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Bintang, o rentável 'fundo Copom'
Autor(es): Por Silvia Rosa e Vanessa Adachi | De São Paulo
Valor Econômico - 30/04/2012
Com apostas certeiras quanto a decisões de política monetária que lhe renderam ganho de 402% no ano passado, um fundo de renda fixa que leva o exótico nome de Bintang não sai da boca dos operadores de juros.
Na semana passada, circulavam e-mails entre participantes do mercado em que operadores se referiam a ele como o "fundo Copom". As mensagens eram acompanhadas de gráficos (aqui reproduzidos), que evidenciavam que os ganhos mais expressivos do fundo foram registrados em meses de reunião do Comitê de Política Monetária, o Copom. Dados extraídos do site da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) mostram que em março e agosto do ano passado o fundo montou posições bastante alavancadas em opções de juros e contratos futuros de taxa, apostando pesadamente nas decisões do Copom para a política monetária. Os dois meses marcaram momentos em que o mercado de forma geral apostou para um lado e o Copom foi para outro, o que acarretou perdas generalizadas. Não para o Bintang.
Bintang é o nome de uma cerveja da Indonésia do tipo pilsner, um "must" em Bali. A palavra significa estrela na língua do país. O fundo que tomou emprestado o nome da cerveja pertence a Marcelo Augusto Lustosa de Souza, que conta trabalhar há 30 anos no mercado financeiro. Seu nome, entretanto, não é conhecido no mercado financeiro.
O fundo de Lustosa começou em agosto de 2010 com patrimônio de R$ 4 milhões e hoje acumula R$ 50 milhões (em 25 de abril). "O nome foi uma sugestão de uma amiga, que conhecia a cerveja", disse ele, que mora no Rio de Janeiro, em entrevista ao Valor por telefone na sexta-feira.
Lustosa diz ser ele mesmo o responsável pela gestão do fundo. O Bintang é administrado pelo BTG Pactual, o que significa que o banco é quem faz os cálculos das cotas do fundo e a custódia (guarda) dos ativos da carteira. Em nota, o banco afirma: "com relação ao fundo Bintang FIM, o papel do BTG Pactual é apenas o de administrador. O gestor é pessoa física, credenciado junto à CVM, e nunca foi funcionário do BTG Pactual ou teve qualquer vínculo profissional com o banco." Montar operações tão alavancadas requer que o investidor tenha crédito abundante na corretora onde opera. Lustosa diz que opera por meio do BTG, mas também por várias outras corretoras.
O investidor diz que aplica o próprio capital e, além de operar por meio do fundo, atua no mercado também como pessoa física diretamente.
Só em agosto do ano passado, quando o BC reduziu a taxa básica de juros Selic em 0,50 ponto porcentual, para 12% ao ano, o fundo registrou um ganho de 47,77%. Foram R$ 10 milhões de lucro em agosto e mais R$ 8,5 milhões em setembro, conforme suas posições eram liquidadas. Em agosto, o Copom inverteu bruscamente a direção da política monetária, saindo de um ciclo de aperto para um de afrouxamento, sem intervalo. O Bintang foi dos pouquíssimos que lucraram com a queda da taxa, já que a maioria dos analistas projetava estabilidade da Selic. Houve até quem apostasse em corte de 0,25 ponto no mercado futuro, mas Lustosa acreditou em corte maior e apostou seu dinheiro nisso, segundo conta. "O BC já vinha dando sinais de que iria retomar a queda da taxa de juros, e eu montei uma posição apostando em corte maior do que o mercado estava projetando, e, como opero alavancado, o ganho para a carteira foi grande", afirma ele.
Mas o maior ganho em termos percentuais e também absolutos do Bintang aconteceu antes. Em março do ano passado, o fundo registrou valorização de 166,39% e seu patrimônio engordou R$ 11,5 milhões. Lustosa havia feito apostas na elevação da taxa Selic. No dia 2 daquele mês, o BC aumentou a taxa básica de juros de 11,25% para 11,75%, mas boa parte do mercado esperava alta de 0,75 ponto.
Lustosa não está alheio à fama que vem fazendo e diz que não é verdade que só faz apostas certas. O gestor diz que foi surpreendido pela última leitura da Ata do Copom, divulgada na quinta-feira, que sinalizou um novo corte da taxa Selic, hoje em 9%. "Eu estava apostando em manutenção da Selic em 9%, baseado na indicação da penúltima ata de que o BC iria manter a taxa de juros levemente acima da mínima histórica de 8,75%." Como os contratos futuros já apontam para uma queda abaixo de 8,5%, o fundo deve apresentar perdas nos próximos dias.
Neste ano, o fundo apresenta valorização de 24% até sexta-feira. E em 2010, quando foi criado, sua rentabilidade foi de 8,3%.
Lustosa conta que começou a trabalhar no mercado financeiro em 1982, passando pelas corretoras Incisa e Graphus. Mais tarde, chegou a montar mais três corretoras: Ação, Trader e Pluribank. "Sempre trabalhei no mercado de juros, primeiro no open market [operação de mercado aberto realizada pelo BC] e há 13 anos atua só na pessoa física."
Lucros auferidos com a virada da política monetária em agosto de 2011 já estiveram no radar da CVM. A suspeita de que alguns investidores pudessem ter obtido ganhos no mercado de juros naquele mês a partir do uso de informação privilegiada levou a autarquia a abrir, em outubro, uma investigação. Neste mês, entretanto, a CVM concluiu que não houve irregularidades no mercado financeiro no referido período e encerrou as análises.
Naquela época, chamou a atenção dos investidores o volume de contratos negociados no mercado futuro que chegou a 7,8 milhoes nos quatros dias que antecederam a reunião do BC. Desde 2010, têm sido frequentes os acertos de investidores pessoa física no mercado futuro de juros em relação às decisões da política monetária.
Questionada especificamente sobre o chamativo desempenho do fundo Bintang, a CVM informou que não se pronunciaria.
P.S. Esse é o gráfico da cota do fundo em um ano:
13 comentários:
hahaha muito boa a foto
Dá uma olhada num fundo do Citi que chama Bordeaux...
Tô vendo aqui. Também parece ter talento nas previsões...
GWI com sinal invertido!
O Bordeaux tem 2 saltos no NAV em final de mês (um deles coincide com um Copom). Parece mais plausível que seja um fundo que faz MtM só uma vez por mês, ou algo do tipo.
tem que ver isso aí, hein, Drunk?
Hahaha, tem que falar isso pra CVM...
Lembra que te perguntei um tempo atrás sobre títulos indexados ao IGP-M? Esses não existem mais. Agora acompanhando o TD só sobrou um título ligado à selic (LFT 070317). Dá pra concluir alguma coisa sobre esses movimentos? Alguma teoria da conspiração? Sabes se o tesouro vai lançar novas notas ligadas à Selic com vencimentos mais longos?
Haja bintang na cuca pra engolir essa história do fundo. E a CVM continua a mesma.
Abs, Gil
Nenhuma teoria da conspiração. O tesouro não emite mais NTN-C (o título que era ligado ao IGP-M) há muitos anos, e sobraram poucos desses títulos no mercado secundário. Quanto a LFT, até onde sei o plano é reduzir gradualmente a emissão desses títulos, que são uma das grandes jabuticabas que ainda sobram por aqui (o mundo civilizado não emite dívida atrelada ao overnight). O Tesouro é muito transparente quanto à estratégia de financiamento que adota, todo ano publica um plano (Plano Anual de Financiamento, fácil achar no site do Tesouro) e costuma seguir o que está lá. Não sei se vão deixar de ofertar LFTs no Tesouro Direto em breve, mas não me surpreenderia se o fizessem.
Sempre tem esses fundos que dão um lucro absurdo sobre uma ninharia de patrimônio e com 1/2 duzia de participantes, daí ficam famosos, entra um monte de $$$ e não conseguem mais ter bons resultados.
Tem esse aqui (fez fama com boi gordo depois passou a investir em ações e não consegui mais nada): http://www.comparacaodefundos.com/analise/#ibovespa/07552643000197
Acho que é um problema de falta de liquidez nos mercados brasileiros.
Abs
Andre, esse fundo (Bintang) é exclusivo, só tem um cotista, o que aumenta a suspeita.
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Questionada especificamente sobre o chamativo desempenho do fundo Bintang, a CVM informou que não se pronunciaria.
03/10/2019 - chegou a hora da CVM falar
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