Os problemas começam quando os jornalistas escrevem que "Taleb é um sujeito agourento que de mera excentricidade midiática foi promovido a guru". Depois, afirma: "Ele é um ET na economia anglo-saxã", para logo depois dizer que "... formou-se na escola de negócios Wharton... ... Foi como operador no mercado de opções, em Wall Street, que enriqueceu...". Estranho ver como Taleb acabou sendo transformado em um produto da mídia financeira (o pessimista de plantão, pregando a desgraça para uma platéia de otimistas machucados), algo que ele tanto criticou (mas, verdade seja dita, soube capitalizar neste último ano). Creio que a explosão na popularidade de Taleb deve-se a uma coincidência: seu livro sobre eventos imprevisíveis e de grande impacto (cisnes negros), que chama a atenção para diversos aspectos falhos na teoria e prática de finanças e alerta para a inutilidade de previsões em um mundo altamente complexo, foi publicado pouco antes da maior crise financeira em décadas -- crise que, ele mesmo fez questão de esclarecer, não teve nada de "cisne negro": um colapso era previsível, dado o volume de risco que as instituições financeiras estavam carregando de forma complacente. E chamar alguém que estudou numa das escolas de negócios mais prestigiadas dos EUA e fez carreira em diversas instituições financeiras em Nova York de "ET na economia anglo-saxã" é, no mínimo, paradoxal.
A matéria segue dizendo que "economistas profisisonais sérios acham difícil engolir a iconoclastia verborrágica de Taleb", que (isso dito antes) "desenvolveu um estilo único, que mistura insights criativos, nenhuma reverência ao establishment e linguagem acessível". Eu posso não ser um economista profissional (muito menos sério), mas já vi, em um espaço relativamente curto de tempo, bastante pesquisa acadêmica "séria" influenciada pelas idéias de Taleb. É curioso como informabilidade e acessibilidade na escrita são, geralmente, confundidas com falta de conteúdo (e, por outro lado, linguagem obtusa, expressões estrangeiras e fórmulas matemáticas indecifráveis são tidos como sinais de erudição e respeitabilidade). Na minha opinião, nada mais difícil e trabalhoso do que escrever com simplicidade, de forma enxuta e fazendo com que um público leigo entenda conceitos sofisticados. Isso é exatamente o que Taleb faz (para os puristas, ele oferece, na internet, um apêndice matemático).
Fora esses deslizes, a matéria ainda merece ser lida -- mas, fica aqui minha mea culpa, não pode ser considerada "ótima". E segue a constatação que o jornalismo financeiro brasileiro segue carecendo de profissionais que realmente entendam dos assuntos que cobrem.
Um comentário:
Agora sim...
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