizantinas é uma tarefa quase heróica. Mais ainda olhando para os setores que concorrem com países que subsidiam suas indústrias, seja diretamente ou indiretamente, via câmbio depreciado. Provavelmente a verdade é que há chorões e há heróis, ou que eles se misturam em variadas proporções.

Dessa maneira, não sei direito como reagir à ameaça que seu Mantega fez hoje, de baixar impostos sobre importação para estimular a competição em setores que "começarem a abusar dos preços", como forma de combater a inflação (a tara que o país adquiriu por combate à inflação é impressionante -- deve ter alguma explicação freudiana). Para alguns setores, de fato, um pouco de competição não faria mal. Por outro lado, é quase um desaforo fazer esse tipo de sugestão quando o governo poderia baixar os custos das empresas (e, consequentemente, a pressão nos preços finais) reduzindo, por exemplo, os impostos sobre energia ou outros insumos - para não falar de outras medidas mais criativas. Estimular a importação tem outros dois efeitos colaterais: pode enfraquecer o real (e criar pressão nos preços de outros importados, se não até anular o efeito do corte de impostos -- seria cômico ver uma medida desse tipo acabar gerando mais inflação) e cria, para fechar as contas externas, uma dependência maior de fluxos financeiros. Estes, numa situação de crise, podem depender de juros mais altos para serem atraídos, o que pode ser bastante prejudicial ao "crescimento sustentável" que tanto prega o governo.

A aceleração da inflação brasileira nos últimos meses deve-se, sobretudo, a uma alta nos preços de alimentos (ver gráfico) - que, é sabido, são tão voláteis quanto a minha opinião sobre os industriais do país. Também é sabido que essas altas tendem a ser anuladas no tempo, ou porque o clima torna-se mais favorável à determinadas safras, ou porque os preços altos estimulam um ajuste na oferta e na demanda (para os estatísticos: são choques aleatórios, cuja média, no tempo, deve ser próxima a zero). No futuro, portanto, a inflação deve ceder -- talvez dando mérito, por motivos errados, às altas de juros que o Banco Central deve começar a promover a partir do próximo dia 28. Então, espero, os empresários poderão se ver livres do terrorismo verbal do Ministro da Fazenda.

China e as impressões dos turistas financeiros

O ex-ministro e gestor de fundos Luiz Carlos Mendonça de Barros esteve na China. Sua conclusão (está na Folha de hoje, para quem não é assinante, deve estar em breve no site da Quest)?

"Ainda bem que a economia brasileira está ligada de forma muito forte ao desenvolvimento chinês. Essa vai ser uma das fontes mais importantes para nosso crescimento econômico na próxima década."

Hugh Hendry, do fundo britânico Eclectica, também esteve na China. As impressões dele estão no vídeo abaixo, que virou um cult no mercado financeiro:



Eu acho que a lógica de investir na China e em tudo ligado à sua história de crescimento é um pouco parecida com a do subprime americano (estou terminando o livro de Michael Lewis sobre o assunto, The Big Short. Mais em breve aqui.): tudo vai bem enquanto o país consegue crescer a taxas perto de 10% ao ano. Um espirro, e um monte de casos aparentemente brilhantes começam a fazer água. O Brasil tem que achar sua própria trilha de desenvolvimento, e estar preparado para um mundo menos sedento por commodities. Colar na China não me parece uma boa alternativa.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Proposta para o fim da tragédia grega

Mais alguém acha que a dracma está prestes a reaparecer: John Taylor, do FX Concepts, o maior fundo de moedas do mundo:

"At this point, the best way out for Greece is very clear. Greece should pull out of the euro this weekend, issue new drachma notes as soon as possible, and let the lawyers clean up the mess. If I were running Portugal, Italy, or Spain I would do the same thing – the first one out is the winner. "

Talvez quem estiver planejando visitar as ilhas gregas neste verão vai ter uma boa surpresa quando pagar a fatura...

Grupo Bertin forma consórcio para Belo Monte

Está no Valor de hoje. Cada país tem o chaebol que merece.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Copa, cerveja e previsões

Já que sabemos que previsões do futuro têm pouco valor, melhor usá-las para algo divertido, não? O blog do FT traz um estudo feito pela empresa de pesquisa americana Sanford Bernstein tentando estimar o aumento do consumo de cerveja nos países que sediam a Copa do Mundo (1,8%, na média, para quem interessar). Melhor ainda, com base nas casas de apostas, eles apontam que a final da Copa será jogada entre Espanha e Brasil, com a Espanha levando a taça inédita (pfffffffff...). Inglaterra e Argentina seriam os outros semifinalistas. Faltam 55 dias!

terça-feira, 6 de abril de 2010

Novo blog (de respeito) na praça

Martin Wolf, do Financial Times.

Isla Presidencial - segundo episódio

O fantástico Lost dos presidentes latinoamericanos, no El Chigüire Bipolar. Lá tem o link para o primeiro episódio, para quem não viu.

Real contra a rapa

Um leitor comentou no post abaixo e me motivou a escrever sobre a confusão que é comparar a valorização do real contra a desvalorização das outras moedas. Os dois movimentos são paralelos.
Para começar, o dólar americano vem numa tendência de desvalorização que já dura mais de oito anos (desde o final de janeiro de 2002). O DXY é um índice amplamente usado (e negociável) que mede a taxa de câmbio do dólar contra outras seis moedas (euro, iene, libra esterlina, dólar canadense, coroa sueca e franco suíço):

Comparando o real com outras moedas nesse período, vemos que a moeda brasileira não foi das que mais se fortaleceu (todas as barras verdes indicam valorizações maiores que o real). Entretanto, contra o dólar o ganho foi expressivo (quase 27%):

Para pegarmos um período mais recente: o DXY fez uma mínima histórica em abril de 2008, que foi seguida por uma correção relativamente forte, seguida de uma nova desvalorização. Desde o pico dessa correção, em março de 2009, a mesma comparação do real com outras moedas é a seguinte:



Esse é um período de "todo-poderoso real", e onde está boa parte da valorização contra o euro.
Conclusão? Da minha parte, nenhuma relevante. Fortes mesmo estão os dólares australiano e neo-zelandês, além do rand sul-africano. O ganho em termos de troca dos produtores de commodities tem sido brutal, e esse é o mundo em que vivemos.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Mudar, não podemos

Deve haver algo errado quando uma das candidatas à presidência que, em teoria, mais clama por mudança, defende o "tripé de política econômica".

No UOL:

Marina Silva diz que manterá política econômica caso seja eleita

Da série: "nunca na história deste país"

Considerando que a "história deste país" começa com a posse de Luiz Inacius Lula Maximus, nunca o euro foi tão barato em reais. Primavera em Paris, alguém?


O estado da pesquisa acadêmica sobre política monetária

Um capítulo sobre política monetária (escrito por dois pesquisadores de Harvard) de um novo manual de economia monetária , publicado como paper pelo NBER, começa dizendo que qualquer texto sobre o assunto escrito antes de 2008 teria concluído que (tradução livre minha):

1) Política monetária é melhor quando deixada para bancos centrais independentes, longe de políticos e do tesouro;

2) Bancos centrais devem seguir uma meta de inflação (explícita ou implícita);

3) A combinação de bancos centrais independentes e política de metas de inflação levou à "grande moderação" e à solução para o problema da inflação;

4) Políticos muitas vezes usam os bancos centrais como bodes expiatórios, mas, na prática, tiveram pouco espaço para influenciar os rumos da política monetária (nos países da OECD);

5) A experiência do Euro foi, no geral, positiva, mas ainda não passou por um teste num período de recessão.

O confronto da literatura que levou a esse consenso teórico com a realidade da crise de 2007-2009 levou à seguinte conclusão:

"... o capítulo levantou mais questões do que forneceu respostas. É razoável dizer que na época em que isto foi escrito nós ainda não havíamos digerido as implicações da crise para a condução da política monetária e suas instituições. Provavelmente o próximo manual de economia monetária em uma década trará todas as soluções. Agora que esclarecemos alguma das questões, precisamos começar a procurar respostas."

Se essa conclusão parece desanimadora, pelo menos dá o primeiro passo na direção da resolução de um problema: a consciência de que ele existe.

O Dia do Fico de Meirelles

(este texto estava pronto para ser publicado na quinta-feira; infelizmente o nosso venerável presidente do Banco Central resolveu tornar pública decisão tão importante para nossa sociedade e para a "racionalidade econômica" depois que eu já estava em ritmo de Páscoa.)

Seu Henrique Meirelles achava que o prestígio conquistado por "conduzir o país com maestria durante um período de inédita turbulência" (claro que discordo dessa afirmação tão propagada por aí, mas esse é tema para outras discussões) teria lhe garantido a opção de escolher, ao seu bel-prazer, entre ser o vice-presidente de dona Dilma, candidato ao senado por Goiás, executivo à procura de emprego no mercado financeiro ou criador de orquídeas e outras plantas ornamentais. Nos últimos meses, ele deve ter descoberto que política é uma atividade bem pouco cartesiana, e que exige um tipo de ego bastante diferente daquele de banqueiros centrais. Por isso, veremos Meirelles terminar seu mandato gloriosamente, de mãos dadas com Lula, seu quase fiel apoiador (diz Luiz Gonzaga Belluzzo que chegou a recusar um convite do Nosso Guia para assumir o Banco Central enquanto Meirelles estava lá), e como um dos poucos ministros que conseguiram sobreviver a oito anos do governo do PT.

O Banco Central que Meirelles comandará até o final deste ano é muito diferente do padrão com o qual o mercado se acostumou desde 2003. Se antes pelo menos metade da diretoria era composta por profissionais ligados ao mercado financeiro ou à PUC-RJ (quase sinônimos, ultimamente), gente de pensamento "ortodoxo" e relativamente previsível, agora a maior parte do Comitê de Política Monetária é formada por burocratas de carreira, muitos anteriormente ligados ao Ministério da Fazenda, e, leitura quase consensual, mais "influenciáveis" por fatores políticos.

Minha opinião, um pouco iconoclasta, é que o trabalho do Banco Central do Brasil como perseguidor de uma meta de inflação se assemelha a de um pescador montado numa jangada -- por mais que ele faça um trabalho excelente, muito do seu resultado dependerá de fatores aleatórios (como a maré e o tempo), e ele pode ser varrido por um tsunami ou por um transatlântico passando por perto. Dessa forma, acho que faz pouca diferença para 99,9% da população (ou seja, os que não operam diariamente no mercado de juros) o que a nova diretoria vai fazer com os juros de um dia. Passo mais importante, talvez, será dado no ano que vem, com presidente e idéias novas quanto à condução da economia. Até lá, podemos esperar as tradicionais discussões sobre a diferença que faz 0,25% de aumento na Selic distribuído ao longo de meses. Durmamos em paz e tomemos cuidado com o que realmente importa, os tsunamis e transatlânticos.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Bilionários dos hedge funds, classe de 2009



Conheça David Tepper, o homem que acertou em cheio que o governo americano não deixaria os bancos quebrarem, e seus colegas que ficaram alguns bilhões mais ricos no ano passado.

Obama: "estamos vivendo além de nossas possibilidades"

Depois da grande vitória na aprovação do novo sistema de saúde americano, Barack Obama parece de fato resolvido a enfrentar os problemas do país. No tradicional pronunciamento pré-Páscoa, Obama disse que o povo americano precisa reconhecer que a riqueza dos últimos anos foi "irreal", e que os trabalhadores atuais não devem sustentar seus padrões de vida às custas das próximas gerações. O presidente também disse que o governo não ajudará empresas com problemas durante os próximos anos, e que os bancos devem se preparar para uma normalização dos juros "em breve".

Vale conferir o discurso, aqui.