Hoje é fácil interpretar a história recente dos PIGS (Portugal, Irlanda, Grécia, Espanha) como uma tragédia, mas é sempre bom mudar um pouco a perspectiva. Este estudo do Banco Mundial (que já tinha indicado aqui) mostra que esses países foram dos poucos a escapar da "middle income trap" entre 1960 e 2008. Hoje vi em um interessante relatório da McKinsey sobre o mercado de trabalho no mundo (h/t Urban Demographics) que esses países, entre os desenvolvidos da OECD, foram os únicos a crescer a renda dos mais pobres (último decil da distribuição) em ritmo mais acelerado do que a dos mais ricos (primeiro decil) nos últimos 25 anos. Resta checar os mesmos dados em alguns anos e descobrir o quanto disso foi sustentado e quanto era devido à fantasia de financiamento barato e câmbio forte do euro.
terça-feira, 7 de agosto de 2012
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16 comentários:
vc sabe q eu não entendo nada de economia, então, vou fazer uma pergunta de leiga.
Será que o maior crescimento da renda dos mais pobres nesses países do que nos outros não é reflexo também do maior número de pobres que esses países tinham há 25 anos?
Ou seja, quanto maior o % de pobres, maior o índice de crescimento da riqueza dessa massa em relação ao crescimento da riqueza dos mais ricos.
Faz sentido?
A pergunta é muito boa. Faz sentido, sim, já que é sempre mais fácil crescer a renda quanto mais baixo for o ponto de partida (pra pegar um caso exagerado, é muito mais fácil pegar uma renda de $500 e levar até $1000 do que pegar uma de $5000 e levar até $10000). E quanto mais igualitária for a distribuição de partida, é menos provável que haja grande dispersão entre a primeira e a última faixa de renda. De fato é uma limitação desse tipo de estudo.
Fiquei um pouco desconfiado da afirmação sobre os mais ricos brasileiros se compararem com os mais ricos dos EUA. Veja esta outra notícia.
http://www.bbc.co.uk/portuguese/repor
terbbc/story/2007/01/070103_renda_onu_dg.shtml
Ainda tem esta outra que diz que apenas 1,6% dos brasileiros ganha mais de 10 salários mínimos. Isso daria aprox. US$ 42.200. Isso não tem cara de topo da distribuição de renda americana.
http://noticias.r7.com/brasil/noticias/mais-ricos-ficam-com-quase-metade-da-renda-total-do-brasil-20991114.html
E para ficar boquiaberto:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/01/070103_renda_onu_dg.shtml
Já que a ilustre aiaiai já levantou o fato de que é relativamente mais fácil "enriquecer" quando se é muito pobre, resta adicionar outra realidade:
Quando um país "pobre" entra na UE, ele recebe "fundos de integração" que basicamente é dinheiro dado para que esses países se desenvolvam. A Irlanda investiu em grande parte em educação enquanto Portugal em infraestrutura (entradas, pontes, estufas, máquinas, etc...). Morei em Portugal de 1992 até 2011 e vi esse desenvolvimento que levou ao aumento dos salários...
Seria interessante cruzar o aumento dos salários com o aumento do PIB para saber como se comportou a produtividade, ou seja, esse salários são justos? Tendo a acreditar que os salários são justos pelo que se produz e que o "problema" será no que se produz e com quem se compete, mas isso é outra história...
Valeu pela resposta. economia é um trem complexo mesmo
Muito criativo esse grafico
Onde ficaria o BR nisso aí pegando os ultimos 20 anos?
junto da espanha?
Anon #1, acho que a comparação Brasil x EUA só vale para um pedaço ainda menor das populações (chutaria algo como os 0,5% mais ricos dos dois países).
Alex, imagino que nesses países o salário cresceu mais do que a produtividade, daí o problema de competitividade grave que eles têm hoje. Como disse, a grande questão para o futuro é saber se isso se sustenta.
Anon #2, acho que o Brasil ficaria mais perto da Austrália. Desigualdade aqui cai muito devagar, e imagino que tenha aumentado entre os extremos. Precisaria ver os dados pra sair do chute.
DK,
Meus comentários, talvez absurdos, sobre o gráfico:
a) o gráfico compara o crescimento da renda dos 10% mais ricos com o crescimento da renda dos 10% mais pobres dos referidos países;
b) o gráfico apresente leve distorção visual, causada pelo fato da abcissa ser mais comprida do que o eixo vertical;
c) Países como Espanha e Irlanda tiveram crescimento quase neutro quanto à distribuição de renda, já que os pobres cresceram um pouco mais do que os ricos;
d) Portugal foi o País cujo crescimento foi mais intensivamente benéfico para a população mais pobre;
e) Alemanha, Suécia, US, Holanda, todos eles tiveram um processo de crescimento acompanhado por um processo de concentração de renda.
Minha conclusão: Os processos de crescimento de países ricos e pobres foram bastante distintos.
Nos PIGS, acredito que o boom da construção deve ter ajudado muito nesta distribuição de renda. Já os países desenvolvidos cresceram perdendo indústria, com os ricos ganhando grana via mercado financeiro. Chuto que vem daí a concentração de renda.
Posso ter falado muita besteira.
Adios
Rafael
Opa, nada absurdos, todos autorizados por esses dados (talvez olhando outros alguns não se provem verdadeiros).
Bem observada a distorção. Se alguém no mundo não deveria dar essa pisada de bola é a McKinsey :P
"(..) imagino que nesses países o salário cresceu mais do que a produtividade, daí o problema de competitividade grave que eles têm hoje."
"Nos PIGS, acredito que o boom da construção deve ter ajudado muito nesta distribuição de renda. "
algo q ver com o Brazil :) ?
Construção como % do PIB seguramente é muito menor no Brasil do que era na Espanha. Competitividade temos o problema eterno, agravado pelos salários subindo na frente dos preços.
pode ser menor do q Espanha no ápice (não tenho os números aqui), mas, em termos relativos ao q era antes de 2005~2006, o país me parece passar sim por um boom de construção civil (obras de infra do governo + imóveis residenciais e comerciais).
Bem, sem falar do que está no gráfico, mas para ilustrar e tentar entender.
Consta que quanto mais pobre a população de um país, maior a possibilidade desse país ter crescimento maior ano a ano, caso seja esse seu objetivo e centre-se nele. Seria o caso da China e da Índia.
Países com menos contingentes a serem integrados, tenderiam a desacelerar ou a crescer menos que os demais. Aqui não deu para encaixar nenhum, por ora.
Vide, por exemplo, a Islândia. Entrou em debacle, quando tentou crescer. Só que do lado financeiro, mais que na produção real. E tem menos gente a integrar do que Espanha e Portugal e Grécia e Chipre e Irlanda. O que teria ocorrido?
O Brasil, ainda é uma incógnita se cresce ou se incha. Pois, desenvolvimento não seria.
Problema da Islândia foi a bolha de crédito, mas antes disso o país já era rico.
Eu sugeri cruzar aumento do PIB com salários para tirar a dúvida sobre a produtividade, porque não é claro que os salários tenham aumentado sem sustentação por dois motivos:
1. Em 25 anos, vimos nesses países (três saídos da ditaduras 10 anos antes: Grécia, Portugal e Espanha) uma mudança rápida da população do setor agrícola para o de serviços, mas sem se industrializarem tanto. Portugal tem uns shoppings centers maravilhosos...
2. A produtividade pode ser baixa apesar de ter sido ainda mais baixa no passado. Sem indústria que produz artigos com maior valor agregado, nem com zero direitos laborais e salários miseráveis esses países teriam a produtividade franco-alemã em tão curto prazo.
No meu ponto de vista, o problema da Europa, entre outros, é a falta de coordenação econômica. Com excepção do pacto agrícola comum, é cada um por si e Deus por todos (curiosamente Deus nem tá olhando muito pelos países mais Católicos do Mediterrâneo). Assim, o dinheiro que foi para a periferia foi mal aplicado por não ter sido usado em coordenação com as necessidades do núcleo duro. Para dizer a verdade, parte desse dinheiro foi investido em turismo e adivinha quem adora as praias Portuguesas, Espanholas e Gregas? ;-)
O dinheiro em turismo até que foi bem aplicado :) O problema são aquelas cidades-fantasma no deserto em volta de Madri, aeroportos a 50km um do outro, etc...
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