Enquanto na China 80% dos cargos de decisão são ocupados por engenheiros, no Brasil são economistas, quando não advogados, que decidem.
Talvez esse fato explique o desenvolvimento modesto do Brasil em comparação com o da China.O cientista poderia, primeiro, fornecer alguma evidência de que decisões de investimento público de engenheiros NÃO ELEITOS POR VOTO POPULAR e que, portanto, só prestam contas ao Partido, são melhores do que as de economistas e advogados (ou quaisquer outros profissionais) em uma democracia. Depois, poderia se informar minimamente para não cair na falácia imediatista de que a China é mais desenvolvida que o Brasil - basta ver qualquer ranking de IDH, ou observar há quanto tempo o Brasil atingiu o padrão de vida que se tem na China hoje, depois de anos de crescimento acelerado e (ainda) sem correção dos desequilíbrios do processo. Deve haver muitos bons argumentos para protestar contra o baixo orçamento do Brasil para ciência e tecnologia; infelizmente, o professor preferiu trocá-los por generalizações infundadas e retórica oca.
No mesmo caderno, destaque para a notícia de que a China revisou a meta de crescimento para este ano de 8% para 7,5%. Minha birra aqui é menos com a matéria em si e mais com a noção de que os países podem escolher, ano a ano, o crescimento que vão atingir. Séculos de evidência e falhas de economistas e planejadores ainda não enterraram a ideia de que é possível (e desejável) controlar e prever um fenômeno que envolve tantas variáveis. A dissonância cognitiva de nossos dias é entender o fracasso da União Soviética e de outras economias planejadas e, ao mesmo tempo, acreditar que o modelo chinês atual funciona como um relógio e é imune a falhas. A China, claro, está integrada em um mercado global e respeita mais o sistema de preços, mas guarda muito mais semelhanças com as velhas economias planificadas do que se quer crer. Quando os problemas realmente aparecerem, certamente não se manifestarão como um soft landing onde é possível baixar o crescimento a razão de 0,5% ao ano até um nível "sustentável".
11 comentários:
Começo dando o Link do texto para os não assinantes.
http://sergyovitro.blogspot.com/2012/03/retrocesso-em-ciencia-e-tecnologia.html
Continuando, digo que nesse tema estou pendendo para o lado do professor Cerqueira Leite.
Não tenho dados o bastante para uma afirmação categórica. Até porque as decisões tomadas não veem acompanhadas da titulação acadêmica de quem decidiu. Alguém precisa colher esses dados.
Mas de maneira geral intuímos que o percentual de engenheiros com decisão final perde fragorosamente para os de advogados e economistas.
Seria interessante, por exemplo, saber a origem acadêmica dos membros da Anatel e das outras agencias reguladoras. Ajudaria nessa questão.
Mesmo sem conhecer esse dado dou um exemplo da Anatel. Para regular a qualidade da banda larga resolveu, com muuuuiiiito atraso, que deveriam ser feitas medições de velocidade e integridade do trafego de dados. E resolveram entregar a alguma entidade a responsabilidade por essa medição.
Abro um parenteses para dizer que já existem serviços gratuitos que fazem essa medição, disponíveis há muito tempo. Indico dois que uso.
http://www.speedtest.net/
http://simet-publico.ceptro.br/
O Simet é operado pelo consorcio brasileiro responsável pelo registro de domínios e distribuição de IP.
Participou da "concorrência" para assumir essa responsabilidade pela medição. Mas não ganhou. E não pode recorrer. Nem à justiça. Parece descabido? Mas não é.
Isso porque a Anatel, que deveria zelar pela qualidade dos serviços, privatizou essa fiscalização. Definiu que a associação dos provedores de Banda Larga é quem deve cuidar desse "problema". E a associação escolheu a Pricewaterhouse para fazer essa "auditoria". Espertos. Já que é uma fiscalização que pode ser chamada de "auditoria" escolheram uma empresa de auditoria.
Até aqui foram só fatos. Não tão precisos porque escritos só com auxilio da minha memória.
Mas passo às minhas interpretações.
Qual grau de isenção podemos esperar de uma empresa de auditoria contratada pela associação dos que devem ser fiscalizados? Não parece um pouco entregar a associação de lobos a escolha da empresa de auditoria de segurança do galinheiro? E essa empresa de auditoria, já presta serviços de auditoria para os lobos, em atendimento as regras das S.A.?
Creio que a distinção feita pelo professor é: que critério é mais importante? O lógico mais cartesiano ou o econômico e/ou jurídico? Exemplos de interpretações jurídicas temos aos montes. Um verdadeiro pântano. Vale qualquer coisa, por mais estapafúrdia que seja. Já os economistas, bem... Uma grande parcela acredita que sua ciência é exata. Algo como Física ou Matemática. E eu acho, ou melhor, tenho certeza de que Economia não é uma ciência exata. Está muito mais perto do Sociologia do que da Matemática.
PS: Lembro que várias das decisões finais aqui tomadas não o são por Eleitos pelo povo. Ministros de Estado não são eleitos pelo povo. Nem conselheiros das agências reguladoras.
Meu ponto não é nem pelos caras serem engenheiros, físicos nucleares ou qualquer outra coisa. O que me irrita é a argumentação leviana, com base em uma ideia pré-concebida sem qualquer argumentação ou dado.
Não sei se economistas são os mais qualificados para tomarem decisões pelo Estado, mas também não sei qual profissão seria. Dá para argumentar que num mundo ideal todos os ministérios e agências reguladoras seriam comandadas por super-tecnocratas escolhidos por critérios totalmente técnicos; infelizmente, numa democracia que acomoda interesses de todos os partidos que têm votos, isso é quase impossível (mais ainda no Brasil e sua colcha de retalhos de apoios e coligações). Ainda que ministros não sejam eleitos, eles são produtos de partidos políticos que, sim, tiveram votos, muito diferente de qualquer coisa que se faça na China.
Tudo somado, eu prefiro nossa democracia ineficiente do que qualquer arremedo de planejamento central tocado por gente que acha que sabe mais do que o resto.
não li (ou lerei) o artigo do prof., mas vou pitacar.
se é verdade q preferimso a Democracia imperfeito tropical morena brasileira, é verdade tb q o prof. (ao menos o trecho q vc colou) toca num traço peculiar da sociedade brasileira, caudatário do falado cartorialismo português / ibérico / latino / católico.
há uma propensão tremenda do Estado Brasileiro a compor com advogados suas posições-chave / decisórias / nobres / bem remuneradas.
Esse traço ficou enganosa e forçadamente submerso nos 20 e tantos anos dos militares, mas retorna com força total no pós-88.
veja por exemplo a graduação no Brasil: como se dá a proporção das carreiras preferidas, e no q isso difere de outros países q têm buscado fazer seu "dever de casa" nos últimos 50 anos.
no Brasil - e isso já foi objeto de discussão por aqui - a proporção de advogados (e de restos outras Humanas e Sociais) é notadamente acima de média de outros países.
talvez a preocupação do professor deva ser compreendida desta forma...
Sim, aqui é a terra dos cartórios, sem advogado mal se toma um Chicabon. Mas o professor pega mais no pé de economistas, mesmo.
Não adianta, o que tem a ver profissão com maior capacidade de resolver problemas?
Se assim fosse, qual deveria ser a profissão dos presidentes da República? Engenheiros ou economistas? Ou advogados? Ou nada de nada?
O Brasil está ficando chato por causa dessa ideologização de gênero, sexo, profissão, categoria, cor, raça...
E agora, segundo o texto, os engenheiros chineses seriam muito melhores do que os economistas, "quando não advogados", brasileiros, para tomar decisões sobre o desenvolvimento.
De há muito é sabido que a China, Índia, crescem por serem pobres. Têm muita coisa a integrar. Na medida que essa integração for atingindo o limite, crescerão muito menos.
Não serão os engenheiros chineses que decidirão se continuarão crescendo a 9,99% ou a 8,99% por mais 30 anos.
Na mosca, anon... é o que penso.
A profissão de um presidente da república deve ser de Político.
Já a de um ministro deve guardar alguma relação com o Ministério. Não necessariamente a formação profissional mas talvez o talento natural. E claro, devem ter uma boa capacidade de gestão.
Veja o Lula por exemplo. Como tem uma excelente capacidade de gestão de assuntos políticos, e como nossos ministros são predominantemente políticos, que só estão onde estão por politicagem, então a gestão do Lula foi muito boa.
O foco principal, e as vezes único, é a política partidária. Logo um especialista em politicagem é o mais indicado.
Mas existem assuntos que merecem um tratamento um pouco mais técnico. Infelizmente aqui no Brasil esses assuntos vão ficar para trás. Serão resolvidos como sempre. De acordo com conveniências eleitorais partidárias.
Nem de longe estou advogando que só decisões técnicas é que são boas. Mas certamente as decisões somente políticas também não são sempre as melhores.
Existe necessidade dos dois tipos de decisão mas infelizmente, por razões históricas acima expostas num comentário, parece que só as políticas predominam.
Muito bom post. Por ser uma ciência social, muitos profissionais não economistas se arvoram a falar e discutir sobre economia. Isso é salutar. Porém, cabe ressaltar que muitos profissionais não economistas mal sabem que repetem ideias e doutrinas de economistas mortos. Uma das funções do economista, principalmente o especialista em história do pensamento econômico, é exatamente o de esclarecer quem e quando determinada ideia foi proposta e em qual contexto.
No artigo do Professor:
"Mas de quem seria a culpa senão de David Ricardo (1772-1823), com seu "teorema dos custos comparativos"? Essa é a única doutrina sobre a qual todos economistas, exceto talvez Arghiri Emmanuel, estão de acordo. Mas ela, não obstante, é obtusa.
Explico-me. De acordo com essa teoria, se o Brasil produz soja a custos menores que o Japão e o país asiático produz eletrônica a custos menores que o Brasil, então o ganho global será maior se o Brasil se concentrar na produção de soja -e se o Japão se dedicar à eletrônica.
Adotando-se essa doutrina para todos os itens de troca internacional, o Brasil estará sendo condenado indefinidamente à produção de itens de baixo valor agregado, ou seja, ao subdesenvolvimento."
Ele é da Unicamp, né? Ok.
Ticão, todos têm de ser políticos: do presidente aos ministros.
Os motoristas, podem ser só motoristas, por exemplo.
Caseiros, podem ser objeto de dúvidas para alguns e de júbilo para outros.
As decisões técnicas devem ser baseadas nas técnicas políticas de unir contrários e encontrar soluções onde todos achavam não existirem saídas.
Já os estadistas, estes resolvem tudo no estado da arte.
E não dá para vislumbrar estadistas, desdenhando de profissões e de nacionalidades.
Falando em escassez, oferta e demanda etc., estadistas estariam muito caros hoje em dia.
Fora que há vários e vários anos o governo chinês "escolhe" o quanto quer crescer e erra feio; *muito* feio... Se fosse tão fácil escolher estariam abaixo dos 10% por anos a fio.
E estou de acordo com o post do Anonônimo: não há opinião que não seja elevada (voluntária ou arbitrariamente) a um nível quase ideológico no Brasil. É insuportável. A liberdade de expressão, per se, inexiste no Brasil.
Meus .50c são de que, independentemente das profissões dos escolhidos para o poder executivo Brasileiro, falta conhecimento de administração... Acredito que um curso básico de poucos meses, com avaliação, antes de assumir um cargo público, seria incrível.
Postar um comentário