quarta-feira, 6 de março de 2013

A Venezuela antes e depois de Chávez

Vou deixar uma análise qualitativa e política do chavismo para quem estudou mais do que eu - o Flavio Comim conseguiu, muito rapidamente, produzir uma ótima, sucinta e bastante ponderada. Aqui vou me limitar a apresentar e comentar alguns dados, e que o leitor tome-os com os devidos grãos de sal quanto à confiabilidade. Os números de inflação parecem razoáveis (ver esse estudo do Alberto Cavallo); vejo como principal problema as conversões para dólares, já que o câmbio oficial, mesmo após a desvalorização deste ano, é uma peça de ficção.


Todos esses indicadores melhoraram - a crítica aqui pode ser contrafactual (melhoraram apesar de Chávez, não por causa dele) ou no relativo, já que foi um período em que o mundo e o continente melhoraram bastante.

A coisa fica feia aqui (clique para aumentar se as últimas colunas aparecerem cortadas):

Durante toda a era Chávez, o crescimento do PIB da Venezuela foi menor do que o da América Latina e muito menor do que dos produtores de petróleo. O PIB per capita cresceu 27%, contra uma alta de quase 70% para o continente. Como proporção do PIB mundial, a economia do país ficou estagnada. A dívida pública bruta aumentou (assim como as reservas internacionais), a inflação caiu (mas ainda ficou alta demais para o padrão do resto do mundo) e as exportações de petróleo aumentaram cinco vezes (aumento médio dos outros produtores: nove vezes). No período, o preço do barril de petróleo aumentou 7,5 vezes.

Por essa ótica, o fracasso da era Chávez é enorme, desperdício de uma janela de oportunidade que não deve ocorrer outra vez nesta geração (já tinha chegado nessa mesma conclusão, olhando outros dados, aqui). E se partirmos da (boa, acho) premissa que o maior indutor de desenvolvimento é o crescimento, ganha mutia força a crítica contrafactual dos indicadores da tabela anterior melhoraram, mas poderiam ter sido muito melhores. Que a Venezuela encontre seu rumo no futuro, longe do populismo, do militarismo e da retórica bocó de não-alinhamento.

Alguns dados roubados de outras fontes:



(de um post do Leonardo Monasterio)



(de um post do Lucas Llach)



(do Guardian, com typo e tudo)



(do Valor Econômico de hoje - clique para aumentar)


P.S. Como melhorou o acesso a essas bases de dados dos multilaterais desde que eu comecei a usá-los (2001)... Acho que devemos agradecer o Hans Rosling pela briga para liberar informações coletadas com dinheiro público.

P.P.S. Dica de leitura sobre a Venezuela: essa reportagem recente de Jon Lee Anderson na New Yorker.

11 comentários:

Anônimo disse...

Resumindo, é com trabalho e ciência que se resolve o problema de uma nação, e não com ideais, política e autoritarismo. Boa reportagem Drunk!

Anônimo disse...

A queda do Gini é impressionante. Será que dá para dizer "apesar do Chavez"?Veja o que aconteceu nos anos 70, após o choque do petróleo. Naquela época não tinha Chavez.

Drunkeynesian disse...

Sim, acho que há uma diferença clara entre ele e os cleptocratas anteriores (e desigualdade caiu no continente inteiro). Meu ponto é que provavelmente daria pra ter feito melhor.

Anônimo disse...

Acho realmente que a questão quanto às melhorias sociais no Brasil e na Venezuela foram obtidas a partir de melhoras nas relações de troca e a partir de políticas de curto prazo.

Chaves morreu e vai virar santo; Dilma deve ser reeleita e vai pagar todos os pecados em função da completa exaustão de suas estratégias políticas e econômicas.

Melhor para o Brasil; o populismo deixa raízes profundas. Nada benéficas para os países em que ocorrem.

Abraços

Cristiano disse...

Drunkeynesian,
Como vocë faz uma análise das condições sociais na Venezuela omitindo os indicadores de criminalidade e o fato de que durante a Era Chavez houve racionamento de produtos básicos como, por exemplo, alimentos!
Se eu não me engano, Caracas é a capital mais violenta da América Latina com um índice de homicídios de 165 por 100 mil hab.

Drunkeynesian disse...

Omitindo? Olha o gráfico do Guardian... o texto do Anderson que indiquei também fala disso.

Não quis analisar condição social, só alguns indicadores de desenvolvimento e macroeconômicos. Essa tarefa é pra quem estudou mais (como dito no começo) e tem mais tempo.

Cristiano disse...

Drunkeynesian,
Esquece o meu comentário sobre a ausência dos indicadores de criminalidade.
Eu nao tinha visto os últimos gráficos.
Mesmo assim, eu achei que os indicadores de criminalidade apresentados estao subestimados.
A última vez que eu vi, a taxa de homicídios na Venezuela era muito maior!

Anônimo disse...

A desigualdade caiu no continente todo, mas na Venezuela caiu muito mais. É muito mais fácil derrubar 0,10 no Gini saindo de 0,60 do que saindo de 0,5. 0,39 é desigualdade de país europeu. É fácil falar que daria para fazer melhor sem conhecer o país. Lá a doença holandesa é um problema sério, o país não consegue ser competitivo nem em alimentos.

Frank disse...

por que essa fixação com a desigualdade ?

Anônimo disse...

Santa catarina tem o GINI do quênia... Eu acho que sei em que lugar preferiria viver..

Indice ginirrelevante

Drunkeynesian disse...

Com Gini igual e renda muito maior, eu também teria pouca dúvida...