quarta-feira, 2 de maio de 2012

Argentina: O Que Você Vê e o Que Você Não Vê

"An economist must take into account both what is seen and what is not seen"
- Frédéric Bastiat 

"O corvo da desconfiança pousou na nossa amizade. Daqui por diante, cada um segue seu destino"
- Drauzio Varella, em Estação Carandiru

O post que comparou o crescimento de alguns países latino-americanos (e seu posterior anexo), concluindo que os crescimentos de Brasil e Argentina não são tão diferentes ao longo dos anos, foi o mais acessado e comentado da história deste blog. Isso reforça minha obrigação de esclarecer quando surgem novos fatos. Ontem o Mansueto Almeida publicou esse post, citando uma pesquisa do Sergio Vale (da MB associados) junto a Ecolatina, uma consultoria argentina com 35 anos de experiência e serviços prestados a  muitas empresas que operam por lá. Pois bem: os dados da Ecolatina dizem que o INDEC (o equivalente ao IBGE argentino) vem subestimando o deflator do PIB (e, portanto, superestimando o crescimento real) deade 2007. A tabela abaixo (roubada do Mansueto) mostra esse descolamento entre os dados oficiais e os estimados pela Ecolatina:


Para reforçar um ponto que eu já fiz: nunca achei que a inflação oficial (IPC) publicado pelo INDEC fosse realista, mas, até agora, era levado a acreditar que a manipulação só ocorria nessa métrica (daí a grande diferença entre o IPC e o deflator, desde 2005). Os dados da Ecolatina, se corretos, mostram que fui feito de trouxa - eu e todos que usam as estatísticas que o país fornece a FMI, Banco Mundial, etc.

Quando fatos mudam, não resta muito a não ser mudar os pensamentos, como bem disse Lord Keynes. Assim que possível, vou refazer as tabelas e gráficos do post de semanas atrás incluindo os dados como vistos pela Ecolatina; coloco o resultado aqui o quanto antes.

Agradeço ao Mansueto e ao Sergio Vale pelos novos dados, e lamento muito pelo o que está sendo feito com os argentinos, a quem resta o consolo de que isso, também, um dia vai passar.

10 comentários:

Jorge Browne disse...

E daí entramos no pavoroso mundo da confiabilidade da produção primária de dados...
A tese de que quem brinca com os índices de inflação também brinca com o deflator é plausível. Porém o fato de a Ecolatina achar coisa diferente não torna esse o cálculo "verdadeiro" e o oficial "falso". Ou seja, o argumento do post anterior não está necessariamente invalidado, pois os fatos não necessariamente mudaram.

Por mais que a estatística da consultoria se encaixe à perfeição com nossas expectativas a priori não dá para se deixar levar.

Agora, que essa discussão diz muito sobre as características das instituições portenhas, ah isso diz...

Drunkeynesian disse...

É fato, Jorge - a conclusão mais rigorosa é que deve-se olhar com desconfiança qualquer dado sobre a economia argentina. A verdade vamos saber daqui a alguns anos, quando um novo INDEC confiável recalcular os dados de muito tempo para trás.

De qualquer forma, quando recalcular as tabelas vou deixar os dois dados (do INDEC e da Ecolatina).

Dawran Numida disse...

Bem, o governo de lá pode ter todos os direitos do mundo de defender seus dados.
Só não pode impedir ou ameaçar quem faça cálculos e chegue a resultados diferentes dos divulgados pelo governo e suas entidades.

Dessa forma a credibilidade cai, mesmo.

As discrepâncias são muito grandes para o governo estar certo.

Jorge Browne disse...

Eu diria que as discrepâncias são tão grandes que apenas um está certo. Provavelmente é o governo, mas daí a afirmar categoricamente vai uma loooonga distância... Há que se investigar mais.

Jorge Browne disse...

Ooops, quis dizer que provavelmente o governo argentino não está com a razão. Sorry.

Dionísio disse...

Como evoluíram os níveis de receita governamental e emprego? Dariam um bom índice da produção, não?

Drunkeynesian disse...

O Alexandre Schwartsman estava montando uma comparação com o consumo de energia elétrica, deve sair algo interessante.

Anônimo disse...

Mesmo com os dados da ECOLATINA a coisa não fica ruim não...

Anônimo disse...

¿por qué le debemos asignar más credibilidad a las estimaciones basadas en supuestos ignotos, bases de datos imprecisos, escasa uniformidad en el relevamiento y periodicidad del relevamiento esporádico cuando lo ha habido y no han sido sólo sumatoria de datos aislados no consistentes?

Drunkeynesian disse...

tal vez por que el gobierno no fornezca datos con más credibilidad... si no hay confianza en los datos oficiales, se crea espacio para quen quiera.