quinta-feira, 31 de maio de 2012

Gráfico do Dia - os ricos (e pobres) do futuro

De um ótimo relatório de Torsten Slok, do Deutsche Bank, sobre demografia e o estado dos fundos de previdência no mundo (clique para aumentar).


quarta-feira, 30 de maio de 2012

Agregador de blogs do Fed de St. Louis

Ontem recebi o seguinte e-mail:


Dear Blogger,


Congratulations, you made the list!


The Federal Reserve Bank of St. Louis is launching a blog aggregator, EconomicAcademics.org, to highlight and promote the discussion of economics research. Your blog is part of this effort. This email explains why and how you can help promote the discussion of economic research in the blogosphere.


EconAcademics.org lives at http://econacademics.org/ and aggregates blog posts that discuss economic research. The aggregator looks through blog posts for a link to some research indexed on a RePEc service, currently EconPapers, IDEAS and NEP. IDEAS then also links back from the abstract page to the blog posts.


Note that your RSS feed is used to parse your posts for appropriate content. This means that if your feed includes only post excerpts, it will be difficult to index it properly, as we need to see the full post to properly parse it.


Let me mention that linking to an abstract page on a RePEc service has several advantages over a direct link to the study. Foremost, RePEc links are more stable. Also, they allow readers to possibly find another version if the study is behind a paywall. Furthermore, the abstract page features often links to author profiles and to references and citations listed in RePEc. Finally, there is the mentioned link from IDEAS to your blog posts.


A link back to EconAcademics.org is not required, but surely appreciated.


This blog aggregator is provided by the Federal Reserve Bank of St. Louis, which also offers with FRED database and graphing tool as a useful resources for bloggers. Feel free to use the graphs on your blog, best done by embedding them so that readers can click on them to get more details about the data. FRED lives at http://research.stlouisfed.org/fred2/.


Also, let me mention that RePEc's email notification service is also available by RSS. Thus, if you have a topical blog, you can have the latest papers in your field featured in an RSS widget. See http://nep.repec.org/.


If you have suggestions, comments, or questions, do not hesitate to contact me.


Sincerely,


Christian Zimmermann
RePEc team
Federal Reserve Bank of St. Louis

Recomendado fica. O Fed de St. Louis já tinha outras iniciativas muito bacanas, como o agregador de pesquisas RePEc e a ótima base de dados que o professor Zimmermann menciona. Na seção em Português, já tem vários posts do Oikomania e do Moral Hazard.

Europa, por europeus

Ontem o Pew Research Center (think thank baseada em Washington, financiada com dinheiro da família fundadora da petrolífera Sunoco) publicou um relatório muito interessante, intitulado European Unity on the Rocks - Greeks and Germans at Polar Opposites. O trabalho foi baseado em entrevistas com cerca de 9 mil pessoas em nove países, e busca investigar como os europeus se sentem com relação ao atual arranjo do seu continente e os outros países que o compõe (o projeto do qual faz parte, chamado Global Attitudes, pesquisa 21 países em vários continentes).

O relatório tem inúmeros insights interessantes sobre o espírito do tempo atual; aqui destaco alguns:

- Como os europeus enxergam os outros europeus: o Mark Dow fez uma reflexão muito apropriada sobre a seguinte tabela:


- Como avaliam as condições econômicas e o futuro: a diferença entre Grécia e Alemanha é brutal (mesmo entre Alemanha e todos os outros países pesquisados). Como bem observou o Mark Dow, as forças que atuam no continente são centrífugas, não centrípetas:


Ainda assim, a maioria dos gregos quer permanecer no euro - mais surpreendente que, entre os países pesquisados, são os que mais defendem continuar na moeda única. Talvez isso explique porque até agora não houve uma corrida bancária e porque a opção pelo radicalismo na política está sendo revista (pesquisas para a nova eleição mostram fortalecimento dos partidos moderados).


Quase todos gostam dos alemães:


Daria para destacar outros tantos dados, fica recomendada a leitura do relatório inteiro.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Corrigindo os posts sobre juros históricos no Brasil

O Irineu de Carvalho Filho me deu uma ajuda inestimável para achar algumas barbeiragens que fiz no tratamento dos dados, e os resultados agora parecem muito mais palatáveis. Fiz as devidas correções nos posts, confiram lá:

Um histórico longo de juros no Brasil

Um histórico longo de juros no Brasil (2) - a poupança

Esperando Godot, versão 2012

Cortesia de Michael Cembalest, do J.P. Morgan (é, economistas conseguem ser engraçados - é raro, mas acontece). Qualquer semelhança da situação da Europa com humor nonsense não é mera coincidência. Clique para aumentar:


A referência para as "M Countries" é o gráfico abaixo, que sugere que uma união monetária formada por países cujo nome começa com a letra "M" seria mais coesa que a zona do euro.


O relatório inteiro está aqui.

Um histórico longo de juros no Brasil (2) - a poupança

Continuando a arqueologia do post anterior, cheguei nos seguintes dados, desta vez usando como proxy dos juros o rendimento das cadernetas de poupança, na série disponibilizada pelo Banco Central desde 1967:

Update: corrigi os dados com base na precisa observação do Irineu de Carvalho Filho, que notou que os dados de 1967 a 1983 eram da correção trimestral (e não mensal, como dizia a metadata do Banco Central) da poupança. Obtive os dados mensais aqui. A tabela faz muito mais sentido com essa correção, comentários abaixo.






Se os dados estiverem corretos, algumas possíveis observações:

- Durante muito tempo (1967-1983), a remuneração da poupança foi extremamente generosa. Resta saber se o índice de inflação usado reflete fielmente as variações no custo de vida.


- A vida do rentista ficou menos fácil entre 1984 e 1989, e azedou de vez nos três anos seguintes.Depois disso, a poupança sempre perdeu para os juros overnight.

- Impressionante como o mecanismo de indexação conseguiu manter por muito tempo (trinta anos) um rendimento real médio entre 3% e 5% ao ano ao longo das décadas. Períodos problemáticos foram entre 1979 e 1980 (com o segundo choque do petróleo e a inflação acelerando) e 1989 - 1990 (com a hiperinflação e o plano Collor). Ainda assim, o investidor de longo prazo sempre foi compensado.

- Os rendimentos reais caíram significativamente nos anos 2000, com a Selic entrando em tendência de queda depois da desvalorização de 1999 e a inflação já estabilizada (com um soluço em 2002). Em 2010 e 2011, foram metade da média da década anterior, menos de 1% em termos reais. Muito curioso ver como isso coincide com um período de grande desenvolvimento do mercado de capitais e mudança no perfil da dívida pública, a estabilização da inflação com câmbio flutuante parece ter feito muito bem ao país (temos também a feliz coincidência do boom de commodities a partir de 2003).

Aguardo os tradicionais, generosos e benvindos comentários. Agradeço ao Fernando Hadba pela sugestão, do post anterior, de estimar o juro real mês a mês; e ao Irineu, pelas correções neste post.

P.S. Quanto mais mexo nesses dados, mais me parece justificada a conveniência de assumir que esse aspecto da história econômica do Brasil só começou em 1994.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Um histórico longo de juros no Brasil

Quando se estuda juros e inflação no Brasil (ao menos no mercado financeiro), costuma-se usar a conveniência de assumir que a história começa em 1994 (após o Plano Real) o que torna os dados bem mais tratáveis e compreensíveis. Meu lado masoquista está tentando montar uma base de dados mais longa. Até agora consegui montar o frankenstein abaixo, juntando dados de diversas fontes. Quem souber de uma base melhor, pode indicar nos comentários, agradeço antecipadamente.

Update: O atento e paciente Irineu de Carvalho Filho percebeu uma barbeiragem que eu fiz no tratamento dos dados e gerou grandes distorções no período de juros mais altos. Para os pacientes: eu estava aproximando os juros de cada ano pela média simples dos juros anualizados diários, ao invés de gastar mais três minutos criando um número-índice acumulando a variação efetiva diária. A aproximação funciona muito bem para números pequenos, mas se perde totalmente com as taxas malucas do fim dos anos 1980 - início dos anos 1990. Como penalidade, acabo de perder uma hora refazendo os gráficos e tabelas. Há uma lição de moral aqui.




Update: corrigi o cálculo do juro real para o determinado na equação de Fisher. Agradeço os que apontaram isso nos comentários:


Curioso ver a longa história de 35 anos de juros reais negativos, a maluquice entre o calote de 1987 e o Plano Real e o posterior retorno à sanidade, ao menos olhando para a ordem de grandeza.

domingo, 27 de maio de 2012

O dia de fúria de Lagarde

Algumas das frases do ano, até agora, na entrevista da diretora geral do FMI para o Guardian (grandes méritos para a entrevistadora, Decca Aitkenhead):


Asked whether she is able to block out of her mind the mothers unable to get access to midwives or patients unable to obtain life-saving drugs, Lagarde replies: "I think more of the little kids from a school in a little village in Niger who get teaching two hours a day, sharing one chair for three of them, and who are very keen to get an education. I have them in my mind all the time. Because I think they need even more help than the people in Athens."


Lagarde, predicting that the debt crisis has yet to run its course, adds: "Do you know what? As far as Athens is concerned, I also think about all those people who are trying to escape tax all the time. All these people in Greece who are trying to escape tax." She says she thinks "equally" about Greeks deprived of public services and Greek citizens not paying their tax.


"I think they should also help themselves collectively." Asked how, she replies: "By all paying their tax."


Asked if she is essentially saying to the Greeks and others in Europe that they have had a nice time and it is now payback time, she responds: "That's right."


(...)



In her interview Lagarde says Greece is not getting softer treatment than a poor country in the developing world, and that the IMF does not find it harder to impose strong conditions on a rich nation.


"No, it's not harder. No. Because it's the mission of the fund, and it's my job to say the truth, whoever it is across the table. And I tell you something: it's sometimes harder to tell the government of low-income countries, where people live on $3,000, $4,000 or $5,000 per capita per year, to actually strengthen the budget and reduce the deficit. Because I know what it means in terms of welfare programmes and support for the poor. It has much bigger ramifications."

Talvez tenha faltado algum tato na escolha das palavras e medida do impacto desse tipo de declaração (além, claro, dos problemas com a generalização dos hábitos tributários da população de um país inteiro). Mesmo pesando isso, acho que é exatamente esse tipo de postura que falta em políticos quando se discute a crise: essa é linguagem para adultos, sem dissimulação ou promessas impossíveis de serem cumpridas. O FMI está longe de ser uma entidade filantrópica, representa interesses e defende uma certa visão de política econômica. Que os eleitores envolvidos informem-se e tomem a decisão que julgarem mais adequada, pesando as consequências associadas. Declarações desse tipo ajudam nessa tarefa, mas tem sido tão raras que devem ser celebradas. Bien fait, madame Lagarde.

A última pergunta da entrevista foi menos destacada, mas também merece registro:

I try once more. When history books are written about the financial crisis, they will say it began in 2008. What date will they give for its end? "Hmm, after the hyphen? After 2008? Two thousand," she says firmly. How odd, I think – her English is perfect, but she must have misunderstood the question. I ask again, but she is laughing. There was no misunderstanding.


"Well, I'm sure about the first two digits: 20. But I'm not sure about the last two digits."

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Gráfico do Dia - cimento x PIB

Como estava no Zero Hedge, apresentado sem maiores comentários.


Som da Sexta - Orquestra Brasileira de Música Jamaicana

Os rude boys encontram o choro.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Leituras da Semana

#OccupyFourthDimension
- Entrevista de Ray Dalio, da Bridgewater, para a Barron's. Vale também recomendar de novo a entrevista de Jim Chanos para a Graham & Doddsville.

- Mark Spitznagel, sócio de Nassim Taleb na Universa, sobre economia austríaca e a utilidade de seu arcabouço para evitar cisnes negros nos mercados de ações.

- Robert Shiller tentando dar uma força para os formandos em finanças: "Finance, at its best, does not merely manage risk, but also acts as the steward of society’s assets and an advocate of its deepest goals."

- Apostolos Doxiadis, coautor do fabuloso Logicomix, acha que autodestruição faz parte do caráter nacional da Grécia. Como a história ajuda a entender os dilemas do país.

- Albert Fishlow respondendo à onda de pessimismo com o Brasil.

- Paul Krugman sobre as impossibilidades da desvolarização cambial.

- Jared Diamond sobre o Why Nations Fail e a dificuldade do livro em conciliar sua tese central (instituições) com alguns fatores geográficos que lhe parecem evidentes. Acho que dá pra tirar um axioma postulando que todos essas obras com teses grandiosas de desenvolvimento e história econômica não conseguem passar sem furos grandes, a tarefa é impossível. Boas resenhas, como a do Diamond, também não ficam sem presepadas: ele fala que a Argentina é o maior exportador de alimentos da América Latina (pelos dados da OMC, o Brasil exporta quase o dobro).

- Amartya Sen sobre a Europa, para o NY Times.

- Como vai o futebol, vai a economia? Jamil Chade usa a final da Liga dos Campeões para comparar as finanças da liga alemã com as outras da Europa.

- Dois bons contrapontos a todo o confete jogado para Tony Judt nos últimos tempos: Eric Hobsbawm, num texto ao mesmo tempo ressentido, crítico e elogioso; e o sociólogo de Berkeley Dylan Riley, numa crítica muito aguda a toda a obra de Judt e sua postura como historiador.

- Open the Spigots and Drown the Bigots! As marchas drunkeynesianas pela legalização da cerveja nos EUA, em 1932.

- Um exemplo de intervenção pesada nos mercados.

- Carl Sagan sobre o equilíbrio entre ceticismo e aceitação de novas ideias.

- Hans Rosling em dose dupla: sobre riqueza, religião e fertilidade e nessa demonstração fantástica de concisão, clareza e elegância (seguramente vai ser um dos minutos mais bem gastos da sua semana):

Abrindo as contas externas

Atendendo a vários pedidos nos comentários do post anterior:

Update: o Paulo Simões Diniz bem observou, nos comentários, que o gráfico não estava batendo com os números da tabela do BC. Tinha feito com as áreas independentes, não se somando. A versão abaixo já está corrigida. Obrigado, Paulo.


quarta-feira, 23 de maio de 2012

Real, rial e os vencedores da guerra (pírrica) cambial (maldita rima)

Essas são as variações de um monte de moedas contra o dólar americano neste ano, até o fechamento de ontem:

O real foi a moeda que mais se desvalorizou na amostra, mais até que o rial do Irã, que apanhou muito no início do ano com ameaças de sanções financeiras. Não vou elaborar muitas teorias aqui, o fato é que algum constrangimento deve impedir o ministro Guido Mantega de declarar vitória na "guerra cambial". Talvez porque o enfraquecimento do real seja um sintoma da grande fraqueza da economia brasileira neste ponto, que o governo não quer admitir. Mais no post anterior.

P.S. Alguma explicação para o bom comportamento da lira turca? O caso parece ainda mais frágil do que o brasileiro (talvez estivesse melhor precificado).

Bastiat e as contas externas do Brasil

Provavelmente a citação que os leitores frequentes deste blog estão mais cansados de ver repetida por aqui é a mais famosa do pioneiro liberal Frédéric Bastiat, que diz que o economista deve levar em conta tanto o que se vê quanto o que não se vê. Bem, aqui está ela de novo. Os dados de conta externas do Brasil não podem ser qualificados exatamente como "não vistos" (basta uma meia dúzia de cliques no site do banco central para encontrar as tabelas), mas são frequentemente esquecidos em nome de alguma conveniência ou pura ignorância.

Falou-se muito nos últimos dias que o Brasil está preparado para uma eventual nova crise (em graus que vão de 200% a 300%, dependendo da autoridade consultada), que as condições são melhores que as de 2008, que temos mais reservas internacionais, etc. Neste caso, as reservas internacionais são "o que se vê"; o outro lado é o inevitável passivo externo acumulado no período, posto que o Brasil, desde 2007, deixou de ter superávit em conta corrente. Vejamos os dados:

Notem que ambas as séries estão na mesma escala, e que há um grande espaço em branco na parte de cima do eixo. Desde o final de 2008, as reservas aumentaram em US$ 160 bilhões, enquanto o passivo externo líquido cresceu US$ 450 bilhões. Essa é, a meu ver, a principal fragilidade da economia brasileira, que, ao contrário do que se prega, só aumentou nos últimos anos. Parte significativa desse aumento no passivo externo correspondeu à entrada de investimento estrangeiro direto, que tende a ser mais resiliente a choques globais de curto prazo (desde que, claro, não consista de investimento em carteira disfarçado, para evitar tributação). O restante do financiamento, porém, foi feito via endividamento (privado) e investimento em carteira. Um episódio de aversão a risco poderia provocar saída de parte desse enorme volume de capital e causar uma forte depreciação no câmbio - talvez já estejamos vendo o início desse movimento, com o real tendo perdido neste ano mais de 10% do seu valor contra o dólar durante este ano. Também já disse aqui que a história econômica do Brasil pode ser facilmente contada por meio de suas crises cambiais. Nos últimos anos, fomos levados a acreditar que "desta vez é diferente" e que esse risco estava definitivamente afastado (nossa versão do "fim da história"); não foi preciso nem uma reversão forte nos termos de troca para essa ideia começar a ruir. 

terça-feira, 22 de maio de 2012

Inflation Targeting Is Dead, Long Live Inflation Targeting

Escrevi este texto como teste para um projeto de blog em Inglês que parece muito bacana. Se for pra frente, informo por aqui. Correções e comentários são, como de costume, muito benvindos.


Inflation targeting is dead. Harvard’s Kennedy School professor Jeffrey Frankel, a former economic advisor to Bill Clinton, is now trying to write its obituary, in an article for Project Syndicate. According to Prof. Frankel, the system that was born in New Zealand in 1990 and exported successfully to several other countries passed away in September 2008, when most of the world’s central banks cut interest rates to record lows in an attempt to curb the effects of a major liquidity squeeze and avoid the prospects of long term deflation. Since then, the central banks that used to adopt the system did not formally abandon it and the Federal Reserve released an explicit inflation target, but it is clear that price stability is either taken for granted or became less important than other economic policy goals. Inflation targeting may not make much sense in a world where inflation, to paraphrase the FOMC communicates, is to remain subdued for a long period of time.

If inflation is no longer a problem, central banks could use their increased discretionary power to pursue new and more ambitious goals. In a world of difficult political coordination and little consensus about what must be done to put the economy back on the growth and development track, central banks are the ultimate instruments of economic policy implementation. Over the past few years, they have become responsible not only for price and financial stability, but also for a substantial part of government funding in the developed world. The consequences of this huge experiment are still to be totally understood and felt; meanwhile, a group of countries rely heavily on central banks to keep their debt cost at sustainable levels.

One of the many challenges of this new economic order will be dealing with collateral effects of ultra loose monetary policy. Using a single instrument to pursue several and sometimes conflicting goals cannot be seen as a definitive solution. In the near future, governments will be pushed to come up with an answer to the problems masked by unprecedented amounts of central bank intervention. The trigger can be a negative response from voting ballots, or, in a global scale, a return of rising prices. History shows that periods of inflation and deflation always come to an end. Then either the responsibility of economic policy will be transferred back to democratic elected leaders, or central banks will have to reevaluate their priorities and occasionally rediscover inflation targeting as an effective and useful nominal anchor. Reports of the demise of inflation targeting may prove, eventually, to be greatly exaggerated.

Mais Argentina e Dados - PIB e Energia

Estava devendo este post há um tempo: o Jorge Browne me mandou, no começo do mês, esse gráfico, que compara uma medida de produtividade (PIB por unidade de energia) de Brasil e Argentina com América Latina / Caribe e o mundo todo. As produtividades do Brasil e da América Latina / Caribe são praticamente estáveis há muitos anos, enquanto o mundo tem se tornado mais eficiente. Conhecendo o caso da Argentina, ou aceitamos que eles conseguiram aumentar essa medida de eficiência em 24% desde 2004, ou podemos especular que a medida do PIB é superestimada, enquanto o uso de energia é medido corretamente. O Alexandre Schwartsman comentou há algum tempo que estava olhando dados desse tipo, provavelmente vai aparecer com uma conclusão mais fundamentada.


Obrigado ao Jorge pelos dados e pela ideia.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Frases do dia - Jim Chanos sobre China

Residential real estate prices, in aggregate in China, at construction cost, are equal to 350% of GDP. The only two economies that ever saw higher numbers at roughly 375% were Japan in 1989 and Ireland in 2007, and both had epic property collapses. So the data does not look good for China.

Da longa entrevista que o Brazilian Bubble achou na Graham and Doddsville, newsletter dos alunos da Columbia Business School. Não poderia recomendar mais a leitura de toda a entrevista para quem se interessa por investimentos. Chanos fala longamente sobre sua carreira, metodologia, características dos mercados, balanços de empresas, China, Europa... Grande oportunidade para aprender com um dos grandes.

Supersimplificando a crise

Esse modelinho me ocorreu semana passada, fruto das muitas horas gastas lendo e tentando entender a crise da Europa (e, em menor medida, dos EUA - sigo achando que o país está muito mais adiantado no ciclo de desalavancagem e liquidação). Deve ter várias simplificações grosseiras, mas tem me ajudado a colocar o imenso fluxo de notícias e ruído em perspectiva; talvez também sirva para algum leitor:


Governos não querem desagradar os plutocratas, seja porque foram eleitos com ajuda deles ou porque não têm incentivos para isso. Daí parte que todas as soluções pensadas para a crise são acomodativas e não atacam o status quo, partindo do princípio que bancos precisam ser salvos a quase qualquer custo (a quebra da Lehman é vista como o principal erro de política econômica dos últimos anos) e que o dinheiro investido nesses salvamentos fluirá para o resto da economia (ainda há grande confiança em "trickle-down economics", um dos zumbis do livro do John Quiggin). Líderes políticos não têm vontade ou legitimidade para tomar ações de real impacto, e quase toda a ação fica concentrada em bancos centrais, que gozam de certa discricionariedade mas têm apenas uma ferramenta (ou variações dela) e são submetidos aos mesmos interesses dos políticos. Essas ações têm efeito temporário; quando deixam de ter efeito, são renovadas com incrementos às mesmas ações.

Aos eleitores insatisfeitos, resta, sabendo que os partidos moderados à esquerda e à direita são muito semelhantes entre si, tentar alternativas radicais e/ou populistas. Há duas possibilidades para o ciclo ser quebrado, ambas dependendo de ação da população: primeira, quando uma dessas alternativas for eleita com uma plataforma de profundas mudanças, não necessariamente boas ou racionais (talvez seja o que está acontecendo na Grécia, ainda que a maioria não veja o euro como problema). Segunda, com uma corrida bancária, que força ação imediata sob pena de total desestabilização no sistema e caos financeiro. Semana passada, aparentemente, estivemos perto disso, mas, por algum motivo que não compreendo, o movimento de manada não se acelerou. Em qualquer dos casos, fica (mais) evidente o equívoco da tese do "fim da história" e uma renovação da importância da política.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Facebook Inc, dia 1

Assim foi: na abertura houve quem comprou 18,5% acima do preço da emissão, durante o dia chegou a subir quase 12% e terminou praticamente igual. Mais emoções para a segunda-feira, sem suporte dos bancos que fizeram a distribuição.


Frases do Dia - Bancos & Prosperidade

The Theater in Chesnut Street Philadelphia, 1809
"We are well aware that some persons suppose much of the prosperity the country at present enjoys is owing to the banks; but we can find sufficient causes for the increase in national wealth in the combined operations of capital accumulated by the preceding generations with the exertions of an increased number of laborers in a country rich in natural resources, aided by improvements in the arts and discoveries in the sciences... Those who maintain that banks enrich a country are bound to prove that speculation creates wealth. Till they establish this paradox, we shall continue to believe in the old-fashioned doctrine that wealth owes its existence to industry and economy."

De um cartaz de 1829 criado por "working men and others opposed to the chartering of any more new banks" da Filadélfia. Citado no Grant's Interest Rate Observer desta semana, fonte de boa reflexão em tempos onde tudo parece ser justificável para salvar bancos.

Som da Sexta - Donald "Duck" Dunn

Domingo passado morreu, aos 70 anos, o grande baixista do soul de Memphis. Aqui, com Booker T and the M.G.s



O André Barcinski fez um tributo bacana a Dunn.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Escambo: troco Facebook 0KM por 3M + Danone usadas + uns trocados

Troco você por iogurte e post-its.
Acabou de sair a precificação da oferta inicial do Facebook, que avalia a companhia em US$ 104 bilhões. Esse valor é correspondente, para pegar um caso, à soma dos valores de mercado da Danone (US$ 42,4 bilhões) e da Minnesota Mining and Manufacturing, vulga 3M (US$ 59 bilhões). Faço uma aposta para daqui a três anos, com quem quiser (Soneca?): troco o Facebook por essas duas empresas (e fico com US$ 2,6 bilhões para comprar em NTN-B 2050). Prêmio a combinar.

P.S. Outras empresas com valor de mercado ao redor de US$ 100 bilhões: Amazon, Qualcomm, Total, Gazprom, Pepsico, Ambev...

P.P.S. O "bolhômetro" do broadstuff completou oficialmente o nível 7.

Leituras da Semana

Guerreiros mongóis, século XXI
- A apresentação de James Montier na conferência deste ano do CFA Institute virou um White Paper da GMO, leitura indispensável para quem trabalha (ou quer trabalhar) com investimentos.

- Seleção criteriosa das milhões de palavras escritas sobre a Grécia esta semana: Timothy Garton Ash para o Guardian, uma coletânea de notícias sobre a corrida em câmera lenta (é possível?) aos bancos, a escolha entre um novo calote agora ou mais tarde, comparação da Europa atual com a do padrão-ouro no período entre guerras.

- Debate no NY Times sobre a perda de fôlego dos BRICs.

- Longa entrevista de Guido Mantega para a Agência Estado, com espírito Poliana dos mais elevados.

- O Banco Central do Brasil vai passar a divulgar os votos dos diretores nas decisões de política monetária, assim como todo o material das reuniões (este passados quatro anos).

- Jeffrey Frankel, de Harvard, decreta a morte das metas de inflação. Na mesma linha, no ano passado, notei a saída de Jean-Claude Trichet do BCE como o fim da ortodoxia nos BCs.

- Cinco livros para se convencer da importância de história econômica.

- Como os bancos enxergam uns aos outros.

- Um quebra-pau intelectual dos bons entre Niall Ferguson e Pankaj Mishra (dica: Bruno Borges).

- Relatório sobre as finanças dos times de futebol brasileiros, que, mesmo no período de maior bonança na história, não conseguiram reduzir suas dívidas. Bom para guardar e ser lembrado quando a CBF voltar a dizer que é uma entidade privada, que não deve satisfações ao público ou ao governo.

- A ideia de mudar a capital da Rússia para Vladivostok.

- O que não é dito nos discursos de formatura.

- As cidades que mais compram livros nos EUA.

- A batalha no filme Os Vingadores custaria US$ 160 bilhões, menos do que vai custar (acho) salvar os bancos espanhóis.

- Enquanto os EUA se preocupavam com o programa nuclear do Irã, a Kodak operava seu próprio reator.

- Uma pesquisa da revista Stylist apontou que 65% dos britânicos gostariam de mais sexo. Alain de Botton fez um comentário bacana que vale para todas as nações.

- Belas fotos coloridas do início do século XX na Mongólia.

- Uma brochura da Apple de 1989, ilustrada por Matt Groening.

- Tudo sobre a final da UEFA Champions League deste final de semana.

Gráfico do Dia - cuidado com o que se deseja

Cortesia de Sebastien Galy, do Societe Generale. A linha vermelha é o estoque de investimento estrangeiro de portfólio acumulado no Brasil desde 1994 - algo como US$ 300 bilhões.


Fala Galy:


The golden smiles of ever rising return in Brazil have created a gigantic portfolio position there. Anyone trading AUD/JPY pre and through Lehman will have a good memory of what it means. While hedge funds and to a lesser amount asset allocators have already bailed out, retail has not. Our EM colleagues survey shows that only 10% of professional investors are now bullish EM. USD/BRL rose by over 30% since its lows in August 2011. This year, at the 1.70 handle, it was virtually impossible to find someone concerned enough to lock in these levels. We are now almost 20% higher, more so than we expected, but positioning data shows unfortunately very little change. Without BcB intervention or in the presence of a worsening of the European crisis, the risks are looking poor.

Não tenho ideia quanto desse dinheiro é sensível a movimentos de curto prazo de mercado, quanto veio pra ficar por trinta anos, etc... Só é bom ter em mente que grande parte da estabilidade dos últimos anos deveu-se a um câmbio relativamente pouco volátil e com tendência de apreciação, e isso não pode ser tomado como dado para o futuro, como muitos querem nos fazer acreditar. A história econômica do Brasil pode ser contada, em larga medida, pelas suas crises cambiais, e essa outra história que ainda não acabou.

Duas, ops, três capas de revista para acompanhar

Já escrevi aqui sobre o suposto poder preditivo (só que ao contrário) de capas de revista. Esta semana tivemos dois novos exemplares para testar a teoria:

- A capa da Spiegel, expulsando a Grécia do euro (mais aqui):


- Capa da italiana Internazionale, vendendo o Brasil que cresce, gera emprego e lava mais branco:


Update - Hoje a The Economist fez questão de também se colocar na lista:


quarta-feira, 16 de maio de 2012

Arquivo de artigos

Terminei uma arrumação há muito devida nas minhas pastas do computador, e finalmente consegui criar uma hierarquia mais ou menos decente para os artigos, relatórios, matérias, etc, que junto há uns 10 anos. Aproveitando o novo serviço do Google, coloquei tudo na nuvem - para acessar, basta clicar aqui. O material está separado conforme a estrutura da figura abaixo, e os nomes dos arquivos são (algo) mnemônicos. Tem bastante coisa boa, assim como muita porcaria e coisas que ficaram datadas - de qualquer maneira, fiquem à vontade para fuçar por lá, deve acabar sendo útil pra alguém.


O IPC-Trash

Um dia eu fui jovem e solteiro e trabalhei no departamento de economia de um banco, com outros economistas jovens e solteiros. Da mesma forma que há o geek programador, que se diverte criando vírus ou roubando fotos de celebridades nuas, há (argh!) um geek economista, que vê prazer em tratar dados para sua conveniência. Na época, queríamos saber como variava o preço da cesta de consumo de jovens solteiros remediados, com necessidades e prioridades muito distintas da amostra-padrão do IBGE. Foi criado, então, o IPC-Trash, composto dos bens e serviços de primeira necessidade para a equipe (os pesos do IPCA foram reponderados para somar 100% na nova cesta). Esses dias, minha amiga Suzie Q resolveu revisitá-lo, e me mandou o seguinte gráfico (clique para aumentar):


Não serve para absolutamente nada, mas foi divertido relembrar (alguém pode criar uma teoria para a tendência de queda do índice desde 2009). Sim, economistas têm diversões esquisitas.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Novos no blogroll

Dei uma atualizada nos links para outros blogs aí do lado, aí vão alguns destaques dessa nova leva (muita coisa boa, parece que as notícias sobre a morte da blogosfera econômica são altamente exageradas):

- O Lucas Murtinho (que deve ser o mesmo da ótima sacada da Copa de Literatura Brasileira) começou com o pé direito o Economia marginal. Os posts andam meio bissextos, espero que ele não tenha desanimado.

- Megan Greene, que cobre a crise da Europa para a consultoria do Nouriel Roubini.

- Behavioral Macro, do Mark Dow (Pharo Management), obrigatório para quem segue os mercados globais. São bem poucos os gestores de fundo desse naipe que resolvem compartilhar seus pensamentos num blog (na verdade só consigo lembrar dele, mesmo), aproveitemos.

- Random Thoughts, do Xavier Sala-i-Martín, de Columbia. Um acadêmico high profile espanhol (ops... catalão) falando da crise da Europa, diversão garantida.

Judt sobre Hayek x Keynes

Este trecho é do último livro de Tony Judt, Thinking the Twentieth Century (estou pela metade):


The three quarters of century that followed Austria’s collapse in the 1930s can be seen as a duel between Keynes and Hayek. Keynes, as I was saying, begins with the observation that under conditions of economic uncertainty we would be imprudent to assume stable outcomes and therefore had better devise ways to intervene in order to bring these about. Hayek, writing quite consciously against Keynes and from the Austrian experience, argues in The Road to Serfdom that intervention - planning, however benevolent or well-intentioned and whatever the political context - must end badly. His book was published in 1945 and is most remarkable for its prediction that the post-World War II British welfare state already in the making should anticipate a fate similar to that of the socialist experiment in post-1918 Vienna. Starting with socialist planning, you would end with Hitler or a comparable successor. For Hayek, in short, the lesson of Austria and indeed the disaster of interwar Europe at large boiled down to this: don’t intervene, and don’t plan. Planning hands the initiative to those who would, in the end, destroy society (and the economy) to the benefit of the state. Three quarters of a century later, this remains for many people (especially here in the U.S.) the salient moral lesson of the twentieth century.
(...)
It is as though what had taken place in Austria was a debate between planning and freedom, which was never the case, and as though it were self-evident that the course of events which led from a planned city to authoritarian repression and ultimately fascism can be summarized as a necessary causal relationship between economic planning and political dictatorship. Relieved of its Austrian historical context and, indeed, even of the very historical reference, this set of assumptions - imported to the U.S. in the suitcases of a handful of disabused Viennese intellectuals - has come to inform not just the Chicago school of economics but all significant public conversation over policy choices in the contemporary United States.


Isso provocou uma discussão interessante na blogolândia em Inglês. Começou com este post do Tyler Cowen, que diz que Judt foi injusto na caracterização do Hayek. O Crooked Timber discutiu aqui, com uma leitura do próprio Hayek. Por fim, o Moneybox aponta uma inconsistência no pensamento de Hayek sobre o estado de bem-estar social (e o Crooked Timber, de novo, dá mais referências). Pena Judt não estar mais entre nós para seguir alimentando a polêmica.

Ah, no primeiro post do Crooked Timber foi possível encontrar esta pérola entre os comentários:

I would certainly be happy if I was generally regarded as being as dishonest and as ignorant as Tony Judt. After achieving that, I think I’d try to become as poor as Donald Trump and as ugly as Jude Law.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Um PS do post anterior

Esqueci de mencionar que, semana passada, dois grandes fundos de commodities foram encerrados:

- O Fortress Commodities Fund, de US$ 500 milhões;
- O Centaurus Energy Master Fund, de cerca de US$ 2 bilhões.

O Centaurus, supostamente, foi o fundo que mais lucrou quando outra gigante, a Amaranth, colapsou, em setembro de 2006. Não sei se dá para ter uma leitura conjunta dos dois episódios, mas deve ter gente que vai dizer que esses fundos, muito alavancados e operando em mercados não tão líquidos e muito voláteis, são as primeiras vítimas de uma futura crise de liquidez.

P.S. do P.S. O Samer me mandou hoje esse artigo sobre o tema, é um modelo interessante que avalia o impacto das limitações da capacidade dos produtores fazerem hedge no mercado futuro no preço das commodities.

Uma olhada em commodities

Esclarecimento prévio necessário: estou muito longe de ser especialista em commodities, e reconheço que esses mercados são cheios de nuts & bolts que estou longe de compreender. Olho commodities como olho, por exemplo, o mercado imobiliário da Austrália, a milhares de quilômetros de distância e de uma perspectiva meio abstrata, meio global demais. Devo cometer vários erros de supersimplificação; correções e comentários são sempre muito benvindos. Dito isso...

Meu pessimismo com preços de commodities existe há algum tempo, é crescente e começa a ser confirmado pelos mercados. Minha convicção é que a alta estrutural de vários produtos deve-se a demanda da China, que parece pelo menos mais fraca do que nos últimos anos (o que eu acho mesmo é que a economia da China evoluiu para uma grande fraude, mas isso fica na opinião leviana, por enquanto). Além disso, creio que boa parte da demanda especulativa (alguém que tente provar que não existe) foi alimentada nos últimos anos pela ideia que o dólar americano é estruturalmente fraco e todos os preços marcados em dólar deveriam subir. Outra ideia bastante frequente (usada como argumento para comprar ouro) é o risco de inflação e de destruição do sistema de moeda fiduciária. A julgar pelos juros, o risco mais concreto no momento é o de deflação, e o sistema de moeda fiduciária está passando pelo teste do presidente do maior banco central do mundo imprimindo quantias épicas de dinheiro, sem abalo na confiança. Abaixo coloco alguns dados que achei pertinentes:

1. Esses gráficos são de um working paper recente e muito interessante do FMI, onde o autor analisa o impacto de choques de demanda em diversas commodities:





Notemos a importância da China no comércio de dois dos principais produtos da pauta de exportações do Brasil: minério de ferro e soja. No ano passado, minério de ferro correspondeu a 17% dos US$ 219 bilhões exportados pelo Brasil; soja e seus derivados, 9,4%. As exportações desses dois produtos para a China somaram quase US$ 32 bilhões, mais do que o saldo acumulado de toda balança comercial (esses dados todos são cortesia do Credit Suisse). O governo brasileiro gastou muito tempo e saliva falando da guerra cambial e lutando contra um câmbio muito apreciado; pode, em breve, sofrer da maldição de conseguir o que queria.

2. Um dos indicadores que mais gosto de acompanhar para medir a preocupação do mercado com a China são as ações das principais empresas produtoras de minério de ferro. Todas tiveram um desempenho de ruim a muito ruim nos últimos três meses, mas a maioria ainda ganha no acumulado do ano. Seguirei acompanhando:


3. Ouro: acho que esse gráfico (feito pelo Morgan Stanley) dá uma boa medida da especulação nesse mercado. Notemos que a demanda final vem caindo desde 2005, enquanto o preço mais que triplicou nesse período - evidentemente pelo aumento da demanda do metal como investimento, especulação ou hedge.


A cara do gráfico de preços não é boa:


4. Também não parecem bons os gráficos de outros indicadores:

Índice CRB
DBA (commodities agrícolas)

Petróleo (WTI, 1º futuro)

Talvez seja para isso que o Banco Central esteja olhando quando diz que o cenário externo continua desinflacionário, e, por enquanto, é difícil discordar (pelo menos enquanto o câmbio não anular as quedas nos preços em dólares).

domingo, 13 de maio de 2012

Quiz de Domingo - respondido

Acabei de me deparar com essa frase em uma coletânea de artigos. Quem adivinhar (ou souber) de quem é ganha um ano de acesso grátis ao blog quando um grande portal comprá-lo e passar a cobrar pelo acesso:

"A liberalização comercial não só não é compatível (sic) com o crescimento mas até o facilita, desde que a taxa cambial seja realista. A sobrevalorização cambial, esta sim é perigosa, pois equivale a um subsídio às importações, em detrimento dos produtores nacionais."

Amanhã coloco a resposta aqui.


Respondendo: a frase é do ex-ministro Roberto Campos, em Reflexões Sobre a Modernização, de dezembro de 1992. No mesmo artigo, porém, ele critica a adoção de política industrial: “Toda vez que o tecnocrata opta por uma ´política industrial´ ativista, ele quer aumentar seu poder de intervenção para ´coordenar´ a produção e escolher os ´setores de ponta´, como se ele e não o empresário fosse o descobridor de oportunidades. A melhor política industrial para o Brasil é não ter uma política industrial, deixando o empresário livre para produzir.

Claro que o difícil é saber o que determina se o câmbio é ou não sobrevalorizado, e resta imaginar que resposta o velho Campos daria para essa pergunta (ou, se alguém já leu algo dele a respeito, pode colocar aí nos comentários).

P.S. "O" Anônimo, nos comentários, apontou, com razão, uma dupla negativa esquisita no texto. Eu tentei arrumar trocando "compatível" para "incompatível", mas estou longe do livro pra checar. Arrumo assim que o fizer. Update: arrumei, e era como estava, ainda que o sentido seja o oposto.

P.P.S. A julgar por alguns dos palpites aí nos comentários, bastante gente acha que gasto muito mal meu escasso tempo de descanso. Preciso melhorar a imagem.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Foto & manchete do dia

Do jornal grego Kathimerini, melhor fonte de informações sobre o país em Inglês que conheço:


Já mudei de assunto várias vezes sobre o assunto Grécia / euro, e acho que estou mudando novamente. Em junho de 2010, eu achava que o euro estava perto do fim. No início do ano passado, fiquei mais otimista com a ideia de uma união fiscal mais profunda e a manutenção da moeda única. Agora, creio que a combinação da insistência alemã em só ver austeridade como solução com a situação política da Grécia (dificuldade de formar um governo, ascensão de um partido de esquerda mais radical) parece apontar para a maior probabilidade desde o início da crise de um país deixar a união monetária. Talvez isso, de imediato, não signifique o fim do euro - o projeto de moeda única é tanto mais viável quanto mais parecidos forem entre si os países que o adotam, e hoje parece claro que a Grécia tem mais a ver com seus vizinhos do leste europeu que com Alemanha ou Holanda. Porém, caso a saída da Grécia via desvalorização e destruição da dívida mostre-se, em alguns meses ou anos, bem sucedida, provavelmente vai servir como guia e inspiração para lideranças políticas de outros países com problemas parecidos. Claro que, se a Alemanha resolver transigir e abrir o bolso, a situação muda radicalmente em pouco tempo e o euro ganha uma sobrevida mais robusta (ainda que, creio, mais desvalorizado).

Em tempo: esta opinião eu não mudei. Os gregos (e quaisquer outros povos) merecem ser tratados como adultos.

Som da Sexta - Irving Berlin

Neste dia, em 1888, nascia, na Bielorrússia, Irving Berlin.

"Irving Berlin was a Russian Jew. But rather thank think, talk or write about his Russian Jewishness, he excelled at writing American tunes, with catchy upbeat narrative verse, for musical self-celebration: something he did much better than most native-born Americans."

Tony Judt, em Thinking the Twentieth Century.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Leituras da Semana

- Charlie Munger, o primeiro violino do maestro Warren Buffett, faz companhia a Keynes na definição de ouro como uma "relíquia bárbara": "I think gold is a great thing to sew in to your garments if you're a Jewish family in Vienna in 1939 but I think civilized people don't buy gold." A maioria dos americanos acha que ouro é o investimento mais seguro (seguido de imóveis, não parecem ter aprendido muito).

- O poder da "repressão financeira" para destruir dívida.


- Um bom relatório do Santander sobre os limites (ou falta deles) para a atuação do BNDES.

- Os fantásticos cursos abertos virtuais de Yale viraram livros. A iniciativa é tão bacana que eu deveria fazer propaganda toda semana. Dá para aprender sobre mercados financeiros com um tal Robert Shiller; eu comecei a assistir a um curso sobre capitalismo que parece muito bom.

- Enquanto isso, na UERJ, você pode aprender como se tornar um ninja.

Elio Gaspari e o cheiro de picaretagem no livro Breakout Nations (o autor diz que o Plano Real saiu durante o governo Collor). A The Economist resenhou.

- Raghuram Rajan publicou, na Foreign Affairs, um artigo muito comentado sobre as possíveis lições da recessão nos EUA. Aqui um resumo das discussões.

- John Kay defende o fim do oligopólio bancário e menores barreiras de entrada no setor.

- Shaquille O'Neal agora é doutor (provavelmente o maior do mundo). Título da tese: How Leaders Utilize Humor or Seriousness in Leadership Styles.

- Uma conversa do Wall Street Journal com Deirdre McCloskey (é de Janeiro, tinha deixado passar).

- Para quem estiver pensando em seguir carreira de trader.

- Hugh Hendry preocupado com a "monocultura de fundos". Eu, com iniciativas como a do banco central do Japão, que está comprando ETFs de ações. A época parece ser de grande ameaça para livres mercados.

- James Montier, da GMO, na conferência anual do CFA Institute.

- Celso Barros, do NPTO, sobre as complicações de ler Marx.


- Das Kapital... em quadrinhos.

- O ministério de piadas prontas de Portugal, numa tentativa de amenizar a crise, cortou quatro feriados do calendário. Ganha um (ig)Nobel quem provar a relação entre número de feriados em um país e crescimento econômico.