1. O aperto fiscal aprofunda a recessão que deve começar em meados do ano que vem. A arrecadação de impostos cai e, surpresa, os indicadores fiscais não melhoram;
2. Enquanto a recessão se aprofunda, o desemprego aumenta e, junto com ele, a insatisfação da população;
3. Novamente o mercado reconhece a dívida como insustentável, e a bola volta para a União Européia;
a) A União Européia decide, de algum jeito, que as dívidas dos países passam a ser, total ou parcialmente, continentais (o que já deveriam ter feito este ano);
b) Algum país resolve, por iniciativa própria, se livrar das "algemas de ouro" do euro e voltar a usar uma moeda própria. A iniciativa é seguida, até que a união monetária afunde de vez ou vire o "super euro" hipoteticamente sonhado pela Alemanha.
No fundo, parece mesmo que a Alemanha só aceita salvar a União Européia nos seus termos, o que envolve um grande sacrifício de países que já partem de uma situação muito ruim. Parece muito correto do ponto de vista moral (de um ponto de vista moral específico, na verdade), mas no futuro, creio, vai empurrar para soluções extremas e não-consensuais. Pior para a Europa.
Por fim, achei apropriado (talvez um pouco alarmista) reproduzir aqui um pedaço do discurso de State of Union que Franklin D. Roosevelt fez em 1944 (a Sylvia Nasar cita no Grand Pursuit, para quem tiver um pouco de tempo e paciência, vale ler o discurso inteiro, é uma extraordinária defesa do welfare state e da classe média):
We have come to a clear realization of the fact that true individual freedom cannot exist without economic security and independence. "Necessitous men are not free men." People who are hungry and out of a job are the stuff of which dictatorships are made.É, não acordei otimista hoje...
7 comentários:
Pra mim, essa espiral já está ocorrendo. Não tem nada de novo aí, os dois primeiros atos do roteiro já foram encenados. Agora falta o passo (3), apenas.
A.
Eu ainda tinha alguma esperança que não fizessem esse tipo de besteira, mas do jeito que anda, parece inevitável.
Parece crível, mas até agora não vejo ninguém responder uma questão. O que acontecerá na terra dos "chucrutes"? Tenho quase certeza que o "Bundeskanzler" ou membros do "Bundestag" que aprovarem algum "sacrifício" ás custas dos alemães estarão colocando suas cabeças na mira de uma Luger. O problema na zona do euro não é só de "credit sovereign risk"(fiscal) mas, cambial intra-euro tbm. Quem acompanha um pouco daquele pais, nem que for pela versão on-line da Der Spiegel, pode ver que há uns 5% lá, que são capazes de fazer muito baralho, literalmente. E isso, como dizia meu avô, não é nada bom.
Como vc estou pessimista ^2.
Eu tenho muita dificuldade para entender quais são as motivações da Alemanha a essa altura. Eu tenderia a acreditar que o maior interesse a ser defendido por lá é dos exportadores, e aí entra essa questão cambial que você mencionou e o interesse deles de manter o euro. Por outro lado, pelo visto os bancos não estão exatamente bem - hoje mesmo apareceu a história de que talvez tenham que nacionalizar o Commerzbank.
Hoje, o governo de Merkel é impopular. Só um em cada cinco alemães aprovaria medidas mais fortes de "solidariedade". Suponho que boa parte desses que aprovariam o "empréstimo" para os países mais fracos da ZdoE não votariam na CDU de qualquer forma.
Em breve, muito em breve, se é que já não começaram, veremos Merkel e Sarkozy defenderem a sua sobrevivência política.
A situação deverá ser diferente na Espanha e na Itália, mas não parece provável que a Grécia vá fazer reformas significativas. Sem elas, fica difícil para os políticos dos outros países defenderem a ajuda aos gregos junto ao seu eleitorado. O discurso da resistência eslovaca mostrou como poderá ser esse debate: nós eslovacos fizemos nossos ajustes para sermos parte da zona do euro, nossos gastos governamentais são mais modestos, nossos aposentados, em média, trabalham por mais tempo e ganham 20% do que ganham os aposentados gregos, como nós poderíamos salvá-los?
Acho que a motivação da Alemanha no momento é salvar a idéia da UE (que ainda continua a ser absolutamente popular).
Bons pontos, mk.
Também acho difícil que consigam fazer as reformas, e mais difícil ainda que os bondholders tenham paciência de esperar essas reformas fazerem efeito. Mas se a Alemanha de fato está empenhada em salvar a UE, o cenário já é menos negro do que eu imaginava (a pergunta passa a ser se eles fazem questão de uma UE no tamanho atual).
Boas análises de economia política. A questão talvez fosse mostrar ao eleitorado alemão o que o Euro trouxe de benefícios à terra de Deutch.
Por outro lado, as medidas de austeridade são, ao que parece, tentativas de criar condições para a volta da "confidence fairy", como o Krugman chama.
Quanto ao discurso do FDK:
"We have accepted, so to speak, a second Bill of Rights under which a new basis of security and prosperity can be established for all regardless of station, race, or creed.
Among these are:
The right to a useful and remunerative job in the industries or shops or farms or mines of the Nation;
The right to earn enough to provide adequate food and clothing and recreation;
The right of every farmer to raise and sell his products at a return which will give him and his family a decent living;
The right of every businessman, large and small, to trade in an atmosphere of freedom from unfair competition and domination by monopolies at home or abroad;
The right of every family to a decent home;
The right to adequate medical care and the opportunity to achieve and enjoy good health;
The right to adequate protection from the economic fears of old age, sickness, accident, and unemployment;
The right to a good education."
De arrepiar...
Postar um comentário