sexta-feira, 9 de abril de 2010

Inflação, a Fazenda e esses pobres empresários brasileiros


Minha opinião sobre o empresariado (industrial) brasileiro é bastante volátil. Primeiro eu tendo a achar que trata-se de um bando de chorões, que reclamavam do câmbio a R$ 3,80 / US$ e seguiram reclamando até R$ 1,60 / US$. Alguns aproveitaram todo esse movimento de apreciação para tentar lucrar com especulação no mercado de derivativos, e, quando veio a crise no final de 2008 e o real voltou a se depreciar, foram varridos e socorridos pelo governo. Outros se beneficiam dos impostos sobre importações para obter a combinação mágica de produzir e vender produtos inferiores aos similares produzidos fora do país a preços mais altos (roupas, calçados, automóveis, eletrônicos... a lista de exemplos chocantes é extensa). Por uma ótica mais generosa, tenho que reconhecer que investir, empreender e gerar empregos em um país que pratica juros reais de 6%, com estruturas tributárias, trabalhistas e legais bizantinas é uma tarefa quase heróica. Mais ainda olhando para os setores que concorrem com países que subsidiam suas indústrias, seja diretamente ou indiretamente, via câmbio depreciado. Provavelmente a verdade é que há chorões e há heróis, ou que eles se misturam em variadas proporções.

Dessa maneira, não sei direito como reagir à ameaça que seu Mantega fez hoje, de baixar impostos sobre importação para estimular a competição em setores que "começarem a abusar dos preços", como forma de combater a inflação (a tara que o país adquiriu por combate à inflação é impressionante -- deve ter alguma explicação freudiana). Para alguns setores, de fato, um pouco de competição não faria mal. Por outro lado, é quase um desaforo fazer esse tipo de sugestão quando o governo poderia baixar os custos das empresas (e, consequentemente, a pressão nos preços finais) reduzindo, por exemplo, os impostos sobre energia ou outros insumos - para não falar de outras medidas mais criativas. Estimular a importação tem outros dois efeitos colaterais: pode enfraquecer o real (e criar pressão nos preços de outros importados, se não até anular o efeito do corte de impostos -- seria cômico ver uma medida desse tipo acabar gerando mais inflação) e cria, para fechar as contas externas, uma dependência maior de fluxos financeiros. Estes, numa situação de crise, podem depender de juros mais altos para serem atraídos, o que pode ser bastante prejudicial ao "crescimento sustentável" que tanto prega o governo.

A aceleração da inflação brasileira nos últimos meses deve-se, sobretudo, a uma alta nos preços de alimentos (ver gráfico) - que, é sabido, são tão voláteis quanto a minha opinião sobre os industriais do país. Também é sabido que essas altas tendem a ser anuladas no tempo, ou porque o clima torna-se mais favorável à determinadas safras, ou porque os preços altos estimulam um ajuste na oferta e na demanda (para os estatísticos: são choques aleatórios, cuja média, no tempo, deve ser próxima a zero). No futuro, portanto, a inflação deve ceder -- talvez dando mérito, por motivos errados, às altas de juros que o Banco Central deve começar a promover a partir do próximo dia 28. Então, espero, os empresários poderão se ver livres do terrorismo verbal do Ministro da Fazenda.

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