segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Gráficos do Dia - Os juros e os juros no Brasil

Do texto do prof. Affonso Celso Pastore no Estado de ontem, que explica porque a taxa de juros que o governo efetivamente paga no financiamento da dívida se descolou tanto da Selic - o que mata o argumento que diz que há mais espaço para gastos do governo, uma vez que o BC cortou os juros. Aí está o custo de todo crédito subsidiado dado pelos bancos públicos, rateado entre todos os contribuintes, que, no fim das contas, são os que pagam pela dívida pública.


P.S. A cara de digitalização de jornal amassado do gráfico é porque ele foi mesmo digitalizado de um jornal amassado, e minhas habilidades de tratamento de imagens não podem nem ser qualificadas como habilidades.

36 comentários:

Osmar Camilo disse...

Você tem o artigo que o Pastore menciona no texto?

Jorge Browne disse...

Bom, espaço tinha, ele que foi usado nos subsídios e nas reservas. Particularmente prefiro que os $$ que me cabem nesse latifúndio sejam destinados para isso do que para os rendimentos do 0,1%.

Drunkeynesian disse...

Link pro artigo: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,a-selic-e-os-superavits-primarios-,958714,0.htm

Nilton disse...

Mesmo eu que sou somente entusiasta dos assuntos econômicos entendi perfeitamente o artigo do prof Pastore, fica minha pergunta: Alguém já contou isto para o sr. Mantega ?

Drunkeynesian disse...

O Mantega que criou a política... acho que na visão do governo, o que está sendo feito é o correto.

Anônimo disse...

Se as escolhas de alocação feitas pelos bancos públicos são corretas e eficientes, a política está correta mesmo. O difícil é acreditar que não há favorecimento ou influência de lobbies poderosos. Acaba indo para o 1%, ou mesmo para o 0,0001% dos grandíssimos empresários

iconoclastas disse...


puta gestão!

reduz marginalmente o custo do passivo, aumenta significativamente a vulnerabilidade do ativo (bem, de repente parte velada da estratégia é tornar o estado acionista de Marfrigs, JBSs e etc) e, de quebra, solapa o regime de metas de inflação.

;^/

Jorge Browne disse...

"Acaba indo para o 1%, ou mesmo para o 0,0001% dos grandíssimos empresários"

Tenho visto bastante gente batendo nesta tecla, mas ainda não ví os números. Alguns eu peguei para outro debate e não corroboram.

Essa eu não esqueço, em 2006 o Sicsú calculou que 20 mil famílias ficaram com 80% dos juros pagos pela dívida pública. Aí sim é 0,0001%.

Mesmo desconsiderando isso. Carregamento de reservas (câmbio elevado) e empréstimos subsidiados (para muitas empresas/setores, não apenas aos "eleitos") são custos com benefícios muitíssimo mais generalizados. Boa troca creio eu.

iconoclastas disse...


Essa eu não esqueço, em 2006 o "Sicsú calculou que 20 mil famílias ficaram com 80% dos juros pagos pela dívida pública. Aí sim é 0,0001%."

Ah, bom! Se o Sicsú falou...



"Boa troca creio eu."

É mesmo questão de crença.

Jorge Browne disse...

Pô iconoclastas, apelar para o argumento da autoridade (ao contrário)não vale...

Preferias antes?

iconoclastas disse...


"Pô iconoclastas, apelar para o argumento da autoridade (ao contrário)não vale..."

tanto quanto a citação...

"Preferias antes?"

antes do quê?

da Selic menor? ou do BNDES maior?

na verdade menos BNDES, CEF e etc. colaborariam para juros de equilíbrio menores.

agora, esse uso intensivo de BNDES e etc. não é novidade por aqui, e esperar, desta vez, um resultado diferente, é exercício de pura fé. ou será que agora há alguma evidência que meu limitado intelecto me impede de enxergar?


;^/

Jorge Browne disse...

Sicsú vale. Não vale. Vale! Não vale! Melhor deixarmos assim...

A questão central aqui é alocativa. O subsídio poderia ser via bancos privados que o ponto continua o mesmo. Troca-se um gasto altamente concentrador e não-produtivo por outro que beneficia produção e renda.

Quanto ao BNDES e outros, nossas atuais Genis, a hipótese da "segmentação do mercado de crédito" como uma das causas dos nossos juros altos permanece em aberto.

iconoclastas disse...


"A questão central aqui é alocativa. O subsídio poderia ser via bancos privados que o ponto continua o mesmo. Troca-se um gasto altamente concentrador e não-produtivo por outro que beneficia produção e renda. "

ok, por outro altamente concentrador (e paralelo a não menos concentradora inflação) que, inclusive, permite que empresas obtenham ganhos de FLOW (enquanto não desenbolsa os "investimentos" a grana fica numa compromissada...) em cima do pagador de impostos(!!! é bizarro, mas real). e, insisto, não é original, sendo o record pouco saudoso.

e ainda, por que tem que ser troca? por que a redução da Selic tem que ser concomitante ao aumento dos repasses aos bancos públicos?

;^/


Anônimo disse...

Pagamento de juros vai para o bolso de 20mil famílias, então vamos turbinar bancos públicos, ressurgir o Banespa, subsidiar alguma empresas e fazer um trem-bala ligando Brasília a Caracas... Que lógica cristalina!
BNDES pode ser um bom alocador ou não (cada vez pior em minha opinião), pode ter tido um papel importante no passado recente (o que eu acredito), mas é um de vários entraves para que os juros caiam mais, para alegria dos 20 mil aproveitadores. Esses 20mil sangue- sugas serão importantes para o Brasil sem poupança?

Jorge Browne disse...

"ok, por outro altamente concentrador". Discordo. Nesse caso seria necessário mostrar qual a destinação dos empréstimos do Banco com detalhes sórdidos.

Ainda não vi nada à respeito, mas em 2011 foram R$ 42,5 bilhões para o PSI e R$ 49,8 bilhões para micro, pequenas e médias empresas (especialmente não "altamente concentrador").

Por enquanto todas as discussões que tenho acompanhado parecem tosquia de porco: muito grito e pouca lã.

"por que tem que ser troca?"

para algum lugar o dinheiro tinha que ir (se depender do Pastore sempre para o superávit primário hehe...). Escolheram esse.

iconoclastas disse...



"(especialmente não "altamente concentrador")."

ha...se mantiver o interesse dá uma checada no site do BNDES e vê como de fato fica essa distribuição. quase nada concentrada...


"Escolheram esse."

hummm...

;^/

Jorge Browne disse...

Vou olhar, vamos ver se botamos um pouco de lã nessa tosa.

Anônimo disse...

Liga não... o pessoal tá meio nervoso pq queria se aposentar jovem e tá vendo que vai ter que trabalhar uns aninhos a mais

Anônimo disse...

Perfeita ilustração da frase do saudoso Bob Fields, de que a estatística é a arte de torturar os numeros até que eles confessem o que você desaja deles.

As reservas (e consequentemente a taxa de juros implicita) só cresceram devido ao absurdo diferencial da SELIC frente aos juros internacionais, favorecendo as operações de arbitragem.

Com a redução desse diferencial, as reservas deixarão de crescer e portanto de pressionar a taxa de juros implícita.

E o cambio pode ser defendido via controle de capitais de curto prazo, não precisa voltar a acumular reservas.

Anônimo disse...

Outro "detalhe" que escapou ao Pastore: o crédito subsidiado dado pelos bancos públicos oferece um retorno de 20% a.a. sobre o capital que o governo coloca nesses bancos (BB e CEF), portanto contribui para a redução da dívida, e não para seu crescimento.

Dionísio disse...

Vejo que há uma semente de bom debate sobre o papel do BNDES aqui. Drunkeynesian podia expandir a temática no blog.

Além do que foi dito, há de se lembrar que o BNDES tem um nível de inadimplência quase 0, tem um inegável corpo técnico de qualidade. A ideia de criar campeões nacionais realmente é polêmica, mas quanto do crédito direcionado realmente vai para esses casos?

Por último, a Jennifer Hermann da UFRJ escreveu um bom artigo sobre a função de bancos públicos a partir de vários enfoques teóricos. Adotando a neo ou pos-keynesiana, chega-se a conclusão de que as imperfeições em mercados de crédito e a incerteza intrínseca no funcionamento de um mercado com escalas de tempo tão descasadas demanda uma correção do setor público. Bem relevante! http://www.scielo.br/pdf/rep/v31n3/05.pdf

"O" Anonimo disse...

Sempre vale a pena lembrar que a estratégia do governo brasileiro, que consiste em usar recursos fiscais para subsidiar os amigos do Rei e as microempresas do Jorge Browne é altamente bem sucedida gerando crescimento sem rival no universo dos países emergentes.

Drunkeynesian disse...

Eu aposto um bom vinho que esse suposto retorno sobre capital de 20% nos bancos públicos não se sustenta nos próximos 5 anos.

Quanto a inadimplência zero do BNDES... também ainda é cedo. E eu imagino que, infelizmente, o corpo técnico tem bem pouco a ver com as grandes decisões de crédito do banco.

Anônimo disse...

Bancos europeus e norte americanos também deveriam dar um excelente retorno nos idos de 2004 a 2006. Empréstimos para a Grécia, para aquisição de imóveis na Espanha e nos EUA, tudo isso já foi um bom negócio. O problema é quando a economia muda a fase do ciclo.

Defender a política creditícia dos bancos públicos a partir do ponto de vista de gestão bancária parece-me uma aposta bem otimista.

Abraços a todos

Jorge Browne disse...

Bom, andei olhando por aí e concluo é que as críticas ao BNDES são incipientes, sem apresentar evidências da tragédia anunciada. Ou, alternativamente, conceituais, não há que existir tal insitituição e ponto.

Enfim, enquanto não aparecer uma ovelha sugiro que deixem o pobre do porco em paz...

Anônimo disse...

A maior parte do ativo não rende tjlp? como pode ser 20%? Inadimplência zero? você compra debt, qunado o tomador fica quase morto, transforma em equity da semi-finada empresa. Empurrando coma barriga...
O BNDES seria o banco mais rentável do mundo: toma dos trabalhadores e empresta para o governo, trade sem risco, com uma alvancagem de 5X iria ser o modelo para o goldman.

Anônimo disse...

"o pessoal tá meio nervoso pq queria se aposentar jovem e tá vendo que vai ter que trabalhar uns aninhos a mais"
O pessoal que não trabalha para o governo está refazendo as contas mesmo. Os agarrados na teta estão tranquilos e reclamam dos 20 mil...
Maradona

iconoclastas disse...


"Além do que foi dito, há de se lembrar que o BNDES tem um nível de inadimplência quase 0..."

isso faz todo o sentido quando calote se transforma em participação quase autmática...depois checa se o banco vai recebendo dividendos...


"Bom, andei olhando por aí e concluo é que as críticas ao BNDES são incipientes..."

incipientes não são, são antigas, muito antigas, inclusive do uso que fizeram do banco nos anos 70 e 80. ou seja, evidências quanto ao impacto não faltam.

voltaram com carga maior depois dos repasses vultosos de 2009 para cá, mas poderiam até ser incipientes, se baseadas em números, como ocorre. O Pastore é um, o Mansueto é outro... podem não te agradar, mas evidências são.

Jorge Browne disse...

Icon, tens as referências das críticas do Pastore e Mansueto?

Anônimo disse...

Data venia caro Jorge Browne, mas depois de emprestar centenas de bilhões de reais, cabe ao BNDES mostrar os resultados obtidos.

Aqueles que são contrários à estratégia já demonstraram que os custos são enormes.

Não opino muito porque não tenho conhecimento suficiente. Mas o caso dos frigoríficos foi um exemplo triste.

Além disso, tenho medo de que a adoção de uma forte política creditícia aumente o poder político do governo federal (o obscuro, aquele que a gente não vê). Acho que ele pode deturpar o jogo democrático.

Abraço,

Rafael

Jorge Browne disse...

Rafael, o meu ponto é justamente esse! O BNDES mostra. Olhando os demonstrativos vê-se que os desembolsos parecem mais desconcetrados do que se pensa, a inadimplência é baixa e o lucro existe.

A turma aqui levantou boas questões sobre a inadimplência por exemplo. Mas o risco das operações, sua concentração em poucos "vencedores" e tais ainda está por ser demonstrado.

P.S.: assumi o papel de célula norte-coreana do blog, e chata ainda por cima. Sobre esse assunto só me manifestarei em cima de evidências, para alívio dos companheiros de debate.

Anônimo disse...

A questão da inadimplencia é um ponto a ser melhor estudado. Como é uma fração se aumentar o numerador em função do aumento do volume de empréstimos a inadimplência diminui.

Quanto aos recursos repassados pelo BNDES aos agentes financeiros, êles tem data para devolução, independente de ter ocorrido inadimplência ou não. Mas a inadimplência existiu.

Anônimo disse...

Drunkeynesian, antes de mais nada parabéns pelo belo blog, só agora conheci.

Não é suposto retorno de 20% é retorno real, balanços do primero semestre. Também aposto, e torço, para que não se sustentem, para que convirjam para a média internacional de 10%, seria um sinal de avanço civilizatório da nossa economia.

Agora o que não dá é para aceitar essa metodologia do Pastore. O cara mistura reservas, que dão retorno negativo de 8%, com investimentos em bancos públicos , que além de darem retorno positivo de 12% ainda aumentam a renda, geram emprego, elevam a arrecadação, reduzem o custo de capital para as empresas...

Por outro lado, qual o efeito multiplicador de acumular reservas? Óbvio que o vilão dessa taxa de juros implícita são as reservas, não há vodoo estatístico que consiga esconder isso.

Abraços!

Anônimo disse...

Misturar as reservas realmente configura desonestidade intelectual

Drunkeynesian disse...

Eu sei que é "real" (= reportado em balanço), só aprendi ao longo do tempo a confiar menos em balanço de banco do que no flanelinha que olha meu carro na rua e diz "tá comigo, tá com Deus".

O Pastore cita um dado que o próprio governo produz, podem olhar em qualquer relatório da dívida no site do BC ou do Tesouro. As reservas têm custo - se é válido pagar por ele é outra história. Além disso, este ano as reservas não cresceram muito, a Selic caiu bastante e o juro implícito não acompanhou, isso é efeito direto do aumento do balanço dos bancos públicos.

A discussão do nível de reservas "adequado" é enorme; a minha impressão é que em algum momento o acúmulo de reservas deixou de ser política de estabilização e passou a ser instrumento de controle do câmbio - o que, na visão do governo, também tem um benefício.

Anônimo disse...

"Misturar as reservas realmente configura desonestidade intelectual"
Por que?
Maradona