segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Previsões aleatórias para 2013

Pelo terceiro ano, vou me dedicar à arte de chutar o que acho que vai acontecer durante o ano. Cada vez menos tenho a pretensão de acertar, e acho a conjuntura particularmente ingrata para essa atividade - como exemplo, levemos em conta quantos bons economistas previam a saída da Grécia da zona do euro no ano passado, e os ativos do país terminaram o ano com grandes ganhos para quem apostou no "nada acontece" (e teve estômago para aguentar enquanto algo parecia estar acontecendo). 2012 foi dominado por governos e bancos centrais; por consequência, 2013 começa com esses agentes contando com grande confiança e respaldo. Acredito que governos e bancos centrais vão manipular preços e volatilidade enquanto conseguirem, e isso vai fazer com que o próximo choque na economia global seja muito violento, já que os desequilíbrios vão se acumulando em cenários extremos (aqui tomo emprestada a teoria do Nassim Taleb, claro): está tudo sob controle até alguém gritar que o rei está nu, e aí o que vai estar em jogo é muito mais do que variações de preços.

O problema de acreditar nesse tipo de cenário é que sua aplicação para a vida prática depende de um timing impossível de ser previsto - e, enquanto isso, a maldição de Cassandra se aplica aos pessimistas. Por ora, não vejo motivos para acreditar numa ruptura tão cedo, mas isso pode mudar muito, muito rápido. Como sempre, vale não se levar muito a sério e ser flexível.

Olhando para os mercados hoje, vejo certa euforia, preços caros (mas não absurdos) e tenho pouquíssima clareza de quais serão as tendências que vão valer para os próximos 12 meses. Assim, a maioria das minhas previsões são de natureza contrária / reversão à média, e muitas são apostas em assimetrias: perdas limitadas caso estejam erradas, grandes ganhos caso estejam certas. Vamos a elas:

- O Japão não vai conseguir escapar da deflação via política monetária mais agressiva. O movimento do mercado nos últimas semanas baseia-se na premissa de que a eleição de Shinzo Abe trouxe mudanças de paradigma, não acredito nisso. Dessa forma, a preços atuais, compraria iene (preço de referência contra o dólar: 87,88) e venderia o Nikkei contra o Dow Jones (10.600 / 13.435). Considerando a tendência atual, seria preferível fazer com opções fora do dinheiro, mas vamos simplificar...

- Ações brasileiras andarão melhor que ações mexicanas. Referências: Ibovespa 62.640 / IPC 44.562.

- Com muitos grãos de sal, para sair correndo no primeiro sinal de barbeiragem: Petrobras vai subir mais que o índice Bovespa (PETR4 hoje: 20,52, Ibovespa: 62.640).

- Ações de empresas de educação, estrelas do ano passado, vão andar menos que o Ibovespa (KROT3: 45,09, ESTC3: 39,63).

- Vão começar a ficar mais evidentes os problemas nos balanços dos bancos públicos. Venderia Banco do Brasil e compraria Itaú / Bradesco (BBAS3: 26,03, BBDC4: 37,50, ITUB4: 35,29).

- De novo, acho muito assimétrico comprar CDS do Brasil a 102 b.p.

- Também na linha da assimetria: os franceses que me perdoem, mas a dívida do país não pode pagar só 21 b.p. a mais do que a dívida americana. Vendo OATs, compro Treasuries (2.11% / 1.90%).

- Também parece assimétrico vender Treasuries de cinco anos a 0,81% - pode dobrar caso haja sinais de inflação ou de que o Fed está mesmo disposto a encerrar as compras de títulos antes do que se imaginava.

- Preços de imóveis nos EUA seguem subindo mais do que a inflação.

- Sigo gostando do dólar americano, sou comprador contra uma cesta de EUR, BRL, GBP, AUD, NZD, TRY, HUF, ZAR.

- No preço de agora, dá para comprar VXX (27,55) e acender uma vela para ganhar uns 20%.

- A bolsa da Alemanha não terá outro ano tão glorioso. Venderia DAX (7.740) contra S&P500 (1.466) e Ibovespa (62.640).

- Como regra de bolso, venda ouro e compre petróleo (WTI) toda vez que a razão dos preços for acima de 20.

- Também na teimosia, acho que acabou a liderança da Apple. Venderia contra o S&P500 (527 / 1.466).

- PIB do Brasil cresce mais do que o esperado (3,26% pelo último Focus). O corolário dessa previsão é que aguentaremos o Mantega por pelo menos mais uns 15 meses.

- Selic não sobe este ano.

- Seguirá a multiplicação e difusão de fundos de crédito no Brasil. É impressionante como copiamos, com anos de atraso, exatamente o que acontece no mundo desenvolvido.

- Angela Merkel se reelege na Alemanha (fácil, essa, aparentemente).

- Philip Roth ganha o Nobel de literatura (para compensar a barbada anterior).

- Um time brasileiro ganha a Libertadores (já sabem da torcida, mas vamos evitar a soberba).

- Paulinho da Viola finalmente lança um disco de músicas inéditas. O Brasil comemora.

- A célebre expressão "imagina na Copa" seguirá sendo usada ad nauseam, sobretudo a qualquer presepada que apareça na Copa das Confederações.

- Para os que fazem distinção entre "especulação" e "investimento": se eu recebesse alguns milhões hoje, gastaria 1/3 para comprar uma boa casa em Atlanta ou alguma outra cidade barata nos EUA; daria 1/3 para um gestor de hedge fund de confiança administrar e compraria o terço final em títulos de verdadeiros AAA (Noruega, Canadá, Austrália, Suíça...), usando um pedaço como margem para uma posição vendida em créditos ruins (tem aos montes, nem precisa procurar muito). Essa é uma carteira para muitos anos, porém - apropriada para ficar olhando para o mar sem muita preocupação.

É isso. Divirtam-se tirando sarro ao longo do ano do que não acontecer.

36 comentários:

Carlos disse...

Que tal colocar uma probabilidade associada às previsões?

Acho que vai melhorar muito seu desempenho (que já está bom, 60% foi um número e tanto), além de ser mais divertido acompanhar!

Abs

Carlos

Drunkeynesian disse...

Seria muito arbitrário, acho... no fundo eu só coloco o que acho mais provável que aconteça, e deixei opiniões em um monte de coisas de fora.

Unknown disse...

Mercado imobiliário no Brasil, algum pitaco?

Drunkeynesian disse...

Sigo achando caro, mas parece ter ganhado um gás com a queda na Selic e o aumento da securitização. Talvez agora esteja começando a virar bolha de verdade (e, como diz o Soros, a primeira coisa a fazer quando se enxerga uma bolha é comprar).

Anônimo disse...

Sugestão: faltou especular sobre racionamento de energia.
Dantas

Drunkeynesian disse...

Putz Dantas... pelo o que entendo depende de se vai ou não chover em março... e se meteorologista já erra muito, imagina economista fazendo previsões baseadas em meteorologia...

Anônimo disse...

Achei vc otimista quanto ao nosso crescimento do pib, para mim hoje nós crescemos até 1,5 mantidos condições mais ou menos estáveis de pressão e temperatura, o que n verdade seria o possível nas atuais regras do jogo (schwartzman). Mas, para vc em qual ponto nossa dívida pública bruta vai começar a criar transtornos para o governo federal, a lá EUA?

Drunkeynesian disse...

Mais do que eu estar otimista, acho que o mercado está pessimista demais.

Quanto à dívida, boa pergunta. O Brasil, fazendo algum esforço adicional, conseguiria zerar o déficit nominal em uns cinco anos, e ficaria numa situação fiscal muito confortável. O problema atual para a dívida bruta é a disposição do governo de inchar os bancos estatais a qualquer sinal de contração de crédito - nesse sentido, começa a ficar complicado quando o ciclo de crédito virar e o que pareciam bons empréstimos começarem a ter inadimplência alta. Difícil prever quando isso vai acontecer, não arrisco nenhum chute.

Anônimo disse...

Lembro da "sorte" do Lula em não deixar que medidas fossem tomadas qunado os reservatórios atingiram estes níveis. A Dilma vai testar a sorte dela também. Também acho que São Pedro vai adiar o energy cliff, como faz quase sempre, para 2014!
Dantas

Drunkeynesian disse...

Sim, até porque não tem muito o que fazer no curto prazo... tinha que ter aumentado a geração há alguns anos. Agora é rezar pra chover e ter um plano na manga pra se precisar racionar.

Dawran Numida disse...

Pitacando os pitacos:

* chuto PIB 2013 perto em milésimos superiores ao de 2012;

* batendo de bico também na energia, pois, com margem de 5 anos para não ter racionamento, o racionamento chega até abril, no máximo: não houve investimentos, nem planejamento, a água de enchentes medonhas não são armazenadas em lagos de hidrelétricas;

* tiro de meta, o governo resgatará o plano de Pedro Parente de racionamento e orientação ao cidadão sobre a necessidade de economizar energia, que foi sucesso nos anos FHC;

Obs.: o governo de 2003/2010, jamais aceitou que a causa do racionamento durante FHC foi por problemas de seca record, chamando o problema de apagão por incúria e optará por falar que "os investimentos e o planejamento foram retomados"...

* mandando de esguêia, inflação 2014 acima do centro da meta, batendo em 6%, isso pelo fim do tripé e a expansão da liquidez sem enxugamento;

* de cabeça, a economia mundial ficará em banho maria esperando os resultados nos EUA, agora que Joe Biden está na negociação com os Republicanos;

* de resto, não acabará o mundo em 13/13/13.

Jorge Browne disse...

DK, se topares estender o prazo por 2 anos aposto contra ti nos bancos públicos. Minha previsão de apparatchik hehe...

Drunkeynesian disse...

hahaha, por que por 2 anos?

Jorge Browne disse...

Acho que a inadimplencia em 2013 não vai sofrer tanta elevação quanto parece, mas não estou muito convicto. Bota 2014 junto que a incorporação desse pessoal todo no mercado de crédito vai dar resultado nos balanços.

Jorge Browne disse...

Ah, se a tese do Chico Lopes sobre o ajuste de estoques da industria estiver certa o PIB pode surpreender o Schwartzman e o Numida.

Unknown disse...

Obrigado pelo comentário sobre imóveis. Duas observações:

(1) Recentemente ouvi de um corretor que "os preços não devem cair, mas o pessoal não vai mais ganhar dinheiro como nos últimos anos". Corretor demonstrando prudência bom sinal não é...

(2) Será que a recomendação do Soros se aplica a imóveis? Estes têm um tempo e custo de transação muito menos negligenciáveis que a maioria dos ativos financeiros. Fora os custos de carregamento...

Anônimo disse...

Não diria arbitrário, mas subjetivo e isso não é ruim. A vantagem do refinamento é que podemos calcular depois a variabilidade, a calibração e discriminação das previsões Abs Carlos

Anônimo disse...

DK,

Bela lista...congrats!

Na linha do OATs, não acha exagero o Brasil tradando apenas 25bp acima do UST? Também me parece uma boa assimetria...


Abs.,


The Anchor

Marcelo Novaes de Oliveira disse...

@Carlos: Quando se coloca probabilidades que não sejam 0 ou 1 associadas às previsões, cria-se uma tautologia. Certamente isso melhoraria o desempenho de qualquer um. :)

Não existe diferença entre investimento e especulação. Só nos olhos do observador...

Sobre as provisões, concordo com a maioria delas. Que a aleatoriedade esteja ao nosso lado. :)

Abraços, e bom 2013.

~Marcelo

PJ disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Drunkeynesian disse...

Delfim, talvez agora não valha tanto para imóveis, mas seguramente vale para a dívida securitizada - quem comprou as emissões do ano passado já consegue embolsar um bom ganho de marcação a mercado, e acho que isso vai continuar ao longo deste ano.

Carlos, acho que se fosse pra refinar, o que eu preferiria fazer (e já pensei, mas ainda não tive a disciplina) é montar uma carteira teórica e monitorar o desempenho em tempo real, tanto a performance quanto alguns parâmetros de risco. Alguns blogs fazem ou fizeram isso...

Anchor, acho, sim, exagerado, e isso, de algum jeito, está expresso no prêmio do CDS. Sou indiferente entre as duas operações (comprar o CDS ou short na dívida x EUA), ainda que deve haver alguma diferença para quem acompanha de perto.

Valeu, Marcelo... rolem os dados.

Jorge Browne disse...

DK, usa aí o teu lado Drunken e da um pitaco no mercado de cervejas artesanais. Vem crescendo barbaridade.
Meu conselho é: que comecem as IPOs e vamos fazer uma bolha! Quando estourar pelo menos temos como afogar as mágoas...
Sério, os serviços associados às boas cervejas nacionais ou não (produção, distribuição, venda, etc.) parecem um negócio muito promissor.

Drunkeynesian disse...

Hahaha, eu adoro esse mercado, um dos meus melhores amigos está nele. Precisa de uma política fiscal melhor, não faz nenhum sentido cobrar o mesmo imposto desses caras e da Ambev - e eles são inovadores, geram empregos, etc...

Eu tinha medo que fosse uma modinha que iria passar no primeiro susto com o câmbio, já que os insumos são quase todos importados, mas ano passado provavelmente foi o melhor da história para o segmento mesmo com o câmbio depreciando.

Acho que o mercado ainda é muito amador, ainda vai se consolidar muito. Eu apostaria que quem tiver coragem e / ou conseguir levantar capital nesse ponto do ciclo vai se dar bem, acho que os potenciais retornos são grandes (mais ainda considerando a possibilidade de aquisição por uma cervejaria grande depois de um tempo - como aconteceu com a Devassa, Eisenbahn...)

Carlos disse...

"@Carlos: Quando se coloca probabilidades que não sejam 0 ou 1 associadas às previsões, cria-se uma tautologia. Certamente isso melhoraria o desempenho de qualquer um. :)"


Não é bem assim, Marcelo! Em geral se calcula o desvio quadrático em relação à previsão. Sendo p a previsão e x o que ocorreu (uma dummy 0 ou 1):

(p - x)^2

Quanto menor o número, melhor (zero é o melhor, obviamente). Então se você coloca uma probabilidade de 0,6 ao invés de 1, caso o evento ocorra, você na verdade piora sua pontuação... a mesma coisa se você colocar 0,4 ao invés de 0 e o evento não ocorra. Depois é possível comparar o resultado com benchmarks, como a base rate dos eventos, entre outras coisas. Esse é o método que o Tetlock usa.


"Carlos, acho que se fosse pra refinar, o que eu preferiria fazer (e já pensei, mas ainda não tive a disciplina) é montar uma carteira teórica e monitorar o desempenho em tempo real, tanto a performance quanto alguns parâmetros de risco. Alguns blogs fazem ou fizeram isso..."

Isso seria muito mais legal ainda.

Abs

Dawran Numida disse...

Browne,

Difícil com esses remendos todos, ou "contabilidade criativa" e sem os pressupostos de estabilidade, que o PIB suba.

Definitivamente colocaram a economia do País na curva de risco elevado. Só faltam as notas refletirem o que nós estamos vivenciando aqui dentro.

No caso, ainda, há as eleições de 2014, cuja campanha está já começando. Implica em mais gastos, mais liquidez.

E como o governo vai negociar os títulos da DP? O investido deve começar a querer prêmios mais pomposos. Ou comprará dívida japonesa ou chinesa, ou do norte da Europa.

Jorge Browne disse...

DK, obrigado pelo ótimo comentário, ainda torço para que tenhamos espaço para pequenas cervejarias locais.

Dawran, divergimos, sendo bem maniqueísta, essa visão é a do sistema financeiro e da ortodoxia caixa de Maizena x heterodoxia (quermesseira, bolchevique, apparatchki, you name it) e industria,creio que a economia real se movimentará em bases diferentes, especialmente. Independente do que diz a Miriam Leitão. Ano que vem a gente faz um balanço. Que tal?

Drunkeynesian disse...

Os "entendidos" dizem que o gosto do consumidor está se sofisticando e que isso é um caminho sem volta, criaria uma demanda meio cativa por cerveja boa. Veremos o quanto isso resiste ao tempo e às oscilações no câmbio...

Anônimo disse...

Gostaria de ver você comentando mais este tipo de assunto:

http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2013/1/3/o-brasil-carinhoso-cresceu

http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=16545&Itemid=9

E de preferência sem imbecilidades político-partidárias

Beijos amorosos

Lavínia

Drunkeynesian disse...

Estou pra fazer um post sobre o meio do mandato da Dilma, acho que sai semana que vem... deve tocar nesses temas, sim (ainda que não sejam muito parte do meu dia-a-dia).

Dawran Numida disse...

OK, Browne. Combinado.
Só que teremos o mesmo governo até lá. E talvez a mesma equipe de aprendizes de milagreiros.
Mantido mesmo assim?

Anônimo disse...

Acho que o mercado de brejas artesanais ainda vai crescer Muito, conheço muita gente que começou a beber estas cervejas há um, dois anos e nunca mais tomou cerveja comercial, e compra cada vez mais artesanais. eu sou um deles, gastei 500 contos hoje só em breja.

Jorge Browne disse...

Dawran, fechada a aposta! Em que pese as notícias não muito favoráveis para minha posição esses dias ano que vem a gente coteja o balanço por aqui.

DK, como nem tudo são espinhos a coluna do Elio Gaspari de hoje vai na linha do que eu penso na aposta dos bancos públicos.

Drunkeynesian disse...

Eu li a coluna. Aposta na mudança de paradigma, ousado... mas minha birra é menos com a aposta e mais com o pensamento de, se der errado, já sabemos pra quem vai a conta.

Jorge Browne disse...

Hehe, para a Viúva como sempre...

Anônimo disse...

Dk, quais fundos de credito vc viu serem criados no Br em 2012?
Que eu tenha visto de novo só o Patria...

Abs

Drunkeynesian disse...

Todo dia eu abro o jornal e vejo um fundo de recebíveis novo!