segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Bancos e bancos

Há uma piada pouco engraçada da época do apartheid (bem, continua sendo atual) na qual um negro entra em um ônibus e senta em um dos assentos na parte da frente. Um guarda diz que o lugar reservado para negros é no fundo do ônibus, e pede que ele se mude para lá. O negro se levanta e começa um sermão, dizendo: "Imagine se fôssemos todos marcianos, verdes. Seríamos todos iguais, e não haveria discriminação. Eu poderia continuar sentado aqui, então não vou sair". O guarda insiste: "Se isso acontecesse, o lugar dos verde-escuros seria no fundo do ônibus. Pode ir pra lá". Para uma analogia mais tosca e direta, há também uma música de uma banda gaúcha cujo líder é um baixista loiro e cabeludo (dá vergonha falar o nome) cujo refrão é: "todos iguais, todos iguais... mas uns mais iguais que os outros". Enfim, o leitor atento já entendeu o sentido e deve estar irritado com esse parágrafo introdutório longo e desnecessário.

O último texto de Paul Krugman no New York Times fala da diferença entre a performance dos bancos americanos que estão no negócio de conceder empréstimos e dos que tiram a maior parte dos seus resultados de especulação (trading): enquanto a Goldman Sachs voltou a ter lucros espetaculares e provavelmente pagará os maiores bônus da sua história, o Citi e o Bank of America seguem com dificuldades e reportaram prejuízos no terceiro semestre. Todos iguais, todos iguais...

Não tenho absolutamente nada contra especulação: sempre fez parte do mercado, e deve continuar fazendo. O problema é que especulação é um negócio, por natureza, de alto risco -- principalmente quando feita com o nível brutal de alavancagem que a Goldman e outros bancos operam (e assumindo, claro, que eles não contam com a ajuda informações privilegiadas e manipulações de preços). Mesmo argumentando que a Goldman Sachs já devolveu o dinheiro da ajuda federal, o incentivo para o sistema continua sendo totalmente perverso: os outros bancos não demorarão a chegar a conclusão que o que devem fazer para lucrar é usar todo o capital possível para especular; e, mesmo no caso da Goldman, caso algo errado aconteça, a indicação é de que, novamente, não faltará dinheiro público para salvá-los. Fazer com que o dinheiro do contribuinte assuma esses riscos é algo que -- palavras de Krugman com as quais concordo integralmente -- os EUA deveriam evitar desesperadamente.


O gráfico ao lado ajuda a reforçar o ponto de Krugman -- ver no original, "The Chart That Cost John Mack His Job".

Nenhum comentário: