quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Gráfico do dia - Uma moeda, dezesseis juros

Há não muito tempo, o mercado chegou a acreditar que era quase indiferente carregar dívida da Grécia ou da Holanda, já que, no vencimento, ambos os tesouros nacionais retornariam o principal para o investidor em euros, com baixo risco de calote. Hoje o consenso é que há um risco grande de, em muitos casos, o principal não ser devolvido na totalidade ou ser pago nas antigas moedas nacionais, e isso se reflete nos juros pagos pelos títulos da dívida. A era do fim do risco soberano durou pouco: atualmente, na mesma moeda, você pode receber 1.8% ao ano confiando na solidez da Alemanha ou levar 28.4% ao ano em possíveis dracmas futuras.

É interessante ver que os títulos emitidos pelo fundo de estabilização (EFSF) encontraram mercado a taxas acima das de diversos membros do euro. E que os juros pagos pela França, após a forte alta de hoje (0.27 p.b.), operam a uma taxa quase duas vezes maior que a da Alemanha. Claramente alguns AAA são mais AAA que os outros.


Os dados são da Bloomberg. Chipre e Estônia também fazem parte da zona do euro, mas não têm títulos com negociação relevante no mercado.

8 comentários:

F. Arranhaponte disse...

Muito legal o blog.

Abraço,

Drunkeynesian disse...

Muito obrigado, volte sempre!

Jorge Browne disse...

Os problemas da integração monetária sem integração fiscal...
Nas palavras do Dani Rodrik:
"The main lesson from the debacle is that economic union requires political union. The EU needs either more political union if it wants to keep its single market, or less economic union if it is unable to achieve political integration."

O Krugman é mais radical:

"What all this comes down to, of course, is that a common currency has a much better chance of working if you actually have a nation."

Fernando A. disse...

Sem moeda própria para colocar um pedágio nas mudanças nas condições/confiança de um país, só resta as taxas desempenharem esse papel. Como zerar algum risco soberano não tem custo, os juros para segurar o investidor vão oscilar muito mais. Alguém escreveu que as dívidas foram assumidas em moedas próprias (lira, Euro) e viraram moedas de terceiros (Euro Alemão). Sem coordenação fiscal mais profunda, o volume de dívida que os países mais frágeis poderiam rolar sem risco de instabilidade é a metade da que eles tem hoje. E os laços entre bancos europeus teriam que ser também muito menores.
Abraço

Drunkeynesian disse...

Ótimos comentários, Jorge e Fernando. Devo escrever mais sobre a Europa hoje.

Fernando A. disse...

Lembro das consultas de conhecidos sobre resgatar ou não CDBs pagando 102%CDI, já com liquidez, nas boatarias sobre bancos em dificuldades desde sempre no Brasil. Eu sempre respondia: se não tem penalty, se a taxa para ficar não remunera a sua preocupação, resgata, deixa a grana passar umas semanas num bancão TBTF e depois pensa no que fazer. Será que 6%/7% remunera convenientemente o risco italiano? Se você está no money market certamente não, mais longo talvez não ainda.
Abraço

Drunkeynesian disse...

Sem dúvida não vale a preocupação pelas migalhas adicionais (ainda que, no caso do CDB, tenha a garantia do FGC, o que permite alguns bancos médios oferecerem mais de 100% do CDI "sem risco" para o varejo).

A maior surpresa para mim e o pessoal do meu trabalho é como ainda não houve uma corrida bancária na Europa (pelo menos na Grécia e Portugal, mas também na Itália). O risco / retorno de um depositante deixar o dinheiro num banco grego parece totalmente distorcido, considerando que ele pode, com relativo pouco esforço, transferir tudo para um banco alemão ou suíço.

Fernando A. disse...

Der Spiegel cita um boom imobiliário em Berlin originado pelo fly to quality greco-romano (boom deve ser um exagero na minha opinião). Números de várias dezenas de bi de euros fluindo para Suíça e Alemanha mensalmente. Fica a impressão que a confiança que os governos conseguirão manejar a crise ainda prevalece.
Abs