(resisti à tentação do trocadilho com o título do Charles Dickens, respirem aliviados)
Creio que os mercados de dívida soberana européia contam duas histórias diferentes, que refletem a estratégia da União Européia / Banco Central Europeu / Illuminati para o continente:
1. Países pequenos podem / devem ser forçados a renegociar suas dívidas (vulgo calote organizado), já que isso aliviaria muito a situação fiscal deles e não causaria impactos sistêmicos para o mercado financeiro (bancos, seguradoras, etc). Essa é a história de Portugal e Grécia, cujos juros de mercado excluem qualquer cenário de sustentabilidade da dívida (curioso foi ouvir hoje do Marcos Uchôa, no Bom Dia Brasil, que Portugal está pagando "juros estratosféricos, 16%, algo inviável para qualquer país". Viva o Brasil, que, nos últimos anos, cansou de se financiar à taxas maiores que essa:
2. Para os grandes emissores de dívida, onde qualquer possibilidade de renegociação causaria grandes abalos nos bancos, foi traçada uma linha. Imagino que o BCE tenha assumido um compromisso implícito de comprar quanto for necessário de dívida acima de uma determinada taxa. O mercado, tendo isso em mente e o dinheiro barato do LTRO, faz o resto do serviço e empurra os juros para baixo (levando todo o ganho de carregamento dos títulos). Isso tem valido para Espanha e Itália: no primeiro caso, os juros de dez anos estão perto da mínima em um ano; no segundo, tentam se firmar abaixo de 6%, o número que, por uma regra de bolso calculada por muita gente, é o limite para o serviço da dívida não degringolar as contas fiscais:
Com isso, espera-se comprar o tempo necessário para que as medidas de austeridade fiscal façam efeito. Acho baixa a probabilidade de funcionarem no médio / longo prazo - sem crescimento, a maioria dos países terá muita dificuldade em atingir as metas de déficit máximo sem agravar o problema do desemprego, isso sem contar os esqueletos que ainda devem aparecer no caminho. Até isso ficar claro, porém, os otimistas podem contar com uma trégua e tentar empurrar os preços para cima.
terça-feira, 31 de janeiro de 2012
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