Hoje, pela primeira vez desde Maio de 2007, os juros de mercado de cinco anos em reais (curva DI, para os familiarizados) operam abaixo de 10%. Naquela ocasião, a Selic estava em 12,5%, a inflação em 12 meses rodando perto de 3% e, por poucos dias, o mundo se convenceu de que o Brasil estava entrando na tal "rota de convergência" e choveu real money (dinheiro de investidores estrangeiros de longo prazo, como fundos de pensão e soberanos) para os títulos da dívida longa (NTN-F). A aposta, no melhor dos casos, demorou muito para se pagar - após alguns dias abaixo de 10%, os juros iniciaram uma trajetória de alta que só parou a perto de 18% (em Outubro de 2008) e machucou muita gente pelo caminho.
Hoje o cenário global é muito diferente (para dizer o mínimo), a Selic está perto das mínimas históricas e a inflação é mais alta, mas, novamente, parece ser o tal real money que está tentando empurrar os juros longos para níveis de um dígito. Ontem soube-se que o fundo soberano da Noruega está investindo em títulos em reais, e, creio, essa vai ser uma tendência para os próximos anos - em um mundo de baixos retornos e créditos ruins, o Brasil oferece a rara combinação do contrário para os dois quesitos. Talvez desta vez seja diferente, mesmo (sim, digo isso mesmo sabendo que essas são as palavras mais caras para qualquer um que trabalhe com investimentos).
quarta-feira, 25 de abril de 2012
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3 comentários:
O que chama a minha atenção na dinâmica de preços atual é o descompasso entre os IPAs e o preço de serviços. Os IPAs andaram contidos, mas o preço dos serviços vêm subindo a vários anos. Assim, parece-me que o governo vem aceitando a variação de preço dos serviços, uma vez que, na média, eles vêm sendo contrabalançados por menores variações em preços de bens comerciáveis.
Presumindo-se continuidade da política fiscal:
Essa situação permite redução de juros?
Você vê alguma conseqüência desse descompasso? Faz sentido presumir que aí reside parte da perda de competitividade da indústria?
É possível esperar que a estabilidade de preços comerciáveis provoque estabilidade em preços internos, ainda que tenhamos aumento de salários (inclusive mínimo) e forte demanda interna?
Muitas perguntas. Responda se achar que as observações fazem sentido.
Abraços
Sua afirmação é totalmente verdadeira, e acho que faz parte de uma mudança secular de preços relativos - serviços ficando mais caros com relação a comercializáveis. Acho que a atuação do Banco Central recentemente tem se baseado (ou se justificado) fortemente na premissa de que o ambiente externo é deflacionário, sobretudo, imagino, pela dinâmica de preços de commodities.
Se esse cenário de comercializáveis fosse menos favorável, a inflação seria maior, e não sei qual seria a reação do BC. Imagino que iam preferir não fazer o ajuste via taxas de juro sem antes tentar qualquer coisa na linha de "medidas macroprudenciais" ou contar com a ajuda de outras instâncias do governo para desonerar alguns preços. As fontes de pressão nos preços de serviços são tanto o nível baixo de desemprego quanto a indexação do salário mínimo, e não vejo esse governo com disposição para mexer diretamente em qualquer um desses elementos - já ouvi mais de uma vez do Nelson Barbosa, por exemplo, que a política de reajuste do salário mínimo faz parte de uma política deliberada de distribuição de renda. Por enquanto é possível achar que se pode ter tudo, ou seja, inflação relativamente controlada, crescimento OK e desemprego baixo; veremos quando os ventos forem menos favoráveis para qual lado os desequilíbrios vão virar.
Mas que dá um medo dá, esse agora vai com inflação em 5/5,5%. O México fez isso numa crise e com inflação em 3%.
As minhas tão queridas NTNBs, estou dando adeus a elas, deixaram saudades. Está muito apertado, cupom de quase 4% com inflação projetada de 5,5%, muito assimétrico. Algum desses números está errado! Infelizmente, não faço idéia qual.
O movimento secular muito longo me parece ser este que você apotou. Olhando mais curto, últimos 10anos, o movimento não foi o de manufaturados em baixa contra commodities em alta que fez o que fez? Nos países que esta relação ficou melhor, os serviços foram impulsionados por tabela. No Brasil isso foi na veia. Os serviços aqui ficaram com preços europeus!
Se a parada virar, manufaturados em alta, commodities em baixa, somado ao fluxo negativo detonando ainda mais os termos de troca, teríamos os serviços entregando, inflação também ameaçando corroer geral, ambiente menos otimista para os assalariados brasileiros.
Fernando A.
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