quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Gasolina Brasilis

Entendo bem pouco de energia e do que se passa entre a Petrobras e o governo, portanto interpretem isso mais como um pensamento alto do que uma análise. A preços atuais, consta que a Petrobras está na curiosa situação de que quanto mais vende combustível, mais perde dinheiro. Se vale isso, vale também dizer que os acionistas da Petrobras (o tesouro nacional entre eles, claro) subsidiam quem consome combustíveis - mais um exemplo bem acabado das tantas taxações regressivas do país.

Fora essa consideração: ao longo do tempo, transformar a Petrobras em uma empresa cronicamente perdedora é um tiro no pé. Os acionistas privados, que dividem com governo os riscos do negócio, tendem a abandonar o investimento; a empresa tem um longo cronograma de investimentos dos quais, aparentemente, já é tarde demais para desistir; e há muita dívida para pagar, que depende de uma taxa de retorno do investimento maior que os juros contratados. No fim das contas, se der besteira, quem sobra para tapar os buracos na empresa é o próprio governo.

*Acumulado em 12 meses

A explicação preferida para essa insistência em manter defasado o preço dos combustíveis é o impacto na inflação. Assumindo que isso seja verdade, e considerando que: i) a meta que de inflação que o BC observa é no ano-calendário; ii) faltam 47 dias para acabar este ano, e, nesse período, é muito pouco provável que a inflação estoure o teto da meta, iii) quanto mais esse aumento demorar, mais ficam os efeitos para serem sentidos na inflação do ano que vem; por que raios o governo não autoriza logo o aumento nos preços?

Algumas possíveis teorias:

- Conspiratória - diz um passarinho verde que há um esforço do executivo para controlar a corrupção nas estatais, uma versão tropicalizada do "starve the beast". Essa hipótese apareceu primeiro aplicada a Eletrobras, mas talvez valha também para a Petrobras. Há que ter cuidado, porém, para não matar a besta;

- Especulativa - na onda atual dos governos acharem que sabem tudo e conseguem controlar muitas variáveis, alguém com poder acha que o preço do petróleo vai seguir caindo (o WTI veio de US$100 no meio de setembro para atuais US$85). Assim, a Petrobras completaria o arquétipo de empresa de petróleo do mundo bizarro, que torce para que o produto que extrai caia de preço.

- Tranquilista - tá tudo bem, o aumento vem em breve, a inflação está sob controle e não teremos problemas.

- Idiotista - como diria o meu pai, "esses caras são todos uns imbecis e não têm a menor ideia do que estão fazendo".

Escolha (ou crie) a sua.

41 comentários:

Jorge Browne disse...

A lua de mel dos investidores com o PreSal e a Petrobras acabou. Redescobriram que "a empresa não pode, como muitos de seus concorrentes mundiais, transferir para os resultados a alta dos preços do petróleo. Antes do lucro, ela tem que colocar sua “missão social”. Pode ser, como neste momento, controlar a inflação"?

Fico com a teoria Especulativa. Por falar nisso, os resultados financeiros estão tão ruins assim? As vezes o mercado exagera...

Drunkeynesian disse...

São ruins, EPS devem cair 23% este ano (já tinham caído 24% em 2011).

Jorge Browne disse...

Ouch! Segundo a mesma reportagem do valor que citei acima
A Petrobras está com 9% (lucro/patrimônio), o que a coloca nos últimos lugares entre mais de cem empresas globais reunidas pela agência Bloomberg. A Exxon, líder por valor de mercado, tem um retorno patrimonial de 26%.

O problema é se isso vai atrasar os investimentos no Pré-Sal...

Dionísio disse...

Amir Khair desceu a lenha nessa política outro dia no Estadão, e fez uma proposta curiosa. Governo deveria deixar a gasolina subir, e além do nível natural, deveria implementar um subsídio cruzado com o diesel, que deveria ficar mais barato. Seria mais progressivo e mais ambientalmente correto. Como o diesel é importante na distribuição, o impacto inflacionário seria diminuído.

Drunkeynesian disse...

Só precisa combinar com as montadoras...

JGould disse...

Seu pai é um homem sábio! Vc leu que estão atrasando o registro de importação de gasolina pra manter a já minguante BC com números mais palatáveis? Daqui algum tempo, o Madoff será batedor de carteira do Anhangabaú perto desses caras!

Anônimo disse...

Como advogado, só posso lamentar o abuso do controlador, quase sempre o Estado (Petrobrás, Eletrobrás), mas nem sempre, como no caso da Vale, caso em que a vontade do nosso líder foi seguida através de fundos de pensão.

A verdade é que o direito não definiu bem o que significa conciliar o interesse público com o interesse dos acionistas, que é o que deveria haver nas sociedades de economia mista.

Já li alguma coisa sobre a venda de participações que confiram rendimento fixo aos adquirentes na Inglaterra em empreendimentos do Estado. A vantagem, nesse caso, é que o Estado pode fazer o que quiser sem prejudicar (enganar) ninguém.

O caso da Vale é pior ainda pois ela é S.A. pura e simples. Ou seja, a questão é incontestável.

É interessante, no entanto, que o Ministério Público teria legitimidade para propor ação coletiva em defesa de direito de minoritários, mas eu nunca vi nada parecido.

Será que sou só eu que enxergo desrespeito aos direitos de minoritários / abuso de poder do controlador (art. 117, Lei S.A.)?

Não vejo ninguém reagindo ...

Rafael

Anônimo disse...

Art. 238. A pessoa jurídica que controla a companhia de economia mista tem os deveres e responsabilidades do acionista controlador (artigos 116 e 117), mas poderá orientar as atividades da companhia de modo a atender ao interesse público que justificou a sua criação.

iconoclastas disse...


"Anônimo Anônimo disse...

Art. 238."

interesse público != do interesse do governante...

;^/

ps- DK, ouve teu pai.

Unknown disse...

- Nacional-atrapalhadista: fizemos a lição de casa 15 anos (na opinião do governo) e não deu certo, vamos resolver o custo-Brasil na marra. Algo do tipo: "tentamos do seu jeito, não deu; agora vamos fazer do nosso". Explica BC, crédito, elétricas, Petrobras.

Não tiro totalmnente a razão do governo, mas na canetada também parece que não dá muito certo, basta ver a política de juros que, depois de muita conversa e muito esforço, continua tendo as maiores taxas do mundo (como, se não me engano, o próprio Drunk apontou em um post passado).

Pode haver também uma certa expectativa de que as condições internacionais de liquidez vão continuar muito folgadas, por muito tempo, e os países desenvolvidos permanecerão rateando. Assm, o capital continuaria fluindo mesmo com uma lucratividade bem mais baixa por aqui.

Unknown disse...

Adicionalmente, o governo pode achar que baixar esses custos adicione algum dinamismo a outros setores que possa compensar os custos da canetada.

Jorge Browne disse...

Delfim Bisnetto disse...
"Pode haver também uma certa expectativa de que as condições internacionais de liquidez vão continuar muito folgadas"

Essa é minha tese ultimamente, o investimento no Brasil é uma alternativa frente aos problemas dos EUA e Europa. Acabei de falar com um americano sobre financiamento para grandes projetos e ele jura que investidores tem.

A julgar pelo que diz o World Energy Outlook, a produção diária do Brasil vai crescer então o que não pode é comprometer os investimentos da Petro.

Anônimo disse...

Colegas,

Não me parece que a questão referente à gestão das sociedades de economia mista se resuma ao disposto no art. 238 da Lei das S.A.

Fosse o lucro irrelevante para essas companhias porque não constituí-las sob a forma de empresa pública, onde 100% do capital é público (CEF)?

Acho que o art. 238 mencionado deve ser interpretado conjuntamente com o art. 2o, que coloca o fim lucrativo como aspecto essencial das cias.

Essa a indefinição que mencionei antes. Acho importante que a questão fosse definida exatamente para que a empresa não ficasse ao arbítrio do administrador do momento.

A questão hoje envolve Petrobrás, BB e agora a Eletrobrás.

De qualquer forma, se o Estado chama o particular para participar, deve respeitá-lo depois.

Abraços,

Rafael

Anônimo disse...

O particular gosta de fazer o governo de otário, mas não gosta quando o governo o quer fazer de otário. É do jogo, como dizem

iconoclastas disse...

"Anônimo Anônimo disse...

O particular gosta de fazer o governo de otário, mas não gosta quando o governo o quer fazer de otário. É do jogo, como dizem

14 de novembro de 2012 17:02"


uau, que primor, quanto esperteza...

Anônimo disse...

Acho que vivemos uma das maiores interferências governamentais na bolsa de valores. O papel da petrobrás não é controlar a inflação, situação semelhante vive agora o setor elétrico, atingido empresas geradoras e distribuidoras, sejam estatais ou privadas. Os bancos privados também pela necessidade de reduzir taxas de juros e tarifas em função da atuação dos bancos estatais. O setor telefônico também sofre interferência e agora ocorrem divulgações sobre mudanças do setor portuário.
Só escapa até o momento o setor de consumo.

Gabbardo disse...

A culpa é do FMI e do Banco Mundial.

Anônimo disse...

Teoria conspiratória 2:

Depois do pré-sal, ouvi mais de uma vez o desejo de parte do gov. aumentar o share na petrobras. No mundo ideal, ela seria 100% estatal nessa visao.

Desde então, toda ação, com essa intenção ou não, tem afastado qualquer investidor de bom senso do papel. Inclusive muitos que já estavam há anos e anos, sairam. Para essa teoria boba ir pra segunda página, bastaria dar uma olhada na evolução da part. do gov. no capital da empresa, mas o vinho é bom e trabalho amanhã....



The Anchor

Anônimo disse...

Tenho em um misto da seu pai e uma mudança de negócios com a entrada da Graça Foster, ela está mudando parte dos planos do antecessor e isso gera tensões políticas.

Em qualquer país se ela faz isso e sobe a gasolina estaria na mira de ser destituída, subida da bomba da gasolina é impopular em qualquer lugar.

Por isso, o governo não sabe o que faz, e ela (Graça Foster) prefere mudar toda a estrutura e colocar o negócio em termos realísticos e só sofrer pressão dos sindicatos e firmas que perderam sua fatia do negócio.

Concluindo se ela faz as duas coisas veríamos capas da Veja e Carta Capital dela como Darth Vader, algo do gênero...

Abraços.

Anônimo disse...

O petróleo é nosso!!!!

Anônimo disse...

A Petrobras deveria aumentar o preço da gasolina, cortar gastos e despedir 20% dos funcionários (ociosos). Mais impopular impossível.

Anônimo disse...

"A Petrobras deveria aumentar o preço da gasolina, cortar gastos e despedir 20% dos funcionários (ociosos). Mais impopular impossível".

Só falta cortar a publicidade, consultorias e os patrocínios culturais...aí é 100% de manchetes contrárias.

Anônimo disse...

Não faz sentido o governo deixar à mingua petro para comprar mais participação, atrapalha investimentos, spreads, alavancagem etc.
O governo acha que pode controlar tudo, preços, pre-sal, corrupção, câmbio, juro real, stf, impostos, balança comercial, investimentos, crédito etc. Não falta visão e sim estabelecer prioridades. Mas me interessa mesmo saber como irão gerenciar os problemas e distorções crescentes.
Maradona

"O" Anonimo disse...

"O problema é se isso vai atrasar os investimentos no Pré-Sal..."

Se eh problema ou nao, depende da perspectiva. Digo, se voce acreditar como eu acredito que o pre-sal eh 90% hype, entao atrasar o investimento pode ate ser bom.

Anônimo disse...

Ei "O" Anônimo, vc é geólogo? A arrogância com que as pessoas discutem coisas que não conhecem é impressionante...

Anônimo disse...

No caso, além da "doença dos bulbos de tulipa", o problema teórico deve ser "arrogância arrivista".

Não é preciso ser geólogo para saber que nas costas da Namíbia e no Golfo do México, também existem lençóis de petróleo na camada pré-sal. Além de outros lugares do planeta. Todo mundo sabe que Deus nunca foi brasileiro e o STF está mostrando isso...

Mas, de volta ao assunto, quem garante que, na "hora H", os consumidores preferirão o pré-sal brasileiro?

Sem entender de petróleo, percebe-se, por leituras aqui e ali, que basta saber da existência de muito óleo, que possa ser extraído em algum momento, para ocasionar efeitos nos preços.

Ou seja, alguém pode ganhar muito dinheiro só por esperar que o governo do Brasil continue a explodir a Petrobras.

Para manter o arrivismo da "potência energética", está sendo arrogante e gastador num mercado extremamente caro em termos de custos.

Pode ser mera coincidência. Porém, dá para notar muitos postos da marca BR fechando em cidades médias grandes.

Jorge Browne disse...

Vou propor uma variação brazuca da Lei de Godwin: A medida que cresce uma discussão online a probabilidade de surgir alguma referência ao mensalão aproxima-se de 100% (pelo menos até o PT sair da presidência). Que tal Lei de Browne? Soa bem...

"O" , nesse caso nossa diferença é apenas percentual, tem hype aí (qdo não?), mas acredito que é bem menor, as perspectivas são boas.

"O" Anonimo disse...

Eu não sou geólogo, mas sei o suficiente de Economia e política aplicadas para chegar à minha conclusão.

Jorge: que tal colocar em números? Eu duvido que a producao brasileira de petroleo em 2022 (10 anos) seja mais do que 30% maior do que é hoje, sob política atuais.

Anônimo disse...

Mercado de Petróleo é taxa de retorno alta é o que vale, só ver o caso do Curdistão, ninguém sabe ao certo se o governo provincial curdo pode assinar, mas todos aceitam e preferem brigar com Bagdá perdendo poços no sul pelo lucro dado.

Assim foi e é na Líbia, como ocorre em Angola e Nigéria. A questão do pré-sal além de financiamento é tecnológico, muito dinheiro em termos de pesquisa tem quem prefira arriscar no Xisto.

A verdade é ou muda o marco regulatório imitando um Curdistão ou vai ser lento mesmo, ainda mais com todos pensando que dali é um novo Eldorado.

Abs,
Marcelo

Anônimo disse...

Sábio seu pai. Escute o velho que ele está certo.

Jorge Browne disse...

Essa eu passo "O", embora certamente menos cético que tu qualquer chute que der não vai ter o mínimo embasamento.
Nesse caso, porém, se é para errar, erro com o mercado hehe...""O Brasil oferece brilhantes perspectivas para a produção de petróleo fora da Opep. Os campos do pré-sal devem guiar a maior parte do crescimento da produção brasileira" (Perspectivas da Energia Mundial 2012, Agência Internacional de Energia).

"O" Anonimo disse...

Not really.

Como até um cabra sem senso crítico como tu pode notar, a citação se refere a uma agência internacional, não ao mercado.

Se seguires o que o mercado pensa, vais notar que a única petroleira de peso que não é parte de um estampido para limitar a exposição ao pré-sal é a estatal chinesa. Diga-se de passagem, o tal estampido para cair fora do pré-sal pode ser melhor exemplificado pela performance da PBR cujas ações despencaram desde que o governo aprovou o novo marco regulatório que supostamente transferiria tenta do pré-sal para a PBR.

"O"

JGould disse...

Eu tenho uma dúvida cruel? Brasileiro ou é crédulo ou idiota. Primeiro foi o biodiesel, o sertão nordestino iria virar um novo Texas, com a transposição do SF e plantação de mamona, pinhão manso e etc(teve até um governador que, comeu a tal semente e para azar do Paraná, não aconteceu nada). Depois veio o etanol, seriamos a Árabia Saudita do álcool, and now! estamos IMPORTANDO álcool dos... imperialistas! e "last but not least" o pré-sal!!! que o "O" resumiu muito bem. Só pra somar, o que vai arrebentar com o pré-sal é o "Shale-gas", que tornarão os EUA exportador até o final da década!
Alguém pode me dar uma resposta?

Jorge Browne disse...

"O", não confunde diferença ideológica com falta de senso crítico.

Mas de qualquer forma, por isso a dúvida, de um lado a AIE e os chineses ao que parece, de outro as demais petroleiras... Então se é para errar, erro com os chineses!

Anônimo disse...

Ah... se eu seguisse o que o mercado pensa... ia tomar pica de todo lado

"O" Anonimo disse...

“Mas de qualquer forma, por isso a dúvida, de um lado a AIE e os chineses ao que parece, de outro as demais petroleiras... Então se é para errar, erro com os chineses!”

Tá bom então, até parece que você mudaria de ideia se a AIE e os chineses mudassem de ideia. Até eu que sou burro, sei que você repete as palavras de ordens do PT. Se o PT decidisse taxar o holerite do trabalhador para subsidiar o Eike Batista, você aplaudiria. Digo, “decidir” e “aplaude”.

"O" Anonimo disse...

JGould,

Para quem é um pouco mais velho como eu, não dá para esquecer as descobertas de reservas de petróleo na Amazônia que o governo Sarney anunciou, se não me engano em 1985. Na época, elas fariam o Brasil auto-suficiente. Agora estamos em 2012 e ainda somos importadores.

Às vezes eu acho que acreditar nesses contos de fadas não é nem questão de burrice, é falta de caráter mesmo.

“O”

Hal disse...

"Ah... se eu seguisse o que o mercado pensa... ia tomar pica de todo lado". Isso, vai contra o mercado, estrategia que não falha. Logo, logo mais um empalado.

Jorge Browne disse...

"O" meu querido, até concordar contigo é difícil vivente! Eu disse que tem hype aí, só que acho que não tanta quanto imaginas.

Mas, enfim, o estranhamento é mútuo. Se o governo decidisse privatizar a Petrobras tu reclamarias.

Quanto a questão de caráter, cuidado para não confundir adversários com inimigos. Os primeiros esgrimem com fatos e teorias, os segundos combatem com ideologias e intolerâncias...

Jorge Browne disse...

De qualquer forma, não é polido de nossa parte, meros visitantes que somos, usar o espaço do blog para esse tipo de discussão.

JB out.

Anônimo disse...

Ficou com medo de perder a discussão?