Hora do leitor se divertir com a pretensão deste escriba ao imaginar
há um ano o que aconteceria nos doze meses seguintes:
- Juros reais no Brasil vão seguir caindo. Investir em NTN-Bs seguirá sendo uma boa opção, o retorno deve superar o CDI por mais um ano.
Comecei com um mega acerto: para a alegria dos fundos multimercados, os juros caíram de forma praticamente ininterrupta durante 2010. Para os detentores de NTN-B, melhor ainda, já que a inflação seguiu relativamente alta. O rendimento anual da NTN-B 2022 caiu de 5,47% para 3,32%, e o índice IMA-B rendeu quase 27% no ano.
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- Juros das Treasuries americanas também cairão, fazendo novas mínimas históricas.
Fato: os juros de 10 anos americanos começaram o ano a 1,95%, terminaram a 1,80%, mas chegaram a 1,39% em julho, menor taxa desde sempre.
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- Juros de 10 anos dos Estados Unidos, Canadá, Inglaterra e Alemanha começam 2012 mais ou menos nos mesmos níveis (entre 1,9% e 2,0%). Acredito em algumas apostas de divergência, comprando EUA e Canadá e vendendo os outros dois.
A hipótese por trás dessa previsão é que o mercado de renda fixa ia começar a diferenciar ainda mais entre os créditos soberanos; aconteceu justo o contrário: spreads fecharam e os juros tiveram uma nova convergência. No caso da Europa, a decisão da Alemanha de, indiretamente, financiar a dívida da parte "ruim" do continente não só não piorou sua percepção de risco de crédito, mas muito dinheiro entrou no país em busca de segurança. Os juros de EUA, Canadá e Inglaterra terminaram 2012 mais ou menos no mesmo patamar (perto de 1,9%); a Alemanha furou de vez a previsão e encerrou o ano pagando 1,32%.
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- Política monetária segue frouxa no mundo todo. E tome QE3 nos EUA, QEn no Reino Unido, algo parecido na Europa...
Sim, bancos centrais seguiram muito ativos, e a política monetária seguiu bastante frouxa (mais em termos de juros baixos do que em crescimento de balanços - monetaristas vão preferir esta medida). A próxima alta de juros no mundo desenvolvido concorre no futuro distante com a volta do cometa Halley.
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- O real vai seguir se depreciando contra o dólar americano, assim como o rand sul-africano, a lira turca, o peso mexicano e o forint húngaro.
2012 passou longe de ser um ano de fortalecimento geral do dólar. O real e o rand de fato se depreciaram, mas as demais moedas que listei bateram com gosto na minha cara (lira turca +6%, peso mexicano +8,4%, forint +10%).
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- Reservas internacionais brasileiras não chegam aos US$ 400 bilhões. Chance não desprezível de começarem a cair. Comprar CDS do Brasil e México a um prêmio de 160 b.p. (50 b.p. mais baixo que o da França) parece uma boa aposta assimétrica.
De novo previsão baseada na ideia de dólar mais forte, ou um aperto na liquidez nesta moeda. Valeu para as reservas do Brasil (terminaram o ano perto de US$380 bilhões, mais ou menos estáveis desde maio), mas os prêmios de CDS seguiram o fechamento dos spreads de renda fixa. Brasil e México começam 2013 com prêmios próximos a 100 b.p. (do ponto de vista de assimetria, a aposta agora é ainda melhor).
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- Sigo comprando bancos americanos, vendendo bancos europeus (o short selling está banido na maioria dos mercados na Europa, mas há como montar proxies disso).
A estratégia teria sido muito ganhadora se fosse revertida por volta do meio do ano. Desde então, o pacote de bondades de Mario Draghi e companhia provocou uma forte recuperação nas ações dos bancos europeus. Os índices que representam esses mercados tiveram desempenhos muito parecidos: o S&P500 Financials Index (EUA) subiu 26%; o Stoxx 600 Banks subiu 23,5%.
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- Se o crescimento da China ameaçar ir abaixo do esperado, o banco central voltará a desvalorizar o yuan. Acho o payoff dessa aposta muito bom, mesmo num cenário de crescimento inalterado, já que a maioria do mundo acha que o yuan só deveria se valorizar. Outra aposta muito boa em moedas é comprar coroa dinamarquesa contra euro, favorita do Cerebelo Econômico.
É, a maioria do mundo teve razão, e o yuan valorizou 1% contra o dólar durante 2012 (pelo menos confirmou a assimetria da aposta). O peg euro / coroa dinamarquesa seguiu inabalado.
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- Preços de imóveis nos EUA já fizeram a mínima; o índice Case-Shiller deve voltar a subir. Em São Paulo e no Rio, creio que estamos perto de uma inflexão. No melhor dos casos, acredito em altas até 10%, e o custo de oportunidade começaria a pesar.
A última leitura do Case-Shiller é do final de outubro; se vale a tendência, de fato, o índice fez uma mínima no final de 2011 e passou a subir. A alta até então era de 5%. Por aqui, o FIPE ZAP subia 13% nos doze meses até o final de novembro - nada perto da exuberância dos últimos anos, mas longe de causar alguma preocupação para os compradores.
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- Ações para vender: LinkedIn, Zynga, Groupon, Facebook (depois do IPO). No geral, negócios que dependem de muita fé em crescimento de fluxos de caixa futuros não irão bem (Grupo X?). Vou seguir apostando contra a Apple porque errei no ano passado (péssimo motivo, mas aqui passa).
Nas ações americanas LinkedIn bateu na minha cara (+75%), acertei em cheio as demais (Zynga -75%, Groupon -75%, Facebook caiu 33% do IPO até o final do ano). O ano de fato foi péssimo para os sócios do Eike Batista (OGX -65%, MMX -36%, LLX -25%, OSX -11%), assim como era o motivo para apostar contra a Apple (+33% - ainda que tenha valido a regra de bolso que diz que empresas ainda não conseguiram passar muito tempo com valor de mercado acima de US$500 bilhões).
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- Agências de classificação de risco vão continuar o mergulho na direção da irrelevância. Venderia ações da Moody's, por princípio. Possivelmente sofrerão ameaças ou represálias dos governos que tiverem suas notas rebaixadas.
Talvez tenha acertado o princípio (os mercados de dívida soberana pouco reagiram a vários rebaixamentos, sobretudo na Europa), mas o acionista da Moody's teve um grande ano (+47%), provavelmente pela forte atividade de novos emissores.
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- Será bom comprar ações no Brasil, mas num preço pelo menos 10% mais baixo do que estão começando o ano. Ainda assim, melhor fazer o mínimo de stock picking do que comprar o índice, temo muito pela combinação de commodities + empresas picaretas que o compõe hoje. Para pegar um caso, bancos grandes devem ir melhor do que o índice. Empresas "parceiras" do BNDES, pior.
10% de queda no Ibovespa coincide (foi sorte, mesmo, não tinha pensado nesses termos) com o melhor suporte para o índice no ano, ao redor dos 52.000 pontos. E de fato o stock picking evitando commodities e picaretas funcionou muito bem, vide o bom desempenho de muitos fundos ativos ou long-short. Houve alguma dispersão entre os bancos grandes (BB e Bradesco melhores, Itaú e Santander piores), e as empresas X e os frigoríficos (pra ficar nos casos mais evidentes) de fato foram pior do que o índice.
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- Não gosto de Vale, vai ser dos shorts mais líquidos disponíveis no mercado quando o mundo se der conta de que a China pode, surpresa, não crescer perto de 10% ano após ano.
Vale chegou a cair mais de 20% no ano, teve uma grande recuperação e terminou mais ou menos no 0 x 0. O susto com o minério de ferro passou relativamente rápido, mas foi uma oportunidade para quem soube realizar lucros.
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- Bancos médios vão seguir indo mal no Brasil. O modelo de negócios da maioria deles (captar caro no exterior e emprestar ainda mais caro aqui) parece estar se esgotando. O FGC deve ter trabalho.
BVA, Cruzeiro do Sul... as fraudes começaram a aparecer, mas o mercado diferenciou bem o setor, e os demais listados (Indusval, Pine, ABC) tiveram um bom ano.
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- Não tenho grandes convicções em commodities, mas se fosse pra comprar algo, seria petróleo.Agrícolas têm cara de que ainda podem cair muito.
Petróleo passou bem pouco tempo acima de onde começou o ano ($103 para o barril de WTI), teria sido péssimo investimento. O índice de agrícolas (DBA) caiu um pouco durante o ano (3%), com grande diferenciação (trigo, soja e milho subiram; açúcar, algodão e café caíram bastante).
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- Creio que hedge funds terão outro ano para ser esquecido, com mercados de ações sem tendência e intervenções cada vez maiores dos governos.
De fato, o ano foi muito difícil para hedge funds, que muito provavelmente (dados demoram para serem consolidados) tiveram desempenho pior do que a maioria das estratégias passivas. Ações ficaram mesmo sem tendência durante grande parte do ano, e as intervenções tiveram gatilhos e consequências muito difíceis de serem previstas.
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- Ainda há alguma intenção de concluir a Rodada de Doha, da OMC? Se há, vai falhar.
Não houve, aparentemente o mundo tinha coisas mais importantes para se preocupar.
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- São Paulo vai eleger um prefeito de ruim a muito ruim.
Considerando que estivemos perto de eleger o Rousseau Mano, acho que saímos no lucro.
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- Metade das participantes do Big Brother farão capas da Playboy e/ou Sexy.
Não contei, mas essa previsão é quase como dizer que o sol vai nascer amanhã: um dia vai falhar, mas demora...
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- Meryl Streep será, de novo, indicada para um Oscar (dããã).
Não só foi indicada, ganhou o terceiro como a Margaret Thatcher do fraquinho
A Dama de Ferro.
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- O Corinthians finalmente vence a Libertadores (PAREM DE RIR!). Lusa se segura na série A.
Preciso recorrer aos grandes irmãos Gershwin para celebrar o maior acerto da história deste blog:
They all laughed at Christopher Columbus
When he said the world was round
They all laughed when Edison recorded sound
They all laughed at Wilbur and his brother
When they said that man could fly
They told Marconi
Wireless was a phony
It's the same old cry
(...)
For ho, ho, ho!
Who's got the last laugh?
Hee, hee, hee!
Let's at the past laugh
Ha, ha, ha!
Who's got the last laugh now?
E a Lusa bem que tentou cair, mas se segurou entre os grandes.
1,2 / 1.
- Usain Bolt perde os 100m rasos, mas leva os 200m em Londres. Brasil fará novo fiasco, no futebol masculino e no geral.
Bolt foi a Apple dos esportes, impossível apostar contra. Quanto ao Brasil:
0,7 / 1.
- Os filmes argentinos continuarão (muito) melhores que os brasileiros.
Na
minha lista de melhores do ano entraram um argentino e um brasileiro, mas não foi um ano em que acompanhei de perto a produção de ambos (leitores, alguma opinião?). Grandes expectativas para
O Som ao Redor, que estreia em SP amanhã.
0,5 / 1.
- O megahit Ai Se Eu Te Pego será regravado em Espanhol, Italiano, Romeno, Swahili, Esperanto e Cantonês.
Devem ter gravado até em klingon e algumas das línguas do Tolkien. Algumas amostras
aqui.
0,8 / 1.
- O mundo não vai acabar em 21 de Dezembro. Lá pra Novembro eu publico a nova data.
Esqueci de publicar a nova data, mas, aparentemente, sobrevivemos.
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- Vou errar mais previsões do que no ano passado.
Somando meus pontos (se corretamente atribuídos, cornetem nos comentários):
Previsões "sérias" (economia, mercados e afins): 8,5 / 16 = 53%
Previsões aleatórias: 6,9 / 8 = 86%
Total: 15,4 / 24 = 64%
Acertei
mais do que ano passado, o que faz esta metaprevisão contar como erro e joga meu desempenho para 62%, um pouco melhor do que um chimpanzé jogando cara ou coroa (pior ainda considerando que o que puxou a média pra cima foram as previsões não relacionadas à economia - aceito ofertas de emprego para comentar entretenimento e esportes).
Numa nota um pouco mais séria: a cada ano que passo trabalhando com gestão de dinheiro, aumenta minha convicção de que acertar previsões tem importância secundária para essa atividade (sorte, flexibilidade, gestão de risco e margem de segurança são muito mais relevantes). Hoje trato-as como hipóteses: boas até serem contrariadas pelos mercados, tendo que ser trocadas ou modificadas a partir daí (como diz um antigo chefe, somos pagos para ganhar dinheiro para os clientes, não para nos provarmos certos). Tendo partido de economista de formação quase totalmente ortodoxa e cheio de convicções, esse tem sido um processo difícil de deseducação, mas que tem facilitado enormemente minha vida. Talvez sirva de conselho para quem quer seguir o mesmo caminho.
Em alguns dias coloco aqui meus chutes para este ano, ainda preciso gastar mais um tempo pensando.