segunda-feira, 31 de agosto de 2009

"O petróleo é do povo!"

Não, hoje não é "um dia histórico". Mas é sempre bom saber o que o governo pretende fazer com o petróleo. A apresentação institucional de hoje está aí embaixo. Volto ao assunto em breve.

Brasil - marco regulatório pré-sal

Suécia abaixo de zero

Aconteceu mês passado, mas só fui notar hoje: o Riksbank sueco, mais antigo banco central no mundo, está pagando juros negativos (-0,25% ao ano) pelos depósitos de um dia dos bancos privados do país. Em outras palavras, os bancos privados têm que pagar ao banco central para manterem lá suas reservas. A razão do estranhamento é que o patamar de 0% para juros nominais era, como escreve Wolfgang Münchau no Financial Times, tratado por banqueiros centrais como o equivalente ao zero grau Kelvin, a temperatura mais baixa possível. No livro de macroeconomia que usei na graduação (de Olivier Blanchard) está (grifo meu):

"... quando a taxa nominal de juros é igual a zero, a economia cai em uma 'armadilha de liquidez': o banco central pode aumentar a 'liquidez' - isto é, aumentar a oferta de moeda. Mas essa 'liquidez' cai em uma 'armadilha': a moeda adicional é prontamente retirada pelos investidores financeiros a uma taxa de juro inalterada, a saber, zero. Se, a essa taxa nominal de juros zero, a demanda por bens ainda for excessivamente baixa, não há nada mais que uma política monetária possa fazer para levar o produto de volta a seu nível natural."

Lars Svensson, um dos diretores do Riksbank, disse "que não há nada estranho com taxas de juros negativas", como se não fosse a primeira vez na história que um banco central adota tal política. Será mais um aspecto da teoria econômica ortodoxa indo por água abaixo? Pela teoria, taxas de juros negativas deveriam conduzir a uma corrida por moeda, que até agora não aconteceu na Suécia. No artigo que citei acima, estão as possíveis explicações para isso. Mais interessante será observar se essa ousadia servirá como precedente para outros bancos centrais, e quais serão as consequências dessas novas políticas. Mais bolhas? Combate mais efetivo à deflação? "Like it or not, we live in interesting times..."

Mais no Financial Times.

Adeus ao descolamento

Algumas das teses otimistas para o crescimento mundial que têm circulado atualmente baseiam-se na idéia do "descolamento": as economias emergentes (sobretudo da Ásia) conseguirão liderar o crescimento mundial, mesmo enquanto o mundo rico (Europa, EUA e Japão) patina. Dois artigos recentes no Vox tentam, com dados, jogar por terra essa idéia. Um deles argumenta que, embora as tendências seculares de crescimento tenham começado a divergir (gráfico ao lado), os ciclos ainda são bastante sincronizados. Vale a leitura de ambos:

- The myth of decoupling, de Sébastien Wälti
- Debunking decoupling, de Andrew K. Rose

Frase do dia - Bolhas

"It will not be too bad this year. Both China and America are addressing bubbles by creating more bubbles and we're just taking advantage of that. So we can't lose."

De Lou Jiwei, presidente do fundo soberano chinês (China Investment Corporation), que administra quase US$ 300 bilhões em ativos. Precisa de aviso mais claro para o investidor médio pular fora do mercado de ações?

Mais na Reuters. Dica do Zero Hedge.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Sobreviveu e ganhou

A Economatica divulgou hoje um estudo que mostra que a Cyrela é a terceira maior empresa de construção das Américas, considerando o valor de mercado. Mesmo considerando a péssima fase do mercado imobiliário americano, o feito da empresa brasileira é admirável. Elie Horn, o presidente da Cyrela, é um dos pouquíssimos capitalistas brasileiros admiráveis. Não depende do governo para faturar, é extremamente low profile e tem um instinto de preservação apuradíssimo. Em março, deu, para a Exame, sua primeira entrevista para a imprensa nacional. O título da matéria publicada era "Sobreviva - e ganhe depois" (vale a leitura). Horn e a Cyrela sobreviveram (infelizmente junto com muitos que deveriam ter ido ralo abaixo -- mas isso é outra história), e estão ganhando.

Álcool na cabeça

O Valor traz hoje uma compilação de dados obtidos com bancos e consultorias que conclui que as usinas de álcool e açúcar perderam cerca de R$ 4 bilhões com derivativos durante a safra 2008/2009. Para colocarmos esse número em perspectiva: a Cosan, que é a maior processadora de cana de açúcar do mundo, espera ter um EBITDA (ou LAJIDA, para os puristas) de cerca de R$ 1,3 bilhão este ano. Quem paga pela irresponsabilidade nós já sabemos: o BNDES passou de credor a sócio de alguns desses grupos.

Talvez esse seja o preço da vanguarda: o mundo está cheio de casos de empresas que precisaram de dinheiro público no início e depois foram extremamente bem sucedidas. O que é inaceitável é o governo ter o custo e o benefício ser dividido com a classe dos usineiros, que já foram quase canonizados pelo nosso presidente.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Gráfico do Dia - Fed

Na pesquisa da Gallup, os americanos admiram mais o trabalho da receita federal (IRS) do que do Fed. Mais na The Economist.


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Sou fã de carteirinha da Wikipedia. Como muitas outras grandes criações da humanidade, é preciso um certo bom senso para usar, mas, isso considerado, é uma fonte de pesquisa sem nenhum paralelo. Muitas vezes os artigos nem são tão bons, mas citam outras fontes -- papers, outros websites, livros -- onde estão as bases, aí livres da anonimidade que é uma das potenciais fraquezas da Wikipedia.

Mas onde a Wikipedia é realmente imbatível é em cultura inútil. Lista de pokemons, escalação do Partisan Belgrado, economia das Ilhas Faroe... está tudo lá, para horas de diversão. Hoje o blog Comment Central, do Times londrino, apresenta o blog Best of Wikipedia, que, duas vezes ao dia, destaca os artigos mais inusitados da enciclopédia, e separa os 10 melhores artigos que já foram apresentados lá. Se quiser saber o que é Brfxxccxxmnpcccclllmmnprxvclmnckssqlbb11116, vai lá.

Só no Brasil...

... para o anúncio de um marco regulatório virar um carnaval:

O anúncio do marco regulatório do pré-sal, marcado para a próxima segunda-feira, dia 31, terá, além de políticos, artistas e esportistas na plateia.

Convidados pelo Ministério da Cultura, já confirmaram presença as cantoras Fafá de Belém e Rosemary, a atriz e diretora do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, Carla Camurati, e o cantor e vereador Agnaldo Timóteo (PR-SP).

A lista de convidados do órgão tem mais de 300 pessoas. Entre elas estão os cantores Zeca Pagodinho e Martinho da Vila, e os atores Wagner Moura e Letícia Sabatella.

Quanto tempo mais para o pré-sal virar enredo de carnaval carioca? E aparecer o funk do pré-sal? E a Globo lançar uma novela cujo protagonista é um engenheiro da Petrobras?

Mais na Folha de hoje.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Polititica

O dia está tão chato que os destaques são a morte do Ted Kennedy e o piti do Suplicy no senado, seguido de bate boca com o nobre Heráclito "Jabba the Hutt" Fortes. Mais nada a mencionar. Volto amanhã.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Maiores inflações da história

E o vencedor é... Hungria 1946 - módicos 207% ao dia.



















Roubado do Paul Kedrosky.

Eleições 2010

O mercado financeiro já começa a olhar para as nossas eleições presidenciais do ano que vem. Hoje o J.P. Morgan distribuiu um relatório explicando a seus clientes como funcionam nossas votações, vale dar uma olhada. Interessante ver que, na classificação deles, não existem partidos relevantes de direita ou esquerda: apenas "centro" ou "a direita do centro" e "a esquerda do centro". Assim é a "concertación" brasileira.

J.P.Morgan - Brazilian Election Countdown

Mais quatro anos de Bernanke

Mr. Obama confirmou a renovação do mandado do presidente do Fed, Ben Bernanke, por mais quatro anos (venceria em janeiro). Interpretação do mercado: a julgar pelo comportamento das bolsas e do dólar, teremos mais um período de liquidez abundante e dólar fraco. Ruim com ele, pior sem ele?

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Um país comandado por engenheiros

Os amigos engenheiros talvez fiquem orgulhosos ao saber disso (trata da estrutura do Partido Comunista da China):

"Os nove membros do Comitê Permanente do Politburo são, de fato, as pessoas de maior poder na China... ... Um aspecto interessante da composição desse Comitê... ... é que todos os seus atuais membros, com exceção de apenas um, são formados em engenharia."
Pelo menos neste caso, o que der errado não é culpa de economistas...

Caso não tenham reparado...

... o Ibovespa está a pouco mais de 20% de sua máxima histórica (em um ambiente totalmente diferente, não custa dizer). E há ainda quem ache que a relação risco / retorno é boa.

Frase(s) do dia - Jim Rogers

"O Geithner (Timothy Geithner, secretário do Tesouro) está "por aí" há duas décadas, e veja tudo o que já fez. Ele cometeu muitos erros. Esteve envolvido na crise asiática, no fim dos anos 90, quando trabalhava na divisão de assuntos internacionais do Tesouro. Ele ajudou a agravar a crise asiática! Nos últimos anos, antes de ser indicado para dirigir o Tesouro, Geithner havia sido o presidente do Federal Reserve de Nova York, órgão ao qual cabia justamente a supervisão das atividades de Wall Street e dos bancos. Quando esses bancos começaram a apresentar problemas, ele ajudou a resgatá-los, em vez de deixá-los quebrar. Se fosse dar uma nota, diria que Geithner é pior que zero! E o que dizer do Summers (Lawrence Summers, conselheiro econômico de Obama)? Foi ele que ajudou a arquitetar o plano de resgate do LTCM em 1998, quando estava no Tesouro, durante o governo de Bill Clinton. Como vimos, isso foi um divisor de águas na história das finanças. Ele marcou o início da era da leniência com os gestores incompetentes e imprudentes. Esses senhores têm agido assim por anos a fio. Eles conseguem estar sempre errados."

Jim Rogers, que tanto cito aqui, na entrevista da Veja desta semana.

domingo, 23 de agosto de 2009

Dogbert na indústria de fundos de investimento

Adivinha se não tem gente que faz exatamente isso no mundo real?

Dilbert.com

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Gráfico do Dia - S&P 500

Razão preço / lucro (um jeito de interpretar é quantos anos de lucro a empresa precisa ter para pagar o preço da ação) dos papéis do índice S&P500. Sorte aos corajosos que estão comprando.























Mais no The Big Picture.

Resposta da The Economist

Tinha prometido aqui que ia perguntar para a The Economist sobre a capa com o Lula, que não estava entre as mostradas no site (mais aqui). Aí vai a resposta deles:

Dear Mr Drunk,

Thank you for your email.

Please be advised Economist.com leads with the main US cover, which is the North American cover. Other regions will often have an alternative front cover.

Please advise us if you require a copy of either of the covers and we will happily provide it.

Should you require any further information please do not hesitate to contact us.

Kind regards,
Sarah Collison

Economist.com Customer Service

(polidez e precisão iguaizinhas às que temos nos serviços de atendimento ao consumidor, não?)

Frase do dia - Espanha

"Investors are smoking crack if they believe that Spanish banks are among the strongest in Europe."

Do relatório da Variant Perception, que alega que a Espanha está entrando numa espiral deflacionária que vai fazer do país uma reedição da crise japonesa de alguns anos atrás. Citado pelo blog do Financial Times.

O mercado ignora... a ação do Banco Santander fechou hoje a € 10,48, maior valor em 2009 e desde outubro do ano passado; o euro opera a US$ 1,43 (também perto da máxima do ano) e os títulos de 10 anos do governo espanhol pagam 3,81% ao ano, apenas 0,5% a mais que os papéis de mesmo vencimento da Alemanha (o risco de crédito mais sólido do continente). Quem vai rir por último, veremos nos próximos meses.
(Interessante também ver que nesta semana renovaram-se as suspeitas sobre a autenticidade da ultrafamosa foto acima, tirada por Robert Capa e que supostamente mostra o momento em que um soldado é atingido por um tiro, durante a Guerra Civil Espanhola. Fotografias e balanços de bancos sofrem muito quando as pessoas tornam-se descrentes a respeito... Mais no New York Times.)

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Colocando o profeta no devido lugar

Já havia feito uma tentativa aqui de desbancar a aura de guru de Nouriel Roubini; Damien Hoffman, do Wall St. Cheat Sheet, realiza a tarefa com muito mais propriedade (e menos preguiça de ir atrás do histórico). Vale a leitura.

"Even a broken clock is right twice a day."

O Camarada Pochmann e a Revolução Cultural Brasileira

Marcio Pochmann, o companheiro que preside o IPEA (e usa camisas parecidas com as do camarada Mao aí do lado -- great minds think alike!), assina hoje um dos textos da seção de tendências e debates da Folha. Se o texto serve de base para o nível da pesquisa econômica que está sendo feita por lá (eu espero e acredito que não, tem muito profissional competente por lá), nosso país está mal, muito mal.

O artigo trata de trabalho e emprego. Começa separando a jornada de trabalho em "material" (aquela que é cumprida no escritório, fábrica, fazenda, etc) e "imaterial" (todo o resto do tempo em que se trabalha, que teria aumentado brutalmente com o acesso a internet, telefone celular, etc). Depois, ele saca da cartola um número que, somando os dois "tipos" de trabalho, totaliza uma carga anual de 4.000 horas de trabalho (aproximadamente 16 horas por dia útil), próximo ao que se observava no século XIX. Sim, para ele, depois de todo esse tempo de inovações tecnológicas, morais, éticas e jurídicas, somos submetidos às mesmas horas de trabalho que os trabalhadores de minas de carvão que Émile Zola descreveu em Germinal. Você, que está no seu trabalho lendo este texto (será que esse tempo é descontado do trabalho material, na precisa conta de Pochmann?), não se sente explorado? Trabalhadores, uní-vos!
A lógica utilizada já seria esdrúxula se parasse por aí, mas estamos somento no terceiro parágrafo. Depois, Pochmann ataca o maléfico setor terciário (serviços) da economia, responsável no Brasil por (número que ele mesmo cita) 70% das novas ocupações abertas e, aparentemente, o grande explorador de "trabalho imaterial". Para ele, se entendi bem (essa parte do texto me parece confusa), o trabalho nos serviços faz com que jovens se afastem da educação "tradicional" e nunca mais precisem abrir um livro ou voltar a frequentar a escola, e, por isso, só deveria ser permitido após os 24 anos de idade e conclusão do ensino superior. O que fazer com os jovens e os que não puderem / quiserem cursar uma faculdade, e que não terão acesso ao setor que gera mais de dois terços dos empregos no país? Não se sabe. Talvez puxar arado em alguma fazenda coletiva -- mas só 39 horas por semana, claro, sem direito a internet ou telefone.
Por fim, chegamos na desigualdade social. Fruto, claro, da má divisão do trabalho entre a mão de obra disponível. A solução de aritmética de primeiro grau, que deixaria até Stephen Kanitz e suas brilhantes soluções para o Brasil com vergonha, é -- surpresa! -- redistribuir o trabalho. Ao invés de termos 100 empregados trabalhando oito horas por dia e outros 100 desempregados, por que não empregar as 200 pessoas em jornadas diárias de quatro horas? O trabalho executado seria o mesmo e não haveria mais desemprego -- além de muito mais tempo livre para os trabalhadores! Em um modelo tão brilhante, os custos (excluindo salários) nos quais um empregador incorre para manter seus funcionários podem ser desprezados, claro. Até porque eles são pequenos no Brasil -- apenas dobram a despesa por empregado.
Numa democracia que preza a liberdade de expressão (poderíamos dizer de culto, mas vamos tentar segurar um pouco a ironia), é até saudável que alguém com esses pensamentos possa ter se tornado livre docente da segunda maior universidade do país. Mas saber que tal profissional é influente a ponto de se tornar presidente de um instituto de pesquisas estatal cuja missão é "produzir, articular e disseminar conhecimento para aperfeiçoar as políticas públicas e contribuir para o planejamento do desenvolvimento brasileiro" (citação do próprio website do IPEA) me dá a impressão de que, em alguns aspectos (sou um otimista com o Brasil no geral), estamos caminhando para trás. A passos de Usain Bolt, neste caso.

Brasil voltando a crescer

É o que o seu Mantega antecipou ontem. Segundo as previsões do Ministério, o Brasil deve ter crescido entre 1,6% e 1,7% (impressionante a margem de erro, não?) no segundo trimestre (com relação ao primeiro). Dia 11 de setembro o IBGE divulga o número oficial, e saberemos se as previsões do Ministério são tão boas assim (NOT!) ou se eles têm sorte. Há também a possibilidade do ministro e de metade da torcida do Flamengo terem ficado sabendo do número antes dele ser publicado, mas isso não acontece em um país sério como o Brasil.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Porque a China não pode estar bem - parte 2*

O Zero Hedge destaca que nos portos de Los Angeles e Long Beach, portas de entrada das importações vindas do Pacífico e os dois maiores portos dos EUA, a crise continua. No porto de Los Angeles, o tráfego de contêineres em julho caiu 17% com relação ao mesmo período no ano passado. No ano, a queda acumulada é de 16% contra 2008. Em Long Beach, os números são ainda piores -- 19% e 27% para os períodos mencionados acima, respectivamente.



* a parte 1 é essa

Enquanto isso, no mundial de atletismo...

Bolt redefinindo também a palavra "favoritismo". Do site de apostas Sky Bet, quanto apostar em cada corredor rende, em caso de vitória (dinheiro recebido / dinheiro apostado):



Previsões, mercados e jornalistas

Numa coluna do Valor de ontem (que você pode ler sem precisar de registro aqui, cortesia da Rio Bravo), Aquiles Mosca, estrategista de investimentos do Santander Asset, fala sobre a incapacidade dos analistas brasileiros (particularizando o caso geral, do qual o Taleb fala tanto) de preverem sequer a direção de algumas variáveis macroeconômicas. O Clóvis Rossi comentou na Folha de hoje, mostrando que entende bem pouco de mercado financeiro (ou simplesmente quis ser sensacionalista):

"Atenção, não se trata de erro por incompetência ou impossibilidade real de adivinhar o futuro, adverte o economista do Santander. Diz: "A oportunidade de ganhos está em antecipar o que os demais ainda não veem (...) e em traduzir isso em posicionamentos nos ativos certos, na "ponta" certa (comprado ou vendido) antes que os demais o façam".Traduzindo: apostam numa direção e fazem previsões para ajudar a aposta a dar certo."

A leitura é errada. Os erros são, sim por impossibilidade real de adivinhar o futuro. Acontece que, primeiro, quem efetivamente toma decisões de comprar ou vender determinado ativo raramente é quem faz tais previsões (e os jeitos de ver o mundo dos profissionais típicos que fazem uma ou outra coisa não poderiam ser mais diferentes). Segundo, antecipar o que os demais não veem nos preços de mercado não necessariamente tem a ver com o que vai acontecer com variáveis econômicas -- o mercado sempre tenta antecipar as tendências do mundo real, de onde vem a famosa frase de Paul Samuelson ("the stock market has forecast nine of the last five recessions"). Terceiro, o viés de quase toda previsão é na direção da tendência do mercado ou do que ele está precificando, de forma que as previsões sempre vão estar atrás das "apostas" (não necessariamente ajudando-as a "dar certo"). É claro que não devemos ser totalmente inocentes a ponto de pensar que não existem pessoas que operam com informação privilegiada antes de previsões de analistas influentes serem divulgadas, mas isso, além de ser crime, é exceção, e não a regra.

Independente do que pensa o Clóvis Rossi, recomendo a leitura do texto do Aquiles, que é um dos poucos analistas que têm espaço na mídia a divulgar finanças comportamentais e tentar entender os mercados como eles são, e não como se eles seguissem modelos e relações bem definidas de causa e consequência (Fil, consegui fazer um elogio neste blog). Voltarei a citar ele em breve.

Frase do dia - George Soros

(na verdade é do dia 8 de julho, mas só fui ler ontem)

"We suffer from an inability to face an unpleasant reality. We expect our politicians to effectively deceive us, to tell us things are better than they are. That is our weakness."

George Soros, em entrevista para a Bloomberg.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Lula na capa da The Economist

Acabou de chegar a minha cópia impressa da The Economist desta semana que traz - surpresa! - nosso presidente batendo uma bolinha na capa. Surpresa porque a capa que está no site (para todas as edições listadas - EUA, Reino Unido, Europa e Ásia) é diferente, destacando a recuperação da economia asiática. Será que a capa do Lula foi feita apenas para o Brasil? Vou perguntar para alguém da revista e coloco a resposta aqui.

Piranhas e o pequeno investidor

"... each of the scandals and crises has a common pattern: The small investor was taken advantage of by the piranhas that hide in the rapidly moving currents."

A frase é de um texto assinado por Eliot Spitzer, ex-governador do estado de Nova York (aquele, mesmo, que renunciou por conta de um escândalo envolvendo prostituição). Vale a leitura para saber com que tipo de pessoa quem investe em ações está lidando, indiretamente. E reforça um dos meus mantras: investir com sucesso e sem depender da sorte é muito mais difícil do que parece a primeira vista.

Balu, obrigado pela indicação.

Medindo o tamanho das bolhas



O grande Osmar me mandou hoje um gráfico comparativo (clique para aumentar) do valor de mercado de diversos bancos. Esse gráfico era bem popular no auge da crise, e agora compara esse valor em três momentos distintos, mostrando como algums bolhas desinflaram de vez e como outras voltaram a tamanhos bastante próximos do que eram no meio de 2007.

É engraçado lembrar que, muitas vezes, entre amigos, tratávamos "o dia em que o Citibank quebrar" como algo próximo do apocalipse financeiro. Na prática, o Citibank quebrou -- e a bicicleta segue andando. Estávamos tão errados ou não acertamos o timing?

Para os curiosos, abaixo eu coloquei os gráficos equivalentes que fiz para o Bradesco e o Itaú (deu muito mais trabalho do que eu imaginava). Não estão na mesma proporção das do gráfico acima (1 cm de raio do "meu" círculo não é equivalente, em termos de valor de mercado, a 1cm dos outros círculos), mas serve para comparar quanto variou o valor dos bancos nacionais (o do Itaú aumentou com relação ao topo de 2007, já que conta agora com a aquisição -- ainda não consegui me convencer de que foi uma fusão -- do Unibanco).


O pudim dos bancos

A coluna de opinião do caderno Dinheiro da Folha de hoje, assinada por Vinicius Torres Freire (e que inspira o título deste post), fala sobre a batalha entre bancos públicos e privados que apareceu no Brasil desde as últimas divulgações dos respectivos resultados no segundo trimestre. Acho que o texto começa com uma boa premissa -- de que os bancos privados se beneficiaram (seja por externalidade ou por alguma ajuda direta, como garantia de CDBs) da "rede de proteção" do governo -- mas se perde perto do final, quando diz:

"É possível argumentar que os estatais ofereceram crédito de modo "insustentável". Isto é, o ganho de parte do mercado teria sido artificial no pior sentido: a agressividade estatal em breve redundaria em perdas que anulariam o efeito provisória e ilusoriamente positivo da manutenção do crescimento do crédito no semestre recessivo. É preciso ser um fundamentalista fanático para acreditar nisso."

Não é preciso ser "fundamentalista fanático". Basta não dar o benefício da dúvida ao governo. Eu já escrevi aqui que o aumento nas concessões de crédito pelos bancos estatais só se converteu em resultado positivo porque o mercado de crédito melhorou no mundo inteiro. Teria sido prejuízo caso a crise tivesse uma nova rodada de piora, mas, curiosamente, ainda assim não teria sido um desastre completo, já que esse tipo de ação me parece mais uma modalidade de política monetária / fiscal (sorry, acionista do Banco do Brasil) do que uma ação deliberada para aumento de concorrência -- acabou virando porque deu certo, é sempre mais fácil depois dos fatos.

De qualquer modo, caso o cenário não piore novamente (e os "fundamentalistas fanáticos" falhem), vai ser, de fato, interessante ver o comportamento dos bancos privados frente a essa nova concorrência -- saberemos se ela é sustentável e se o problema dos juros ridiculamente altos no Brasil é, sobretudo, um problema de falta de competidores no mercado.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Euforia e arrogância de volta

Como me apontou o Soneca, é o que pensa Angela Merkel, chanceler da Alemanha e adepta do decote. Num discurso hoje em sua campanha para reeleição (a Alemanha vota dia 27 de setembro), ela deu um bom exemplo de realismo (trechos na Folha), bem diferente das bravatas que costumamos ouvir por aqui.

Na linha do excesso de confiança causando a crise, também está Malcolm Gladwell -- numa matéria da New Yorker que comentei aqui e na entrevista da Veja desta semana.

Acabou a festa?

Festival de vermelho nas bolsas mundiais. Será que acabou a festa dos últimos meses?


Mais na Bloomberg.

domingo, 16 de agosto de 2009

Homens são de Marte, Mulheres são de Vênus

Usain Bolt deve ser de Saturno. 100 metros em 9,58s.


Para não passar em branco

Perdido numa notinha na Veja desta semana:

Confirmada• pelo Superior Tribunal de Justiça a anulação da ação penal contra Paulo Roberto de Andrade, dono da Boi Gordo, protagonista de um dos maiores escândalos financeiros do Brasil. Especializada em investimento em gado, a empresa de Andrade prometia lucros de 42% em dezoito meses. Quebrou em 2001, deixando 30 000 investidores na mão. Isso ocorreu porque a Boi Gordo operava em esquema de pirâmide: remunerava os aplicadores antigos com o dinheiro dos novos, e não com o dos lucros, que não existiam. O americano Bernard Madoff fez o mesmo nos Estados Unidos, mas pegou 150 anos de prisão.

É, oito anos depois... e a vantagem é de quem lesou.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Dr. Volkswagen and Mr. Porsche

Dez meses depois do maior short squeeze da história (quando as ações subiram quase 350% e fizeram o valor de mercado da companhia ir para US$ 350 bilhões - ver no gráfico), hoje, após o anúncio da fusão com a Porsche, as ações da Volkswagen voltaram ao preço anterior ao ocorrido. Nenhum consolo para os vendidos na época, evidentemente; fica só a curiosidade histórica.

O resultado do Banco do Brasil

O quadrúpede que atende pelo título de Ministro da Fazenda foi ontem a público, com sua costumeira arrogância, comentar o brilhante resultado do Banco do Brasil no segundo trimestre (R$ 2,3 bilhões de lucro líquido). Entre outras bravatas, falou para os bancos privados "acordarem" e que o Banco do Brasil tem uma estratégia "vencedora". Só faltou chamar o Itaú e o Bradesco de cretinos. Algumas considerações:

- O Banco do Brasil não tem o mesmo objetivo que os bancos privados. Os bancos privados trabalham para remunerar o acionista. O Banco do Brasil entrou como componente da política fiscal anticíclica do governo (neste caso, para compensar a queda da oferta de crédito pelo resto do sistema bancário). O lucro é uma ocasionalidade: ocorreu porque o mercado de crédito NO MUNDO INTEIRO melhorou; teria sido prejuízo caso tivesse acontecido o contrário (talvez não -- balanços de bancos, como salsichas, estão na categoria de coisas que é melhor não saber como são feitos).
- O maior acionista do Banco do Brasil é o Tesouro Nacional - o que significa que, se algo der errado com o banco e ele precisar ser capitalizado, quem vai pagar a conta é o contribuinte. Bancos privados, evidentemente, não têm essa vantagem (pelo menos não aqui no Brasil, não por enquanto), e, talvez por isso, tenham que ser mais criteriosos na maneira como distribuem seu risco.
- Concorrência é boa quando os concorrentes têm condições iguais (ou similares). Não é o caso do Banco do Brasil versus bancos privados. No limite, acaba tirando os bancos privados do mercado (não que isso vá acontecer no futuro próximo).
- Por último, quem iria na TV comentar o resultado caso tivesse sido ruim? Não o senhor Mantega, imagino -- talvez o companheiro Aldemir Bendine, presidente da companhia. Que diria algo do tipo "que pena, acionista, mas você sabia dos riscos".
"O que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde."
Rubens Ricupero, Ministro da Fazenda em 1994 - sempre inspirador.
Mais sobre o tema na Folha:

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

The answer is blowin' in the wind

Bob Dylan sabia das coisas. Emanuel Derman escreveu sobre um novo paper:


Sim. Efeito do vento nos retornos dos mercados de ações europeus. Para os autores, "o vento tem um efeito significante e persistente nos retornos das ações". A conclusão me lembra a crença da religião Pastafari na relação entre a queda da atividade de piratas no mundo e o aquecimento global (ver gráfico abaixo). Talvez os piratas somalis sejam a salvação da Terra.

Novo blog na área

Um dos meus bons professores na graduação, o Dudu, está de blog e livro novos (ele trocou a macro pela microeconomia, e pelo jeito vai demorar pra voltar). Vale colocar nos favoritos:


Os lançamentos do livro são:

-- Hoje, na Saraiva do Shopping Morumbi, às 19h30;

-- No próximo dia 26, na sala da congregação da FEA-USP, às 11h15.

Leiam, leiam, leiam.

Negócios da China


(perdoem o chavão do título, não consegui pensar em nada melhor)
O gráfico aí do lado é da variação em 12 meses do preço das importações americanas -- queda de 19,3%, no dado referente a julho publicado hoje. Os EUA são o maior mercado importador para a China, de onde podemos concluir, com alguma convicção, que o preço do que a China produz e vende segue caindo fortemente. Há os que acreditam que a China seguirá crescendo e arrastando o mundo; a minha impressão, de orelhada, sem olhar muitos dados (até porque dados econômicos chineses são tão confiáveis quanto um relógio comprado na praça Ramos) é que a China segue alimentando uma capacidade produtiva monstruosa, sem garantia de que terão para quem vender o que produzirem. O resultado deve ser um grande desperdício de recursos e pressão para baixo nos preços. Mais sobre o tema no futuro.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Essa tal felicidade

No vídeo, o escritor suíço Alain de Botton faz uma crítica muito interessante à meritocracia e fala sobre como nunca foi tão fácil ter uma vida boa e, ao mesmo tempo, como nunca foi tão difícil fugir de preocupações com carreira. É um pouco longo (18 minutos), mas vale o tempo (e tem legendas em inglês).




Provavelmente esses temas estão no seu mais recente livro -- que, graças à eficiência dos nossos trâmites alfandegários, encomendei há mais de um mês e ainda não recebi.

Via The Epicurean Dealmaker.

Isto É... bolha

Mais uma capa de revista para a coleção de indicadores contrários da vez. Melhor que a capa é a chamada da matéria: "Em alta de 50%, ações são a melhor aplicação do ano e surgem boas oportunidades para ganhar dinheiro". Nada como a velha e boa extrapolação.

A matéria completa está aqui.

A memória curta do mercado

É incrível como o investidor tem memória curta. O caso que considero mais emblemático no momento é da GWI, uma gestora de fundos de ações que quase quebrou com a queda da bolsa no final do ano passado (veja aqui) e já conseguiu fazer seu fundo GWI FIA superar novamente a marca de R$ 100 milhões de ativos administrados (chegou a apenas R$ 13,5 milhões em outubro de 2008, quando o retorno foi de -89,8%. Boa parte desse novo dinheiro é dos sócios, mas me espanta que o fundo tenha recebido mais do que um centavo de outros investidores.).

A performance neste ano é "espetacular": esse fundo já rendeu 151,7%. Como a variação da Bovespa no período foi de "apenas" 49,5%, é razoável acreditar que tal retorno deve-se à alavancagem -- a mesma alavancagem que varreu o fundo há poucos meses, e que varrerá novamente caso a premissa de tal tipo de investimento (a bolsa vai subir sempre, ponto final) seja novamente contrariada. Enquanto isso, o fundo voltará a atrair os olhos da mídia, aparecer em rankings, ganhar prêmios, etc, e atrair mais cotistas (para não dizer otários). Os gestores enriquecem com as taxas de administração e performance, que são totalmente assimétricas: evidentemente não são devolvidas quando o fundo vai mal. É a irresponsabilidade sendo premiada pelo viés otimista e de continuidade das pessoas.

Frase do dia

"O que atrapalhou Greenspan e Bernanke como reguladores financeiros foi sua excessiva reverência e temor a Wall Street e a sua influência."

De Dani Rodrik, professor de Harvard e um dos poucos economistas de renome que preferem o mundo real à fantasia de modelos. Talvez seria melhor trocar "reverência e temor" por "submissão", mas entendo a necessidade do politicamente correto. O texto completo está no Valor de hoje, e vale a leitura. Para quem não tem senha do Valor, logo mais deve estar disponível em Inglês na página do Project Syndicate.

Mais avisos de quem entende

Bom vídeo com Robert Prechter, este, sim, um guru da análise técnica. Ele acredita que o dólar vai se valorizar e a bolsa americana cairá abaixo da mínima de março deste ano. No "The Big Picture".

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Frase(s) do dia

“Em dois ou três anos o mercado vai triplicar, com o Ibovespa chegando a 150 mil ou 180 mil pontos.”

“Se [o Ibovespa] cair para 40 mil pontos eu boto calcinha e salto alto e vou posar para fotos na Paulista.”

De um dos """""gurus da análise gráfica no Brasil""""" (mereceria até mais aspas), Didi Aguiar, na Gazeta do Povo, de Curitiba. Segundo o jornal, "não é um simples palpite, mas uma estimativa bem embasada nas ferramentas da análise gráfica".

As bravatas acima foram ditas num evento patrocinado por uma corretora, que, evidentemente, tem todo o interesse em que cada vez mais pessoas comprem (e depois vendam, arrependidas ou não, ações). O dia em que ouvirmos um analista numa palestra de corretora dizendo que a bolsa vai fazer água, alguma coisa muito interessante vai estar acontecendo. Por enquanto, como diria minha mãe, é melhor ouvir isso do que ser surdo.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Louro, escolhe uma ação

Do globo.com:


Muito boa para quem acha que leigos são capazes de fazer stock picking vencedor... Ótima também para quem acha que tem algum mérito em lucrar comprando ações enquanto o mercado está subindo (a bolsa da Coréia subiu 11,8% no período da competição).
A conclusão do gerente da corretora que promoveu a competição é quase inacreditável:
"Nossa experiência provou que fazer investimentos de longo prazo em ações de grandes empresas é segura e eficaz."
Segura e eficaz. Com base na experiência de sucesso de um papagaio. Então, tá.
Dica da Alice, a do país das guloseimas.

Jim Rogers esculachando repórter

Vejam o lendário Jim Rogers ensaboando, ao vivo, o repórter da Bloomberg. Aqui. Rogers foi um dos grandes responsáveis pela popularização dos investimentos em commodities, e é uma das figuras mais divertidas do mercado financeiro -- sobretudo quando pessoas tentam fazer com que ele faça previsões sobre níveis de preço.

O assunto da conversa: o preço do açúcar operando no maior nível dos últimos 28 anos (veja o gráfico).


sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Frase do dia - para guardar

Do nosso presidente molusco, com sua tradicional arrogância e irresponsabilidade:

"A nossa expectativa em 2010 é de um crescimento bom, acima de 4,5%. 5% é muito bom."

6% é melhor ainda. 10%, 12% então... E, se acertamos, somos gênios, se erramos, quem errou foi o mercado, o resto do mundo...

Bom final de semana aos meus três leitores.

Rápidas sobre os mercados

- Paul Tudor Jones, Market Wizard, continua acreditando que o movimento da bolsa é um rali dentro de um mercado baixista no longo prazo (bear market rally -- viva a capacidade de síntese do Inglês). Veja na Bloomberg.

- Os mercados quebraram hoje uma correlação que vinha durando meses: enquanto a bolsa americana está fazendo a nova máxima do ano (1013 pontos para o S&P500), o dólar se fortaleceu, zerando as perdas do mês (ver o gráfico). Algo interessante deve estar para acontecer.


quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Guia South Park de finanças pessoais

É sério. Veja aqui, e perca (mais) um pouco a fé na humanidade. Há gente capaz de extrair lições edificantes de um desenho animado totalmente amoral... Ainda assim, acho que é melhor do que ouvir a Sophia.

Robert Lucas defende a antiga economia

Na The Economist desta semana, o pai das expectativas racionais Robert Lucas defende as velhas macroeconomia e economia financeira. Para ele, o Fed reconheceu o potencial de uma crise de grandes proporções em 2007, mas optou por não fazer nada. Citando o artigo:

"The best and only realistic thing you can do in this context is to keep your eyes open and hope for the best."

Lucas continua fiel a sua alma mater (a Universidade de Chicago) e ao pensamento que foi desenvolvido lá: as distorções (quando existentes) devem ser resolvidas pelo mercado, e a intervenção de bancos centrais só é justificada quando o sistema financeiro ameaça colapsar. O fato dele só ter vindo a público defender essa opinião agora é ilustrativo: os piores dias de pânico ficaram para trás, e as antigas teorias voltam a ser defensáveis (embora já tenham se provado falhas). Não é só no Brasil que a memória é curta. Os Estados Unidos tentam fazer com que "a esperança vença o medo", por mais que este último seja, dadas as condições, mais racional.

Seria possível apontar mais um punhado de incoerências no texto de Lucas, mas é como tentar organizar uma discussão entre um surdo-mudo e um cego. O pensamento econômico liberal, curiosamente, nunca foi tão socialmente conservador: ele está ajudando a sustentar um sistema cheio de distorções, pouco meritocrático e que privilegia uma minoria de insiders. Uma revolução teórica é necessária, mas, creio, ela só virá num momento em que os piores dias de pânico do ano passado parecerem um piquenique num dia ensolarado.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Petrobras, nona maior companhia aberta do mundo

Esta notícia me chamou a atenção, e fui conferir: a preços de mercado, a Petrobras é a nona maior companhia listada em bolsa do mundo, com um valor de mercado (market cap) de US$ 173,95 bilhões -- na frente de monstros tradicionais como Johnson & Johnson, Shell, Procter & Gamble, IBM... O Brasil realmente está mudando de patamar.

O Top 100 completo está aí embaixo.

Largest 100 Companies Worldwide

BNDES na Copa

O Cosme Rímoli (que tem o irritante hábito de escrever uma linha por parágrafo) diz que o São Paulo Futebol Clube já está indo atrás do BNDES para financiar a reforma do Estádio do Morumbi para a Copa de 2014. Como sabemos que clubes de futebol não têm o bom hábito de pagar o que devem, já sabemos do bolso de quem vai sair esse dinheiro. É o tal negócio, o investimento é muito bom, mas o mercado, burro, não quer pôr a mão no bolso... Não sei se ter um mundial de futebol por aqui me dá mais orgulho ou vergonha.

Nova realidade de Wall Street

(copiado do Zero Hedge)

GM chapter 11 = PRICED IN
125K+ jobs lost from GM chapter 11 = PRICED IN
unemployment @ 9% = BETTER THAN EXPECTED
unemployment @ 10% = DOW SOARS
unemployment @ 11% = GREEN SHOOT RALLY
unemployment @ 12% = ALREADY FACTORED IN
unemployment = 35% = DOW DROPS 100 POINTS
housing price =1% = RECESSION ENDING
housing collapses = GREEN SHOOT
Housing falls 20% = STABILIZATION
Government spends 1 trillion of OUR dollars = STIMULUS
North Korea fires nuke = RALLY
Israel bombs Iran = 30 MINUTE END OF DAY RALLY
world explodes = ASIA RALLIES
PMI crashes = HUGE RALLY
No jobs are created = RECESSION ALMOST OVER
U.S. debt overwhelming = TOO BUSY RALLYING TO CARE
Consumer stops spending = RETAIL RALLY
Banks are insolvent = SIGNS OF STABILIZATION
American auto industry BK = GOOD THING
Banks pass scam stress tests = HUUUUUUUUGE RALLY
Banks "only need 75 billion = OUT OF THE WOODS
Banks pass a real stress test = NEVER WOULD HAPPEN
Banks pay back tarp = LATE DAY SURGE
Banks can't pay back TARP = EARLY MORNING SURGE
12% mortgage delinquency = GOOD FOR STOCKS
Hundreds of thousands of mortgages underwater = HOUSING BOTTOMED
Dollar rises = RALLY
Dollar crashes = RALLY
Inflation = BULL MARKET
Deflation = BULL MARKET CONTINUES
REFLATION = MASSIVE SHORT COVERING RALLY
Gold rises = STOCKS RALLY
Gold falls STOCKS RALLY BIG
Banks' fake earnings = SIGNS OF STABILIZATION
CRE stabilizing= 1000 POINT RALLY
CRE CRASHING = STOCKS SHAKE IT OFF TO RALLY
CONSUMER INSOVENT = CONSUMER IS SPENDING
OIL @ 50 = BULL RALLY
OIL @ 60 = GREEN SHOOT
OIL @ 100 = IMPORTANT RECOVERY SIGN
OIL @ 20 = TAX BREAK

And the one we should all interpret correctly:
NO ONE IS BUYING STOCKS = BILLIONS ON THE SIDELINES

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Tempestade nos Bálticos

Gideon Rachman, colunista do Financial Times, fala sobre uma possível crise nos países bálticos (Estônia, Lituânia e Letônia) ainda este ano. Curioso é como há cada vez mais gente prevendo isso (este escriba incluso), e a crise não se materializa -- contrário a isso, o euro, que deveria ser afetado, opera na máxima do ano (1,4409) contra o dólar.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Frase do dia

Do nosso ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, reduzindo todo o problema de crescimento econômico ao comércio exterior:

"Graças a Deus não fechamos a Alca, porque senão, em vez de fechar o ano com um crescimento de 1%, estaríamos como o México, com uma recessão de uns 5%, 6%, sei lá..."

Graças a Deus o Brasil não depende da sabedoria de quem faz política externa para ter alguma prosperidade.

Mais sobre algoritmos de alta frequência

O assunto continua rendendo na mídia. Hoje é Paul Krugman que escreve sobre o assunto no New York Times -- também, na minha opinião, deixando de enxergar o mais importante (só na internet para um brasileiro pé rapado poder contestar um Nobel de economia...). Menos lida e muito mais informada é a opinião de Scott Locklin, para quem os métodos quantitativos só voltaram à mídia porque, com a volta de alguma liquidez para os mercados, eles voltaram a funcionar e fazer dinheiro.

O cheiro do ralo (de dinheiro público)

A piauí deste mês traz uma matéria interessante, embora o título ("Sérgio Rosa e o mundo dos fundos") seja inadequado: ao invés do perfil detalhado do presidente da Previ, temos uma reportagem sobre o que um amigo analista do setor chamou de "guerra de titãs", a briga pelo controle das maiores empresas de telecomunicações do Brasil.

O que sai da matéria é que a verdadeira guerra de titãs está sendo travada entre os grupos de interesse dentro do PT: o do presidente Lula e o chamado "núcleo duro", liderado pelo ex-ministro Luiz Gushiken e que conta com participação de Sérgio Rosa. Aparentemente, Lula venceu a batalha das telecom, usando o Banco do Brasil e o BNDES para dar o controle da nova gigante do setor (resultado da fusão entre Brasil Telecom e Telemar) a uma dupla de empresários amigos (Sérgio Andrade e Carlos Jereissati). O poder de fogo da turma dos fundos de pensão, entretanto, é bastante grande.

A Previ tem um patrimônio de R$ 121 bilhões. Para colocarmos esse número em perspectiva: a maior gestora de fundos do país, a do Banco do Brasil, tem R$ 243 bilhões em ativos (entre as não controladas por bancos estatais, a maior é a do Itaú, com R$ 169 bilhões). Desse total, a carteira de ações corresponde a aproximadamente R$ 73 bilhões -- dentre os fundos de ações, a maior gestora tem R$ 45 bilhões. A Previ tem 15% da Brasil Foods, 31% da CPFL, 14% da Embraer e 50% da Valepar, controladora da Vale.

Duas tendências parecem evidentes (embora não sejam exatamente novas): a primeira é o uso dos fundos de pensão para fins políticos, com o mandato (garantir a aposentadoria dos seus associados) totalmente em segundo plano -- sem maiores consequências, já que, caso ocorra algum problema com as ações e o fundo não consiga pagar essas aposentadorias, muito provavelmente o governo usaria dinheiro público para cobrir o buraco (imaginem o dano político de aposentados do Banco do Brasil sem receber). Nesse sentido, a Veja desta semana noticiou que o governo pretende usar a Previ e a BNDESPar para retomar o controle da Vale, o que nos leva também à segunda tendência: a reestatização (por baixo dos panos) de algumas empresas que foram privatizadas durante o governo FHC. Se isso já era uma intenção do governo do PT, agora, com a tendência global de aumento da participação do estado na economia, as portas se abriram de vez. O mercado ainda terá tempo de inflar os preços das ações antes de entregar para o estado. E a conta ficará, pra variar, com o contribuinte.

* Os dados de fundos saíram do ranking da revista Institutional Investor.