Está na capa da Folha de hoje (e o Mansueto já havia adiantado ontem): o TCU estima que os custos do subsídio do Tesouro Nacional (ou seja, todos os brasileiros) para o BNDES nos últimos três anos atingiram R$ 28 bilhões. Nas contas do Mansueto, foram quase R$ 23 bilhões somente no ano passado.
Comparemos esse número com alguns orçamentos anuais de ministérios: Ciência, Tecnologia e Inovação: R$ 8 bilhões. Transportes: R$ 20 bilhões. Cultura: R$ 2 bilhões. Temos aí uma boa medida das prioridades do nosso "modelo de desenvolvimento". Claro que uma coisa não necessariamente exclui a outra: é possível (talvez até desejável) ter um banco de fomento e, ao mesmo tempo, investir em capital humano de longo prazo e infraestrutura. O erro, ao meu ver, está nas proporções e no direcionamento desse fomento. O triste fato de hoje é que gastamos mais criando "supercampeões" de abate bovino (e aí façam a conta do multiplicador desse tipo de investimentos, ou das externalidades positivas que gera) do que centros de pesquisa, para pegar um exemplo evidente. O fato de ser possível usar o argumento "mas só via BNDES é possível praticar algo de política fiscal anticíclica ou fazer investimentos de longo prazo, sem ele seria pior" é uma medida dos desafios estruturais e institucionais que o país precisa enfrentar para abandonar o padrão de voos de galinha e capitalismo de laços.
sexta-feira, 8 de junho de 2012
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9 comentários:
Creio que essa comparação seja inadequada. Você compara os dispêndios do orçamento com os aportes junto ao BNDES.
Ou seja, acho que compara recursos a "fundo perdido" com crédito.
Não - os dispêndios foram muito maiores. O apontado como custo é só a diferença do custo de captação do Tesouro para os juros concedidos pelo BNDES. Leia o texto do Mansueto.
Como chamar os empréstimos de medidas contra-cíclicas ? São empréstimos de longo prazo da 20 a 30 anos!
Nos EUA a General Motors recebeu do Governo Federal empréstimos de 1 ano p/ enfrentar a crise.
Meio de feriado, sem tempo mas não posso deixar de comentar: qual o problema? Acho que a questão é menos o valor e sim para onde foram os subsídios. Isso não aparece no texto do Mansueto.
Quanto foi o custo para os "supercampeões", que são plenamente discutíveis, e quanto para o PSI por exemplo? O BNDES tem montes de linhas de crédito para novas empresas, energia, inovação, aquisição de bens de capital nacionais, etc.
Acho que o debate está aí, na qualidade do subsídio, não em seu montante.
O BNDES ainda não tem o relatório de prestação de contas do ano passado no site, mas sem dúvida vai ser interessante olhar.
O montante do BNDES não é o problema, problemático é olhar isso com relação ao que se gasta com outras coisas.
Vais ser tremendamente interessante.
Concordo contigo que é bom comparar, mas aí dá para acrescentar outras coisas também: gastos com juros (R$234,3 bilhões), déficit RPPS - previdência servidores públicos (~R$ 54 bilhões) entre outros...
Em suma, não creio que o montante de R$ 28 bilhões, mesmo em relação a outros gastos, seja exagerado. Pendente claro da avaliação da "qualidade" do subsídio.
Eu já escrevi várias vezes em outras ocasiões sobre a alocação desses empréstimos que acho equivocada.
O governo deve subsidiar atividades que tenham alguma externalidade positiva como é o caso de inovação ou atividades de elevado retorno social.
O que o BNDES tem feito é subsidiar grandes empresas em setores que já temos vantagem comparativas.
Por exemplo, por que o BNDES precisa emprestar tanto para a Petrobras, VALE, JBS/Friboi? Essas empresas atuam em setores que somos competitivos.
É bom lembrar também que o BNDES tem uma autonomia financeira (capacidade de empréstimo anual sem empréstimos do Tesouro) perto de R$ 100 bilhões ao ano pelos cálculos do Fábio Giambiagi.
E O banco já é muito grande - maior do que o BID e o Banco Mundial junto.
Assim é preciso ser muito mais seletivo e questionar se de fato o BNDES precisar de um volume tão grande de recursos.
Eu acho que já fomos muito além do que devíamos com essas operações.
É o velho patrimonialismo em ação, mascarado de política industrial. O ideal para o governo petista era fazer via Brasília mesmo. Mas como isso pegaria muito mal, eles fazem a política de compadres via BNDES. R$ 28 bilhões é só de subsídio! Uma avaliação completa exigiria analisar cada projeto de investimento apontando os custos e benefícios sociais... Antes que alguém me critique, o que estou fazendo é análise de Economia Política.
Tem razão, qualquer análise só citando os números é no mínimo incompleta. Mas alguém ainda vai fazer a crítica qualitativa, não é difícil.
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