quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Leituras pré-Dezembro

Hoje é dia da independência de Barbados, terra da Rihanna e do lindo brasão aí do lado (o dístico, por algum motivo, me lembra o poético lema da Gaviões da Fiel: Lealdade, Humildade e Procedimento).

- Novo paper de Martin Feldstein sobre o euro e a Europa, bem conciso e informativo (e livre de equações).

- Um enorme trabalho da Nomura sobre a China.

- John Paulson tenta explicar seu annus horribilis.

- A Rovio, que criou o Angry Birds, recusou uma oferta de US$ 2,25 bi. E diz-se que o Facebook vai fazer uma oferta inicial de ações que precificará a companhia em US$ 100 bi (isso é o DOBRO de uma avaliação feita em Abril, que comentei aqui). O "bolhômetro" parece estar chegando no nível 7.

- Timothy Garton Ash fala sobre a Europa para o Spiegel.

- A nova lista de 100 pensadores globais da Foreign Policy. Contei 20 economistas e afins entre eles, e ainda não consegui concluir se isso é bom ou ruim. Também não sei se é bom ver que o livro mais citado pelos listados é uma história dos banqueiros centrais durante a Grande Depressão (o excelente Lords of Finance).

- Economistas são bons cientistas?

- Noruega, manual do usuário.

- Stanley Kubrick fotografando os tipos de Nova York, nos anos 1940.

- Uma homenagem a Renato Russo, em quadrinhos.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Perfil da Dilma na New Yorker

Saiu na edição desta semana. Aproveitem enquanto o Scribd não tira do ar (no site da revista só tem um resumo aberto). Se clicar em "Fullscreen" dá pra ler na tela; também dá para baixar a versão em pdf.

As 10 Regras de Investimento de Bob Farrell

Robert Farrell, hoje um senhor de 79 anos, foi uma lenda de Wall Street, um dos pouquíssimos analistas do sell side lidos e respeitados pela turma das mesas de operações. Em 1992, se aposentou depois de uma carreira de 25 anos na Merrill Lynch (onde foi mentor, entre outros, de David Rosenberg) e atualmente vive na Flórida, de onde, dizem, segue produzindo uma newsletter para uma lista de contatos bastante exclusiva.

Em 2008 o Marketwatch compilou dez regras que resumem suas conclusões de anos de observação dos mercados. O Barry Ritholtz, do The Big Picture, fez essa versão comentada, que, acho, é a mais difundida hoje em dia (costumo citar algumas delas com frequência). Creio que não há uma versão em Português, então resolvi fazer esse serviço. Para muitos vai soar como mais uma das pajelanças que o pessoal do mercado usa para justificar seus atos quase aleatórios; para quem (como eu) acha que mercados são construções sociais que possuem heurísticas (à la Kahneman e Tversky), nuts & bolts (à la Jon Elster) e fractalidades (à la Mandelbrot), as regras são de grande sabedoria e uma ótima ferramenta para evitar as armadilhas da euforia e depressão. Aí vão, de qualquer maneira:

1. Mercados tendem a voltar à média ao longo do tempo
Quando ações vão muito longe em uma direção, voltam. Euforia e pessimismo podem confundir a cabeça das pessoas. É fácil ser pego no calor do momento e perder a perspectiva.
2. Excessos em uma direção levarão a excessos opostos na outra direção
Pense na base de referência do mercado como se estivesse presa a um elástico. Qualquer ação muito grande em uma direção trará você não apenas de volta à referência, mas levará a um exagero na direção oposta.
3. Não existem novas eras - excessos nunca são permanentes
Qualquer que seja o último setor "quente", acaba esquentando demais, retorna à média e exagera a correção. Veja quão longe foram mercados emergentes e BRICs nos útlimos seis anos (nota: isso foi escrito em agosto de 2008), apenas para serem cortados pela metade.
Na medida que a febre vai sendo construída, um coro de "esta vez é diferente" será ouvido, mesmo que essas palavras exatas não sejam usadas. E é claro que ela - a Natureza Humana - nunca é diferente.
4. Mercados com quedas ou altas exponenciais costumam ir mais longe do que você imagina, mas eles não são corrigidos com movimentos de lado.
Não importa quão "quente" seja um setor, não espere que uma planície corrija os excessos. Lucros são realizados com vendas, e isso invariavelmente leva a uma correção significativa.
5. O público compra mais no topo e menos no fundo
Esse é o motivo pelo qual investidores com mentalidade contrária podem fazer um bom dinheiro se seguirem os indicadores de sentimento e tiverem um bom timing
6. Medo e cobiça são mais fortes que firmeza de longo prazo
Investidores podem ser seus piores inimigos, particularmente quando a emoção toma conta. Ganhos "nos fazem exuberantes; incrementam o bem estar e promovem otimismo," diz o professor de finanças da Universidade de Santa Clara Meir Statman. Seus estudos de comportamento do investidor mostram que "perdas trazem tristeza, desgosto, medo, arrependimento. O medo aumenta a percepção de risco e alguns reagem se afastando de ações".
7. Mercados são mais fortes quando abrangentes e mais fracos quando limitados a poucas blue chips
Daí amplitude e volume serem tão importantes. Pense nesses indicadores como força em números. Momentum amplo é difícil de ser contido, Farrell observa. Fique atento quando o momentum se limita a um pequeno número de ações.
8. Mercados em queda têm três estágios - queda violenta, recuperação reflexiva e continuidade da tendência fundamental de queda
Eu sugeriria que (em Agosto de 2008) estamos na terceira recuperação reflexiva - os cortes de juros de Janeiro, as mínimas da Bear Stearns em Março, e, agora, os resgates de Fannie Mae e Freddie Mac.
Mesmo com esses ralis esporádicos, ainda veremos a longa etapa de continuidade baseada em fundamentos da queda do mercado.
9. Quando todos os experts e previsões concordam - algo diferente vai acontecer
Como Stovall, o estrategista de investimentos da S&P, coloca: "Se todo mundo está otimista, quem sobrou para comprar? Se todo mundo está pessimista, quem sobrou para vender?"
Ir contra a manada, como Farrell repetidamente sugere, pode ser muito lucrativo, especialmente para compradores pacientes que fazem caixa em mercados eufóricos e reinvestem quando o sentimento é mais obscuro.
10. Mercados em tendência de alta são mais divertidos que mercados em tendência de queda
Especialmente se você tem um mandato para ficar todo tempo investido. Aqueles com planos mais flexíveis podem eventualmente sorrir nas duas situações.

Mais sobre Bob Farrell no Hall of Fame da Institutional Investor.


sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Foto do ano

Deve ser essa, mesmo.

Cadê o Papademos pra eu poder apontar pra ele?



Som da Sexta Duplo - Robert Johnson e Pablo Casals

Na última quarta-feira, uma dia muito especial para a música fez 75 anos. Da NPR:

Nov. 23, 1936, was a good day for recorded music. Two men, an ocean apart, each stepped up to a microphone and began to play. One was a cello prodigy who had performed for the queen of Spain; the other was a guitar player in the juke joints of the Mississippi Delta. But on that day, Pablo Casals and Robert Johnson each made recordings that would change music history.

Robert Johnson, provavelmente o cantor e guitarrista de blues mais influente da história:




Pablo Casals, que redescobriu as fabulosas suítes para violoncelo de J.S. Bach.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Brasil, pioneiro em metas para o PIB nominal?

Que Santos Dumont inventou o avião é
discutível, mas o escorredor de arroz
é coisa nossa.
O título, claro, é uma provocação - a adoção de metas para o PIB nominal é discutida para países em situação quase oposta a nossa, crescimento pífio e risco de deflação. Ainda assim, pensemos um pouco:

a) O Banco Central do Brasil tem uma meta oficial de inflação, e, até que se prove o contrário, trabalha para respeitá-la (com todo o benefício da generosa banda de dois pontos percentuais: a inflação anual pode ser entre 2,5% e 6,5% e está "na meta").

b) A equipe econômica do governo adora falar em objetivos para crescimento. Começou com quase 6% ao ano (ver aqui). Ultimamente, tem se ouvido que 4% é "piso" para crescimento em 2012, e Fazenda e BC dia sim, dia também, dizem que têm cartas na manga na forma de novas medidas (ou na reversão de medidas contracionistas) para estimular a economia.

Juntando a + b... Não espero que ninguém de Brasília vá a público dizer que, sim, o Brasil tem uma meta implícita de crescimento de PIB nominal, e nem sei se alguém da Fazenda ou do BC está tão comprado com o que está sendo discutido na fronteira do mundo desenvolvido. Porém, oficializadas ou não, o efeito prático dessas posturas é importante:

- PIB nominal crescendo a 10% ao ano é espetacular para o perfil da dívida. A arrecadação sobe, os quocientes do tipo dívida / PIB derretem. Soma-se a isso um cenário de queda secular dos juros e alguma disciplina fiscal, e teremos, em não muito tempo, alguns dos melhores indicadores de sustentabilidade de dívida do mundo (OK, o mundo não anda exatamente bem nesse quesito, mas mesmo em absoluto o feito do Brasil terá sido bastante impresionante);

- Na linha de que é possível ser malabarista chinês e equilibrar todos os pratinhos ao mesmo tempo, acho crescente o risco do Brasil criar um ambiente propício para bolhas, com juros mais baixos e estímulos para vários setores da economia. Ainda estamos longe disso, mas é algo para se observar ao longo dos próximos meses / anos.

- Para quem acha que juros são fator de grande influência na inflação, num mundo onde o crescimento é mais difícil e o governo vai fazer de tudo para compensar com estímulo monetário / fiscal, aumenta o risco dos preços saírem do controle - mais ainda considerando o ponto de partida de hoje, com o mercado de trabalho apertado e câmbio valorizado.

- Partindo para o lado mais iconoclasta e abstrato: o nível de ilusão de controle no comando da economia brasileira, depois de anos de relativo sucesso, é enorme. Estamos na fase de achar que só o Brasil pode segurar o Brasil, e isso é parte da receita para grandes burradas de política econômica, na eventualidade das coisas não saírem muito exatamente como se previa e alguém resolver dobrar a aposta porque "a gente é bom pra caralho".

Frases do Dia - Há cento e poucos anos...

The average citizen wakes in the morning at the sound of an American alarm clock; rises from his New England sheets, and shaves with  his New York soap, and Yankee safety razor. He pulls on a pair of Boston boots over his socks from West Carolina, fastens his Connecticut braces, slips his Waterbury watch into his pocket and sits down to breakfast... Rising from his breakfast table the citizen rushes out, catches an electric tram mande in New York, to Shepherds Bush, where he gets into a Yankee elevator, which takes him on to the American-fitted railway to the city. At his office of course everything is American. He sits on a Nebraska swivel chair, before a Michigan roll-top desk, writes his letter on a Syracuse typewriter, signing them with a New York fountain pen, and drying them with a blotting sheet from New England. The letter copies are put away in flies manufactured in Grand Rapids.

Um jornal londrino de 1902, reclamando da invasão de produtos americanos no Reino Unido (citado pela Sylvia Nasar no Grand Pursuit, que estou lendo). Trocando New York, New England e Boston por Shanghai, Shenzen e Guangzhou, quase dá pra imaginar o mesmo texto publicado num New York Post atual.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Gráfico do Dia - Japão x EUA e Europa

De uma matéria na última The Economist que sugere que talvez o Japão não tenha sido, na última década, o completo fracasso econômico do qual às vezes se fala (pelo menos com relação ao resto do mundo desenvolvido).


terça-feira, 22 de novembro de 2011

Leituras pré-Dia do Peru

- Um exercício de futurologia de Niall Ferguson sobre a Europa. Provavelmente vai errar tudo, mas a narrativa é interessante e provocativa.

- Uma carta aberta para Jens Weidmann, presidente do Bundesbank.

- Muitos gráficos interessantes sobre a "Grande Desalavancagem".

- Os hedge funds estão ficando nus.

- Malcolm Gladwell aceita uma oferta do lado negro da força (dica do Bruno Borges).

- Mais uma adição para a lista de zumbis econômicos de John Quiggin: austeridade.

- Cinco livros para provar que a economia pode ser divertida.

- Burocratas e políticos, respectivamente, decidiram que água não hidrata e que pizza é um vegetal. What a wonderful world!

- O NY Times sobre a morte da película de celulóide.

- Quem nunca fez um dinheirinho atuando em filme pornô quando jovem e quebrado? Frank Sinatra fez.

- Forte candidata à frase do ano: "The excessive amount of semen stain on the floor cost thousands of pounds to be removed professionally and must be reflected in tuition fee rises for next year."

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Os micos do ano da Bovespa

Via Brazilian Bubble.


Frases do dia - Don't Mess With the U.S.

The US can force monetization at the ECB. If the Colonel deems sado-fiscalism as a global systemic threat (which it is), the Fed could act. The Fed has an account at the ECB in Euros. When the pesky Europeans borrow dollars from us on currency swaps to fund their insolvent banks we get this lovely account. And right now the Euros just sit there! If things get messy we just jack the "unlimited" lines up, back up the forklift, and buy Euro area bonds. Lots of them. Say a trillion or two across all non-German markets. The Fed already owns nearly 100b in German and French bonds. And if anyone tries to default down the road, well we have a few hundred billion in European gold to confiscate in the basement of the NY Fed. And if that's not enough we just institute "annual fees" for NATO membership or start confiscating European assets in the US. If the shenanigans in Europe are going to mess up a US recovery, or even a presidential election, then there should be a serious US response. We did not spend all that money on the Marshall plan just to have Europe blow up the world again!

Roteiro de ficção de David Zervos, do banco americano Jefferies, um pouco descontente com o que chama de "sadofiscalismo" e falta de ação dos europeus (os grifos no trecho são meus). O texto completo está aqui.

Tentando entender a crise na Europa (parte 4 e última)

Continuação da terceira parte.

9. Em resumo, as possibilidades de manutenção da União Européia implicam em maior integração do continente – seja com uma união fiscal ou com a adoção de uma política monetária que leve mais em conta o interesse das economias mais frágeis. Caso persista a ideia de “disciplinar” os países com situação fiscal pior, provavelmente esses optarão, no futuro (quando a austeridade e os anos de estagnação mobilizarem o eleitorado a votar em um candidato que defenda uma ruptura), por voltar às suas moedas nacionais, seguindo um script de desvalorização, crises cambiais e inflação bastante conhecido aqui ao sul do Equador.

Hoje acredito que a monetização é o cenário mais provável simplesmente por ser o que impõe menos custos no presente, e parece evidente que algo precisa ser feito - sem intervenção, provavelmente os mercados manterão os juros de vários países em níveis nos quais o financiamento da dívida torna-se impossível em pouco tempo. A partir daí, ou voltamos à crença no poder regenerativo do capitalismo (expressa no trecho do Kaletsky que coloquei no item 2) ou concluímos que o futuro é necessariamente pior do que o passado. Eu prefiro me refugiar na incapacidade humana de prever, sem deixar de concordar com o que o Tony Judt defendeu em seu penúltimo livro: há muito que conservar da Europa pós-II Guerra, e não parece sábio optar por uma alternativa cujas conseqüências são difíceis de serem previstas, mas dificilmente serão positivas e, no limite, arriscam um cenário algo parecido com o que levou a tanta destruição na primeira metade do século passado. Os alemães, que parecem gostar tanto de lembrar da República de Weimar, podiam lembrar também de um dos fatores que levou àquela situação: países com aura de autoridade moral tentando impor custos exagerados aos derrotados. Boas decisões de política econômica em tempos de crise tem mais a ver com adaptar as ações às circunstâncias do que seguir estritamente uma doutrina, creio ser essa a lição mais importante do passado.

10. A quantidade de material que está sendo produzida sobre a crise européia é imensa, em todas as qualidades e credos possíveis. Aqui os que acho mais interessantes (ou os que melhor alimentam meu confirmation bias):

- Uma longa apresentação do Deutsche Bank;

- Os aprendizados da crise, por Tyler Cowen (partes 1 e 2).

- Os textos de Gavyn Davies para o Financial Times.

- A página especial do Spiegel sobre a crise sempre tem artigos interessantes.

- A reportagem especial da The Economist.

- Uma perspectiva simplificada de teoria dos jogos, da Nomura.

- Uma visão de mercado do outro estrategista da Nomura, Bob "The Bear" Janjuah:

With the late October 'deal' now in tatters, and with subsequent developments in Italy, in Greece, and in the market pricing of French risk, the future for the eurozone now seems to be all about the ECB and outright monetisation. It seems amazing that the same folks who insisted that Greece would not default, that the eurozone was solvent and was just going through a CDS-trader-driven liquidity squeeze, that kicking the can down the road was a viable plan, and who trumpeted the late-October deal, now think ECB monetisation is the solution. I would urge extreme caution, again. In my view, the eurozone can either go down the path of full political and fiscal integration, which clearly means a smaller neue-eurozone and default by the nations that don't fit in with this hard-money Germanic ideal or it can take the soft-money Latin/UK/US-style soft-money route, where the ECB agrees to unlimited monetisation. It is clearly a case of 'either, or', but not both. These are two divergent policy paths. 
Germany appears to be adamant that full political and fiscal integration over the next decade (nothing substantive will happen over the short term, in my view) is the only option, and ECB monetisation is no longer possible. I really think it is that clear and simple. And if I am wrong, and the ECB does a U-turn and agrees to unlimited monetisation, I will simply wait for the inevitable knee-jerk rally to fade before reloading my short risk positions. Even if Germany and the ECB somehow agree to unlimited monetisation I believe it will do nothing to fix the insolvency and lack of growth in the eurozone. It will just result in a major destruction of the ECB's balance sheet which will force an ECB recap. At that point, I think Germany and its northern partners would walk away. Markets always want short, sharp, simple solutions. This is why the begging bowl is out for ECB unlimited monetisation. But, as in the immortal words of Messrs Jagger and Richards, "you can't always get want you want‟. 
I firmly believe that any conditional or finite monetisation would actually be the worst idea (most of the downside, very little of the upside, of infinite monetisation), but probably the most likely 'compromise' if Germany were ever to 'give' on this issue.

O que mais for surgindo eu compartilho aqui ou no Twitter.

11. Uma pergunta que eu não soube nem por onde começar a responder: por que ainda não ocorreu uma grande corrida bancária em alguns países da Europa? Qual incentivo tem o depositante de um banco grego (ou português, ou mesmo espanhol) para não tirar o dinheiro de lá e colocar num banco alemão ou holandês? O home bias é assim tão forte, ou tem algum outro possível fator sociocultural?

12. É isso. Agradeço muito pelo tempo de quem chegou até aqui e os comentários e sugestões de leituras nos posts anteriores. Aprendi muito pensando e escrevendo esses textos, espero que tenham servido para pelo menos despertar mais questionamentos.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Som da Sexta - Victor Démé

De Burkina Faso, presentaço do Pedro Só que animou o feriado chuvoso da semana.

Frases do dia - porque não ligar a impressora

"Some argue the euro can be saved only at the price of sacrificing monetary stability. This would be a momentous mistake. Putting the European Central Bank’s printing presses to work might at best bring some short-term relief. But it would have dire consequences, both raising inflation and dissipating vitally important incentives for reform. In the end we would end up with a depreciated currency and an even more destabilised eurozone. The ECB’s independence and firm commitment to price stability are of paramount importance to Europe’s economy."

Guido Westerwelle, ministro do exterior da Alemanha, no Financial Times de hoje.

Tentando entender a crise na Europa (parte 3)

Continuação da segunda parte.

6. Tudo isso observado, ainda acredito (com grande risco de me provar errado, claro) que os políticos alemães, com as opções que têm em mãos, acabarão deixando de lado a ortodoxia irrestrita do velho Bundesbank e aprovando um plano de monetização de dívida parecido com o que fizeram, sob o rótulo mais palatável de “afrouxamento quantitativo”, Japão, EUA e Reino Unido (a tentativa atual é de fazer isso via o fundo de establização, EFSF, mas creio que esse mecanismo, que envolve alavancagem e emissão de dívida continental, é complexo e pouco eficiente comparado ao que pode fazer um banco central em pouco tempo). Isso poderia levar de volta os juros dos países mais problemáticos (os PIIGS, todos negociando taxas acima de 6% para os títulos de dez anos) para níveis mais baixos e quebrar o ciclo vicioso que descrevi anteriormente. O primeiro efeito colateral, talvez não tão indesejado, seria alguma desvalorização no euro, nada que ponha a moeda em risco de colapso (a julgar pelos outros exemplos). Afastados os riscos de calotes e quebras generalizadas e com uma nova rodada de estímulo monetário, a Europa poderia voltar a pensar em seus problemas estruturais (ou mesmo tentar acreditar que o passar do tempo vai resolvê-los, como propôs o Kaletsky). Se isso acontecer, ficará em segundo plano outra pergunta extremamente relevante: qual o real custo de aumentar radicalmente a base monetária?

7. O velho Keynes, no clássico As Consequências Econômicas da Paz, escreveu (na tradução de Sérgio Bath para a edição da UnB):

Atribui-se a Lênin a declaração de que a melhor maneira de destruir o sistema capitalista é destruindo a moeda. Com um processo contínuo de inflação os governos podem confiscar uma parte importante da riqueza dos seus cidadãos, secreta e furtivamente. Com esse método eles não só confiscam, mas o fazem arbitrariamente; é um processo que empobrece a muitos mas na verdade enriquece uns poucos. Esse deslocamento arbitrário de riqueza fere não só a segurança mas a confiança na equidade da distribuição de renda. Aqueles a quem o sistema traz vantagens além do que merecem, e mesmo do que esperam ou desejam, passam a ser “aproveitadores” – objeto de ódio da burguesia, que a inflação empobreceu, não menos do que o proletariado. À medida que a inflação se desenvolve, e o valor da moeda flutua de mês a mês, as relações permanentes entre credores e devedores, fundamento do capitalismo, se desorganizam até quase perderem o sentido. E o proceso de aquisição de valor degenera em uma loteria de azar. 
Não há dúvida de que Lênin tinha razão. Não há meio mais seguro e mais sutil de subverter a base da sociedade do que corromper a sua moeda – processo que empenha todas as forças ocultas da economia na sua destruição, de modo tal que só uma pessoa em cada milhão consegue diagnosticar. 

A citação de Lênin é supostamente apócrifa (ver aqui), mas o restante é uma descrição quase profética do que ocorreria na Alemanha alguns anos depois (o livro é de 1919) e do que, supostamente, assusta tanto os alemães até hoje. O porém é que o mundo de hoje não tem a menor cara de inflacionário, com o crescimento rodando abaixo do potencial na maior parte dos países, uma massa enorme de desempregados e aparente excesso de capacidade instalada (além de muito mais estabilidade política do que no período entre guerras). Além disso, as últimas experiências de monetização de dívida (as três citadas acima) não desencadearam processos inflacionários (ainda, dirão alguns), negando a idéia que imprimir dinheiro é caminho certo para hiperinflação: parece ser, sim, um passo necessário, mas não suficiente.

8. O Japão é o caso mais antigo de aplicação de “afrouxamento quantitativo”, e talvez sirva como mapa do que pode ocorrer com o EUA, Reino Unido e Zona do Euro daqui para frente. O Banco do Japão pratica juros zero desde 1999 e anunciou pela primeira vez um programa de compra de títulos em 2001, tentando combater um cenário de risco de deflação que persiste até hoje. Desde o estouro da bolha de crédito (com reflexos no Nikkei e no mercado imobiliário), em 1990, o desempenho da economia e das empresas tem sido, no melhor dos casos, medíocre. Nesse tempo, a dívida bruta do país passou de 68% para 245% do PIB. Apesar disso, o Japão segue sendo rico (com desemprego baixo / alta renda per capita), e, paradoxalmente, os juros longos seguem em patamares muito baixos (menos de 1%, para títulos de 10 anos) e o iene bastante valorizado.

No caso japonês, o equilíbrio depende de uma grande capacidade de gerar superávits externos, que afasta qualquer possibilidade de crise cambial e seus efeitos (muito conhecidos por aqui). Além disso, é necessário que os poupadores japoneses mantenham o dinheiro no país, e que a sociedade tenha aprendido a viver com baixa mobilidade social e total simbiose entre empresas e bancos com o governo. Convém também não pensar muito no futuro, sobretudo nas próximas gerações. Não há a menor perspectiva de que a situação fiscal do país melhore ou que as empresas sejam capazes de voltar ao lucro, e os cidadãos parecem estar razoavelmente bem com isso.

 Sem pensar muito, dá para imaginar que esse modelo seria benvindo em muitos países da Europa: enriquecemos, tivemos poucos filhos e podemos nos dedicar a uma decadência lenta e razoavelmente opulenta. A Itália, por exemplo, tem uma demografia muito parecida com a do Japão: alta expectativa de vida (77 anos para homens, 83 para mulheres), baixa fertilidade (1,4 filho por mulher), população decrescente (deve cair até 2015) e envelhecida (idade média da população de 42 anos, só mais baixa no mundo que a do Japão). Diferenças regionais à parte, imagino que, se perguntado, o italiano médio escolheria “progredir de vez e virar japonês”, como já profetizava o Ultraje a Rigor. Entretanto, essa decisão não é possível, com a limitação evidente do país nas contas externas. A Itália tem conta corrente deficitária desde 1999, com tendência de mais deterioração. A garantia de moeda estável e pouco risco inflacionário, nessa situação, depende da permanência do país na Zona do Euro; uma nova lira (que equilibraria a conta corrente) provavelmente seria, periodicamente, desvalorizada e atacada, o que estragaria o sonho do dolce far niente.

O agregado dos países do euro não tem grandes problemas externos – a Alemanha e a Holanda, muito superavitárias, compensam os grandes déficits de Itália, Espanha e companhia, grosso modo (neste ano o déficit em conta corrente da zona do euro deve ser algo como 0,5% do PIB). Portanto, uma decisão eventual de monetizar dívida e chutar de vez a lata para longe (assumindo que em algum momento no futuro a monetização implicará em custos) teria que ser algo coordenado, com uma conciliação de interesses – os países “ricos” se convencendo de que vale a pena financiar a unidade do continente (pelo menos durante o tempo para as economias mais frágeis se reerguerem e desmontarem a rede de privilégios que quebrou os respectivos tesouros nacionais). Curiosamente esse é o mesmo tipo de pensamento que levou, em outras circunstâncias, à criação da União Européia; seria uma questão de pensar se, após o ocorrido nas últimas décadas, ainda deve-se atribuir um valor alto à estabilidade. A partir daí, a nova questão a ser respondida é quanto isso custará para o crescimento futuro do continente, ou o quanto é possível aceitar a idéia que crescimento pode deixar de ser, por um bom tempo, a grande prioridade de política econômica (e se é possível promover alguma justiça social sem crescimento). Essa, porém, não vou me arriscar a responder, por enquanto (até porque este texto já está muito maior do que o razoável).

O grande condicional para esse item todo é realmente ainda estarmos longe do fim de um longo período deflacionário. Se, por qualquer motivo (há vários bons no ar), a inflação voltar no mundo desenvolvido, a agonia dos credores deixa de ser diluída por muitos anos e passa a ser urgente, e os bancos centrais e governos terão um grande fator adicional de preocupação. Não seria bonito, definitivamente.

Gráfico do dia - corrida para o buraco

Os juros de dez anos da Itália e Espanha voltaram a patamares parecidos, para nenhum alívio dos dois países. Eu acho o crédito da Espanha mais frágil; façam suas apostas.


quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Tentando entender a crise na Europa (parte 2)

Continuação da primeira parte que postei ontem.

3. Para boa parte da Europa, portanto, não existe a alternativa de amenizar o problema da dívida com crescimento (grow out of the debt, como dizem os anglófonos). Simplesmente não há crescimento: muitas economias não são competitivas com o câmbio valorizado e acabou a era da alavancagem, que, por muito tempo, amenizou ou disfarçou essa condição (para não falar nas fraudes em contas nacionais). Resta atacar diretamente a dívida, com alguma das alternativas:

 i) Impedir ou reduzir o crescimento da dívida, ou seja, diminuir os futuros déficits fiscais, aumentando impostos ou cortando gastos. O problema dessa alternativa, além da dificuldade política de atacar privilégios passados, é prejudicar, no curto prazo, ainda mais uma atividade econômica já bastante debilitada. Não parece razoável, por exemplo, dizer aos espanhóis que uma economia com quase ¼ da força de trabalho desempregada vai ficar ainda pior antes de, possivelmente, melhorar;

 ii) Reduzir, via renegociação (ou calote), o estoque da dívida existente. Essa é a alternativa tentada para a Grécia; provavelmente não poderia ser aplicada para dívida maiores (a Itália, por exemplo, é o terceiro maior emissor de títulos soberanos do mundo, só atrás dos EUA e do Japão) sem um amplo pacote de recapitalização dos bancos, seguradoras e fundos de pensão, que teriam que assumir as perdas nas suas carteiras de títulos. O calote, se não negociado, pode fazer também com que os países que escolham essa alternativa fiquem anos sem acesso a crédito no mercado internacional. Uma renegociação com a manutenção do país em questão na Zona do Euro parece relativamente factível; um calote unilateral certamente implicaria na volta para a respectiva moeda nacional (a alternativa a isso é pagar a dívida com novas emissões da moeda nacional, provavelmente bastante desvalorizada - o que, para os credores, teria consequências semelhantes às de um haircut);

 iii) O Banco Central Europeu seguir o exemplo do Fed e do Banco da Inglaterra (e do pioneiro Banco do Japão): ligue a impressora de dinheiro e seja feliz. Ambos compraram, com dinheiro novo, grandes volumes de dívida dos respectivos países, jogaram os juros longos para níveis baixíssimos e, até agora, parecem ter afastado o risco de calote. Mais sobre as consequências dessa alternativa aparentemente mágica em breve;

 iv) Completar o projeto de integração do continente com uma efetiva consolidação fiscal, tornando a dívida e a arrecadação únicas dentro da união monetária. Provavelmente encontraria forte resistência nos países com contas melhores (o tradicional argumento do alemão austero pagando a aposentadoria precoce do grego indolente) e, ainda que viabilizada politicamente, levaria muito tempo para ser implantado. A alternativa a isso que está sendo tentada é a alavancagem do fundo de estabilização europeu (EFSF), mas os detalhes ainda me parecem muito obscuros para que possa sair do papel em tempo hábil para conter a crise.

4. Monetizar dívida parece a opção menos dolorosa no presente, e com efeitos mais imediatos nos juros. No caso da Europa, porém, essa decisão não pode ser feita por cada país, já que há uma única autoridade monetária para os 17 membros da Zona do Euro. É preciso ou abandonar a moeda única (como descrevi acima) ou forçar o Banco Central Europeu a aumentar seu balanço. Hoje se critica muito o BCE por ter mantido, por muito tempo, uma política monetária que parecia adequada para a Alemanha, mas que era apertada demais para outros países. Porém, esse foi o acordo implícito na criação do euro: tomava-se emprestada a credibilidade de manutenção do valor da moeda conquistada pelo Bundesbank para que fossem resolvidos os crônicos problemas cambiais e de inflação de alguns países; em troca, estes se comprometiam a manter suas contas mais ou menos ajustadas e teriam um tempo para viabilizar suas economias com essa restrição fiscal e moeda valorizada (e, em muitos casos, a ajuda das transferências da União Européia). O tempo provou a dificuldade de hábitos antigos serem mudados, e o acúmulo de desequilíbrios que foram por anos sutilmente ignorados culminou na situação atual.

Se as outras alternativas que coloquei no item anterior parecem lentas ou penosas demais, por que o Banco Central Europeu ainda não resolveu seguir o exemplo de suas contrapartes do outro lado do Atlântico e do Canal da Mancha? Não sei a resposta precisa, mas ela parece passar necessariamente por outra pergunta: o que querem os alemães, que, com pouca dúvida, são o motor econômico e, em alguma medida, "autoridades morais" do continente?

5. Também não sei o que querem os alemães. Talvez o mesmo que boa parte dos cidadãos do mundo rico: manutenção do padrão de vida conquistado nos anos após a II Guerra, paz, estabilidade e, se possível, alguma perspectiva para as próximas gerações. O que parece ser particular a Alemanha é o que ela não quer: os contribuintes parecem não estar dispostos a aumentar mais as transferências de sua riqueza para os demais países da Europa (o que excluiria qualquer tentativa de união fiscal - o quanto dessa riqueza conquistada nos últimos anos é produto da União Européia é objeto de grande discussão) e não veem com bons olhos monetização de dívida, suposto reflexo distante do caos hiperinflacionário da República de Weimar (1921-1923). Isso é o que a mídia nos deixa entender; há algum tempo, perguntei para o Magno Karl, que mora em Berlim, qual impressão ele tem do proverbial “alemão médio”. Ele, gentilmente, me deu a seguinte resposta (anedótica e sucinta, claro, mas melhor do que a tentativa do Michael Lewis): 

Só me baseando no que vejo e escuto por aqui, a ajuda aos gregos é bem impopular. Aliás, não só aos gregos, mas a qualquer país que seja visto – com justiça ou não – como mais gastador. Os jornais são mestres em comparar dados como a idade das aposentadorias, o valor médio das aposentadorias, o salário do funcionalismo público, enfim… coisas que mostrem que a Alemanha não deveria ajudar países que não são tão disciplinados assim. 
Eu acho que a megainflação jamais foi esquecida, mas acho que não é algo que amedronte a maioria das pessoas (que jamais viveram com inflação alta). Ou talvez só esteja lá atrás na lista de medos prioritários. O que espanta é que a inflação não amedronte o bastante no Brasil, onde qualquer um com 25 ou 30 anos consegue lembrar da inflação do início dos anos 90. 
 Na média, olhando em volta, os alemães parecem mais ricos que os ingleses, por exemplo, só para comparar com outro país onde eu morei. O tamanho do mercado de produtos orgânicos, que em alguns casos custam 5 vezes mais do que os convencionais, foi uma das coisas que no início mais me impressionaram, e talvez seja um indicativo de prosperidade.
Apesar disso tudo, acho que é difícil avaliar a Alemanha a partir de Berlim. A impressão que se tem aqui é de uma cidade-ilha, cheia de jovens, estudantes, artistas e a burocracia. Aluguéis e salários são baixos em comparação com Frankfurt, Munique ou Hamburgo. O desemprego é bem maior do que a média nacional. Berlim parece um campus universitário, com boa parte da população recebendo benefícios do governo, produzindo arte ou estudando, e talvez planejando “crescer” daqui a alguns anos.

P.S. para o item 4. "O" Anonimo escreveu nos comentários:

A crítica à política monetária única é que por muitos anos era correta para a Alemanha, um país com demanda fortemente deprimida, mas os juros eram BAIXOS demais para a periferia, Espanha e Irlanda em particular, que sofreu com bolhas no setor imobiliário e inflação alta.

Eu tinha respondido:

Você tem razão, ficou ruim no texto: a política monetária passou a ser claramente apertada para a periferia só depois que as bolhas estouraram e o crescimento afundou. 
 Depois preciso olhar os dados de novo, mas o que tinha em mente é que a inflação na periferia, entre a criação do euro e 2007, foi mais baixa do que era com as dracmas e pesetas da vida, não? Creio que a dificuldade de estabilizar os preços estava mais na fragilidade do câmbio, problema que foi resolvido com o euro. 
 Quanto às bolhas, contribuiu muito a ideia de "convergência" e de fim do risco soberano, que fez desaparecer os spreads de crédito - não sei se isso deve-se totalmente à política monetária, tem muito também de um feedback loop do mercado acreditando muito na competência dos políticos em suavizar os ciclos e comprimindo a precificação de risco por conta disso (outra longa discussão).


Os tais dados da inflação nos PIGS (fonte: FMI):


Sobre formação de bolhas, aqui tem um texto introdutório bem sucinto do Edward Chancellor (existem outras tantas opiniões, desde Minsky até as mais recentes, com inspiração na geofísica).

Gráfico do dia - oferta de dinheiro na Itália

Não precisa acreditar muito em monetarismo de mercado para achar que o BCE está fazendo algo errado. Via Marginal Revolution.


quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Leituras do feriado chuvoso

- Um debate entre Paul Krugman e Lawrence Summers. O curso que Summers deu em Harvard sobre a crise, no início do ano.

- Nomura sobre a supreendente melhora da balança comercial brasileira neste ano.

- Warren Buffett gosta de companhias antigas (muito antigas, na maioria dos casos).

- A nova carta do Núcleo de Real Estate da Poli, comparando os índices do mercado brasileiro com o Case-Shiller.

- O especial da The Economist sobre petróleo no Brasil.

- A Marfrig, um dos brilhantes investimentos do BNDES, perdeu R$ 540 milhões no terceiro trimestre. A ajuda para Eike Batista reerguer o Hotel Glória.

- Mais na discussão sobre metas para o PIB nominal.

- Dani Rodrik, que passou rapidamente por aqui: "Being in Brazil made me realize there are few countries left now that are consolidated democracies AND have sustainable public finances."


- Itália x EUA, onde você colocaria seu dinheiro (por um banco italiano)?

- Os empregos dos sonhos dos jovens americanos. Parece que o mercado financeiro está perdendo o sex appeal.

- Scott Locklin sobre o ilustre desconhecido (pelo menos para mim) Eudoxo de Cnido.

- O Maurício Santoro encarou o livro de Henry Kissinger sobre a China.

- Novas fronteiras da educação no Brasil: o curso de flanelinha.

- Os livros fundamentais da Sociologia.

- A perturbadora capa da primeira Newsweek, de 1933.

- Brian Eno sobre instrumentos musicais.

- 3eanuts, o desespero existencial nas tiras da turma do Charlie Brown.

Tentando entender a crise na Europa (parte 1)

Muita gente tem me perguntado sobre o que acho que vai acontecer com a Europa. Desde o início da crise, eu mudei de opinião pelo menos uma vez: achava que o mais provável seria uma saída dos países fracos (Grécia, para começar) da moeda única; hoje creio que pouca gente está disposta a pagar para ver o tamanho do choque que isso causaria no continente inteiro. Comecei há uns dias a escrever meus pensamentos e como cheguei até eles; infelizmente, tanto as questões são complexas quanto minha capacidade de síntese não é das melhores, e, até agora, já conto cinco páginas no Word e ainda não dei o trabalho por terminado. Como o formato aqui pede textos mais curtos (acho), vou separar em partes e ir publicando, uma por dia, até acabar. Quem tiver paciência para ler, sinta-se convidado a comentar e debater; quem não aguentar mais falar do Velho Continente, pode voltar daqui a uma semana e encontrar a programação normal de volta.

A essa altura, todos os bons analistas e afins já deram suas opiniões sobre a crise na Europa, e já estamos no ponto em que os palpiteiros mais levianos e menos ilustrados começam a falar como se tudo fosse previsível e que era óbvio que acabaríamos nessa situação (na sofisticada linha de que macroeconomia é igual a economia doméstica: se a dona de casa gasta mais do que ganha, uma hora vai encontrar problemas). Onde quer que eu me encaixe nesse espectro, aí vão alguns pensamentos meio soltos, que vão servir provavelmente mais para eu organizar minhas convicções do que acrescentar algo novo ao debate:

1. O principal problema da Europa é o endividamento de alguns países. Por uma série de motivos, há alguns meses o mercado parece ter atingido um ponto de saturação, e o que parecia sustentável (isso é, possível de ser rolado com a barriga) virou um grande problema para o futuro. É claro que Grécia, Irlanda, Itália, Portugal e companhia não se endividaram de um dia para o outro; em minha opinião, ocorreu que, após alguma esperança de recuperação das economias após o choque da crise de 2008, este ano a realidade mostrou claramente que: (i) a crise não era apenas uma desaceleração cíclica; (ii) em certo sentido, a crise não acabou, já que os mesmos problemas que levaram a ela (excesso de alavancagem e risco moral, para simplificar) continuam influenciando os mercados e as economias nacionais.

Até pouco tempo atrás, os grandes estoques de dívida acumulados por alguns países tinham refinanciamento praticamente garantido, a taxas de juros historicamente baixas. A premissa por trás dessa situação é que a dívida e seu serviço (pagamento de juros) não vão crescer de forma explosiva, sobretudo com relação à variável macroeconômica mais usada como indicador de capacidade de pagamento: o PIB nominal (a variável mais direta seria a arrecadação de impostos, mas esta é, historicamente, bastante correlacionada com o valor do PIB). Com a crise, tanto a necessidade dos países se endividarem aumentou (seja por políticas fiscais mais expansionistas, para tentar reativar a economia, ou por transferências de dívidas do setor privado para os governos - os bailouts de bancos) quanto o PIB nominal parou de crescer (com inflação baixa e baixo crescimento real da economia - há quem ache que esse é "o" problema, ver o Scott Sumner), e o resultado foi queda na receita tributária e piora na relação dívida (crescente) / PIB (estagnado). Uma vez percebido isso, era questão de tempo para que o mercado passasse a atribuir um risco maior para a possibilidade de alguns países entrarem numa espiral negativa, passando a precificar calote ou risco de desvalorização da moeda. Quem teve essa visão no início de 2011 (pouca gente, a julgar pelo desempenho dos fundos e mesas proprietárias de bancos) teve oportunidade de realizar grandes lucros: os juros de dez anos para os títulos soberanos de Portugal, Itália, Grécia e Espanha passaram de 7,0%, 4,8%, 12,5% e 5,5% para 11,3%, 6,6%, 28,4% e 6,0%, respectivamente.

Quaisquer que sejam os motivos para a alta dos juros, os efeitos são destrutivos e tendem a alimentar o movimento que os tirou de patamares baixos (e sustentáveis) para níveis preocupantes. Para citar alguns, sem a pretensão de muita abrangência: o serviço da dívida passa a ficar muito caro, os bancos e investidores que carregam dívida sofrem perdas na marcação a mercado e podem se tornar vendedores de títulos problemáticos (ou necessitarem de mais capital), o custo do crédito para as empresas nacionais torna-se proibitivo e a possibilidade de crescimento fica ainda menor. Assim estamos hoje.

2. Um ciclo prejudicial que se auto-alimenta precisa ser quebrado (oh, really?). Há alguns meses, acreditava-se que não seria preciso atacar diretamente o aumento no estoque de dívida, já que o crescimento econômico voltaria e isso justificaria a estratégia de “chutar a lata ladeira abaixo”. Anatole Kaletsky, do Times londrino, escreveu no ano passado, em seu Capitalism 4.0 (grifos meus):

In a capitalist democracy whose raison d’etre is to devise new solutions to long-standing social and material demands, a problem postponed is effectively a problem solved. To be more exact, a problem whose solution can be deferred long enough is a problem that is likely to be solved in ways that are hardly imaginable today. Once the self-healing nature of the capitalist system is recognized, the charge of “passing on our problems to our grandchildren” – whether made about budget deficits by conservatives or about global warming by liberals – becomes morally unconvincing. Our grandchildren will almost certainly be much richer than we are and will have more powerful technologies at their disposal. It is far from obvious, therefore, why we should make economic sacrifices on their behalf.

De lá até hoje, cada vez mais gente passou a duvidar dessa capacidade de auto-regeneração do capitalismo, já que, como disse acima, a crise de 2007 / 2008 mostrou-se, para alguns países, mais poderosa do que uma das muitas desacelerações cíclicas da história: não houve recuperação do crescimento, o desemprego seguiu em níveis muito altos e a simples passagem do tempo sem que haja melhora na conjuntura ou na sua perspectiva fez com que os “agentes” (não só o mercado, mas os próprios eleitores) passem a exigir dos governos alguma medida – qualquer medida, já que a falta de ação parece já ter se provado inefetiva.Curiosamente, a moral descrita acima segue intacta: ainda que pareça menos garantido que nossos netos serão mais ricos que nós, ninguém parece muito preocupado com eles, com tantos problemas para serem resolvidos no presente.

domingo, 13 de novembro de 2011

Edição de Domingo - Pa-Panamericano

Porque é muito fácil falar da crise e das fraudes bancárias alhures e não se lembrar do nosso próprio umbigo. Que não se esqueça a história podre do Panamericano, e, se possível, dê-se atenção a outro caso similar (que ainda não virou um escândalo): o do Banco Votorantim, em 2008. Escreve o Elio Gaspari hoje, na Folha:

Os amigos do mico do PanAmericano 
Todos os malfeitos dos seis ministros varridos na faxina da doutora Dilma não somam os R$ 4,3 bilhões do buraco do Banco PanAmericano. Em dezembro de 2009 o comissariado da Caixa Econômica comprou por R$ 739 milhões metade desse negócio, então pertencente ao empresário Silvio Santos. À época, tudo parecia nos conformes. O Banco Central autorizou a operação, e as contas haviam sido auditadas pela KPMG e pela Deloitte.
Em agosto de 2010 o BC sentiu cheiro de queimado e, dois meses depois, chamou a Polícia Federal. Desde 2007 os diretores do PanAmericano simplesmente vendiam carteiras de crédito sem retirar esses valores de seus balanços. Para começar, um rombo de R$ 2,5 bilhões. A Caixa comprara metade de um mico.
Havia de tudo, dezenas de milhões em bônus dissimulados, casas em Miami e até caixas de dinheiro em porta-malas de carro. Graças à PF sabe-se que há mais. Em 2009, o ex-comissário Luiz Gushiken tinha tratativas com a casa. Nesse ano, o braço direito de Silvio Santos dizia que "ficou de boca aberta" ao saber quem eram os "amigos" que ajudariam a enfiar a Caixa no buraco. Amigos, o banco tinha. Em dezembro de 2006, com Lula já reeleito, seus diretores, valendo-se de empresas próprias, doaram legalmente R$ 500 mil à sua campanha. Em janeiro de 2010, semanas depois da entrada da Caixa no banco, os diretores recebiam pedidos para nomear amigos do governo. Num e-mail, o presidente Rafael Palladino narrou sugestões para que se aninhasse no PanAmericano o companheiro Demian Fiocca, ex-presidente do BNDES. A essa altura, a explosão do banco era iminente, mas doaram, "na moita", por meio de outra empresa, R$ 300 mil para o Diretório Nacional do PT. Na mesma época, o PanAmericano passou ao tucanato R$ 954 mil. Numa operação escrachada, pagou contas de campanha do governador Teotônio Vilela. Em agosto de 2010 o Banco Central achou o rombo, no dia 22 de setembro Silvio Santos esteve com Lula e em outubro chamou-se a polícia.
O PanAmericano mudou de dono, Silvio Santos saiu do negócio, os ex-diretores estão indiciados em inquérito, o contador está colaborando com as investigações e os computadores apreendidos pela PF têm mais a contar.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Som da Sexta - Nina Simone

Cover de dona Eunice Waymon para o original dos Bee Gees, de bem antes da era disco (vejam a capa do single, mais pra Monkees do que qualquer outra coisa).

Paridade do poder de compra, edição natalina

Supermercado em Washington, DC (obrigado ao Fabrício T. pela foto):


US$ 6,99 * 1,755 = R$ 12,27

No Pão de Açúcar:


Frase do dia - aí não, IBGE

"Eu não entendo isso como vazamento, mas sim, a informação estava disponível a partir do momento em que ela era publicada. O arquivo estava disponível para quem quisesse consultar, seja às 17 horas, 17h30 ou 18 horas"

Ian Nunes, gerente do Centro de Documentação e Disseminação de Informações do IBGE, comentando sobre a possibilidade do instituto estar vazando divulgando antecipadamente o IPCA há quatro meses (no dia anterior da divulgação oficial, com o mercado de juros futuros ainda aberto). Evidentemente o "quem quisesse consultar" precisava saber, de alguma maneira, o caminho pelo website. O IBGE prestaria um grande serviço a sua reputação se entregasse, o quanto antes, uma carta de demissão para o seu Nunes.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Gráfico do dia - Uma moeda, dezesseis juros

Há não muito tempo, o mercado chegou a acreditar que era quase indiferente carregar dívida da Grécia ou da Holanda, já que, no vencimento, ambos os tesouros nacionais retornariam o principal para o investidor em euros, com baixo risco de calote. Hoje o consenso é que há um risco grande de, em muitos casos, o principal não ser devolvido na totalidade ou ser pago nas antigas moedas nacionais, e isso se reflete nos juros pagos pelos títulos da dívida. A era do fim do risco soberano durou pouco: atualmente, na mesma moeda, você pode receber 1.8% ao ano confiando na solidez da Alemanha ou levar 28.4% ao ano em possíveis dracmas futuras.

É interessante ver que os títulos emitidos pelo fundo de estabilização (EFSF) encontraram mercado a taxas acima das de diversos membros do euro. E que os juros pagos pela França, após a forte alta de hoje (0.27 p.b.), operam a uma taxa quase duas vezes maior que a da Alemanha. Claramente alguns AAA são mais AAA que os outros.


Os dados são da Bloomberg. Chipre e Estônia também fazem parte da zona do euro, mas não têm títulos com negociação relevante no mercado.

McHermano

Mais bizarrices dos nossos vizinhos. Há alguns meses, o governo apresentou queixas criminais contra uma consultoria que tentava estimar a inflação real (possivelmente mais de 20% ao ano, contra algo como 9% anunciados pelo instituto oficial, o Indec). E já aparecem vários indícios de que começa a entrar água na "espetacular recuperação" da economia depois do calote de 2001. Creio que esse, no futuro, vai ser dos casos mais evidentes de como a bonança de commodities pode esconder, por muito tempo, péssimas decisões de política econômica (o que indica que a Venezuela tem de fato dos piores governos do mundo, capaz de enfiar o país no buraco mesmo após anos de preços de petróleo altos).

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Leituras da Semana

Hoje é dia da independência do Camboja.

- Nassim Taleb pede o fim dos bônus para banqueiros.

- Thomas Sargent aceita um convite para se unir ao lado negro.

- Uma rara (e lúcida) perspectiva otimista para a Europa.

- Barry Eichengreen defende que o BCE comece a acelerar as compras de dívida italiana.

- Daniel Kahneman, por Michael Lewis.

- A história da turma que abandonou uma aula de introdução à economia, em Harvard.

- Um bom indicador de desenvolvimento para o Brasil: 14% dos CEOs de grandes empresas são mulheres (contra menos que 5% nos EUA e no Reino Unido). Via Marginal Revolution.

- Os 10 maiores no crédito imobiliário no Brasil.

- Uma ideia digna de Ig Nobel: taxar os países da Europa com desemprego alto.

- Acho que o Niall Ferguson caiu de vez na tentação da supersimplificação, uma pena.

- Andrew Lo, do MIT, resume 21 livros sobre a crise.

- Luigi Zingales, de Chicago, sobre o declínio do ideal meritocrático.

- Mauricio Santoro sobre o fim da era do Bunga-Bunga.

- Para Dani Rodrik, a manufatura é especial.

- Explicando lógica difusa (fuzzy) em uma imagem.

- A turma do Charlie Brown encontra H.P. Lovecraft.

- Kind of Blue, Time Out, The Shape of Jazz to Come, Mingus Ah Um... parece que 1959 foi um ano bom pro jazz.

Gráfico do dia - minério de ferro, soja, real

Ideologias à parte, qualquer história econômica dos anos do PT no poder deveria começar com um gráfico desse tipo. Impressionante também ver que as exportações de soja e minério neste ano, supostamente "ruim", serão uns 50% maiores do que no ano passado - Deus continua sendo brasileiro.


O gráfico é da extensa matéria da última The Economist sobre o petróleo no Brasil, vale a leitura.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

O táxi de um milhão de dólares

Essa notícia de ontem na Bloomberg é muito ilustrativa do mundo de baixos retornos de investimento em que estamos vivendo (a "nova normal" da PIMCO): o preço de licenças de táxi em Nova York (os medallions) bateu recordes no mês passado - duas licenças foram vendidas por US$ 1 milhão cada. Uma das explicações, não citada na matéria, são os juros mais baixos da história, que fazem com que os valores presentes dos fluxos futuros atinjam valores mais altos (isso também valeria para imóveis, não fosse a bolha). Outro, segundo a Bloomberg, é o interesse de investidores em ativos seguros, capazes de gerar retornos com relativo baixo risco.

O retorno, claro, não é grande coisa: uma licença de táxi gera, segundo a Bloomberg, um lucro de cerca de US$ 2.500 por mês, que corresponde a um retorno de cerca de 3% ao ano sobre o capital - ou 33 longos anos para o investimento se pagar. Para quem não tem US$ 1 milhão disponível, é possível financiar a compra - a 6% ao ano, o que significa todo o tempo do financiamento com um fluxo de caixa bastante negativo. Não anda nada fácil a vida dos poupadores americanos (enquanto isso, por aqui meu pai reclama que há tempos a poupança não dá mais 1% ao MÊS).

Outro dado curioso: Nova York tem uma frota de pouco mais de 13 mil táxis (deve ganhar mais 1.500 a partir de julho do próximo ano). Rio e São Paulo têm, cada uma, algo como 30 mil licenças, e fica para um próximo post lucubrar sobre porque achar um táxi livre no Rio é tão difícil quanto em Nova York (e porque quase nenhum taxista da Zona Sul se dispõe a ir até a Barra) e porque as tarifas em São Paulo são tão caras.

Baby, you're a rich man...

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

A humildade de Larry Summers

Eu já sabia que ele tinha seus ataques de prima donna, mas isso parece novo. Da última coluna do Elio Gaspari:

A certa altura foi necessário fazer um agrado no professor Larry Summers, o principal assessor econômico do presidente. Summers sentia-se desprestigiado e tinha três pleitos: 
1) Jogar golfe com Obama. 
2) Ser chamado para as fotografias em cerimônias importantes. 
3) Carro oficial com motorista. 


Em 2007, antes de ir para o governo, Summers ganhara US$ 5,2 milhões dando consultoria de um dia por semana a um fundo de investimentos. Ficou sem o carro e, mais tarde, sem o cargo.

Jornalistas e a crise européia

Eu tinha prometido parar de policiar a cobertura econômica dos jornais, mas está difícil segurar. Mais ainda quando a cobertura é feita por um cara que gosta de bater no peito dizendo que tem 40 anos de carreira (no caso, o Clóvis Rossi) e já viu de tudo (e isso supostamente o qualificou para, hoje em dia, cobrir os grandes encontros de governos e viajar bastante às custas do jornal). Isso implica também que já teve bastante tempo para aprender algo além do superficial sobre os assuntos que cobre. Ainda assim, não raramente ele dá umas escorregadas que seriam imperdoáveis mesmo para um foca com alguma ambição na carreira.

A manchete do caderno Mundo da Folha no sábado foi "G20 adia soluções para crise econômica". Tudo bem o G20 acreditar (ou fingir) que tem soluções para a crise, mas, a essa altura, dar a entender que os caras têm uma solução viável e estão só esperando (sabe-se lá o quê) para agir é algo perigosamente ingênuo (eu sei que, geralmente, não é quem escreve a matéria que coloca o título, mas o tom da matéria é exatamente esse). Em outro texto, seu Rossi diz que Mantega falou em "guerra fiscal" (no lugar de "guerra cambial"), depois de citar o clássico "injeção de dinheiro na veia da economia" - a medicina estaria perdida se as injeções tivessem a eficácia que tiveram os afrouxamentos quantitativos da vida. No domingo, o mesmo autor se meteu a explicar o trading de alta frequência e os dark pools, chamando-os de "cavaleiros da escuridão". Bela retórica, mas não ajuda em nada o entendimento do leitor (pelo menos ele sugeriu uma consulta ao Google, mais por falta de espaço do que por humildade, creio).

Estamos falando de um dos articulistas mais conceituados do maior jornal do Brasil, e aí caímos naquela velha pergunta: por que a cobertura econômica no Brasil é, com nobres exceções, tão precária? Isso deu uma boa discussão no blog do Leonardo Monasterio há um tempo, não tenho muito mais a acrescentar. Outro ponto interessante é tentar imaginar as barbaridades que se fala sobre outros assuntos que não domino, e que passam como verdades. Nisso, pelo menos, a internet faz um grande serviço: é possível ler opiniões de gente que realmente estudou os assuntos, concordando com elas ou não. Além disso, os incentivos para se escrever um blog esporádico me parecem muito menos perversos do que os de um jornal diário. Vida longa aos blogs, portanto (nada como advogar em causa própria).


P.S. O pessoal do G20 não pode alegar ignorância, e diz no comunicado final (também citado na Folha) que "as flutuações nos preços das commodities puseram o crescimento em risco". Ainda bem que é só controlar o mercado de commodities para garantir a volta à trilha do crescimento.

P.P.S. Meu chute é que, agora que um país grande demais para falir começa a preocupar, não vai demorar muito para o Banco Central Europeu (sob nova direção) seguir o mapa desenhado pelo Fed e o Banco da Inglaterra e começar a monetizar dívida em grandes volumes. É o caminho mais fácil, que não envolve grande coordenação entre governos e poderia adiar o problema das dívidas sem passar por um calote. Mais fácil ainda porque pode-se alegar que os casos dos EUA e do Reino Unido foram, até agora, um sucesso: os juros caíram, a inflação não acelerou  (ainda, dirão os mais céticos) e uma depressão foi evitada. O custo, que o legado do Bundesbank tentaria evitar, é a depreciação da moeda, mas essa causa parece estar cada vez mais sem defesa.

Charge roubada da The Economist.

Ocupando Wall Street - o que querem

Depois do ruído inicial, algo bastante sensato do Occupy Wall Street (carta publicada na última The Economist):

Capitalism, or the destruction of it as a system, is not the objective. Rooting out and holding to account the people and or entities that knowingly and wantonly break the law and violate our constitution is the goal. We know who we are fighting for and if our message is not exactly refined yet, it will be. After all, we are only into our second month.
I assure you, if voting worked, we would all be home right now.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Som da Sexta - Jimi Hendrix

Hendrix toca, à sua maneira, o grande blues de Albert King.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Anedota grega do dia

Do Telegraph. O problema de arrecadação por lá é de chorar:

There are more Porsche Cayennes registered in Greece than taxpayers declaring an income of 50,000 euros (£43,800) or more, according to research by Professor Herakles Polemarchakis, former head of the Greek prime minister’s economic department.

Obrigado ao Zé A. pela dica.

Update: O Patrick (a quem agradeço) achou essa checagem dos números que diz que a história do professor Polemarchakis não é muito mais crível do que os planos de austeridade gregos.

Um paper para o dia

Via De Gustibus, uma história econômica da cerveja. Produção da Universidade Católica de Leuven, cidade belga que, não à toa, é o berço da Stella Artois e atual sede da AB InBev. Saúde!

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Conversa entre um inglês e um italiano

Circulando por aí...


Frase do dia - ofendidos por trens rápidos

People who don't want high-speed rail are not just indifferent to fast trains. They are offended by fast trains, as the New York Post is offended by bike lanes and open-air plazas: these things give too much pleasure to those they hate.

Adam Gopnik, da New Yorker, numa excepcional revisão da literatura recente sobre o suposto declínio dos EUA e do Ocidente.