terça-feira, 2 de agosto de 2011

"Too Big To Fail", o Filme

Na preguiça de ler o livro, fui ver (com dois meses de atraso) o filme que a HBO produziu sobre Too Big To Fail, de Andrew Ross Sorkin, do New York Times. Acabei gostando, mais até do que do documentário Inside Job. O elenco é excelente (James Woods como Dick Fuld, William Hurt como Hank Paulson, Billy Crudrup como Tim Geithner e Paul Giamatti como Ben Bernanke, sendo que este entraria na estranha galeria criada por um amigo de atores que parecem mais com seus personagens do que os próprios personagens – Morgan Freeman como Nelson Mandela e Val Kilmer como Jim Morrison são os outros exemplos). Algumas notas aleatórias sobre o filme (e sobre a história, assumindo que o filme é fiel ao livro e que o livro é fiel à realidade)

- É quase inacreditável ver como Fuld não tinha idéia (ou fazia que não tinha) do tamanho do problema da Lehman. Em algum momento, achou-se que a divulgação de resultados bons em um trimestre iria parar a sangria nas ações da companhia. Claro que olha-se para trás com todo o benefício de saber o desfecho, mas nos é apresentado o principal executivo de um banco que simplesmente desconhecia que havia o risco de seu negócio ser varrido do mercado – sinal dos tempos: um CEO prudente teria sido demitido anos antes, por não lucrar como seus pares com o ciclo de alavancagem.

- Nos primeiros meses, havia a clara impressão de que a crise era localizada e poderia ser contida – algo como o que está acontecendo hoje na Europa.

- Notável também a tentativa dos “campeões do capitalismo” colocarem a culpa da crise na entidade “mercado”: o “mercado” empurra o preço das ações para níveis injustos, a culpa é dos “short sellers”, e por aí vai. Ninguém parece ter se perguntado que talvez, só talvez, os bancos tivessem exagerado na alavancagem e na tomada de risco e que isso estava sendo reconhecido, depois de anos de bonança e extrapolação de premissas irreais.

- O filme salva parcialmente a reputação de Hank Paulson, tido por alguns (ver o livro Capitalism 4.0, de Anatole Kaletsky, por exemplo) como “o” responsável pelo aprofundamento da crise, por deixar o Lehman Brothers ir à falência. Paulson é retratado como um cara aberto e conciliador, que de fato procurou, até o último momento, uma solução que não envolvesse transferência de dinheiro público para os bancos (qualquer nível de estatização parecia totalmente inaceitável). Para quem tem se perguntado por onde ele anda: no final de junho ele foi apontado como senior fellow da Harris School of Public Policy, da Universidade de Chicago.

- Falando no Paulson: alguém sabe se de fato aconteceu a cena em que ele se ajoelha aos pés da Nancy Pelosi, pedindo por um acordo no congresso para aprovação do TARP? E se ele tomou mesmo uma bronca da Christine Lagarde pelo telefone (como em Inside Job, os franceses aparecendo como bastiões de prudência na regulação bancária - creio que a história ainda vai resolver isso)?

- Tim Geithner, se corretamente representado é um cara muito, mas muito irritante: arrogante e cheio de idéias “brilhantes”. Se aconteceu, o episódio dele posando de mestre do universo, tentando organizar fusões entre bancos colocando o nome de cada um em fichas, espalhando-as sobre a mesa, montando os pares e ligando para os CEOs envolvidos é absolutamente patético.



Enfim, evidentemente não substitui a leitura (minhas dúvidas acima deixam isso claro), mas é uma boa diversão com alguma informação, vale fácil a hora e pouco gasta na frente da TV.

O site oficial do filme é este aqui; o MarketBeat, do WSJ, tem uma crítica.

2 comentários:

Breno B. disse...

a história do paulson com a pelosi rolou mesmo:

http://www.nytimes.com/2008/09/26/business/26bailout.html?_r=1&em&oref=slogin

"the Treasury secretary, Henry M. Paulson Jr., literally bent down on one knee as he pleaded with Nancy Pelosi, the House Speaker, not to “blow it up” by withdrawing her party’s support for the package over what Ms. Pelosi derided as a Republican betrayal."

PJ disse...

Muito obrigado, Breno... realmente incrível...