terça-feira, 15 de maio de 2012

Judt sobre Hayek x Keynes

Este trecho é do último livro de Tony Judt, Thinking the Twentieth Century (estou pela metade):


The three quarters of century that followed Austria’s collapse in the 1930s can be seen as a duel between Keynes and Hayek. Keynes, as I was saying, begins with the observation that under conditions of economic uncertainty we would be imprudent to assume stable outcomes and therefore had better devise ways to intervene in order to bring these about. Hayek, writing quite consciously against Keynes and from the Austrian experience, argues in The Road to Serfdom that intervention - planning, however benevolent or well-intentioned and whatever the political context - must end badly. His book was published in 1945 and is most remarkable for its prediction that the post-World War II British welfare state already in the making should anticipate a fate similar to that of the socialist experiment in post-1918 Vienna. Starting with socialist planning, you would end with Hitler or a comparable successor. For Hayek, in short, the lesson of Austria and indeed the disaster of interwar Europe at large boiled down to this: don’t intervene, and don’t plan. Planning hands the initiative to those who would, in the end, destroy society (and the economy) to the benefit of the state. Three quarters of a century later, this remains for many people (especially here in the U.S.) the salient moral lesson of the twentieth century.
(...)
It is as though what had taken place in Austria was a debate between planning and freedom, which was never the case, and as though it were self-evident that the course of events which led from a planned city to authoritarian repression and ultimately fascism can be summarized as a necessary causal relationship between economic planning and political dictatorship. Relieved of its Austrian historical context and, indeed, even of the very historical reference, this set of assumptions - imported to the U.S. in the suitcases of a handful of disabused Viennese intellectuals - has come to inform not just the Chicago school of economics but all significant public conversation over policy choices in the contemporary United States.


Isso provocou uma discussão interessante na blogolândia em Inglês. Começou com este post do Tyler Cowen, que diz que Judt foi injusto na caracterização do Hayek. O Crooked Timber discutiu aqui, com uma leitura do próprio Hayek. Por fim, o Moneybox aponta uma inconsistência no pensamento de Hayek sobre o estado de bem-estar social (e o Crooked Timber, de novo, dá mais referências). Pena Judt não estar mais entre nós para seguir alimentando a polêmica.

Ah, no primeiro post do Crooked Timber foi possível encontrar esta pérola entre os comentários:

I would certainly be happy if I was generally regarded as being as dishonest and as ignorant as Tony Judt. After achieving that, I think I’d try to become as poor as Donald Trump and as ugly as Jude Law.

13 comentários:

Jorge Browne disse...

Nunca li o Hayek em primeira mão, mas gostei da definição do Matthew Yglesias: The answer to this puzzle, I think, is that Hayek was inconsistent.

De qualquer forma um baita pensador, e tem coisas que ele diz que muitos admiradores brasileiros (aqui no Sul tem vários) achariam definitivamente "coisa de comunista". Mas aí é a diferença entre ser liberal (na nossa acepção) e elitista...

Anônimo disse...

Quem pega carona de quem? É inquestionável a contribuição de Hayek sobre as economias planejadas, mas acho que é forçar a barra comparar o pensamento dele com o de Keynes. O problema de Keynes era o da política econômica de curto prazo em economias deprimidas...

Anônimo disse...

sempre achei que essa discussao teria que ser encarada pelo ambiente que ambos autores viviam. um via o perigo do comunismo e repudiava o estado o outro queria consertar a economia no curto prazo.

Jorge Browne disse...

No "Como os mercados quebram" do John Cassidy tem um bom resumo do debate Keynes x Hayek. Nunca recomendam esse livro (porque ele é de esquerda ou porque ele não é economista?) mas eu gostei imensamente.

Drunkeynesian disse...

Eu não li, mas ouvi falar bem. Gosto do Cassidy (mais do que do James Surowiecki, o outro cara que escreve sobre economia na New Yorker).

Jorge Browne disse...

DK, dá para ler em um par de dias. Vale a pena.

Por falar nisso, já pensaste em abrir uma seção sobre recomendações de leituras, livros no caso?

Drunkeynesian disse...

Ainda vou fazer isso, só preciso me organizar (e ler um pouco mais pra não passar vergonha esquecendo coisas básicas). O que estou fazendo agora é arrumar minha pasta de papers, vou jogar num cloud da vida e deixar para o público (fuck Elsevier).

Anônimo disse...

Hayek escreveu o "Road of..." no começo dos anos 40, para levar um argumento sério à mesa, e não um tratado de economia política no sentido estrito, e muitos falham em entender essa perspectiva. Ele não toca nos russos, por exemplo, aliados na guerra. Seu alvo principal eram as nacionalizações dos meios de produção, coisa de mentalidade bem fascistóide.

Hayek acreditava que até mesmo o controle indireto da produção poderia levar a conseqüências nefastas, mas de forma muito mais gradual do que a descrita no livro, mas pode ser parado, com muito mais chances de reversibilidade. Ele sabia, e disse em entrevistas posteriores, que a forma como descreveu o processo de planejamento da sociedade não se aplicaria a muitos partidos da esquerda no cenário contemporâneo. A bem da verdade, o planejamento descrito no livro uma prática que boa parte os socialistas modernos tiraram de suas cartilhas, voltando-se mais temas como imposto progressivo, etc.

P.S.: Keynes recebeu muito bem o livro, enviando uma carta para Hayek.

Outra coisa que as pessoas não entendem sobre Hayek, é que ele admitia uma renda mínima, por exemplo. Admitia um welfare em algum nível, entendendo os custos que isso traz, mas sem monopólio dessas ações.

Drunkeynesian disse...

A impressão geral que tenho é que os caras que adotam as bandeiras depois dos seus pioneiros (sejam eles austríacos, keynesianos, friedmanitas, etc) acabam sempre deslocando as discussões para preto / branco, enquanto os originais enxergavam inúmeras nuances de cinza (e por isso foram e seguem sendo tão relevantes). Esse trecho da Sylvia Nasar ajuda a desmontar o antagonismo:

http://www.bloomberg.com/news/2011-09-13/hayek-keynes-and-preventing-economic-crises-commentary-by-sylvia-nasar.html

Anônimo disse...

Ótimo texto, D.

Meio nada a ver, mas já que falamos do Hayek, tem uma frase do Taleb que gosto muito:

"Intellectuals and academics (except for Hayekians) tend to treat the rest of the population as total idiots. So it is very hard for them to swallow the statement that, statistically, an intellectual is much, much more likely to be the total idiot ..."

Drunkeynesian disse...

Hahahaha... o Taleb é bom de frases. Aguardemos o livro novo.

Anônimo disse...

Já saiu: http://www.amazon.com/gp/product/1400067820/ref=as_li_tf_tl?ie=UTF8&tag=test12-20&linkCode=as2&camp=1789&creative=9325&creativeASIN=1400067820

Drunkeynesian disse...

É pré-venda, né? O livro, mesmo, só no final de Novembro.