 Amanhã faz um ano que a Lehman Brothers afundou e o mercado se deu conta que o problema com os bancos era um pouco maior do que "só" alguns papéis ligados à hipotecas de alto risco. Por conta disso, a imprensa está pipocando de retrospectivas e análises sobre "como será o novo mundo". Este é o tema da Veja desta semana. Não espere encontrar nenhuma novidade -- a mesma ladainha do "mundo liderado por emergentes", "Brasil ganhando espaço"... e a opinião dos mesmos "especialistas" que falharam em prever a crise do ano passado.
Amanhã faz um ano que a Lehman Brothers afundou e o mercado se deu conta que o problema com os bancos era um pouco maior do que "só" alguns papéis ligados à hipotecas de alto risco. Por conta disso, a imprensa está pipocando de retrospectivas e análises sobre "como será o novo mundo". Este é o tema da Veja desta semana. Não espere encontrar nenhuma novidade -- a mesma ladainha do "mundo liderado por emergentes", "Brasil ganhando espaço"... e a opinião dos mesmos "especialistas" que falharam em prever a crise do ano passado.Não acho que o mundo tenha mudado tanto. A dinâmica do mercado financeiro continua a mesma: dinheiro barato e abundante inflando preços de ativos, com pouca diferenciação entre qualidade. Tudo sobe: commodities, ações, títulos do governo... Até que algo sai errado (difícil prever exatamente o quê, já que o sistema parece ter diversos elos fracos) e voltamos à situação anterior, onde o que vale é dinheiro, líquido e certo. Acho que a principal diferença agora é a situação dos governos. Tudo depende deles: eles "salvaram" a economia, cortaram os juros, aumentaram os gastos, absorveram os ativos podres... Exatamente por isso estão mais fragilizados: espera-se tanto de bancos centrais e ministros de finanças, e seu arsenal é mais limitado. 
Estamos num mundo de muita dívida e muita incerteza sobre quem pagará por ela. Os EUA são o maior e mais evidente exemplo: nos próximos anos, eles devem lidar com os déficits enormes gerados pelos programas de estímulo e com o grande problema do sistema de saúde ainda para ser resolvido. Tudo isso sem aumentar impostos, claro. E com cada vez menos setores capazes de competir internacionalmente. Otimistas, minhas desculpas. A conta não fecha. E o mesmo vale para muitos outros países e empresas. Basta olhar um pouco além da superfície.
Acho que a verdadeira mudança vai acontecer quando uma parecela relevante de toda essa dívida for destruída. Isso pode acontecer com inflação ou calote. Ou ambos. Nenhum cenário é particularmente auspicioso: destruir dívida é, por um lado, destruir riqueza, e ninguém gosta de perder o que "conquistou" -- de onde pode-se esperar uma reação conservadora, o que é ainda menos auspicioso. Só dá para lamentar a chance que o mundo teve, no fundo do poço da crise de crédito, de se reerguer sobre bases mais sólidas. Isso não aconteceu. Os antigos privilégios foram mantidos, e não houve nenhum incentivo para mudança. Optou-se por comprar tempo. O interessante é que essa estratégia gerou uma reação espetacular, muito mais rápida do que muitos imaginavam. Como compensação, deve acelerar também a nova queda assim que descobrirmos que o rei continua nu.
* Podem argumentar que o pessimismo é reflexo da segunda-feira e do tempo horroroso de São Paulo. Talvez o tom mudasse, mas a mensagem seria a mesma numa sexta-feira ensolarada.
 
 











 
 
2 comentários:
Texto incrível. Parabéns.
Abs
Obrigado, obrigado... mas... olha a bolsa fazendo nova máxima... hahahahaha...
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