quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Leituras da Semana

Not-so-dismal art
- Reinhart & Rogoff disponibilizaram as bases de dados do This Time Is Different.

- O verdadeiro custo do salvamento da AIG.

- A moda México.

- Uma breve história da macroeconomia.

- Charles Goodhart e Vincent Reinhart contra metas pra PIB nominal.

- Resenha da biografia de Paul Volcker. Preciso comprar. O novo livro de Alan S. Blinder, sobre a crise.

- Edward Chancellor e Mike Monnelly sobre a vulnerabilidade do sistema de crédito da China.

- Um "teste de significância" para Davos.

- Debate imaginário entre Keynes, Marx, Lagarde e Schumacher.

- O que economistas sabem sobre imigração.

- Conheça a "Great Gatsby Curve".

- Uma briga (com classe) entre Tim Harford e Gideon Rachman, economista x historiador.

- Boa história sobre o possível fim das empregadas domésticas no Brasil.

- Provavelmente o gráfico econômico mais cool da história.

- A população mundial por latitude e longitude.

- André Lara Resende sobre otimismo.

- Uma entrevista com Edward Tufte.

- Uma visita a Pyongyang.

- 102 grandes artigos do ano passado.

- 38 mil (!!!) livros gratuitos para Kindle. A baixa margem de lucro da Amazon.

- Para os músicos amadores, um ótimo site com partituras dos Real Book.

- Richard Linklater sobre a sequência de Antes de Anoitecer, que estreou no festival de Sundance.

Gráficos do Dia - envelheça, se endivide

Seguindo minha busca por uma grande teoria para ganhar o Nobel, fui testar se há uma relação entre a idade média (mediana, na verdade) da população de um país e seu endividamento. Abaixo os resultados.



quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Operando ações no Planeta Bizarro

Reunião do conselho da Petrobras
Pois bem: partamos do princípio que economia com forte crescimento é positivo para o mercado de ações: as companhais lucram mais, pagam mais dividendos, investem mais, aumenta a confiança no futuro, etc...

Como inútil exercício de pensamento, imaginemos um Brasil que cresça os sonhados 4,5% do Mantega neste ano. Se isso aconteceu, uma das causas pode ter sido uma economia global mais forte, o que levaria o preço do petróleo a subir - digamos, para US$110 por barril. O câmbio, também pelos sonhos do ministro, fica onde está hoje, no nível "cachinhos dourados", nem muito apreciado, nem muito depreciado.

Pelas contas que estão no Valor hoje, a Petrobras perde R$1,2 bilhão por mês ao vender gasolina no mercado local por menos do que adquire no mercado internacional. Se o cenário acima se concretizar e os preços da gasolina seguirem o do petróleo, esse prejuízo aumenta em 12%. No Planeta Bizarro, quanto mais gasolina a distribuidora de combustível vende, mais dinheiro perde - e é seguro assumir que, com a economia aquecida, aumentam o consumo e, consequentemente, a importação. No ano passado, com o crescimento do PIB perto de 1%, o padrão mensal de importação de gasolina foi multiplicado por cinco (de 5 para 25 milhões de barris por mês). Ainda que não faça sentido extrapolar esse movimento parabólico, a importação provavelmente seguiria aumentando - e com ela o prejuízo da Petrobras.

As ações da Petrobras representam aproximadamente 10% do Ibovespa. Com o cenário descrito, pensemos novamente no princípio da primeira linha: economia forte é boa para o mercado de ações brasileiro?

Parafraseando um velho mestre, mercado financeiro é legal porque é difícil...

Gráficos do Dia - PIB nominal

Fiz esses gráficos há pouco, para uma discussão no trabalho. Acho que não trazem nenhum insight relevante , servem como curiosidade (olhando os dados, uma conclusão é que os grandes crescimentos de PIB nominal estão fortemente correlacionados com alta inflação, mas não necessariamente os menores correlacionam com deflação).



terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Gráfico do Dia - Petrobras x Ecopetrol

A preços de mercado atuais, tanto a Petrobras quanto a colombiana Ecopetrol valem algo como US$128 bilhões - com a Petrobras produzindo três vezes mais óleo e gás e tendo enterprise value quase 50% maior. Possíveis explicações no beyondbrics; o gráfico abaixo (tirado do post) mostra a espantosa divergência entre os preços das ações (normalizados para 100 em 2008):

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Ibovespa x Realidade (ou vice-versa)

Dia bom para pensar sobre o mercado de ações por aqui - sexta-feira foi feriado em São Paulo, o S&P500 fechou acima de 1,500 e hoje tem uma pequena correção. Em condições "normais", seria um bom dia para ações brasileiras. No mundo real, o Ibovespa cai 2%, para o nível mais baixo neste ano.

Minha percepção é que é muito grande o pessimismo com a economia brasileira - sobretudo com sua condução pelo governo. Para comprovar isso basta abrir o caderno de economia de algum jornal brasileiro em um dia aleatório dos últimos meses e contar quantas notícias negativas sobre o país aparecem para cada uma positiva. Lá fora, o Brasil deixou de ser o Cristo Redentor decolando e os problemas (que nunca deixaram de existir) voltaram às manchetes.

Minha heurística para lidar com cenários desse tipo é lembrar da frase do professor Eduardo Giannetti que tantas vezes citei aqui: não éramos tão ruins, nem nos tornamos tão bons. O dilema agora é: acreditar nisso e achar que há valor no Ibovespa, que o mercado está exagerando no pessimismo; ou há uma mensagem mais forte dos mercados, que de fato o Brasil está se afundando na estagflação e isso vai ser refletido em mais um ano ruim para as companhias listadas?

Ainda fico com a primeira opção, pela heurística e pelo meu viés contrário: muito pessimismo está embutido no preço relativo Ibovespa abaixo de 60,000 / S&P500 acima de 1,500 (para não falar do IPC mexicano na máxima histórica). Acredito que estamos vendo uma capitulação de velhos detentores de ações, estas sendo trocadas de mãos que as recebem a preços mais atrativos, visão clara de que o Brasil não é nenhum milagre de potencial de lucros e mais disposição a aguentar as eventuais barbeiragens do governo e das companhias. Muito dinheiro entrou no Brasil nos últimos anos com expectativas irreais de retornos; agora, aparentemente, o mercado volta à realidade, e quem fez as apostas erradas está reconhecendo o prejuízo e deixando os ativos para quem tem disposição de carregá-los por mais tempo ou por retornos menores.

Há dois grandes riscos aqui: o primeiro, claro, é esse diagnóstico estar errado e o Ibovespa, com os problemas que já levantei, ter se tornado um imenso value trap, com as principais companhias passando anos sem entregar lucros e os aparentes preços atrativos mostrarem-se, em retrospecto, altos demais. O segundo é estar certo muito cedo, e, por algum tempo, a tendência dos últimos meses prevalecer antes que a ideia gere algum lucro.

Outra possibilidade é o Ibovespa ser o "canário na mina" para o crescimento da China, com sua alta concentração em empresas ligadas a commodities servindo como indicador de problemas em breve, o que não parece estar no preço de alguns outros mercados.

Qualquer que seja a realidade, essa divergência é interessantíssima em um ambiente geral de grande otimismo (ou pelo menos ausência de pessimismo concreto), e deve se resolver nos próximos meses. Em resumo, minha aposta, contra o consenso, é numa recuperação relativa do Ibovespa. Façam as suas.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Gráficos do Dia - Moneyball

Do último relatório Football Money League, da Deloitte. O glorioso alvinegro paulistano foi o time com maiores receitas fora da Europa, mas atrás de potências como Fulham, Sunderland e Valencia.


quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

David Einhorn: mais um ilustre pessimista com minério de ferro

David Einhorn junta-se a Jim Chanos ao prever dias difíceis para as mineradoras:


Mais na última carta trimestral da Greenlight Capital.

Gráfico do Dia - vergalhão de aço no Brasil

Por indicação do Samer, cheguei nesse trabalho de dois pesquisadores da PUC-RJ, que estuda a cartelização do mercado de vergalhões de aço no Brasil. Esse gráfico é produto de um dos quatro métodos utilizados no trabalho para calcular o sobrepreço.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

O que vale quanto pesa no Ibovespa

Acho que podemos incluir o Ibovespa na longa lista de "jabuticabas": é um índice onde o peso dos papeis é definido por um pseudocientífico "índice de negociabilidade", que pode ser uma alternativa aos problemas dos índices ponderados por valor de mercado mas está longe de ser ideal (para pensar em um aspecto: papeis mais especulativos, com muito giro, tendem a ter peso maior do que blue chips que são detidas por muito tempo). Abaixo amostras das divergências entre os pesos no índice e o tamanho das empresas - o caso da Ambev é a maior aberração. Leve isso em conta antes de comprar um ETF ou um fundo que tenta perseguir de perto o índice.



sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

10 coisas que não entendo da política econômica de Dilma

Como os leitores habituais já devem ter percebido, estou longe de ser crítico incondicional do que se faz na condução da política econômica no Brasil - não acho, por exemplo, que a ortodoxia irrestrita é nossa salvação, nem que os ministérios são dominados por completos imbecis. Ainda assim, pelo meio de mandato de dona Dilma, muita coisa me escapa a compreensão, e, honestamente, algumas delas não sei se por estupidez de quem as determina ou falha no meu entendimento. Abaixo compartilho parte dessa reflexão em 10 pontos (fui listando e cheguei em nove, obviamente acrescentei mais um por razões de marketing):

1. Comunicação e estratégia do Banco Central

Eu espumo de raiva toda vez que leio algum comunicado do BC. Primeiro a convergência para o centro da meta de inflação é "não-linear", depois essa menção desaparece; uma hora eles se metem a emitir comunicados oficiais sobre o que sai na imprensa, mas cansaram, ao longo do ano passado, de "mandar recados" por vários diretores antes das reuniões de política monetária. Achei totalmente legítima a tentativa de buscar um novo equilíbrio para a taxa Selic, mas há algum tempo o juro real é menor do que o que Dilma prometeu no início do mandato (2%) e tenho a impressão de que eles passam os dias torcendo por algum choque deflacionário (algo como a torcida para que chova nos rios que alimenta hidrelétricas) para que a inflação ceda um pouco.

Uma possibilidade é que está tudo combinado com os russos, ou seja, o governo vai trabalhar para, como no ano passado, tirar alguns pontos da inflação com desonerações, subsídios, etc - o que nos leva a...

2. Não atacar a indexação da economia

Aqui penso especificamente na regra de reajuste do salário mínimo (pelo crescimento do PIB + inflação). Já ouvi o Nelson Barbosa dizer com todas as palavras que a regra foi pensada para atacar distribuição de renda; ocorre que os efeitos secundários começam a aparecer na forma de inflação persistentemente alta (que atrapalha muito mais quem não tem ganhos indexados) e uma compressão de margens de lucro que acaba por sufocar os "espíritos animais" e o investimento. Meu problema aqui, notem, é com privilégios adquiridos, não com a ideia de que os empresários precisam de defesa ou que é ilegítimo tentar distribuir renda.

3. Mania de microgerenciamento

Esse é o caso geral em que caem outros pontos abaixo e as tentativas de influenciar a inflação de um mês para o outro (como se isso fosse fazer grande diferença), acertar a taxa de câmbio em um intervalo de cinco centavos (idem), lançar pacotes com medidas cujo impacto é totalmente marginal, etc... Parece tolice, ou tentativa de disfarçar incapacidade de mexer no que realmente importa.

4. Tentativas de enganar todos, o tempo todo

A sabedoria de Abraham Lincoln diz que isso é uma impossibilidade, o que não impede tentativas por aqui. O exemplo mais recente é das amalucadas manobras contábeis para cumpri a meta de superávit fiscal do ano passado - aos olhos do governo, isso é preferível do que assumir que o ano foi difícil, o crescimento foi baixo e a meta não foi cumprida; ou, como defendeu o Delfim, definir uma nova meta, compatível com os juros mais baixos e que seguiria garantindo uma dinâmica muito boa para a dívida. Dizem as "fontes" que esse caso específico gerou uma briga entre as secretarias de política econômica e do tesouro; pior que tenha vencido a que optou pelo truque, sancionado pelo ministro e a presidenta.

5. Por que não aumentar o preço do combustível?

Pela inflação, claro. Ou porque há uma percepção de que é necessário subsidiar esses preços, às custas da arrecadação de impostos e da saúde financeira da Petrobras, que fica na incrível situação de perder mais dinheiro quanto mais gasolina vender. Ou porque alguém defende que o preço do petróleo vai cair no mercado internacional ao longo do tempo.

Como a meta de inflação vale para o ano-calendário, o governo perdeu uma ótima chance de dar o aumento no final do ano passado, sabendo que a inflação não estouraria o teto da meta e deixaria 2013 menos pressionado. E o acionista minoritário da Petrobras não pode ser destruído - a empresa precisa atrair dinheiro privado para dividir os riscos da exploração do pré-sal (a opção a isso seria fazer todo o investimento pelo tesouro, e dar mais passos na direção de re-estatização da empresa).

6. Não permitir ajustes no mercado de trabalho

Esse ponto é bastante polêmico, já que manter uma taxa de desemprego baixa é um dos melhores objetivos de política econômica que posso imaginar. Há, porém, as tradicionais consequências de suprimir um movimento que seria feito naturalmente no mercado: adiar o ajuste possivelmente atrasa a recuperação do investimento (forçando empresas a terem, por algum tempo, retornos mais baixos), dificulta a vida de quem não está empregado (e estaria disposto a trabalhar por menos do que o salário de mercado) e acumula desequilíbrios para um ponto, no futuro, em que vai ser inevitável atacá-los.

Para este ponto, pensei na relação do governo com as montadoras, mas talvez isso seja menos relevante e de fato estejamos numa situação de mudança estrutural nos preços da mão-de-obra, que deveria levar a uma revisão de planos de negócios, e, com o tempo, a demissões.

7. Falta de ambição com reformas

Talvez, contra a intuição, tempos de bonança não sejam favoráveis a reformas, que só são feitas com a corda no pescoço. De qualquer jeito, é desanimador ver um executivo com ampla base de apoio popular e no legislativo ousar tão pouco.

8. A estratégia do BNDES

cansei de falar disso aqui, mas ainda não entendi (ou não quero entender) o que leva o BNDES a investir tanto em empresas tão pouco promissoras e promover um modelo de empreendedor que toma poucos riscos, tem acesso a financiamento subsidiado e torna-se bilionário antes de suas empresas retornarem o investimento.

9. O "heroísmo" dos bancos públicos

Banco do Brasil e Caixa resolveram compensar a queda na disposição dos bancos privados emprestarem, seja porque os juros ficaram menos atrativas ou as taxas de inadimplência começaram a preocupar (ou uma combinação dos dois fatores). O Jorge Browne, nos comentários, disse que isso pode ser uma aposta numa mudança de paradigma que o setor privado não enxerga - que os ganhos na renda sustentaram uma alta no padrão de endividamento que beneficiará quem mais conceder crédito agora. Pode até ser verdade, só não acho que cabe aos bancos públicos tomarem esse risco (de novo, se der errado, todos os contribuintes pagam a conta, criando a situação em que o trouxa é quem não tomou crédito e teve que pagar pelos que tomaram de qualquer jeito).

10. Guido Mantega

Bem, no fim das contas, ele é groovy.


quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Frases do Dia - não existe amor em Copenhague

"...our language is one of the most ugly and limited around. You can't seduce anyone in Danish; it sounds like you are throwing up."

Sidse Babett Knudsen, a primeira-ministra Birgitte Nyborg da extraordinária série dinamarquesa Borgen, em entrevista para o Guardian. Está numa matéria da New Yorker sobre o sucesso recente da TV escandinava.

O problema dos fundos de pensão (e dos poupadores)

Em maio do ano passado, quando o governo mexeu nas regras de remuneração da poupança, escrevi um post sobre o que mudaria com a queda dos juros no Brasil - nenhum grande insight, só resultado de aritmética básica. Entre elas (já me perdoem a autocitação):

Minha maior preocupação é com os grandes fundos de pensão, que, até alguns meses atrás, conseguiam bater a meta atuarial (algo como inflação mais 6% ao ano) aplicando em NTN-Bs longas e correndo relativamente pouco risco. Os novos fluxos compram esses papéis a taxas de mercado perto de inflação mais 4,5% ao ano, o que vai fazer com que esses fundos sejam levados a tomar mais risco (comprando ações e títulos privados, investindo em fundos multimercado, imóveis, commodities e o que mais passar pela frente) ou reavaliem suas contas atuariais, provavelmente concluindo que o rombo é maior ou virá antes do que se esperava. Correr os riscos mencionados acima não é nenhuma garantia de que a diferença entre a meta atuarial e os retorno dos fundos será preenchida; dependendo da qualidade da gestão, justo o contrário.

Aconteceu que, no ano passado, a combinação de inflação relativamente alta e juros em queda contínua levou os fundos de pensão a terem, na marcação a mercado, um dos melhores anos de sua história, disfarçando o problema e adiando a discussão das soluções. Ontem o Valor publicou a seguinte tabela, que da boa ideia do choque de realidade que esses fundos terão que se aplicar em breve (clique para aumentar):




Atualmente, a NTN-B mais longa (vencimento: 2050) paga juros reais de 3,80%. Ainda que a inflação corrente esteja acima das premissas, se nada mudar, este ano começa a abrir um abismo entre as premissas e o mundo real. Para os gestores de fundos, duas soluções são evidentes:

1. Reconhecer o quanto antes a mudança de paradigma, capitalizar (ou comunicar os cotistas que a vida mudou, o que não funciona para os planos de benefício fixo - aí resta diluir as perdas ao longo do tempo) os fundos e refazer os cálculos para o futuro com premissas mais realistas, de retornos menores;

2. Abandonar gradualmente os títulos públicos em troca de mais risco - ações, hedge funds, crédito, private equity, etc. É o que fazem os fundos de pensão no mundo desenvolvido, com resultados pouco uniformes - isso deixará evidente quem são os bons gestores e a escassez de bons ativos no país.

Para o beneficiário, passa a ser muito relevante a escolha de um bom gestor, já que o cenário é mais difícil e a tentação para barbeiragens aumentou muito.Infelizmente muitas vezes essa escolha não existe, com o plano é atrelado ao pacote de benefícios do empregador, que tem uma equipe de gestão própria (pode, no máximo, terceirizar parte do trabalho). Cabe aí, então, acompanhamento e cobrança. O poupador brasileiro aprendeu, durante muito tempo, a se proteger de instabilidade da moeda e inflação alta; agora deve passar por uma nova readaptação. Não será fácil, nem indolor.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

O mundo de acordo com Paul McCulley

Paul McCulley era um dos mais influentes Fed watchers enquanto trabalhava na PIMCO, de onde se aposentou no final de 2010. Hoje dedica-se a pescar e escrever para o Global Interdependence Center, uma ONG sediada na Filadélfia criada para promover o livre comércio. Em seu último trabalho (em coautoria com Zoltan Pozsar), ele desenha o seguinte mapa da macroeconomia global:


McCulley é, declaradamente, seguidor de Keynes e Minsky. Aqui, dá um passo em direção às heterodoxias que apareceram nos últimos anos, como a Teoria Monetária Moderna, defendendo que a única solução possível (que evitará uma depressão) para os bancos centrais e governos do mundo desenvolvido é alimentar uma simbiose entre bancos centrais e tesouros, na direção do que ele chama de "helicopter money" (o quadro 6 do mapa). Vale a leitura para entender o tal mapa e notar quanto essas ideias radicais estão ganhando em influência.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Europa 2013

Entre o que aconteceu de surpreendente no ano passado, nada me espanta mais do que a Zona do Euro ter chegado a 2013 funcionando e com exatamente a mesma composição de um ano atrás. Dentro desse tema, cresce o espanto ao ver que as taxas de juros pagas pelos títulos dos governos que usam a moeda entraram novamente em convergência, diminuindo a diferença para os títulos da Alemanha.

De algum jeito, Mario Draghi, seus colegas tecnocratas e políticos conseguiram: conter uma corrida bancária que, em vários momentos, pareceu se iniciar na Grécia, Portugal e Espanha; evitar a eleição de partidos radicais, que poderiam tirar unilateralmente seus países do acordo monetário; administrar as divergências internas da comunidade e garantir linhas de salvamento para todos os países em crise mais aguda; e fomentar programas de austeridade mesmo em países com alto desemprego e grande pressão por mais gastos públicos. Não é pouca coisa, e só foi conseguido às custas de alguns pactos faustianos, de alto risco: aumento do "risco moral" do sistema (bancos não quebram mais, ponto final); potencial da austeridade gerar mais um longo período de desemprego alto e consequente radicalização política; enormes desequilíbrios entre os balanços de bancos centrais nacionais (o sistema TARGET2, mais neste paper do BIS) e distorção dos mecanismos de mercado para vários preços importantes (notadamente, o custo de financiamento público).

Para o futuro, creio, uma hipótese importante a ser testada (emprestada do Taleb) é se essa supressão de volatilidade implicará em rupturas mais profundas. Afinal, a vida da maioria da população e sua capacidade de consumir ou pagar dívidas não parece ter melhorado, e deve haver um ponto em que a insistência na austeridade, se não gerar resultados concretos para o emprego, passe a ajudar na plataforma de partidos de oposição mais radicais do que aqueles eleitos nas votações mais recentes. Assim, os maiores riscos tornaram-se ocultos, longe das telas de cotações de preços e sujeitos a dinâmicas pouco previsíveis e de grande impacto.

Por enquanto, sobra aos pessimistas o rótulo de Cassandra, já que as apostas vencedoras das quais se têm notícia foram na capacidade dos governos contornarem a crise e na reação que isso gerou nos mercados - como exemplo, basta dizer que ativos gregos forneceram grandes retornos no ano passado. Não há como ignorar, porém, a deterioração progressiva da representatividade de alguns governos e a tentativa de domar grandes sistemas complexos com medidas centralizadas. A história mostra algumas consequências desastrosas dessa combinação e, infelizmente, não vejo porque acreditar que desta vez será diferente. Porém, anos podem se passar sem que nada aconteça, o que inviabiliza boa parte das teses de investimento baseadas nessa ideia. Resta buscar opcionalidades e, sobretudo, evitar a tentação de eventuais ganhos de curto prazo em ativos sabidamente ruins.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Frases do Dia - Charles Dow

"There is always a disposition in people's minds to think the existing conditions will be permanent. When the market is down and dull, it is hard to make people believe that this is the prelude to a period of activity and advance. When the prices are up and the country is prosperous, it is always said that while preceding booms have not lasted, there are circumstances connected with this one, which make it unlike its predecessors and give assurance of permanency. The fact pertaining to all conditions is that they will change."

Charles Dow (1851-1902) aplicando Heráclito de Éfeso aos mercados, citado em The Evolution of Technical Analysis.


sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Sons da Sexta - David Bowie, Jimi Hendrix

A semana foi bastante boa para os saudosistas:

- David Bowie apareceu com uma música nova:



- Desenterraram algumas inéditas do Jimi Hendrix:

Algumas cartas históricas de hedge funds

Opiniões que envolvem dinheiro, diz a teoria, valem mais - daí eu achar preferível ler sobre mercados nas palavras de gestores de fundos do que de economistas e estrategistas de bancos e corretoras. As cartas aos investidores do passado são grandes documentos históricos e potenciais fontes de aprendizado: lá estão as decisões sob incerteza, os vieses, as desculpas, a sorte, o azar... Abaixo alguns exemplos que eu coletei ao longo dos últimos anos:

- 2000, perto do topo da bolha de tecnologia (a máxima do índice Nasdaq foi em 10 de março). Dois gestores lendários entregam os pontos, a poucos meses de se provarem corretos:

Em 30 de março, Julian Robertson, da Tiger Funds:


The current technology, Internet and telecom craze, fueled by the performance desires of investors, money managers and even financial buyers, is unwittingly creating a Ponzi pyramid destined for collapse. The tragedy is, however, that the only way to generate short-term performance in the current environment is to buy these stocks. That makes the process self-perpetuating until the pyramid eventually collapses under its own excess.
(...)
Consequently, after thorough consideration, I have decided to return all capital to our investors, effectively bringing down the curtain on the Tiger funds. We have already largely liquefied the portfolio and plan to return assets as outlined in the attached plan.


Em 28 de abril, George Soros:


We have come to realize that a large hedge fund like Quantum Fund is no longer the best way to manage money. Markets have become extremely unstable and historical measures of value at risk no longer apply. Quantum Fund is far too big and its activities too closely watched by the market to be able to operate successfully in this environment.

Ambas as cartas completas aqui.


- John Paulson, em fevereiro de 2008, quando o "greatest trade ever" acelerou os ganhos que fariam dele um multibilionário:


Given the current trends in the industry, we believe it is highly likely that the losses in RMBS will severely impair or extinguish the BBB and BBB- tranches we are short. Therefore, while the bonds declined significantly in February, subject to mark to market volatility, we think the bonds will move much lower in the upcoming months. If the subprime origination market ultimately shuts down, which recent events indicate it likely will, then these tranches may collapse as defaults will rise to unprecedented levels as subprime Adjustable Rate Mortgages reset at usurious interest rates (Libor plus 600 bps) with limited sources to refinance.


Carta completa aqui.

- Outubro de 2008, Andrew Lahde, outro que lucrou com o furo da bolha imobiliária nos EUA, encerra as atividades:


Recently, on the front page of Section C of the Wall Street Journal, a hedge fund manager who was also closing up shop (a $300 million fund), was quoted as saying, “What I have learned about the hedge fund business is that I hate it.” I could not agree more with that statement. I was in this game for the money.
(...)
I will no longer manage money for other people or institutions. I have enough of my own wealth to manage. Some people, who think they have arrived at a reasonable estimate of my net worth, might be surprised that I would call it quits with such a small war chest. That is fine; I am content with my rewards. Moreover, I will let others try to amass nine, ten or eleven figure net worths.Meanwhile, their lives suck. Appointments back to back, booked solid for the next three months, they look forward to their two week vacation in January during which they will likely be glued to their Blackberries or other such devices. What is the point? They will all be forgotten in fifty years anyway. Steve Balmer, Steven Cohen, and Larry Ellison will all be forgotten. I do not understand the legacy thing. Nearly everyone will be forgotten. Give up on leaving your mark. Throw the Blackberry away and enjoy life.
(...)
I now have time to repair my health, which was destroyed by the stress I layered onto myself over the past two years, as well as my entire life – where I had to compete for spaces in universities and graduate schools, jobs and
assets under management – with those who had all the advantages (rich parents) that I did not.
(...)
At a time when rhetoric is flying about becoming more self-sufficient in terms of energy, why is it illegal to grow this plant in this country? Ah, the female. The evil female plant – marijuana. It gets you high, it makes you laugh, it does not produce a hangover. Unlike alcohol, it does not result in bar fights or wifebeating. So, why is this innocuous plant illegal? Is it a gateway drug? No, that would be alcohol, which is so heavily advertised in this country. My only conclusion as to why it is illegal, is that Corporate America, which owns Congress, would rather sell you Paxil, Zoloft, Xanax and other additive drugs, than allow you to grow a plant in your home without some of the profits going into their coffers. This policy is ludicrous.
Carta completa aqui.


- Fevereiro de 2010, os mercados de metais básicos espirram e o Ebulio Commodity Fund pega ebola:

February 2010 was the worst month in the history of the Ebulio Commodity Fund and we regret to report a return of -86.25 pct for the month, which brings our total return for the year to -95.83 pct and to -89.63 pct since inception.
(...)
Ebulio Capital Management LLP is also strong and has, as a token of confidence in the future, waived its 2 pct management fee for 2010.

O gran finale é a citação do personagem de Jeff Bridges em Crazy Heart:

"You don't see it coming, until it's gone..."

Carta completa aqui.

- Agosto de 2010, Stanley Druckenmiller anuncia sua aposentadoria:


After much self reflection, I have decided to retire from managing client funds and I wanted to give you prompt notice of my intentions and explain the reasons for this. I have had to recognize that competing in the markets over such a long timeframe imposes heavy personal costs. While the joy of winning for clients is immense, for me the disappointment of each interim drawdown over the years has taken a cumulative toll that I cannot continue to sustain.

Carta completa aqui.

- Setembro de 2011, Bruce Kovner também se aposenta:


I write you this letter to announce that on December 31st of this year, I will retire as Chairman and CEO of Caxton Associates After 34 years in the trading business and  rnore than 28 years leading Caxton, the time has corne to hand the leadership of the  company to a new generation.

Carta completa aqui.

Agradeço a indicação de outras cartas históricas nos comentários.




quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Espanha e os 0,1%, aplicado ao futebol

Anteontem, na premiação da FIFA de melhores de 2012 no futebol, foi escolhida uma seleção mundial - os 11 jogadores mais votados por mais de 50.000 outros jogadores profissionais. Em teoria e descontados alguns vieses, são os melhores jogadores do mundo em suas respectivas posições - ou pelo menos é seguro afirmar que estão entre os três ou cinco primeiros em todos os casos. Chamou-me a atenção que todos, 100%, os 11, jogam em clubes espanhóis - cinco no Real Madrid, cinco no Barcelona e um no Atletico de Madrid.


A Espanha, como sabemos, terminou o ano passado com mais de 25% de desemprego - 56,5% para os jovens com menos de 25 anos. Passou mais da metade dos últimos quatro anos em recessão. Ainda assim, seus clubes têm dinheiro para pagar e manter os onze maiores futebolistas em atividade no mundo. Onde está o erro?

Dá pra falar de vários aspectos desse caso (quer dizer, daria se eu entendesse alguma coisa dos assuntos), todos fascinantes: a capacidade do futebol descolar do ambiente da sede dos clubes, tanto pela transcendência do esporte quanto pelo dinheiro globalizado aplicado nos times grandes; a atual fase do futebol espanhol (mais da metade dos eleitos) e a tendência desses jogadores preferirem jogar no país / clube de origem, mesmo com potenciais ofertas melhores; o efeito "winner takes all" que o atual esquema de receitas alimenta; a enganação que são os "dois melhores laterais do mundo" brasileiros, etc... Vou me concentrar em um que especialmente me incomoda: os subsídios cruzados que ajudam a sustentar o futebol.

Os times da liga espanhola, segundo estudo de um professor da Universidade de Barcelona (mais, muito mais no ótimo The Swiss Ramble) acumulam cerca de €3,5 bilhões em dívidas - Barcelona, Real Madrid e Atlético de Madrid, somados, correspondem a quase metade desse valor. Os clubes devem a bancos, outros clubes e ao fisco espanhol (€426 milhões para este). No mundo ideal, essas dívidas um dia seriam devidamente pagas. Clubes de futebol, porém, não estão entre os melhores pagadores, talvez porque não têm grandes incentivos para tal: como executar um grande clube? Decretar sua falência, liquidar e encerrar a história? Quem vai lidar com a pressão popular, ou dos torcedores poderosos (apenas o rei da Espanha, no caso do Real Madrid)? Para piorar, estamos numa conjuntura em que bancos não podem mais quebrar, e suas más decisões de crédito, emprestar a times de futebol entre elas, acabam sendo bancadas pelo contribuinte.

No fim das contas, todos os contribuintes acabam sustentando os clubes - o governo precisa arrecadar de outra maneira os impostos que deixa de cobrar, resgata os bancos que emprestaram aos clubes e, pelo exemplo brasileiro (deve haver muitos outros), resgata os próprios clubes, quando preciso. É um crowdfunding compulsório, tendo como fundo a ideia que clubes de futebol são, ao menos parcialmente, bens públicos. Podem até ser, mas isso deveria ficar mais claro para que os eleitores decidam se é legítimo manter essa casta de multimilionários às custas da população.

O caso específico da Espanha hoje parece particularmente imoral pelo descolamento entre a conjuntura do país e a riqueza da liga de futebol, mas não é o único. Nem é o futebol - o mundo está repleto de negócios que criam milionários indiretamente subsidiados por contribuintes. É ridículo políticos defenderem uma era de austeridade geral  enquanto esses casos não se tornarem explícitos, analisados e repensados.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Conferindo outra aposta do ano passado

Como sabemos, não é possível nadar em dinheiro real...
Em maio do ano passado, quando saiu a oferta inicial de ações do Facebook, propus uma troca virtual da empresa por ações da Danone e da 3M. Hoje a situação seria a seguinte:

Valor de mercado do Facebook: US$62 bilhões
Valor de mercado da 3M: US$66 bilhões
Valor de mercado da Danone: US$24 bilhões

Simplificando, ganhei uma Danone virtual e estou virtualmente bilionário. Troco essa condição por um bom almoço, sabendo que não vai aparecer ninguém para pagar. Segue a vida.

Alugueis em São Paulo e Rio

De ótima matéria no Valor de hoje:


O índice Fipe/Zap, elaborado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo em conjunto com o portal imobiliário Zap, mostra que o "yield", ou seja, o retorno mensal do aluguel em relação ao preço de mercado do imóvel, está no menor nível da série histórica do levantamento, iniciada em 2008. 

Abaixo, os retornos por região em São Paulo e no Rio (como referência, o CDI atual rende algo como 0,56% bruto ao mês - a média do ano passado foi maior - clique na imagem para aumentar).



Para quem coloca na conta do "bom negócio" que "imóvel nunca cai de preço, só sobe", olhe para os EUA dos últimos cinco anos, e boa sorte. Lembrando também que imóveis depreciam com o tempo, e a iliquidez / fricção na hora de comprar ou vender também deveria entrar na conta.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Previsões aleatórias para 2013

Pelo terceiro ano, vou me dedicar à arte de chutar o que acho que vai acontecer durante o ano. Cada vez menos tenho a pretensão de acertar, e acho a conjuntura particularmente ingrata para essa atividade - como exemplo, levemos em conta quantos bons economistas previam a saída da Grécia da zona do euro no ano passado, e os ativos do país terminaram o ano com grandes ganhos para quem apostou no "nada acontece" (e teve estômago para aguentar enquanto algo parecia estar acontecendo). 2012 foi dominado por governos e bancos centrais; por consequência, 2013 começa com esses agentes contando com grande confiança e respaldo. Acredito que governos e bancos centrais vão manipular preços e volatilidade enquanto conseguirem, e isso vai fazer com que o próximo choque na economia global seja muito violento, já que os desequilíbrios vão se acumulando em cenários extremos (aqui tomo emprestada a teoria do Nassim Taleb, claro): está tudo sob controle até alguém gritar que o rei está nu, e aí o que vai estar em jogo é muito mais do que variações de preços.

O problema de acreditar nesse tipo de cenário é que sua aplicação para a vida prática depende de um timing impossível de ser previsto - e, enquanto isso, a maldição de Cassandra se aplica aos pessimistas. Por ora, não vejo motivos para acreditar numa ruptura tão cedo, mas isso pode mudar muito, muito rápido. Como sempre, vale não se levar muito a sério e ser flexível.

Olhando para os mercados hoje, vejo certa euforia, preços caros (mas não absurdos) e tenho pouquíssima clareza de quais serão as tendências que vão valer para os próximos 12 meses. Assim, a maioria das minhas previsões são de natureza contrária / reversão à média, e muitas são apostas em assimetrias: perdas limitadas caso estejam erradas, grandes ganhos caso estejam certas. Vamos a elas:

- O Japão não vai conseguir escapar da deflação via política monetária mais agressiva. O movimento do mercado nos últimas semanas baseia-se na premissa de que a eleição de Shinzo Abe trouxe mudanças de paradigma, não acredito nisso. Dessa forma, a preços atuais, compraria iene (preço de referência contra o dólar: 87,88) e venderia o Nikkei contra o Dow Jones (10.600 / 13.435). Considerando a tendência atual, seria preferível fazer com opções fora do dinheiro, mas vamos simplificar...

- Ações brasileiras andarão melhor que ações mexicanas. Referências: Ibovespa 62.640 / IPC 44.562.

- Com muitos grãos de sal, para sair correndo no primeiro sinal de barbeiragem: Petrobras vai subir mais que o índice Bovespa (PETR4 hoje: 20,52, Ibovespa: 62.640).

- Ações de empresas de educação, estrelas do ano passado, vão andar menos que o Ibovespa (KROT3: 45,09, ESTC3: 39,63).

- Vão começar a ficar mais evidentes os problemas nos balanços dos bancos públicos. Venderia Banco do Brasil e compraria Itaú / Bradesco (BBAS3: 26,03, BBDC4: 37,50, ITUB4: 35,29).

- De novo, acho muito assimétrico comprar CDS do Brasil a 102 b.p.

- Também na linha da assimetria: os franceses que me perdoem, mas a dívida do país não pode pagar só 21 b.p. a mais do que a dívida americana. Vendo OATs, compro Treasuries (2.11% / 1.90%).

- Também parece assimétrico vender Treasuries de cinco anos a 0,81% - pode dobrar caso haja sinais de inflação ou de que o Fed está mesmo disposto a encerrar as compras de títulos antes do que se imaginava.

- Preços de imóveis nos EUA seguem subindo mais do que a inflação.

- Sigo gostando do dólar americano, sou comprador contra uma cesta de EUR, BRL, GBP, AUD, NZD, TRY, HUF, ZAR.

- No preço de agora, dá para comprar VXX (27,55) e acender uma vela para ganhar uns 20%.

- A bolsa da Alemanha não terá outro ano tão glorioso. Venderia DAX (7.740) contra S&P500 (1.466) e Ibovespa (62.640).

- Como regra de bolso, venda ouro e compre petróleo (WTI) toda vez que a razão dos preços for acima de 20.

- Também na teimosia, acho que acabou a liderança da Apple. Venderia contra o S&P500 (527 / 1.466).

- PIB do Brasil cresce mais do que o esperado (3,26% pelo último Focus). O corolário dessa previsão é que aguentaremos o Mantega por pelo menos mais uns 15 meses.

- Selic não sobe este ano.

- Seguirá a multiplicação e difusão de fundos de crédito no Brasil. É impressionante como copiamos, com anos de atraso, exatamente o que acontece no mundo desenvolvido.

- Angela Merkel se reelege na Alemanha (fácil, essa, aparentemente).

- Philip Roth ganha o Nobel de literatura (para compensar a barbada anterior).

- Um time brasileiro ganha a Libertadores (já sabem da torcida, mas vamos evitar a soberba).

- Paulinho da Viola finalmente lança um disco de músicas inéditas. O Brasil comemora.

- A célebre expressão "imagina na Copa" seguirá sendo usada ad nauseam, sobretudo a qualquer presepada que apareça na Copa das Confederações.

- Para os que fazem distinção entre "especulação" e "investimento": se eu recebesse alguns milhões hoje, gastaria 1/3 para comprar uma boa casa em Atlanta ou alguma outra cidade barata nos EUA; daria 1/3 para um gestor de hedge fund de confiança administrar e compraria o terço final em títulos de verdadeiros AAA (Noruega, Canadá, Austrália, Suíça...), usando um pedaço como margem para uma posição vendida em créditos ruins (tem aos montes, nem precisa procurar muito). Essa é uma carteira para muitos anos, porém - apropriada para ficar olhando para o mar sem muita preocupação.

É isso. Divirtam-se tirando sarro ao longo do ano do que não acontecer.

Frases do Dia - Eficiência

"An industrial system which uses forty per cent of the world's resources to supply less than six per cent of the world's population could be called efficient only if it obtained strikingly successful results in terms of human happiness, well-being, culture, peace, and harmony. I do not need to dwell on the fact that the American system fails to do this, or that there are not the slightest prospects that it could do so if only it achieved a higher rate of growth of production."

E.F. Schumacher, Small Is Beautiful, 1973. Citado no Economix, que terminei há pouco. Quanto a este: a primeira metade é excelente, uma introdução à história do pensamento econômico clara, acessível e honesta (o autor realmente leu os livros de que trata). Na segunda, ele assume que o pensamento econômico morreu com o Milton Friedman e começa a contar uma história econômica dos EUA do ponto de vista de luta de classes. Consegue alguns bons insights, mas não escapa do tom panfletário e às vezes descolado da realidade (ou do que é possível ser feito). No saldo, vale muito a leitura.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Som da Sexta - Howler

Parte da trilha sonora do verão (ignore que o vocalista tem, no máximo, 14 anos).

Gráfico do Dia - Salários na Indústria

Do ótimo guia para os mercados trimestral do J.P. Morgan Asset Management:


Restaria ao Brasil competir por qualidade, mas aí... aí fica mais difícil.

Leituras da Semana

- A Pershing Square, de Bill Ackman, aposta grande que a Herbalife é uma fraude histórica. Falando em pirâmides, relembre a incrível história da Albânia em 1996-97.

- Noah Smith sobre Shinzo Abe e as (não) mudanças no Japão.

- Um ótimo guia para os mercados globais neste trimestre.

- Como mudou a geografia da manufatura global nos últimos trinta anos.

- Um índice Big Mac para salários reais.

- Trickle-down economics sobrevive no Banco Mundial.

- 10 colapsos econômicos na história.

- A exploração de mão-de-obra sueca barata - na Noruega, onde mais?

- As "outrageous predictions" para 2013, do Saxo Bank.

- O melhor escrito sobre economia política global no ano passado.

- As 50 piores colunas (nos EUA) de 2012. Alguém precisa fazer uma versão brasileira.

- Uma lista para dominar todas as listas.

- The New Republic malhando Alain de Botton.

- The Economist sobre cartoons na internet.

- Michel Laub sobre viajar.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

100 Things to Watch in 2013

A tradicional lista de uma das maiores agências de publicidade do mundo:


Conferindo as previsões para 2012

Hora do leitor se divertir com a pretensão deste escriba ao imaginar há um ano o que aconteceria nos doze meses seguintes:


- Juros reais no Brasil vão seguir caindo. Investir em NTN-Bs seguirá sendo uma boa opção, o retorno deve superar o CDI por mais um ano.

Comecei com um mega acerto: para a alegria dos fundos multimercados, os juros caíram de forma praticamente ininterrupta durante 2010. Para os detentores de NTN-B, melhor ainda, já que a inflação seguiu relativamente alta. O rendimento anual da NTN-B 2022 caiu de 5,47% para 3,32%, e o índice IMA-B rendeu quase 27% no ano. 1 / 1.

- Juros das Treasuries americanas também cairão, fazendo novas mínimas históricas.

Fato: os juros de 10 anos americanos começaram o ano a 1,95%, terminaram a 1,80%, mas chegaram a 1,39% em julho, menor taxa desde sempre. 1 / 1.

- Juros de 10 anos dos Estados Unidos, Canadá, Inglaterra e Alemanha começam 2012 mais ou menos nos mesmos níveis (entre 1,9% e 2,0%). Acredito em algumas apostas de divergência, comprando EUA e Canadá e vendendo os outros dois.

A hipótese por trás dessa previsão é que o mercado de renda fixa ia começar a diferenciar ainda mais entre os créditos soberanos; aconteceu justo o contrário: spreads fecharam e os juros tiveram uma nova convergência. No caso da Europa, a decisão da Alemanha de, indiretamente, financiar a dívida da parte "ruim" do continente não só não piorou sua percepção de risco de crédito, mas muito dinheiro entrou no país em busca de segurança. Os juros de EUA, Canadá e Inglaterra terminaram 2012 mais ou menos no mesmo patamar (perto de 1,9%); a Alemanha furou de vez a previsão e encerrou o ano pagando 1,32%. 0 / 1.

- Política monetária segue frouxa no mundo todo. E tome QE3 nos EUA, QEn no Reino Unido, algo parecido na Europa...

Sim, bancos centrais seguiram muito ativos, e a política monetária seguiu bastante frouxa (mais em termos de juros baixos do que em crescimento de balanços - monetaristas vão preferir esta medida). A próxima alta de juros no mundo desenvolvido concorre no futuro distante com a volta do cometa Halley. 1 / 1.

- O real vai seguir se depreciando contra o dólar americano, assim como o rand sul-africano, a lira turca, o peso mexicano e o forint húngaro.

2012 passou longe de ser um ano de fortalecimento geral do dólar. O real e o rand de fato se depreciaram, mas as demais moedas que listei bateram com gosto na minha cara (lira turca +6%, peso mexicano +8,4%, forint +10%). 0,3 / 1.

- Reservas internacionais brasileiras não chegam aos US$ 400 bilhões. Chance não desprezível de começarem a cair. Comprar CDS do Brasil e México a um prêmio de 160 b.p. (50 b.p. mais baixo que o da França) parece uma boa aposta assimétrica.

De novo previsão baseada na ideia de dólar mais forte, ou um aperto na liquidez nesta moeda. Valeu para as reservas do Brasil (terminaram o ano perto de US$380 bilhões, mais ou menos estáveis desde maio), mas os prêmios de CDS seguiram o fechamento dos spreads de renda fixa. Brasil e México começam 2013 com prêmios próximos a 100 b.p. (do ponto de vista de assimetria, a aposta agora é ainda melhor). 0,4 / 1.

- Sigo comprando bancos americanos, vendendo bancos europeus (o short selling está banido na maioria dos mercados na Europa, mas há como montar proxies disso).

A estratégia teria sido muito ganhadora se fosse revertida por volta do meio do ano. Desde então, o pacote de bondades de Mario Draghi e companhia provocou uma forte recuperação nas ações dos bancos europeus. Os índices que representam esses mercados tiveram desempenhos muito parecidos: o S&P500 Financials Index (EUA) subiu 26%; o Stoxx 600 Banks subiu 23,5%. 0,5 / 1.

- Se o crescimento da China ameaçar ir abaixo do esperado, o banco central voltará a desvalorizar o yuan. Acho o payoff dessa aposta muito bom, mesmo num cenário de crescimento inalterado, já que a maioria do mundo acha que o yuan só deveria se valorizar. Outra aposta muito boa em moedas é comprar coroa dinamarquesa contra euro, favorita do Cerebelo Econômico.

É, a maioria do mundo teve razão, e o yuan valorizou 1% contra o dólar durante 2012 (pelo menos confirmou a assimetria da aposta). O peg euro / coroa dinamarquesa seguiu inabalado. 0,2 / 1.

- Preços de imóveis nos EUA já fizeram a mínima; o índice Case-Shiller deve voltar a subir. Em São Paulo e no Rio, creio que estamos perto de uma inflexão. No melhor dos casos, acredito em altas até 10%, e o custo de oportunidade começaria a pesar.

A última leitura do Case-Shiller é do final de outubro; se vale a tendência, de fato, o índice fez uma mínima no final de 2011 e passou a subir. A alta até então era de 5%. Por aqui, o FIPE ZAP subia 13% nos doze meses até o final de novembro - nada perto da exuberância dos últimos anos, mas longe de causar alguma preocupação para os compradores. 0,5 / 1.

- Ações para vender: LinkedIn, Zynga, Groupon, Facebook (depois do IPO). No geral, negócios que dependem de muita fé em crescimento de fluxos de caixa futuros não irão bem (Grupo X?). Vou seguir apostando contra a Apple porque errei no ano passado (péssimo motivo, mas aqui passa).

Nas ações americanas LinkedIn bateu na minha cara (+75%), acertei em cheio as demais (Zynga -75%, Groupon -75%, Facebook caiu 33% do IPO até o final do ano). O ano de fato foi péssimo para os sócios do Eike Batista (OGX -65%, MMX -36%, LLX -25%, OSX -11%), assim como era o motivo para apostar contra a Apple (+33% - ainda que tenha valido a regra de bolso que diz que empresas ainda não conseguiram passar muito tempo com valor de mercado acima de US$500 bilhões). 0,7 / 1.

- Agências de classificação de risco vão continuar o mergulho na direção da irrelevância. Venderia ações da Moody's, por princípio. Possivelmente sofrerão ameaças ou represálias dos governos que tiverem suas notas rebaixadas.

Talvez tenha acertado o princípio (os mercados de dívida soberana pouco reagiram a vários rebaixamentos, sobretudo na Europa), mas o acionista da Moody's teve um grande ano (+47%), provavelmente pela forte atividade de novos emissores. 0,3 / 1.

- Será bom comprar ações no Brasil, mas num preço pelo menos 10% mais baixo do que estão começando o ano. Ainda assim, melhor fazer o mínimo de stock picking do que comprar o índice, temo muito pela combinação de commodities + empresas picaretas que o compõe hoje. Para pegar um caso, bancos grandes devem ir melhor do que o índice. Empresas "parceiras" do BNDES, pior.

10% de queda no Ibovespa coincide (foi sorte, mesmo, não tinha pensado nesses termos) com o melhor suporte para o índice no ano, ao redor dos 52.000 pontos. E de fato o stock picking evitando commodities e picaretas funcionou muito bem, vide o bom desempenho de muitos fundos ativos ou long-short. Houve alguma dispersão entre os bancos grandes (BB e Bradesco melhores, Itaú e Santander piores), e as empresas X e os frigoríficos (pra ficar nos casos mais evidentes) de fato foram pior do que o índice. 0,8 / 1.

- Não gosto de Vale, vai ser dos shorts mais líquidos disponíveis no mercado quando o mundo se der conta de que a China pode, surpresa, não crescer perto de 10% ano após ano.

Vale chegou a cair mais de 20% no ano, teve uma grande recuperação e terminou mais ou menos no 0 x 0. O susto com o minério de ferro passou relativamente rápido, mas foi uma oportunidade para quem soube realizar lucros. 0,4 / 1.

- Bancos médios vão seguir indo mal no Brasil. O modelo de negócios da maioria deles (captar caro no exterior e emprestar ainda mais caro aqui) parece estar se esgotando. O FGC deve ter trabalho.

BVA, Cruzeiro do Sul... as fraudes começaram a aparecer, mas o mercado diferenciou bem o setor, e os demais listados (Indusval, Pine, ABC) tiveram um bom ano. 0,5 / 1.

- Não tenho grandes convicções em commodities, mas se fosse pra comprar algo, seria petróleo.Agrícolas têm cara de que ainda podem cair muito.

Petróleo passou bem pouco tempo acima de onde começou o ano ($103 para o barril de WTI), teria sido péssimo investimento. O índice de agrícolas (DBA) caiu um pouco durante o ano (3%), com grande diferenciação (trigo, soja e milho subiram; açúcar, algodão e café caíram bastante). 0,1 / 1.

- Creio que hedge funds terão outro ano para ser esquecido, com mercados de ações sem tendência e intervenções cada vez maiores dos governos.

De fato, o ano foi muito difícil para hedge funds, que muito provavelmente (dados demoram para serem consolidados) tiveram desempenho pior do que a maioria das estratégias passivas. Ações ficaram mesmo sem tendência durante grande parte do ano, e as intervenções tiveram gatilhos e consequências muito difíceis de serem previstas. 1 / 1.

- Ainda há alguma intenção de concluir a Rodada de Doha, da OMC? Se há, vai falhar.

Não houve, aparentemente o mundo tinha coisas mais importantes para se preocupar. 0 / 0.

- São Paulo vai eleger um prefeito de ruim a muito ruim.

Considerando que estivemos perto de eleger o Rousseau Mano, acho que saímos no lucro. 0,5 / 1.

- Metade das participantes do Big Brother farão capas da Playboy e/ou Sexy.

Não contei, mas essa previsão é quase como dizer que o sol vai nascer amanhã: um dia vai falhar, mas demora... 1 / 1.

- Meryl Streep será, de novo, indicada para um Oscar (dããã).

Não só foi indicada, ganhou o terceiro como a Margaret Thatcher do fraquinho A Dama de Ferro. 1 / 1.

- O Corinthians finalmente vence a Libertadores (PAREM DE RIR!). Lusa se segura na série A.

Preciso recorrer aos grandes irmãos Gershwin para celebrar o maior acerto da história deste blog:


They all laughed at Christopher Columbus 
When he said the world was round 
They all laughed when Edison recorded sound 
They all laughed at Wilbur and his brother 
When they said that man could fly 

They told Marconi 
Wireless was a phony 
It's the same old cry 

(...)


For ho, ho, ho! 
Who's got the last laugh? 
Hee, hee, hee! 
Let's at the past laugh 
Ha, ha, ha! 
Who's got the last laugh now?

E a Lusa bem que tentou cair, mas se segurou entre os grandes. 1,2 / 1.



- Usain Bolt perde os 100m rasos, mas leva os 200m em Londres. Brasil fará novo fiasco, no futebol masculino e no geral.

Bolt foi a Apple dos esportes, impossível apostar contra. Quanto ao Brasil:


0,7 / 1.

- Os filmes argentinos continuarão (muito) melhores que os brasileiros.

Na minha lista de melhores do ano entraram um argentino e um brasileiro, mas não foi um ano em que acompanhei de perto a produção de ambos (leitores, alguma opinião?). Grandes expectativas para O Som ao Redor, que estreia em SP amanhã. 0,5 / 1.

- O megahit Ai Se Eu Te Pego será regravado em Espanhol, Italiano, Romeno, Swahili, Esperanto e Cantonês.

Devem ter gravado até em klingon e algumas das línguas do Tolkien. Algumas amostras aqui. 0,8 / 1.

- O mundo não vai acabar em 21 de Dezembro. Lá pra Novembro eu publico a nova data.

Esqueci de publicar a nova data, mas, aparentemente, sobrevivemos. 1 / 1.

- Vou errar mais previsões do que no ano passado.

Somando meus pontos (se corretamente atribuídos, cornetem nos comentários):

Previsões "sérias" (economia, mercados e afins): 8,5 / 16 = 53%
Previsões aleatórias: 6,9 / 8 = 86%
Total: 15,4 / 24 = 64%

Acertei mais do que ano passado, o que faz esta metaprevisão contar como erro e joga meu desempenho para 62%, um pouco melhor do que um chimpanzé jogando cara ou coroa (pior ainda considerando que o que puxou a média pra cima foram as previsões não relacionadas à economia - aceito ofertas de emprego para comentar entretenimento e esportes).

Numa nota um pouco mais séria: a cada ano que passo trabalhando com gestão de dinheiro, aumenta minha convicção de que acertar previsões tem importância secundária para essa atividade (sorte, flexibilidade, gestão de risco e margem de segurança são muito mais relevantes). Hoje trato-as como hipóteses: boas até serem contrariadas pelos mercados, tendo que ser trocadas ou modificadas a partir daí (como diz um antigo chefe, somos pagos para ganhar dinheiro para os clientes, não para nos provarmos certos). Tendo partido de economista de formação quase totalmente ortodoxa e cheio de convicções, esse tem sido um processo difícil de deseducação, mas que tem facilitado enormemente minha vida. Talvez sirva de conselho para quem quer seguir o mesmo caminho.


Em alguns dias coloco aqui meus chutes para este ano, ainda preciso gastar mais um tempo pensando.

Sinto, mas...

... tive que voltar com o captcha nos comentários, excluir os spams começou de novo a me tomar muito tempo.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Grécia e crises do passado

Michael Cembalest, do J.P. Morgan, comparou a atual crise da Grécia com outras tragédias econômicas de após a II Guerra (tabela tirada do Outlook 2013 dele, cuja leitura recomendo):