A essa altura, muita gente mais qualificada do que eu já opinou sobre as medidas anunciadas ontem por Mantega, Luciano Coutinho & Fernando Pimentel (ver, por exemplo, o texto do Mansueto Almeida). Quero aqui chamar a atenção para uma picuinha, apenas um gráfico tirado da apresentação do próprio Mantega (página 2):
O gráfico é de crescimento anual do PIB. Minha implicância é que todas essas desonerações e aumento do volume de crédito subsidiado (que, dando errado, são garantidas pelo Tesouro, a grande curva de rio para qualquer besteira que se faça por aqui) são para, se tudo der certo como o governo espera, aumentar em um décimo de ponto percentual o crescimento médio anual do PIB durante o governo Dilma (com relação aos quatro anos anteriores). Repetindo e refraseando: estamos mexendo na estrutura tributária, criando privilégios, escolhendo "vencedores" e gerando montes de efeitos colaterais para, se tudo correr como o planejado, ganharmos 0,1% de crescimento anual (já tinha tocado nesse tema aqui).
Acho altamente improvável que o Brasil atinja essa "meta" nos próximos anos. Acho que o governo superestima o crescimento potencial - um jeito meio tosco de pensar nisso é que, durante os oito anos de boom de commodities (que coincidiram com o tempo de Lula na presidência), o crescimento anual médio foi de pouco mais de 4%, e, com commodities ajudando menos, suponho que o crescimento esperado seja menor. Nada ou muito pouco está sendo feito para efetivamente aumentar o crescimento potencial. Quase todas essas medidas são de caráter fiscal e anticíclico - não é, por princípio, errado, mas está longe de ser revolucionário ou de ter impacto de longo prazo.
O Plano Brasil Maior, assim como o PAC e outros "programas" com nomes mais ou menos infelizes, por enquanto não passa de uma peça de retórica, essencialmente oca. Ainda falta coragem ou capital político para o governo anunciar algo que realmente tenha potencial de fazer a diferença no futuro. A última iniciativa nesse sentido, o plano de exploração do pré-sal, fez dobrar a aposta do país na premissa que commodities seguirão se valorizando. Enquanto isso, seguem o autoengano e a falação sem substância. Deve haver quem se contente com isso.
P.S. Para polemizar: as críticas da mídia às medidas do governo são tão unânimes que, de algum jeito misterioso, arrisca dar certo.
quarta-feira, 4 de abril de 2012
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15 comentários:
Isso tudo me parece uma loucura!
Minha humilde leitura é que os desajustes vão se acumulando. O governo, por outro lado, como vem ganhando de goleada, acredita em tudo que fez, atribuindo a si os resultados auferidos. Eu discordo, mas compreendo.
O que me assusta é que o governo, além de acreditar, é prisioneiro das afirmações "lulistas" de dois anos atrás. Fica difícil voltar atrás.
Isso tudo, nos termos de Carmen "Reinhart", só agrava o tombo, pois insistimos em políticas pró-cíclicas em momento em que os custos internos estão em forte elevação.
Do alto de minha ignorância,acho que estamos no rumo errado. É isso mesmo?
Abraço para todos
Não é uma conclusão exagerada... ou pelo menos daria pra fazer muito melhor.
Meu caro, no reino das conjecturas, por que não fazer um exercício (tão a seu gosto) sobre os possíveis efeitos para o Brasil de uma queda (razoável, forte, e gigante) no produto/importações da China.
Será que voltaríamos ao velho: BP ruim, câmbio desvaloriza, inflação sobe, juros sobe, PIB cai...?
Abs
Ronaldo
Oi Ronaldo... estou pra fazer isso há um tempo, mas ainda não consegui montar o post. Vamos ver se sai semana que vem. Obrigado pela visita e pela sugestão.
Coincidentemente, sai pesquisa CNI/Ibope, com mais de 70% favorável à presidente.
Pode ser que os debates esmaeçam e fique a impressão de que as medidas são corretas, anti-cíclicas, para combater a recessão mundial e fortalecer a indústria nacional.
E a inovação, lógico, além de no mercado internacional, tentar abandonar o dólar e favorecer transações Brics em moedas locais.
Impressionante.
DK, estes planos tem o dom de te exasperar.
O programa em si não é ruim como medida de curto prazo. Mostra que o governo esta fazendo alguma coisa e melhora as expectativas, e efeitos sempre tem. Ok, talvez não as nossas, mas as do resto da tigrada com certeza.
Agora não me lembro quem disse, mas temos aqui o clamor por "ações horizontais de amplo espectro, definição política complexa e efeitos a longo prazo". Bueno, me vem a cabeça a Reforma Tributária, que depende do governo mas fundamentalmente do Legislativo. Sabe quando ela vai sair? Terça-feira dia 29 de fevereiro depois da chuva.
Não dá para botar tudo na conta do Executivo, por muito menos olha os apertos que o governo tem passado no Congresso.
Sim, você tem razão. O legislativo não ajuda, e não é de hoje - mal consegue-se votar se vai poder ou não vender cerveja durante a Copa, imagina algo que mexa no status quo. Cada vez mais concordo com a tese daquele cientista político da Unicamp (Marcos Nobre) que diz que a tendência ao imobilismo aqui só é perturbada quando isso leva à beira do abismo. Em tempos de calmaria, a chance de qualquer coisa que vá além de empurrar com a barriga parece mesmo muito baixa.
Ah, e quanto ao comentário do Mansueto, ninguém diverge que "maior esforço de inovação e aumento de produtividade" são a chave. O pobrema é como implantar.
Comentário por comentário fico com esse do Kupfer aqui
Bom mesmo o comentário do Kupfer. E achei que a citação que ele usa pra abrir fosse do Simonsen, não do Campos.
Ganhar 0,1 pp na média de 4 anos, (de 4,6% para 4,7%) sendo que no primeiro anos o aumento do PIB (de 2,7%) foi bem abaixo da media desejada, eu acho uma melhoria bastante significativa, ao contrário da sua impressão. Talvez essa medidas de curto prazo não ataquem o problema de inovação tecnológica e aumento de produtividade (citado anteriormente) mas espero que, pelo menos, o problema imediato (que é o alvo do governo nesse caso) esteja sendo atacado.
Obviamente outras medidas devem ser tomadas para tratar os inúmeros problemas do Brasil, entretanto, tentar fortalecer a industria na situação não me parece uma "bola fora"...
Concordo. Para comprar uma briga desse tamanho só no Dia depois de Amanhã.
É que muita gente escreve como se a economia não fosse política. O Numida acerta quando fala dos 70% de aprovação...
Um ponto é que os 2,7% não foram tragicamente ruins - acho que são mais próximos da nossa realidade sem boom de commodities do que os 4,7%. Se o país conseguisse manter 4,6% ou algo perto disso, seria excepcional; porém, acho que as premissas da Fazenda são otimistas demais e o que está sendo feito agora é muito pouco / muito atrasado. O crescimento deste ano, por exemplo, já está em grande medida contratado, e muito provavelmente vai ser significativamente menor que os 4,5% da apresentação - o que só torna a meta para o período todo mais irrealista.
Outro jeito de olhar a coisa é que eles estão gastando credibilidade (se tem algum valor ou não, é outra discussão) num plano com o objetivo declarado de causar esse aumento de 0,1% no crescimento médio. Podiam fazer exatamente a mesma coisa sem tentar quantificar com essa pseudoprecisão, e a impressão causada, pelo menos para mim, seria melhor.
Caros colegas,
O plano é muito bom ... para os que irão se beneficiar dele. E ruim para os demais (sem desonerações e juros preferenciais).
Entendo que os preços dos bens não comercializáveis saíram de linha em relação aos demais, de tal forma que hoje talvez só o câmbio corrija.
Acho que o governo Dilma se vê amarrado politicamente às falas de Lula, de tal forma que não lhe resta outra opção senão perseguir 4ou 5% de crescimento econômico, ainda que o tal crescimento esteja dia após dia agravando os custos dessa mesma indústria que agora se quer proteger.
Acho que as diversas reformas que deveriam ser feitas não o serão. Não pelo legislativo, que acaba seguindo o executivo, mas pelas ideologias do PT, fortalecidas pelo crescimento econômico na era Lula.
O problema, portanto, é filosófico. O País precisa ser repensado. As instituições brasileiras continuam atrasadas demais. Esse plano é um atestado de falta de ideias e de organização política do governo.
O que me assusta, é que as ideias que me parecem corretas perderam totalmente o apoio da sociedade. Acho que o País perdeu o rumo que andou seguindo de 1995 a 2005 (ainda que pouco incisivamente) e acho que isso vai dar errado.
Abraços,
Rafael
É dificil não ser invadido pelo pessimismo sempre que o governo anuncia medidas, sem tocar no cerne de longo prazo. Mas como foi dito acima, a política acomoda pressões e não há pressões para uma agenda qualquer que não essa que o governo toca. Menores gastos somente quando as urnas urrarem por isso. Tenho um pé atrás com responsabilizar a ideologia ou mesmo o lulismo pelos passos do governo. É a política pura e rasteira de sempre mesmo. Gostaria de ver o FHC exercendo a moderação nos tempos de bonança lulista, pode até ser...
Se a maré voltar ou se o nível do mar subiu de maneira permanente, vamos saber em alguns anos. Vai fazer falta ter sido mais responsável? Sem dúvida.
Quase me convencem a desacreditar ainda mais no Plano Brasil Maior, como no PAC, no Petroleiro João Cândido, nos Vants (ou discos voadores), no pré-sal, na Copa, nas Olimpíadas...Até mesmo nos 77% de aprovação.
Ou seja, sai aprovação e depois um problema ou sai algum problema e depois sai a aprovação.
Ou seja, o plano pode ser bem pior do que a encomenda, a julgar pela sequência de fotos da presidente e o ministro da Fazenda.
O que deixa coçando a mente, é pagar 25% a mais por um produto atrasado e isso ser chamado de salvação da indústria nacional.
Para quem viveu a era da reserva de informática, racionamento de combustíveis, bloqueio do M4, congelamento de preços e de salários, desindexação total da economia vis decretos-leis...tudo em nome do bem do País, fica meio que ressabiado.
Por tudo isso, seria muito melhor que o Congresso não se atrevesse a fazer qualquer tipo de reforma.
Nem dos lustres do plenário.
Tirando tudo isso, as medidas até podem ter sido só um sonho ruim.
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