terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Os Filmes de 2011


No ano passado, essa mesma lista tinha só 13 filmes (de uma amostra mais ou menos do mesmo tamanho; o critério é o que passou no cinema em São Paulo durante o ano), e não acho que 2011 tenha sido um ano especialmente bom para a arte. A conclusão inevitável é que meus padrões baixaram, e o leitor deve levar isso em consideração. De qualquer maneira, ao longo deste ano gostei de:

- Abutres (Carancho), de Pablo Trapero

Uma ótima história de personagens sombrios e desesperados, bem diferente do que se costuma ver do cinema argentino por aqui. Não estranharia se fosse refilmada em Hollywood.

- Amor a Toda Prova (Crazy, Stupid, Love), de Glen Ficarra e John Requa

Porque alguma comédia americana tinha que se salvar, e essa tem atores acima da média, bom roteiro e (raridade) não apela para piadas escatológicas fora do contexto. Impressionante também ver a forma da Marisa Tomei, aos 46 anos.

- Balada do Amor e do Ódio (Balada triste de trompeta), de Álex de la Iglesia

Uma comédia de humor estranho, que começa na Guerra Civil Espanhola e termina com cenas que lembram a estética de Underground, do Emir Kusturica (só falta a trilha alucinada de Goran Bregovic).

- Cisne Negro (Black Swan), de Darren Aronofsky

Aronofsky não deixa muito espaço para sutileza e faz um filme sufocante, que tira o melhor da Natalie Portman (depois ela merecia ter o Oscar confiscado por ter feito Sexo Sem Compromisso).

- Contágio (Contagion), de Steven Soderbergh

Grande elenco e direção precisa de Soderbergh. Talvez seja o grande filme americano de 2011, e é muito representativo dos nossos tempos - confiemos no governo, quando as coisas apertam, é quem salva todo mundo (brilhante leitura do David Denby, acho que o melhor crítico de cinema que tenho lido).

- Um Conto Chinês (Un cuento chino), de Sebastián Borensztein

Sim, os malditos argentinos também sabem fazer boas comédias. Quero ver quando o Ricardo Darin se aposentar.

- Em um Mundo Melhor (Hævnen), de Susanne Bier

Acho que Incêndios (abaixo) merecia o Oscar de filme estrangeiro, mas esse filme perturbador sobre grandes temas (paternidade, ódio, caridade) não faz feio com o prêmio.

- O Discurso do Rei (The King's Speech), de Tom Hooper

Talvez não tenha merecido tanta consagração (e Colin Firth estava melhor em Direito de Amar), mas não deixa de ser um bom filme.

- Fora da Lei (Hors-la-loi), de Rachid Bouchareb

Um épico sobre o movimento de independência da Argélia, contado do ponto de vista de três irmãos que são forçados a migrar para a França. Foi muito criticado (justamente) por algum revisionismo histórico; descontado isso, é um filmaço.

- Homens e Deuses (Des hommes et des dieux), de Xavier Beauvois

A história (real) de um monastério trapista na Argélia não precisa ser sonolenta, acreditem.

- Incêndios (Incendies), de Denis Villeneuve

Foi o filme favorito do Tyler Cowen; como disse acima, teria o meu voto para o Oscar de filme estrangeiro. Grande história com a guerra civil do Líbano como pano de fundo.

- Jogos de Poder (Fair Game), de Doug Liman

Das histórias reais que são mais estranhas do que obras de ficção, produto da política externa americana dos anos Bush.

- Margin Call - O Dia Antes do Fim (Margin Call), de J.C. Chandor

Resenhei aqui.

- Medianeras: Buenos Aires na Era do Amor Virtual (Medianeras), de Gustavo Taretto

Confirmando o comentário de Um Conto Chinês, desta vez na linha da comédia romântica. A história se passa em Buenos Aires, mas poderia ser em São Paulo, Nova York, Paris, Hong Kong...

- Meia-Noite em Paris (Midnight in Paris), de Woody Allen

Algumas notas acima de Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos, mantem a impressionante média de produção de Allen e extrai uma boa atuação de Owen Wilson. Não é pouca coisa, acho.

- Minha Terra, África (White Material), de Claire Denis

Pode ser lido como uma versão atualizada e sombria de Entre Dois Amores (Out of Africa). Denis cresceu entre Burkina Faso, Somália, Senegal e Camarões, sabe muito bem do assunto que trata.

- A Minha Versão do Amor (Barney's Version), de Richard J. Lewis

Barney Panofsky (personagem do Paul Giamatti) é um idiota, e por isso me identifiquei com ele (deve acontecer o mesmo, em alguma medida, com homens dos 20 aos 50). E Rosamund Pike, ex-Bond girl, aqui morena, nunca esteve tão bonita.

- Saturno em Oposição (Saturno contro) e O Primeiro Que Disse (Mine vaganti), de Ferzan Özpetek

Até agora gostei muito de todos os filmes que vi de Özpetek, turco radicado na Itália que gosta de filmar belas cidades e amores complicados.

- O Sequestro de um Herói (Rapt), de Lucas Belvaux

Thriller francês impecável e tenso, parte do sequestro de um empresário e vai construindo um retrato pouco simpático de como são geridas as grandes corporações.

- Um Sonho de Amor (Io sono l'amore), de Luca Guadagnino

Tilda Swinton, uma das minhas atrizes preferidas, consegue convencer como uma russa que fala italiano.

- Submarino (Submarine), de Richard Ayoade

Grande sensação cult da Mostra de São Paulo, divertido e despretensioso.

Também recomendável, embora não tenha passado no cinema (passou na HBO): Too Big To Fail, de Curtis Hanson. Falei dele aqui.

Outros filmes da minha amostra (notas de 1 a 5 asteriscos):


A Pele Que Habito *** (acho que o Almodóvar errou a mão pela primeira vez em muito tempo)
A Inquilina *
Além da Vida ***
Amizade Colorida ***
Apenas Uma Noite ***
Biutiful ***
Bruna Surfistinha ***
Caminho da Liberdade **
Cópia Fiel ***
Inverno da Alma ***
Malu de Bicicleta ***
Melancolia ** (gosto muito do Von Trier, minha birra com a Kirsten Dunst deve ter atrapalhado)
Missão Madrinha de Casamento ***
Namorados Para Sempre *** (pegadinha ridícula da distribuidora no Brasil, foi lançado com esse título no fim de semana do dia dos namorados, mas a história é de um relacionamento caindo aos pedaços)
Não Me Abandone Jamais *
O Casamento do meu Ex ***
O Mágico ***
O Vencedor ***
Os Amores Imaginários ***
Professora Sem Classe * (segundo pior do ano)
Que Mais Posso Querer ***
Quero Matar Meu Chefe ***
Reencontrando a Felicidade ***
Rio *** (grande patriotada a crítica local ter gostado tanto)
Se Beber, Não Case! Parte 2 **
Sexo Sem Compromisso * (pior do ano)
Shocking Blue ***
Trabalho Interno *** (critiquei aqui)
Um Dia ***
Um Lugar Qualquer **

6 comentários:

Andre disse...

Fair Game muito bom.

Sobre a guerra do Afeganistão tem o charlie Wilson's War (não sei se a história é verídica).

Abs

Drunkeynesian disse...

Charlie Wilson's War é mesmo muito bom (roteiro do Aaron Sorkin), e acho que a história é quase toda verídica. O obituário do Charlie Wilson na The Economist é ótimo, também:

http://www.economist.com/node/15543398

Delfim Bisnetto disse...

"Melancholia" não pode ter a mesma classificação que "Se beber não case".

É simplesmente errado! :-/

Drunkeynesian disse...

Hahahaha, não tinha parado pra pensar nisso, mas, como diz o Roger Ebert, cada um comparado entre seus pares...

Anônimo disse...

existe algum filme argentino em que o Darín não atue? o cara é onipresente....

Chilliperod disse...

Excelentes dicas! Acho que trabslhei demais (ou dormi) em 2011...tenho que catch up!