domingo, 28 de outubro de 2007
Desserviço ao Brasil, parte 2
Hoje, em sua coluna semanal na Folha de São Paulo, Antônio Ermírio comenta o texto que comentei no texto abaixo. O título da coluna é "A festa dos especuladores", de onde se pode facilmente inferir o conteúdo. Alguns trechos: "Com inflação ou sem inflação, eles (os especuladores) sempre fazem rodar a seu favor a nefasta ciranda financeira."; "Os brasileiros precisam de empregos, atenção às crianças, saúde bem cuidada e segurança individual. De que forma os especuladores colaboram para esses objetivos?".
Eu já critiquei os argumentos do texto original, e fico decepcionado ao ver um grande empresário embarcando nesse tipo de discurso retrógrado. Interessante também é constatar que Antônio Ermírio de Moraes pode ser demagogo, mas não é burro: o grupo Votorantim também atua no mercado financeiro, por meio de um agressivo banco de investimentos, uma gestora de recursos e uma financeira (posso estar esquecendo mais algum negócio), em busca dos lucros advindos da "ciranda financeira" brasileira. Creio já ter ouvido falar que Moraes teria vergonha dessas companhias, mas até onde se sabe elas seguem lucrativas e sem planos de serem vendidas ou desativadas.
Na prática, os estrangeiros vão continuar aplicando em títulos do Brasil enquanto os juros que pagamos pela nossa dívida pública continuem, ajustados pelo risco, brutalmente maiores do que os de outros países. As razões por trás deste fenômeno preencheriam vários livros, mas creio que resta pouca dúvida de que essas razões incluem o nosso estado glutão e ineficiente. Diminuindo o déficit nominal (a diferença entre o que o governo arrecada e gasta, incluindo o serviço da dívida), teríamos menor oferta de títulos para uma determinada demanda, forçando juros menores. Se a meta de inflação tivesse sido reduzida para 4% neste ano, em teoria teríamos juros de equilíbrio 0,5% menores (afinal, juros futuros podem ser decompostos, grosso modo, em juros reais + expectativa de inflação + prêmio de risco). Enfim, o que não se vê é que os juros altos e a "ciranda financeira" são um efeito colateral do modelo econômico que o Brasil resolveu seguir. O resto é conversa mole.
segunda-feira, 22 de outubro de 2007
Desserviço ao Brasil
Já a isenção do IR faz parte da política de administração da dívida. Vários estudos (posso indicar um da ANDIMA, disponível aqui) mostram que, no caso de países como o Brasil, a abertura do mercado de dívida pública para estrangeiros ajuda a melhorar o perfil da dívida, tanto em sua composição (a divisão entre títulos pós-fixados, pré-fixados e indexados à inflação) quanto em sua duração (estrangeiros tendem a preferir títulos mais longos). A isenção do IR, nesse contexto, é um incentivo para a entrada de capital estrangeiro, o que facilita o gerenciamento da dívida e acelera a convergência para uma estrutura ótima para os passivos do país (traduzindo, outros estudos indicam uma composição ótima da dívida - onde a evolução dos passivos do país, a dívida, é compatível com a evolução dos seus ativos, basicamente a arrecadação de impostos).
Ao dar destaque para o que não deveria ser notícia, a Folha contraria a sua premissa ("Um jornal a serviço do Brasil", é o que se lê no topo da primeira página de cada edição) e alimenta as visões mais toscas de repúdio ao capitalismo global - as do tipo "capital estrangeiro prejudica o país, estrangeiros tem lucro fácil". Infelizmente, em certa medida, parece ser esse tipo de visão que predomina na edição do maior jornal do Brasil. Tanto pior para o país.
domingo, 21 de outubro de 2007
Kippis, Kimi!
quinta-feira, 18 de outubro de 2007
Quem tem medo do lobo mau?
Para ficar no monetarismo mais rasteiro, de estudante de economia de primeiro semestre, inflação é sinônimo de moeda em excesso. Ou seja, um problema orçamentário só se traduz em inflação se o governo optar por resolvê-lo do jeito mais primitivo possível: imprimindo dinheiro. O Brasil cansou de fazer isso, há alguns anos. Ouvir de um membro da alta cúpula do governo que existe a possibilidade de isso voltar a ocorrer, por mais que eu saiba que seja uma ameaça vazia e grosseira, me dá vontade de bater a cabeça na quina da mesa.
Para quem assina a Folha: Inflação vai voltar sem o tributo, diz Alencar
segunda-feira, 15 de outubro de 2007
Chuck Norris aplicado ao mercado financeiro
- Chuck Norris não persegue metas para a inflação. Ele as chuta até que implorem piedade.
- O dólar de Chuck Norris compra 3 dólares canadenses e opera em paridade com o euro.
- As lágrimas de Chuck Norris proveriam liquidez suficiente para resolver a crise de crédito. Pena que ele nunca chora.
- Quando a taxa de um título de renda fixa do Chuck Norris sobe, o preço também sobe. (esta é MUITO nerd).
- Chuck Norris opera em ganância e medo simultaneamente.
- Alan Greenspan chama Chuck Norris de "O Maestro".
- Chuck Norris já recebeu o seu pagamento de dividendos da Northern Rock Plc.
- Chuck Norris se financia a LIBOR careca.
- Chuck Norris Asset Management ganhou 50% no seu fundo de títulos lastreados em hipotecas subprime no último mês.
- Chuck Norris não toma emprestado na janela de redesconto do Fed. Chuck Norris empresta na janela de redesconto.
- As curvas de juros de Chuck Norris nunca se invertem.
- A receita líquida do Goldman Sachs subiu 79% no terceiro trimestre; o lucro da Chuck Norris Securities subiu 80%.
- Não há um regulador de mercados. Apenas uma lista de ativos que Chuck Norris permite que sejam negociados.
- O iPhone de Chuck Norris nunca precisa ser recarregado.
- Chuck Norris não compra ouro para se proteger contra inflação. O ouro compra Chuck Norris para se proteger contra inflação.
- Chuck Norris cobra uma taxa de penalidade para empréstimos ao Banco da Inglaterra. E garante seus depósitos.
- Chuck Norris é o piloto que Ben Bernanke chama quando quer inundar a economia com notas de dólar. Às vezes, Chuck Norris recusa-se a voar.
- Chuck Norris não faz marcação a mercado. O mercado se marca a Chuck Norris.
- Quando a economia americana espirra, o mundo pega um resfriado. Quando Chuck Norris espirra, a economia americana pega pneumonia.
- Quando Chuck Norris te oferece um preço, não é uma oferta; é uma obrigação para comprar.
- Chuck Norris não é um "market maker"; ele É o mercado.
- Chuck Norris ainda consegue uma hipoteca de 125% de uma casa de 2 milhões de dólares sem comprovar renda.
- Os títulos lastreados em hipotecas subprime de Chuck Norris ainda operam a 100% do valor de face.
- Chuck Norris tem um superávit comercial com a China.
Via Mark Gilbert, da Bloomberg.
A triste volta ao trabalho e o aniversário da Segunda-Feira Negra
Tenho vários assuntos para dar palpites. Para começar, esta semana (dia 19) teremos aniversário de 20 anos da famosa Segunda-Feira Negra, o fatídico dia em que a bolsa americana (medida pelo índice Dow Jones) teve a maior queda da história, vertiginosos 22,6% em um único pregão. Essa foi a prova de fogo para Alan Greenspan, que tinha assumido o Fed pouco mais de um mês antes. Como toda boa crise financeira, a Segunda-Feira Negra ainda não tem uma explicação definitiva, mas entrou para a história como mais uma prova de que mercados financeiros podem, às vezes, esconder qualquer indício de racionalidade e agir puramente em função do pânico.
A mídia deve, nos próximos dias, fazer um festival de cobertura por conta dessa data; por enquanto, fique com a compilação feita pelo The Big Picture (infelizmente, só em inglês; quando eu achar algo interessante em português, colocarei aqui).
Vou tentar atualizar os demais assuntos nos próximos dias. Fiquem ligados!
terça-feira, 25 de setembro de 2007
Férias, doces férias
Não leve BRIC muito a sério
sexta-feira, 21 de setembro de 2007
BM&F, a jóia da coroa
Muito já se falava de uma abertura de capital da BM&F, e as notícias acima sinalizam que esse processo já está bastante avançado. Há uma tendência global de fusões e aquisições entre bolsas (a união das bolsas de Chicago mencionada acima é um bom exemplo disso), e não haveria porque a BM&F ficar de fora. A BM&F é a quinta maior bolsa de derivativos (em volume negociado, veja o gráfico abaixo) do mundo, opera com grande eficiência, possui uma variedade muito atrativa de produtos e já passou por diversos (e severos) testes de choque. Somando a isso o potencial de crescimento e diversificação dos mercados financeiros no Brasil, temos na BM&F um alvo extremamente atrativo para investimentos estrangeiros.
Como em qualquer setor, a abertura de capital das bolsas brasileiras (comenta-se que a Bovespa também deve abrir o capital até o final deste ano) deve ser comemorada. O aumento da base de investidores e o adequamento às regras de boa governança devem trazer mais transparência e eficiência para as operações. Além disso, a aquisição de parte dessas bolsas por alguma bolsa estrangeira pode viabilizar a comercialização no Brasil de diversos produtos financeiros atualmente indisponíveis localmente, o que aumentaria a possibilidade de diversificação das carteiras de bancos, fundos e pessoas físicas. É torcer para que querelas jurídicas (a assembléia da BM&F mencionada acima parece já ter sido suspendida por uma liminar na justiça) e visões retrógradas e protecionistas não atrapalhem essa evolução.
Para os interessados no assunto, recomendo uma matéria publicada recentemente na onipresente The Economist.
* Por algum motivo, o Blogger não aceita o "&" nos marcadores, por isso o aportuguesamento de M&A. Até que não ficou ruim...
quarta-feira, 19 de setembro de 2007
UBS Pactual domina o "sell-side"
Explicações feitas, neste ano o UBS Pactual não deixou muito espaço para a concorrência. Se o UBS já tinha uma equipe prestigiada (foi o segundo do ranking geral em 2006), a fusão com o Pactual (o líder do ano passado) resultou em um time difícil de ser batido. O UBS Pactual arrematou oito dos doze primeiros lugares nos setores, liderando o ranking ponderado com larga vantagem sobre o Credit Suisse, segundo colocado.
Entretanto, o ranking deste ano apresenta várias distorções: por conta da dança das cadeiras que dominou o mercado entre o final do ano passado e o primeiro semestre deste ano, diversos nomes fortes não receberam votos. Além disso, muitos votos levaram em conta a situação do mercado antes da fusão da compra do Pactual pelo UBS, o que fez com que, em diversas categorias, dois analistas atualmente na mesma instituição aparecessem entre os três indicados. A disputa em 2008, com um mercado mais consolidado, novos players e analistas estabelecidos há algum tempo promete ser bem mais interessante.
A sombra de Greenspan
Muito já se falou que esse comportamento assimétrico do Fed - deixar que preços de ativos se valorizem livremente e, quando essa valorização começar a se reverter, cortar os juros rapidamente - estimula a criação de bolhas. Embora eu não concorde com essa noção (não acho que seja papel de um banco central se preocupar com preços de ativos, e tenho dúvidas que um estouro de bolha induzido seja menos danoso do que quando este ocorre de forma natural), a impressão que tenho é que ou o Fed ou os mercados estão cometendo um grave erro de leitura da conjuntura atual: uma economia americana que precisa de um corte de meio ponto percentual nos juros básicos parece estar sob um risco considerável de recessão (visão do Fed), o que não condiz com o S&P 500 a apenas 1,7% de sua máxima histórica. Ou seja, os próximos dados econômicos ou corroborarão a festa dos mercados por conta da antecipação da queda dos Fed Funds em direção a sua taxa neutra (que deve ser algo em torno de 4%, pela regra de Taylor) ou darão razão ao Fed e trarão mais turbulência para os preços de ativos. Façam suas apostas.
* Impressionante a capacidade de síntese e de criar termos pomposos da língua inglesa. Imagine se o banco central brasileiro resolvesse promover uma conferência em um lugar chamado "Buraco do Filho do Zé".
terça-feira, 18 de setembro de 2007
Pérola do dia
To be a rock and not to roll
sexta-feira, 14 de setembro de 2007
Citação do dia
"Subjective states are simply one more type of thing I may have preferences over. It is a fairly reliable generalisation that people prefer pleasure over pain. But it is is not a part of the model. People do run marathons and watch Jim Carrey movies, after all."
Brilhante, embora eu goste muito do Jim Carrey. O texto de onde a pérola acima foi pescada também merece uma leitura, principalmente por sua conclusão.
quarta-feira, 12 de setembro de 2007
À guisa de introdução
Acho que cabem aqui alguns esclarecimentos:
-- Inicialmente, minha verdadeira identidade ficará anônima. Assim poderei escrever sem me preocupar em contrariar interesses ou opiniões das entidades onde trabalho ou trabalhei. Ainda não enriqueci ou envelheci o suficiente para não me preocupar com isso.
-- Não sou keynesiano. Sou libertário. Na classificação acéfala que costuma se usar no Brasil, sou ortodoxo (e não "desenvolvimentista", embora eu, assim como, acredito, a imensa maioria dos "ortodoxos", não tenha absolutamente nada contra desenvolvimento).
Segundo o livro-texto de Olivier Blanchard, os keynesianos enfatizavam a política fiscal (em vez da política monetária) como chave para combater recessões; muitos acreditavam na existência de um dilema confiável entre desemprego e inflação, mesmo no longo prazo; e acreditavam na eficácia do estado como formulador de política econômica. Após a revolução das expectativas racionais, muitas dessas idéias foram sepultadas, e os chamados neo-keynesianos focaram seus estudos em outros pontos, bem menos controversos (como a rigidez nominal de salários e preços, imperfeições no mercado de crédito, etc). Entretanto, as idéias dos keynesianos de primeira época ainda encontram adeptos, como se a teoria econômica não tivesse evoluído desde os anos de 1940.
"When the facts change, I change my mind. What do you do, sir?" Esta é uma das citações mais famosas do próprio John Maynard Keynes. Se estivesse vivo, até ele discordaria dos keynesianos.
-- Então, qual é o porquê do nome? Primeiro, porque me pareceu um bom trocadilho. Mais do que isso, é original - tente fazer uma busca no Google por "drunkeynesian": orgulhosamente, "nenhum documento correspondente" aparece (bem, em breve aparecerá ao menos este humilde blog).
Tirando os motivos mundanos, acho que homenagens ao velho Keynes nunca são excessivas. Além disso, Keynes foi um bêbado, ainda que tardio. Supostamente suas últimas palavras foram: "I should have drunk more Champagne." Em resumo, Keynes foi o primeiro "drunkeynesiano", sou apenas um modesto discípulo.
-- Odeio escrita obtusa. Os escassos leitores podem me cobrar por isso. O título deste texto é irônico.
-- Escrever sobre economia e mercados financeiros sem usar termos em inglês é virtualmente impossível (que o Aldo Rebelo não me leia...). Tentarei respeitar a língua de Camões e MC Serginho, mas, às vezes, os leitores serão brindados com algumas palavras ou siglas consagradas que fogem do vocabulário-padrão do português. A Investopedia resolve a maioria das dúvidas; as restantes podem ser esclarecidas, com o maior prazer, nos comentários.
-- Não vou vender nem comprar nada que eu ataque ou defenda aqui. Não tenho dinheiro. Portanto, também não adianta me processar.
Por enquanto, é isso. Divirtam-se!