domingo, 17 de março de 2013

Como será amanhã...

Fatos, esses sacanas
Um dos exercícios interessantes que minha equipe costuma fazer no trabalho é imaginar que operações faríamos no mercado caso tivéssemos a chance de olhar o jornal do dia (ou da semana, mês, etc) seguinte. Às vezes as conclusões são óbvias e consensuais; mais interessantes, porém, são as ocasiões (não raras) em que não conseguimos chegar em um acordo, ou quando as conclusões que pareciam cristalinas são ignoradas pelos mercados, que não reagem ou tomam direção oposta.

Lembrei disso acompanhando ontem e hoje a história do confisco bancário de Chipre (ver o post anterior). O que vai acontecer amanhã nos mercados? É difícil discordar do mais evidente: a escolha do governo cipriota é muito perigosa, pode fazer com que os correntistas de diversos outros países enxerguem nela um precedente e corram para os bancos. Se isso for verdade, ações de bancos europeus devem cair, os juros pagos por países periféricos subir, o euro se desvalorizar, etc.

Por outro lado, é quase tão fácil criar um cenário alternativo onde o mercado segue se apoiando no relativo otimismo que tem sido mostrado nos últimos meses e logo surge uma narrativa dizendo que, no fim das contas, Chipre é um país pequeno e o risco de contágio é fácil de ser contido com uma ação decisiva das autoridades, afirmando que o caso é isolado e não será repetido em outros países.

Se na sexta-feira, antes do fechamento dos mercados, eu tivesse o jornal do final de semana, provavelmente concordaria com a maioria das reações na imprensa, blogs e twitter, e apostaria no pessimismo. Sabendo, porém, que mercados têm a incômoda característica de atropelar consensos e racionalizações (ver regra 9 de Bob Farrell) e seguir tendências, não ficaria surpreso se em alguns dias ficar mostrado que o temor deste final de semana foi exagerado e a Europa seguir empurrando seus problemas ladeira abaixo, sem pânico.

Em resumo, os mercados darão o veredito de curto prazo. Se ignorarem as notícias, não deve demorar para aparecerem opiniões dizendo que, na verdade, a decisão de tomar parte dos depósitos dos cipriotas foi sensata, a melhor opção disponível. Acontecimentos antecipam as análises, raramente o contrário, para desespero da nossa lógica e tentativa de entender o mundo.

15 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom texto. Traduziu a ansiedade de quem está ligado nos notícias no final de semana. Eu deveria mesmo era ter ido para a praia...

1 abraço

Anônimo disse...

Mas era só eles usarem a moeda de 1 trilhão de EUROS...

Anônimo disse...

Eu como um não-economista fico na ansiedade pelas consequências.
Isso me excita muito mais que uma final de copa do mundo!

Bruno Aguiar disse...

Gostaria de sugerir um post comentando este artigo:

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/98981-anular-efeito-de-precos-muda-debate-sobre-modelo-de-crescimento.shtml

Anônimo disse...

na minha aula na ufrj o professor falou que é balela q é necessario poupança prévia para ter investimento, já que os bancos não são reserve restrained e inventam dinheiro "do nada" e o BC prove a liquidez se necessário

pq isso ta errado? abs

Anônimo disse...

Ao invés de se preocupar com a reação dos mercados amanhã, eu me preocuparia com a reação dos eleitores europeus nas próximas eleições.

Jorge Browne disse...

Anon, todo o mundo concorda com I=S, agora o que vem primeiro... Já se descobriu o que vem primeiro entre o ovo e a galinha (o ovo), mas essa igualdade econômica....

Anônimo disse...

Jorge Browne.. sim, mas segundo a ala heterodoxa, I determina S ex-post..sacou? E isso se da pq nao ha "escassez de credito já q ele não é restringido por poupança cm moeda endogena"

realmente queria ouvir algo + esclarecedor do mainstream sobre isso. (e credito em geral)

abs

Jorge Browne disse...

Tranquilo Anon, saquei sim, eu sou da "ala heterodoxa" hehe...

Anônimo disse...

Acho bem provável que o mercado se desespere um pouco e aproveite para realizar lucros.

Depois, talvez seja necessária mais uma manifestação da Alemanha ou do BCE dizendo que está tudo certo.

Mas, no fim das contas, acho mesmo que o euro não é para todos; Chipre e Alemanha não estão no mesmo barco.

Acho que as dívidas do sul da Europa são um problemão.

E acho que boas empresas da moderna Europa sobreviverão a tudo isso.

Só assim consigo aguentar tanta variação de humor!

Abraços

Rafael

Anônimo disse...

/voltando para o chipre, acho a solução boa (relativamente). não tem deval para taxar o cara com dinheiro então vamos dar uma tungadinha por decreto mesmo, já que evitar falências bancárias custa uma grana, e o povo as vezes não tem que pagar toda a conta. o caso é saber do tal do contágio, mas suponho que será pequeno, falam que no chipre o crime organizado tem umas lavanderias das boas por lá, então bandido que rouba bandido.
Maradona

Drunkeynesian disse...

O sistema bancário tem EUR68 bi em depósitos, EUR26 bi são de russos...

Anônimo disse...

Amanhã as autoridades farão um pronunciamento dizendo que está tudo bem e que medidas enérgicas serão tomadas para evitar um contágio. Todos ficarão esperando a situação da Europa se resolver por decreto, em breve o mercado voltará a "reagir bem" a algum novo plano de pacote de estímulo, que daqui a pouco tempo falhará e causará pânico novamente. Até a hora em que a merda realmente atingir proporções épicas, aí os políticos em geral não conseguirão mais fingir que estão fazendo alguma coisa enquanto fogem do problema.

Anônimo disse...

Vivemos numa era extraordinária, de equilíbrios instáveis para todo lado que se olhe.
Maradona

Anônimo disse...

As análises são interessantes. Mas como são os outros é que estão sentindo é fácil fazer análise. Já vivemos situações semelhantes àeuela que está acontecendo e em percentuais superiores ao que estão submetendo os correntista de chipre.

Resultado quebra de confiança e talvez essa seja uma das razões da nossa história irrisória poupança.