"Já estamos em default, o que procuramos agora é resolver logo a questão."
O default, no caso, é sobre uma dívida de US$ 18 bilhões dos bancos cazaques com outros bancos no exterior. Como outros tantos países, sobretudo no leste europeu, o Cazaquistão aproveitava a facilidade de obter linhas de crédito a juros baixos em moeda estrangeira, usando-as para financiar a economia local. A estratégia funciona enquanto o país tem contas externas relativamente equilibradas e consegue gerar os fluxos de moeda forte para repagar os empréstimos e manter a moeda local estabilizada. Num cenário de crise, esses fluxos diminuem e, ocasionalmente, forçam o país a desvalorizar a moeda local para atrair mais capital. A desvalorização faz com que os empréstimos em aberto tornem-se mais difíceis de serem honrados, e aí aparecem os calotes. O Cazaquistão desvalorizou a moeda local, o tange, em 20% este ano. Alguns outros países (os bálticos, por exemplo) estão envolvidos exatamente no mesmo tipo de operação, mas têm conseguido manter suas moedas ancoradas. O que o mercado deveria temer (e tem ignorado com "i" maiúsculo) é um efeito cascata, como o ocorrido no sudeste Asiático em 1997 -- uma desvalorização gerando desconfiança quanto à sustentabilidade de outras moedas e fuga de capitais dos respectivos países.
Ontem li uma entrevista de um famoso gestor de investimentos (no livro Inside the House of Money) que dizia que os mercados podem ser incrivelmente lentos para reagir a grandes eventos. Quem acompanha o blog deve estar cansado da minha visão pessimista da situação dos mercados, mas não consigo deixar de pensar que podemos estar, novamente, tentando ignorar algumas fissuras gritantes no mundo financeiro.
2 comentários:
Entendo que o Brasil não sofre desse mesmo mal... ou estaria eu enganado ? Aguardo a luz...
Brasilzão desse mal não sofre... tem câmbio flutuante, a moeda não é 100% conversível (os bancos não podem oferecer empréstimo em moeda estrangeira).
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