O risco, para Wilmott, é de tais algoritmos criarem um espécie de efeito dominó -- tendências que se auto-alimentam -- que voltaria a desestabilizar fortemente os mercados e teria consequências danosas para o restante da economia. Ele cita, como exemplo, a grande queda das bolsas mundiais de outubro de 1987 (quando a bolsa americana perdeu 22,7%), que teria sido causada, em parte, por algumas estratégias baseadas em algoritmos.
Essa discussão já havia sido iniciada há algum tempo nos blogs e sites especializados em finanças (o editorial do New York Times chega atrasado e só confirma uma tendência). O argumento técnico faz sentido: quanto mais o mercado é dominado por estratégias quantitativas, maior a chance de os ativos passarem a adotar padrões de preços que têm pouco a ver com o "mundo real". Entretanto, acho que ela deixa escapar algo maior.
Como diria Bastiat, há o que se vê e o que se não vê, e, geralmente, o segundo é mais importante. O mundo pode se prevenir contra o que se vê e está estampado nos jornais, o invisível e imprevisível tem consequências mais perigosas. Neste caso, o que não está exatamente explícito é que o suposto domínio do mercado por computadores é um sinal de que os demais participantes, sejam eles poupadores, especuladores, empresas, investidores de longo prazo, governos, etc., perderam importância na formação de preços. A consequência é um mercado menos funcional, e, por isso, mais frágil e sujeito a rupturas. Essas rupturas, como o tal outubro de 1987 e tantos outros episódios, são de natureza mais estrutural do que pontual -- as explicações são sempre posteriores e geralmente contam apenas um lado da história (até hoje debate-se o que causou, por exemplo, a crise de 1929) . É natural do ser humano procurar culpados e responsáveis para tentar montar uma história, quando, na verdade, a complexidade de um sistema que envolve tantas interações entre pessoas exige mais estoicismo (aceitar as coisas como elas são) e reflexão. Os algoritmos de alta frequência, por si só, provavelmente não seriam capazes de provocar uma nova de onda de pânico em mercados líquidos; o fato de esta não ser a condição atual é sinal de que muito dinheiro deixou de procurar o mercado financeiro -- seja porque muito capital foi perdido, ou porque não há mais confiança nas regras do jogo, ou por qualquer outro motivo -- e isso é realmente preocupante para o futuro do capitalismo.
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