quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Robert Lucas defende a antiga economia

Na The Economist desta semana, o pai das expectativas racionais Robert Lucas defende as velhas macroeconomia e economia financeira. Para ele, o Fed reconheceu o potencial de uma crise de grandes proporções em 2007, mas optou por não fazer nada. Citando o artigo:

"The best and only realistic thing you can do in this context is to keep your eyes open and hope for the best."

Lucas continua fiel a sua alma mater (a Universidade de Chicago) e ao pensamento que foi desenvolvido lá: as distorções (quando existentes) devem ser resolvidas pelo mercado, e a intervenção de bancos centrais só é justificada quando o sistema financeiro ameaça colapsar. O fato dele só ter vindo a público defender essa opinião agora é ilustrativo: os piores dias de pânico ficaram para trás, e as antigas teorias voltam a ser defensáveis (embora já tenham se provado falhas). Não é só no Brasil que a memória é curta. Os Estados Unidos tentam fazer com que "a esperança vença o medo", por mais que este último seja, dadas as condições, mais racional.

Seria possível apontar mais um punhado de incoerências no texto de Lucas, mas é como tentar organizar uma discussão entre um surdo-mudo e um cego. O pensamento econômico liberal, curiosamente, nunca foi tão socialmente conservador: ele está ajudando a sustentar um sistema cheio de distorções, pouco meritocrático e que privilegia uma minoria de insiders. Uma revolução teórica é necessária, mas, creio, ela só virá num momento em que os piores dias de pânico do ano passado parecerem um piquenique num dia ensolarado.

2 comentários:

Gian disse...

Não acreditando que o mercado deva se autoregular, quem você sugere para ser este regulador? O governo?
É razoável crer que os políticos fariam melhor do que os profissionais que lidam com as oscilações no dia-a-dia?

Drunkeynesian disse...

Gian, eu acho mais perigoso dar para o governo o poder de regular os mercados do que deixar o mercado funcionar por si só. O problema não é nem o princípio do liberalismo, e sim o que tem sido feito em nome dele: é incoerente defender a não-intervenção depois de o governo ter inundado os bancos com dinheiro público. Num mercado que funcionasse por si só, os incompetentes e irresponsáveis quebrariam ou seriam severamente penalizados, e não haveria incentivo para acreditar que o tipo de comportamento passado (basicamente, dar o máximo de crédito possível, com pouca ou nenhuma garantia) continua sendo lucrativo.

Eu acho o liberalismo econômico teórico corretíssimo, desde que tenha os pés no chão -- ou seja, funcione para todos e com regulação nos casos em que ele notadamente não funcione.