Quem acompanha este escriba no twitter possivelmente percebeu que comecei o ano mais otimista com os mercados (ou com "risco", como a imprensa tem gostado de chamar). Os motivos são os seguintes:
- Generalização do pessimismo no último trimestre do ano passado - todo comentarista econômico e mais seu cachorro resolveram alertar para o fim do euro, a insolvência dos PIIGS, o balanço dos bancos e o controle do Irã sobre o estreito de Hormuz. Regra # 9 do seu Bob Farrell.
- Mercados pararam de reagir a certas notícias pessimistas. Para pegar um caso, as ações do UniCredit, maior banco da Itália, já caíram mais de 40% este ano, e os índices dos principais mercados estão entre levemente negativos e positivos.
- Retomada da iniciativa dos governos. Fiquei com a impressão de que os governos e bancos centrais deixaram de ser reativos, e parecem agora antecipar minimamente a resolução (ou enrolação) dos problemas fundamentais. Ajuda também o fato de os EUA estarem em ano eleitoral: semana passada havia rumores de que Obama anunciaria um megaplano de renegociação de hipotecas; ainda que não seja exatamente essa a medida, é difícil acreditar que os incumbentes do poder não farão uso dessa vantagem e tentarão estimular a economia via política monetária e/ou fiscal. Também é ano de eleições presidenciais na França.
- Sazonalidade - mercados eficientes ou não, a história mostra que Janeiro é um bom mês para bolsas. Ver aqui.
- Fluxos - quando ouvir de algum analista de mercado que ações subiram ou caíram por "fluxos", desconfie, porque trata-se de uma explicação tautológica (ainda que correta): o mercado cai quando há mais vendedores que compradores e sobe na situação oposta. Feita a ressalva: o mercado parece sub-alocado em ações, e creio que vai ganhar força o tema de deslocar parte do dinheiro que era investido em governos (títulos públicos) para ações de empresas sólidas e boas pagadoras de dividendos.
O ambiente econômico, quase desnecessário dizer, segue ruim. Ocorre que conjuntura não dita a direção dos mercados, que, por natureza, tentam antecipá-la. Para resumir, muito pessimismo já está precificado, e talvez seja hora de uma certa correção. Nada que vá garantir um ano brilhante, mas talvez o suficiente para dispersar um pouco a manada de ursos que andou se formando.
P.S. Prestem muita atenção na Hungria.
segunda-feira, 9 de janeiro de 2012
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5 comentários:
Fiquei curioso, por que hungria?
Subindo juros para tentar segurar o câmbio, acabaram de fazer uma reforma constitucional esquisita e não andam se entendendo com o FMI e a UE. Mais aqui:
http://fistfulofeuros.net/afoe/from-here-to-eternity-hungarian-style/
Off-topic (ou não):
"As Maiores Economias do Mundo Têm US$7.6 Trilhões Em Dívidas Para Rolar Em 2012"
http://rcesar.net/2012/01/as-maiores-economias-do-mundo-tem-us7-6-trilhoes-em-dividas-para-rolar-em-2012/
Abs
Gostei de uma frase do Gross:
"This new duality -- credit and zero-bound interest-rate risk -- is what characterizes financial markets of 2012. It offers the fat-left-tailed possibility of unforeseen -- delevering -- or the fat right-tailed possibility of central-bank inflationary expansion,"
Resumindo, se os bancos resolverem emprestar/comprar ativos reais c/ a montanha de liquidez que o FED e o BCE deram, mercado a la ou > q 2009 pos QE1? Ou se TED spread continuar subindo e alguns bancos quebrarem, deleveraging ?
É, acho que é algo assim... deve ter probabilidades mais ou menos parecidas do mercado cair ou subir 20% (o que não impede do movimento ser revertido depois). Paranormal world...
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