quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Festival de deseducação financeira

Hoje, vendo a Bovespa fechar na máxima do ano e lambendo minhas feridas de pessimista, parei alguns minutos para assistir a alguns vídeos do UOL Economia. Eu sei que a essa altura eu já não deveria, mas não canso de me chocar com o baixo nível dos nossos "especialistas" -- e, neste caso, não estou falando dos jornalistas, mas sim dos convidados que se propõe a tirar dúvidas do público em geral.

No menu do dia temos:

- Um professor da Escola de Economia de São Paulo, da FGV, supostamente um dos centros de excelência em economia e finanças do país, falando sobre "oportunidades e riscos de comprar ações durante um IPO". Para o professor, baseado em uma pesquisa americana, a estratégia "vencedora" é manifestar interesse de compra durante o período de reserva e vender logo na primeira semana de negociação -- estratégia conhecida como flipping. Não vi a pesquisa que o professor cita, nem quero ver. Mas o racional do flipping é a estratégia de investimentos conhecida como greater fool theory -- não importa o preço que você pague por um ativo, você sempre vai conseguir achar alguém mais idiota para comprá-lo de você a um preço mais alto. Uma variação é a slower fool theory, onde ganha quem conseguir vender mais rápido, antes de uma virada do mercado. Ambas. como boa parte das teorias em finanças, são válidas somente para mercados em alta (bull), onde, por definição, o preço amanhã (ou em t+1, para ser genérico) provavelmente será mais alto que hoje (t0). São receitas para perdas quando não se consegue encontrar o mais idiota ou o idiota mais lento (e, no mercado em queda, os idiotas desaparecem, provando não serem tão idiotas assim). Pensando de outra maneira, uma estratégia que parte do princípio que você é mais esperto que o resto do mercado é, no mínimo, exótica. Mas, voltando ao nosso professor, isso é o recomendável - vencedor, palavras dele. Essa linha de pensamento está formando profissionais que em breve, muito em breve, poderão cuidar do seu dinheiro. Tire suas próprias conclusões.

- Um sócio-diretor de uma provedora de serviços de investimento (que, texto retirado do site da empresa, com erro de ortografia incluso, "presa pela excelência no atendimento dos clientes") falando sobre o mercado de câmbio. Quando perguntado sobre as alternativas para se investir em moeda estrangeira, ele cita a opção de comprar, via Tesouro Direto, títulos públicos atrelados a variação cambial -- títulos que o Tesouro não emite desde 2002. Desnecessário comentar o restante do conteúdo da entrevista.

Esse é o portal de internet mais visitado do país. Esses são alguns dos profissionais do nosso mercado. Informe-se, e cuide bem do seu dinheiro.