Num dos primeiros posts deste blog, há longos quatro anos, eu demonstrava meu desespero ao ver uma jogada de marketing de um banco americano ser levada a sério pela diplomacia brasileira. Desde então, o desespero só aumentou: em 2009, em Yekaterimburgo, Rússia, foi realizado o primeiro fórum dos BRICs (que passou a ser anual, em 2012 ocorrerá na Índia) e, no final do ano passado, a África do Sul se juntou ao grupo unido pela cabeça do Jim O'Neill e um "S" foi adicionado ao acrônimo. Ainda estamos para ver algo prático e benéfico sair desses encontros, e assim deve continuar por algum tempo. Pode ter algum valor como ferramenta de soft power, mas não consigo deixar de achar, no fundo, uma distração do que realmente importa pro país.
Tudo isso pra comentar que esta semana apareceram mais alguns que compartilham da minha birra com o conceito, em diferentes frentes:
- Clóvis Rossi, da Folha (em quem eu tinha metido o pau aqui, dessa vez ele acertou a mão - ou simplesmente concordou comigo), pegou os ganchos de uma palavra chinesa (hoyou) citada pelo Elio Gaspari e uma entrevista do Jim O'Neill para contar a história e falar da irrelevância do grupo nas discussões internacionais;
- Albert Edwards, do Société Générale, fala do fracasso que foi investir em BRICs neste ano, e cita a apropriada (re)definição de um amigo: Bloody Ridiculous Investment Concept.
- Update: o Moska indicou esse texto do Financial Times de alguns dias atrás. Já estou me sentindo um visionário.
quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
12 comentários:
O Financial Times soltou um report ha algum tempo chamado BRICs without mortar. Vale a pena
Vou procurar. Obrigado!
Se a união européia, cujos alicerces existem há décadas só bate cabeça, porque os BRICS tem que propor soluções da noite para o dia. Grupo super heterogêneo, com interesses muitas vezes divergentes, mas que serão a fonte de crescimento mundial pelo resto de nossos dias. Isso basta.
Assino embaixo. Que coisinha ridícula: 4 países que, área à parte, tem tanto em comum quanto eu tenho com o Ronaldo Fenômeno quando ainda jogava (a falta de cabelo).
Olha, não ponho minha mão no fogo pela sigla. Mas é uma abordagem interessante, e não tem custo algum, já pensou nisso? Tudo que vier é lucro.
Concertação política sempre vale a pena. Reuniões periódicas com Rússia e China servem pra uma certa concertação que tem um spill-over pra outras áreas: formação do BASIC na área ambiental por exemplo, e o bem sucedido esforço pra reforma da cotização do FMI (partiu dos BRICS)
Uma sigla menos pop, mas que tem mais substância é o Brasil, Áfica do Sul e India (IBAS), que realiza desde exercícios militares como busca a reforma do Conselho de Segurança e das patentes médicas.
Essas siglas, no final, são um trabalho de semadura. Joga-se um monte, algumas vingam, e fazem valer o esforço todo.
Vai me desculpando mas parece ansiedade adolescente.
Relações se constroem. É um processo demorado.
Se esse jornalista inventar mais algumas siglas com B acho que devemos aproveitar. Isso é puro "network".
Pode não ter dado frutos mas está fazendo algum mal? Melhor já conhecer pessoalmente esses atores. Vai facilitar o diálogo e acelerar o processo quando as coisas piorarem. E vão piorar.
Captcha do Dia: MERSK
Sinal dos tempos é uma sigla criada pela Goldman Sachs ter feito tanto barulho em tão pouco tempo... ou servido como motivação para algum esforço diplomático.
Salvo engano o único pais que realmente saiu de sub para desenvolvido nos últimos tempos (décadas) foi a Coreia do Sul.
Abs
Os países do G-8 por acaso têm muita semelhança entre si? Rússia, EUA, Canadá, Itália... come on...
Os BRICS são o G-8 dos emergentes.
O Goldeman Sachs criou apenas a sigla.
A consertação política entre os grandes emergentes sempre esteve na base da articulacao política no Brasil, seja nas negociacoes sobre clima, ou sobre comécio. O G-20 comercial, que possibilitou ao Brasil adentrar nos círculos mais restritos OMC, foi construído justamente sobre essa base.
O BRICS político se aproveita da sigla criada pelo
Goldeman para aumentar a inflencia da mensagem comum emanada dos encontro do agrupamento.
E em política externa, esses países têm muitos interesses comuns.
De fato, os do G8 não têm grandes semelhanças entre sim (fora o fato de serem grandes economias). Não quero ofender quem de fato estuda diplomacia e política internacional, mas o que decidiram nos últimos anos que foi relevante para o mundo? As políticas comerciais são feitas, grosso modo, para aproveitar o poder de manufatura da China e continuar garantindo o fornecimento de manufaturados baratos para o resto do mundo. As rodadas de negociação sobre comércio, no geral, foram um fracasso, e a Europa desenvolvida e os EUA continuam com incentivos totalmente anti-econômicos para a agricultura e outros setores. Nenhum acordo ambiental relevante foi aprovado. O desarmamento nuclear também segue conveniências, e por aí vai...
Também não vejo grandes interesses comuns entre os BRICS. Dado que são grandes credores de dívida americana, talvez o maior deles seja evitar que o dólar perca o valor, mas isso jamais vai poder ser colocado em pauta, já que mexeria com a soberania dos EUA sobre a moeda.
Me corrijam se estou sendo leviano (provavelmente estou, em alguma medida).
Ruim na política, pior na academia?
Democracia, mercado e estado: o B de Brics
Lourdes Sola, Maria Rita Loureiro (org.)
http://www.editora.fgv.br/?sub=produto&id=482
Vou tentar acreditar que foi o editor que deu o título... a Maria Rita foi minha professora e tinha ela em alta conta.
Postar um comentário