sexta-feira, 30 de março de 2012

Foto do Dia - Preços Relativos

Ontem, em Gelsenkirchen, jogaram o local Schalke 04 e o Athletic Bilbao, primeira perna das quartas-de-final da Liga Europa. O jogo de volta é semana que vem, em Bilbao, e a torcida do Schalke protestou contra os preços das entradas:


90 euros são mais ou menos R$ 220, ao câmbio de hoje. Para os jogos do Corinthians na primeira fase da Libertadores deste ano foram vendidos ingressos entre R$ 50 ("bilhete popular", para arquibancada e tobogã do Pacaembu) e R$ 500, sendo que o segundo setor mais barato já custava R$ 200. Escolha sua explicação:

1. A torcida do Corinthians é mais rica que a do Schalke. Ou, refinando: o Corinthians consegue ter parte da torcida com renda alta o bastante para encher o estádio mesmo a esses preços - seja porque de fato são mais ricos (e o ingresso compromete menos renda que para os alemães) ou porque estão dispostos a pagar mais por esse tipo de entretenimento.

2. Nem todo mundo paga o preço cheio do ingresso, seja por algum "esquema" ou porque as torcidas organizadas e o clube subsidiam parte do público.

3. O "homem cordial brasileiro" não reclama de preços que soariam como abusivos em outros lugares.

4. O real está supervalorizado e tudo vai se ajustar quando voltar à razão 3:1 contra o euro.

5. O escriba é uma besta e não está levando em conta que o cara que vai pagar 90 euros no ingresso ainda tem que somar todo o prejuízo de despencar 1500km de Gelsenkirchen até Bilbao.

Explicações mais criativas são benvindas nos comentários.

Som da Sexta - Orchestre National de Barbes

Virando os Rolling Stones do avesso (dica preciosa do Arthur Dapieve).

quinta-feira, 29 de março de 2012

Leituras dos últimos dias

- Um passeio pelo escritório de Warren Buffett, em Omaha.

- Repressão financeira, passado e futuro.

- Um bom estudo do FT sobre o comportamento das moedas de países emergentes - China e Brasil lideram as valorizações.

- Como prevenir futuras crises, artigo novo de Nassim Taleb (em coautoria com George A. Martin, da Alternative Investment Analytics).

- Uma nova pesquisa da Colliers sobre preços de aluguel de escritórios. Rio é mais caro que City of London, Genebra, Cingapura...

- Lisístrata pós-moderna: prostitutas espanholas organizaram um boicote a funcionários de bancos.

- O mercado de cervejas artesanais nos EUA não tomou conhecimento da crise.

- Spiegel sobre a degradação de Atenas.

- A Argentina segue atacando os grandes culpados pela fuga de dólares do país, e resolveu dificultar a importação de livros (FT e Folha).

- Os espetaculares lucros do banco do grupo JBS.

- Entrevista (em Português) com James Robinson, coautor de Why Nations Fail (dica Leonardo Monasterio).

- A New Yorker mandou um enviado a Davos, que conta o que acontece por dentro do Fórum Econômico Mundial.

- Uma evidência de que a internet (ainda?) não corrigiu desigualdades.

- Gráfico interessante que a The Economist roubou do Banco Mundial, mostrando que apenas 13 países (de 101) conseguiram, desde 1960, sair da "middle income trap": Grécia, Coréia do Sul, Guiné Equatorial, Maurício, Taiwan, Portugal, Hong Kong, Cingapura, Espanha, Irlanda, Japão, Portugal e Espanha. A questão, pelo menos para os PIGS, é se haverá volta para a renda média.

- Um economista do Colorado College alega ter um modelo que prevê com mais de 90% de precisão o número de medalhas olímpicas de cada país - e diz que o Brasil, potência olímpica do futuro, leva as mesmas três medalhas de ouro de 2008.

- O escritor Teju Cole usa o gancho do vídeo Kony 2012 para dissertar sobre a África e o tratamento dado pelos EUA ao continente.

- Excelente matéria da CNN sobre a Mauritânia, onde pelo menos 10% da população ainda vive na escravidão.

- Os indicados deste ano para o Orwell Prize.

- A temperatura ideal para se usar uma banana para bater um prego.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Gráfico do dia - vinho no Brasil

A ridícula proposta de aumento do imposto sobre a importação de vinhos foi parar na capa da Folha de hoje - não basta o vinho importado no Brasil já ser muito caro, nem a indústria nacional ter mais de 3/4 do mercado. Para os interessados no assunto, recomendo a leitura desta carta aberta do Ciro Lilla, dono da melhor importadora de vinhos que temos. Abaixo, a medida de quanto vinho no Brasil é um negócio incipiente.


terça-feira, 27 de março de 2012

A levitação de Bernanke, parte n

Ontem Ben Bernanke falou sobre o mercado de trabalho na conferência anual da National Association for Business Economics, indicando que a criação de empregos ainda está aquém do que o Fed deseja (mais aqui, íntegra do discurso aqui). O mercado entendeu como sinalização de que pode vir uma nova rodada de compra de títulos com dinheiro novo, o famigerado afrouxamento quantitativo, e reagiu de acordo:

Ouro
EUR/USD
S&P500, futuro
O nível de fechamento do S&P500 foi a nova máxima do ano e o mais alto desde maio de 2008. As ações da Apple fizeram nova máxima histórica. A exuberância está por aí, se é racional ou não, veremos em breve.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Economia em cartazes

O Planet Money começou fazendo seus próprios cartazes minimalistas sobre conceitos econômicos; depois pediu a alguns economistas que rascunhassem outros, que também viraram arte. Meu favorito, por enquanto, é este, bolado pelo Tim Harford:


Commodities agrícolas

Há umas duas semanas fiz um post mostrando como vários preços de mercado voltaram aos níveis onde estavam em 2007. Tinha esquecido desse índice de commodities agrícolas (DBA), que considero especialmente relevante para o Brasil. Seu nível hoje é cerca de 20% menor do que era há um ano, o que, creio, ajudou a conter pressões inflacionárias em países onde alimentação tem peso relevante nos índices de preços. Curioso também ver como a última rodada de afrouxamento de política monetária teve efeito quase nulo nesses preços, o que parece indicação de que o ciclo de aumento de oferta (em função dos preços altos recentes) é o fator dominante na formação de preços.


Os principais componentes do DBA (e seus pesos aproximados) são: soja (15%), açúcar (13%), boi gordo (13%), milho (12%), cacau (10%), café (9%) e carne suína (8%).

Frases do dia - algo novo no Banco Mundial

“Through a series of specific cases, we have demonstrated how growth – the market-led economic growth sought by governments, the growth in profits celebrated by businesses, and the growth in power and influence of transnational financial and corporate interests – often comes at the expense of the disenfranchised and vulnerable… As the imperatives of growth at any cost increasingly determine economic and social policy and the behavior of global corporations, more people join the ranks of the poor and greater numbers suffer and die.” 

Tirado de um livro cujo coautor é o provável futuro presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, indicado como candidato dos EUA para o cargo por Obama. No blog do Instituto de Pesquisas do Desenvolvimento da NYU tem mais.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Som da Sexta - Jorge Ben, 70

Babulina completou 70 ontem, e bem que podia aproveitar a comemoração pra voltar a tocar violão. Grande favorito da casa, desde quase sempre.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Blogosfera econômica, aqui e lá

Achei oportuno o NPTO sugerir essa "pauta" para os bloguistas (vou usar esta alternativa ao horrendo "blogueiros" - obrigado, Osmar) econômicos, poucas semanas depois do Encontro Nacional da categoria e de eu ter escrito este texto, dizendo, em resumo, que a blogosfera brasileira ainda é incipiente, meio quixotesca e com pouca exposição. Aí vai minha tentativa:

A discussão surgiu deste post do novo blog da Bruegel (uma think tank relativamente nova, baseada em Bruxelas e apoiada, desde sua idealização, por gente como Jacques Chirac, Gerhard Schröder e Mario Monti). Eles argumentam que existem blogs de economia europeus, mas o debate é algumas vezes menos rico que nos EUA - em parte porque muita gente escreve em línguas diferentes entre si e sobre temas que só dizem respeito a seus respectivos países, mas também porque os EUA são culturalmente diferentes - com mais tradição de debates e confrontos na academia. O Free Exchange, da The Economist, citou a Bruegel e adicionou que, nos EUA, a crise foi um grande catalisador para a blogosfera econômica, gerando interesse pelo tema e incluindo no debate várias vozes que normalmente não seriam ouvidas pela mídia tradicional. Além disso, destaca os efeitos de rede desse tipo de ambiente: os benefícios (mais riqueza no debate, visibilidade, especialização etc) para todos os envolvidos são tão maiores quanto maior o número de envolvidos.

Aqui no Brasil, como eu tinha observado, o debate econômico via blogs é limitado e, creio, segmentado. A maior audiência está nos blogs ligados à mídia impressa tradicional - jornais ou revistas - e, no geral, escritos por jornalistas, com conteúdo bem próximo do que se encontra nos veículos que eles representam. Atraem, creio, um público parecido com o leitor médio de jornal ou de portais de internet. A exposição via esses portais e a "grife" dos grandes grupos editoriais atrai muitos leitores e comentários, mas o debate geralmente não passa do superficial e, não raro, descamba para a supersimplificação e ataques pessoais - não exatamente o tipo de interação que leva aos efeitos de rede positivos que mencionou o Free Exchange. Peguei esse exemplo de um post aleatório do blog do José Paulo Kupfer (Estadão), sobre conta corrente:


Os blogs escritos por acadêmicos ou economistas que estão no mercado privado / governo parecem ter, no geral, audiência limitada a seus alunos, pares e alguns curiosos. Da minha amostra (puxem minha orelha se esqueci de alguém), creio que os que mais têm audiência são o Fernando Nogueira da Costa (média de 21,500 visitantes por mês - não sei se o jeito do Wordpress contar é o mesmo do Sitemeter, estou assumindo que sim, caso alguém saiba do contrário, me corrija, por favor), o Alexandre Schwartsman (11,000 visitantes por mês) e o Mansueto Almeida (10,000 visitantes por mês) - para ter uma base de comparação, a média mensal do Greg Mankiw é de quase 300,000 visitas. Esta categoria tem pouca interação com o tipo de blog que mencionei acima (ainda que o Alexandre e o Mansueto cheguem mais perto disso, estão sempre na imprensa) - ou os temas são distintos, ou tratados em níveis diferentes de profundidade, ou a linguagem não desce bem para o público menos restrito. Esses blogs e seus fieis visitantes muitas vezes geram discussões interessantes e bem informadas, mas, na maioria dos casos, ainda não o bastante para criar o que o Free Exchange chamou de "liquidez de opiniões" que aumentaria o valor dessas discussões.

Aqui listo (sem pretensão de exaustão ou grande precisão) alguns fatos & impressões que pontuam as diferenças entre o que temos aqui e os EUA:

- Evidentemente, escrever em Português limita o alcance do debate - a língua é relativamente pouco difundida e nem todo mundo tem paciência ou interesse para ficar jogando textos no tradutor do Google (devo ter uns dois ou três leitores que fazem isso). Os dois blogs de economia escritos por brasileiros mais citados mundo afora são, creio, o Brazilian Bubble (consta do blogroll do Alphaville do Financial Times) e o do João Marcus Nunes (interlocutor frequente do agora badalado Scott Sumner e dos pioneiros da onda de monetarismo de mercado, talvez a ideia mais relevante e discutida surgida na blogosfera) - não por coincidência, ambos escrevem em Inglês (pessoal do ENBECO, que tal levar esses caras pro evento do ano que vem?). Por outro lado, abandonar o Português limitaria o alcance entre leitores daqui e mataria parte importante das discussões. O ideal seria alimentar simultaneamente as duas versões do mesmo conteúdo, mas isso tomaria um tempo que quase ninguém está disposto a gastar (eu tentei por um tempo e desisti rápido, por exemplo). Ainda assim, creio que há recompensas para quem fizer esse esforço - o interesse pelo Brasil no mundo é grande e crescente, e muito dos que escrevem por aqui não devem absolutamente nada aos melhores bloguistas estrangeiros.

- Um dos fatores mencionados pelo Free Exchange para o sucesso da blogosfera nos EUA foi a pronta adesão de alguns economistas muito renomados ao formato blog. Não que tenhamos um grande pool de ganhadores do Nobel ou da John Bates Clark por aqui (isso de fato só os EUA têm), mas nenhum dos economistas brasileiros com maior visibilidade - Delfim Netto, Armínio Fraga, José Alexandre Scheinkman, pra citar alguns - escreve em blog, e eu não prenderia o fôlego enquanto espero que o façam.

- Os incentivos (sempre eles) para se ter um blog nos EUA são algumas vezes maiores do que por aqui. Por lá, um bom blog independente consegue atrair atenção suficiente para, eventualmente, passar a viver de escrever (seja por anúncios ou por convite para escrever para algum portal, revista ou jornal). Aqui, muitos blogs são vítimas do próprio sucesso - quando o número de acessos cresce, passa a ser difícil manter o ritmo de produção, acompanhar os comentários e responder aos pedidos, tudo isso enquanto se ganha o pão com outra atividade. O Mansueto já está sentindo isso, e outros tantos bons autores param de escrever quando colocam na balança os custos e benefícios desse tipo de trabalho voluntário.

Fora o aspecto financeiro, por lá a academia e a imprensa parecem acompanhar mais de perto o que se produz na internet. Aqui não sei se é questão de conservadorismo ou de escala, o fato é que a influência e o alcance dos blogs são ainda limitados, e, por consequência, o prestígio adicional por escrever um blog é menor (ou inexistente).

- Falando em escala: não há nenhum lugar perto dos Estados Unidos em escala de consumo - e, creio, isso também vale para conteúdo de internet. Para o caso de blogs econômicos: nenhum país do mundo tem tanta gente instruída, com acesso a internet e interesse por economia e finanças. Nenhum lugar tem tanta produção acadêmica, tantos departamentos de economia e escolas de negócios, tantos investidores individuais e consultores independentes, tantos jornais e revistas de economia e negócios. Por consequência, em nenhum lugar o efeito rede dos blogs vai ser tão poderoso. Lá, procurando, acha-se uma rede de blogs dedicados a praticamente todas as especialidades dentro do que se chama de Economia; isso dificilmente será reproduzido em qualquer outro país.

- Quanto à questão cultural, é difícil dizer. Eu tenderia a imaginar que os brasileiros seriam mais próximos aos europeus: debatem menos e evitam confronto, mas é puro chute. Talvez um dia chegue-se à conclusão que o fenômeno "blogosfera econômica" é daquelas coisas que só se explica pelo excepcionalismo americano, como o NASCAR, o Dr Pepper e a salada coleslaw. Ainda é cedo, porém, e eu sou totalmente desqualificado para tirar esse tipo de conclusão socioantropológica.

- O Free Exchange cita a crise como um dos elementos que aumentou a relevância da blogosfera nos EUA. O Fabio Kanczuk tinha levantado essa bola no ENBECO, há algumas semanas: a atenção dada a economistas é proporcional ao tamanho dos problemas econômicos dos quais ele trata. Veremos como vai ser por aqui quando as marolinhas voltarem a aparecer.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Frases do dia - Lei de Godwin aplicada

"Let's conclude with a modest proposal for an economic corollary to Godwin's Law. The first person to reference Weimar's hyperinflation in an economic debate automatically loses."

Matthew O'Brien, da The Atlantic, concluindo um bom texto comparando a situação atual dos EUA com alguns episódios de hiperinflação - fenômenos sociais, não exclusivamente econômicos. Creio que o caso do Brasil nos anos 80-90 foge do padrão dos exemplos que ele usou, mas é igualmente distinto de qualquer prognóstico que se possa fazer para os EUA.

Update: O Lucas, nos comentários, bem observou que o Paul Krugman já havia sugerido esse corolário. Ponto a menos no quesito originalidade para o seu O'Brien.

terça-feira, 20 de março de 2012

Shit Sales Traders Say

Claro que a série shit ________ say ia chegar ao mercado financeiro... Piada interna da qual a maioria não vai achar graça (mas bem que podiam fazer uma versão brasileira, começando com o clássico "bom dia, patrão!!!").

segunda-feira, 19 de março de 2012

Ironia Britânica do Dia

Da última The Economist:

In a move hailed as a triumph by the digerati but deplored by bibliophiles, the publishers of "Encyclopaedia Britannica" decided to discontinue the printed edition of the 32-volume tome in order to focus on the online and digital versions. The encyclopedia contains 40m words, is in its 15th edition and was first published in Edinburgh in 1768 but has been based in America since 1901 (according to Wikipedia).

P.S. Claro que a tecnologia empurrou esse tipo de produto para a obsolescência e tal, mas vou sempre lembrar com saudades da Britannica impressa - devo muito da minha educação randômica e sem foco à edição de 1986 da Barsa (versão tropicalizada e editada no Brasil pela Britannica, que também publicava a Mirador) que meus pais compraram para mim e para minha irmã quando entramos na escola. Na época, custava o preço de um bom carro usado.

P.P.S. Este livro, que conta a saga de um jornalista que resolveu ler a Britannica de cabo a rabo, é bem divertido.

Leituras das últimas semanas

- A matéria de capa da última The Atlantic, que estampou uma foto de Ben Bernanke com o título The Hero. Não canso de me espantar com como o mundo gosta de se iludir pelo acaso (ou por menos que isso).

- Para quem não estava no sistema solar semana passada, o editorial do NY Times do executivo (não alto, como disseram alguns - a empresa tem quase 500 sócios, e ele não era um deles) de saída da Goldman Sachs. A resposta do banco, um editorial opinativo da Bloomberg e a saída de Darth Vader do Império.

- A Apple continua sua competição com a Torre de Babel: a companhia já vale mais que um ano de PIB da Polônia ou da Bélgica; e há quem acredite que em um ano esse valor de mercado chegará bem perto de US$ 1 trilhão.

- A resenha do NY Times para o Why Nations Fail, de Daron Acemoglu e James Robinson (a simpática ilustração aí do lado é de lá). A The Economist não gostou tanto.

- O novo livro de Robert Shiller, sobre o papel de finanças como bem público.

- O Valor sobre a famosa biblioteca de Delfim Netto, que está sendo transferida para a FEA-USP. E você não sabia que existem 10 mil livros só sobre marxismo analítico, aposto.

- Um perfil de Naji Nahas, na Folha.

- Barry Eichengreen e Kevin O'Rourke revisitam a comparação entre a Grande Depressão e nossos tempos esquisitos. A conclusão é que ainda não há espaço para consolidação fiscal.

- William Easterly não perde o costume de bater de frente com Jeffrey Sachs, e explica como não comandaria o Banco Mundial.

- O Fed agora tem uma conta no twitter. A agenda das aulas de Ben Bernanke sobre a instituição na George Washington University, que começam amanhã e terão transmissão ao vivo pela internet.

- Uma entrevista interessante da Folha sobre a Grécia, com o historiador de Columbia Mark Mazower.

- Longa matéria da Exame com Luis Stuhlberger.

- A vida na Itália não deve estar fácil.

- O (apócrifo) soluço de Winston Churchill e como foi desenhado o mapa do Oriente Médio.

- Martin Scorsese vai mesmo filmar O Lobo de Wall Street. Apesar do título grandiloquente, o livro é sobre um rodapé da história dos mercados (e o personagem, um trombadinha perto dos grandes ladrões que já passaram por lá). Ainda assim, deve dar um filme divertido.

- Mitt Romney ou Senhor Burns?

sexta-feira, 16 de março de 2012

Som da Sexta - John Zorn

Amanhã, aqui em São Paulo.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Agora no Facebook

Seguindo a dica do Cristiano, que diz que isso é garantia de fama, fortuna, mulheres & iates, criei uma página do blog no Facebook. Ainda não sei bem como usar, mas está lá:

http://www.facebook.com/Drunkeynesian

Gerenciamento de expectativas, versão brasileira

Cérbero, guardião da estabilidade monetária
1. Banco Central corta juros de surpresa, com inflação muito acima da meta (agosto/2011).

2. Inflação cede, Banco Central segue cortando juros (até fevereiro/2012).

3. Contra expectativas, BC acelera ritmo de cortes (março/2012).

4. Banco Central e governo continuam dando indicações de que querem o juro mais para baixo. Mercado "entende" o recado e passa a precificar ciclo de cortes maior / mais longo.

5. Na ata da mesma reunião em que acelerou o ritmo de cortes, Banco Central escreve (parágrafo 35):

Diante do exposto, e considerando os valores projetados para a inflação e o balanço de riscos associado, o Copom atribui elevada probabilidade à concretização de um cenário que contempla a taxa Selic se deslocando para patamares ligeiramente acima dos mínimos históricos, e nesses patamares se estabilizando.

Eu sou dos que acha que o valor da transparência nesse tipo de decisão é superestimado, e não concordo com boa parte das críticas feitas a esta gestão do Banco Central. Porém, não consigo ver como essa esquizofrenia pode ajudar na condução da política econômica do país. De novo, dá a entender que conveniências de última hora se sobrepõem a qualquer objetivo consistente. É o que temos.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Frases do dia - armas de fogo e primatas

"Muitas vezes, você tem que dar um tiro de carabina 12, e alguns estilhaços acabam se espalhando. Vamos achar soluções para isentar o setor genuinamente exportador."

Ministro Mantega, após anunciar um novo aumento de IOF para captações externas de empresas. Incrível como o trato da política econômica no Brasil adora violar o inestimável princípio KISS e sempre pende para a legislação bizantina e uma lista de exceções com bases em privilégios semi-arbitrários. Mesmo se um dia cair de volta o IOF, vai tentar tirar a "compensação" dada para o exportador...

200 anos em 2 minutos

Para os patológicos por mapas e bandeiras.

 

terça-feira, 13 de março de 2012

Benvindos a 2007!

Alguns indicadores importantes estão de volta a preços de 5 anos atrás:

Petróleo (1º futuro NYMEX)
S&P 500
Ibovespa
Câmbio reais / dólar
VIX
Juros Pré 5 anos
Alguma coisa mudou, porém:

Índice de bancos americanos (S&P 500 Financials Index)
Índice de bancos europeus (STOXX 600 Banks)
Apple Inc

Ouro, US$ por Onça

O sábio e o Conselheiro Acácio diriam que a 2007 se seguiu 2008. Aguardemos.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Pensamentozinho sobre o II Encontro Nacional dos Blogueiros de Economia

Quando soube que eu tinha sido convidado para o Encontro Nacional dos Blogueiros de Economia, uma grande amiga (que também me apresentou recentemente ao pitoresco adjetivo comezinho), empolgada com a ideia, lembrou de uma passagem engraçada de Budapeste, do Chico Buarque: o encontro de escritores anônimos do qual o protagonista participa, em Istambul. No congresso fictício, os ghostwriters liam passagens que haviam escrito para a posteridade alheia e se aplaudiam, emocionados.

Só entendi direito a pertinência da comparação após o evento, depois de a Brahma Extra gelada ter lavado as eventuais introspecções (a deste escriba, sobretudo). Que não me entendam mal os organizadores do evento, Cristiano e Shikida, que foram impecáveis - grandes anfitriões, gastaram tempo e energia na organização e divulgação, devem ter tido um trabalho imenso para conseguir os convidados, conciliar todas as agendas, etc. Nem o público de BH, que manteve o auditório cheio na maior parte das quase cinco horas de evento. Tampouco os convidados - ainda que eu tenha, como no ano passado, sentido a falta de mais diversidade entre as ideias e os participantes, os painéis foram apropriados e interessantes, assim como a participação dos ouvintes. Ocorre que, hoje e no Brasil, a atividade de blogueiro de economia guarda não poucas semelhanças com a de escritor anônimo (mesmo para quem, ao contrário de mim, assina seus textos). Como os escritores anônimos, os blogueiros, com raras exceções, são pouco conhecidos fora do seu nicho. Têm como motivação, com o perdão da generalização, a satisfação de ver suas palavras publicadas e, em segundo plano, algum benefício indireto dessa exposição, ao menos o reconhecimento entre seus pares. E, como na ficção, divertem-se entre si, lembram de eventos passados e piadas internas e isso é somado na tal motivação.

É claro que todos esperamos que, como o rúgbi, um dia isso ainda seja grande no Brasil, e que tenhamos debates relevantes na blogosfera e esta influindo e interagindo com a imprensa, os players de mercado e Brasília. Como para tantas outras coisas, o exemplo está nos EUA, onde mais de um Nobel publica em blog com regularidade (os maldosos de plantão vão dizer, não sem razão, que precisamos, primeiro, de pelo menos um Nobel tupiniquim) e a consulta à ferramenta é quase obrigatória para se atualizar do que se passa nas fronteiras da prática e teoria de economia e finanças. Como confirmariam os colegas, é tudo uma questão de incentivos: por lá, há um público grande e interessado e os benefícios da exposição são muito mais evidentes, haja visto a notoriedade que alguns profissionais alcançaram quase exclusivamente pelo o que defendem nos blogs e a quantidade de veículos de imprensa que contam com blogueiros profissionais e (suponho) bem remunerados. Por aqui, a verdade é que o blog relacionado à economia mais visitado do país muito provavelmente é o do Luis Nassif. Lidemos com isso, por enquanto.

Aplicada a dose de realidade, é de se reconhecer que, por definição, nenhuma história começa sem pioneiros. Torço muito (até por interesse próprio) para que, daqui a alguns anos, esses primeiros encontros tenham evoluído para um fórum de importância nacional, com o devido crédito para seus criadores e entusiastas de primeira leva. Enquanto isso, sigamos tomando nossa cerveja, dando risada de mantegadas e outras barbaridades e nos bastando em nossa doce quixotice. Até Vitória, sede, em 2013, do III ENBECO.

P.S. Odeio os termos "blogueiro" e "blogosfera", uso-os na falta de sinônimos melhores. Vou ali ler umas 10 páginas de Eça de Queirós pra curar.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Oferta e demanda x "economia popular"

Que bebam gasolina...
Ontem, aqui em São Paulo, o Procon e a Polícia Civil (palavras da Folha) "montaram uma força-tarefa para punir os estabelecimentos que, em meio à paralisação, aumentaram o preço dos combustíveis". Ora, quem tinha combustível subiu o preço porque a mercadoria ficou escassa - o que se esperaria de qualquer comerciante digno da profissão (mais nesse texto do Ordem Livre). Ocorre que, para o Procon, a adesão à lei de oferta e demanda é tida como "oportunismo", e a alta dos preços foi vista como "abusiva". A Folha cita um artigo da legislação (creio que do Código de Defesa do Consumidor) que diz que comete crime quem "obtém ou tenta obter ganhos ilícitos em detrimento do povo ou de número indeterminado de pessoas mediante especulações ou processos fraudulentos".

"Especulação" é daquelas palavras que deveriam ser neutras, mas, por aqui, virou quase sinônimo de pilantragem. Todo comerciante especula, mesmo que não saiba que o está fazendo: mantem um estoque que, ele espera, será revendido com lucro. O que garante isso? Nada, a premissa é uma especulação, baseada em uma observação do passado ou qualquer outro método, mas sem nenhuma garantia de que ocorrerá. Esse risco é coberto pela sua margem de lucro, que, também, pode-se provar certa ou errada. Assim, todo dono de posto de gasolina é um especulador, sujeito a choques de oferta ou demanda que podem ser positivos ou negativos. O caso de São Paulo foi um dos positivos, e é natural que ele se aproveite dele, já que, quando sofrer um negativo (de qualquer natureza), não vai poder (ou pelo menos não deveria) contar com proteção do governo ou algum outro benfeitor. Da mesma forma que o Procon não vai atrás do produtor de tomate que aumentou o preço por causa de uma geada, não deveria se incomodar com donos de posto que vendem a gasolina ao preço que querem. Faz parte do mercado, ele que colha o benefício imediato, com o risco dos clientes lembrarem desse "abuso" quando a situação se normalizar e mudarem de fornecedor.

"Processo fraudulento" é vender gasolina adulterada, bomba que marca volume maior que o efetivamente dispensado, e por aí vai. Com isso o Procon e a Polícia Civil deveriam se preocupar, mas é mais fácil dar espetáculo e prender frentistas (nada mais ridículo... qual a opção desse funcionário a vender o produto ao preço que o dono do posto determinou?) e gerentes de posto que vendem um produto escasso com preço anunciado em números gigantes.

No fundo, acho que dá para colocar mais essa arbitrariedade na conta do lobby do carro próprio, dos mais arraigados e perniciosos do Brasil (mais ainda em São Paulo). Esse tema, porém, vai ficar para um escrito futuro, este já cumpriu sua função.


Update (13/mar): Alguém leva a sério a legenda da foto.

Amanhã...


Frases do dia - Brasil & capitalismo

"Basta de gastar sem ter dinheiro. Basta de tanto subsídio, de tantos incentivos, de tantos privilégios sem justificativas ou utilidade comprovada. Basta de empreguismo. Basta de cartórios. O Brasil não precisa apenas de um choque fiscal. Precisa, também, de um choque de capitalismo, um choque de livre iniciativa, sujeita a riscos e não apenas a prêmios."

Quem acertar o autor e o contexto ganha uma cocada (no fim do dia eu coloco aqui).

P.S. Claro que todo dia é dia da mulher, mas não custa hoje mandar um abraço às leitoras.

Update: o pessoal dos comentários matou muito rápido. A frase é de um discurso de Mário Covas (supostamente redigido por José Serra) na campanha presidencial de 1989, citado no Notícias do Planalto, de Mario Sergio Conti. 23 anos depois, gastamos menos, mas subsídios, privilégios e incentivos continuam, e o choque de capitalismo, fora de moda em todo o mundo, parece longe da realidade.

terça-feira, 6 de março de 2012

Besteiras que se lê por aí

Acho que hoje abri o jornal de mau humor. Na seção de Tendências & Debates da Folha, o professor Rogério Cezar de Cerqueira Leite (físico), criticando o corte no orçamento para ciência e tecnologia, encerra o texto com esses dois parágrafos (depois de culpar economistas de "aversão por tecnologia" e jogar no lixo tudo o que já se estudou sobre vantagens comparativas, ideia "obtusa"):
Enquanto na China 80% dos cargos de decisão são ocupados por engenheiros, no Brasil são economistas, quando não advogados, que decidem.
Talvez esse fato explique o desenvolvimento modesto do Brasil em comparação com o da China.
O cientista poderia, primeiro, fornecer alguma evidência de que decisões de investimento público de engenheiros NÃO ELEITOS POR VOTO POPULAR e que, portanto, só prestam contas ao Partido, são melhores do que as de economistas e advogados (ou quaisquer outros profissionais) em uma democracia. Depois, poderia se informar minimamente para não cair na falácia imediatista de que a China é mais desenvolvida que o Brasil - basta ver qualquer ranking de IDH, ou observar há quanto tempo o Brasil atingiu o padrão de vida que se tem na China hoje, depois de anos de crescimento acelerado e (ainda) sem correção dos desequilíbrios do processo. Deve haver muitos bons argumentos para protestar contra o baixo orçamento do Brasil para ciência e tecnologia; infelizmente, o professor preferiu trocá-los por generalizações infundadas e retórica oca.

No mesmo caderno, destaque para a notícia de que a China revisou a meta de crescimento para este ano de 8% para 7,5%. Minha birra aqui é menos com a matéria em si e mais com a noção de que os países podem escolher, ano a ano, o crescimento que vão atingir. Séculos de evidência e falhas de economistas e planejadores ainda não enterraram a ideia de que é possível (e desejável) controlar e prever um fenômeno que envolve tantas variáveis. A dissonância cognitiva de nossos dias é entender o fracasso da União Soviética e de outras economias planejadas e, ao mesmo tempo, acreditar que o modelo chinês atual funciona como um relógio e é imune a falhas. A China, claro, está integrada em um mercado global e respeita mais o sistema de preços, mas guarda muito mais semelhanças com as velhas economias planificadas do que se quer crer. Quando os problemas realmente aparecerem, certamente não se manifestarão como um soft landing onde é possível baixar o crescimento a razão de 0,5% ao ano até um nível "sustentável".

segunda-feira, 5 de março de 2012

Leituras da semana (passada)

- A Apple chegou ao meio trilhão de dólares de valor de mercado, e vai se ver com a lei dos grandes números. Para o pessoal que pensa em vender, não deve animar saber que a Cisco Systems chegou a US$ 700 bilhões no auge da bolha, em 2000.

- Faça você mesmo: a produção de cerveja artesanal e como deveria funcionar o capitalismo.

- Mansueto Almeida fala sobre a entrevista de Paul Krugman a Playboy; o próprio fala sobre a crise na ciência econômica. Scott Adams, o economista que criou o Dilbert, numa variação sobre o tema.

- Maurice Obstfeld, um dos coautores do Krugman, explica porque ainda é importante prestar atenção para déficits em conta corrente.

- Scott Sumner faz uma nova introdução para o monetarismo de mercado.

- O Banco Central de Israel vai radicalizar a "diversificação de reservas" e investir em ações. Espero que a moda não chegue por aqui.

- Como a tributação de energia elétrica atrapalha a distribuição de renda no Brasil.

- Duas leituras obrigatórias para quem mexe com ações (ou tiver interesse no mercado financeiro em geral): as últimas cartas de Warren Buffett e Jeremy Grantham. O site da Berkshire Hathaway continua na vanguarda do design mundial.

- Nova Délhi e São Paulo tiveram os mercados imobiliários mais quentes do mundo no ano passado, segundo o Global Property Guide. Nos EUA, só Detroit ganhou em 2011.

- A piauí tirou do paywall a matéria do João Moreira Salles sobre a Islândia que eu tinha recomendado aqui, vale conferir.

- O grande Amartya Sen vai falar em São Paulo no dia 24 de Abril, marque na agenda.

- Uma entrevista pouco usual com Obama, falando longamente sobre esportes (e deixando escapar que já conta com a reeleição).

- Mais uma para a coleção de anedotas absurdas da Grécia.

- O tweet do ano, por enquanto.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Som da Sexta - Chico Hamilton

Linda música que aparece meio escondida na trilha do filmaço Elegy, com (ave) Penélope Cruz, Dennis Hopper e Sir Ben Kingsley.

Gráfico do dia - chineses, conhaque e relógios suíços

Via Zero Hedge, uma maneira interessante de olhar para a "emergência" da China (clique para aumentar).


quinta-feira, 1 de março de 2012

Meu muito obrigado...

... a quem tem passado por aqui. Fevereiro bateu um novo recorde de visitas no blog, mesmo com os feriados e o dia a menos.A tendência não é nenhuma Apple, mas segue animadora.