Na Assembléia Geral da ONU, que está sendo realizada em Nova York, nosso chanceler disse que quer transformar o BRIC em uma "oportunidade política de diálogo". É claro que o escopo da diplomacia vai além da economia, mas não dá para não usar este episódio para pensar na completa distorção de prioridades de comércio internacional no Itamaraty. Enquanto o Chile e o Peru, para citar dois exemplos próximos geograficamente, arquitetaram importantes acordos de livre comércio (o Chile possui esses acordos com países que, somados, representam mais da metade do PIB mundial), o Brasil preocupou-se em multiplicar seu comércio com Gâmbia, Guiné Bissau e Angola, mantendo sua economia fechada e pouco exposta à concorrência internacional. Ganham algumas indústrias ineficientes e sem vantagens comparativas, que conseguem vender seus bens internamente mesmo não sendo competitivas globalmente; perde o consumidor, que paga mais por produtos de qualidade muitas vezes inferior aos similares em outros países. O "diálogo" com os BRICs vai ter efeito nulo para o brasileiro médio, será uma perda de tempo para um país que ainda tem tantas coisas básicas para melhorar.
terça-feira, 25 de setembro de 2007
Não leve BRIC muito a sério
O termo BRIC (acrônimo para Brasil, Rússia, Índia e China) foi, antes de tudo, um achado de marketing do banco Goldman Sachs, para denominar as economias que, segundo eles, estarão entre (note: não serão) as economias mais dominantes do mundo em 2050. A comparação deveria parar por aí, já que a estrutura das economias desses países e os desafios de desenvolvimento que eles terão nos próximos anos são tão diferentes entre si quanto um saca-rolhas de um iPod. Simplificando um pouco, o Brasil precisa melhorar drasticamente sua educação, abrir sua economia (temos o mesmo nível de abertura - a soma de exportações e importações como percentual do PIB - de Cuba!), investir mais (principalmente em infraestrutura) e diminuir o tamanho paquidérmico do estado; a Rússia terá de lidar com uma população que se reduzirá a um ritmo de 0,5% ao ano (até 2025, segundo o U.S. Census Bureau, o país terá perdido cerca de 13 milhões de habitantes) e uma economia dependente de receitas de petróleo e gás natural; a Índia terá que incrementar uma série de indicadores de desenvolvimento, como o IDH (o menor, disparado, entre os BRICs e a um Oceano Pacífico dos países desenvolvidos); e a China vai se ver obrigada a resolver pelo menos algumas de suas imensas aberrações econômicas, políticas, sociais e ambientais, que só devem se agravar após os longos anos de crescimento explosivo. Enfim, como dito acima, o nome BRIC deve ser visto como uma simples jogada de marketing, e não como um "conceito" ou um grupo coeso de países - por isso acho simplesmente estéreis as discussões que às vezes aparecem tentando concluir se o Brasil é ou não um "BRIC". É, pois a Goldman Sachs assim o quis, ponto final.
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2 comentários:
Muito bom!!!
Balu
Lembro-me bem que o estudo inicial da GS dizia sobre o POTENCIAL de crescimento dos 4 países, dados a grande população, existência de recursos naturais, economias emergentes e assim por diante. Agora detendo-se apenas ao Brasil, é um comportamento típico achar que já que o GS anunciou que estaremos entre os líderes em 50 anos então não precisamos fazer lição de casa.
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