Finalmente terminei a pilha acumulada durante agosto. Isso é o que sobreviveu ao teste dessas poucas semanas (em perspectiva, é incrível o tempo que se perde com ruído e besteiras no dia-a-dia):
- A segunda parte da carta trimestral de Jeremy Grantham, cada vez mais pessimista com o que aconteceu com o capitalismo e, sobretudo, com os EUA (na concepção dele, tomou o título da Argentina de "governo mais disfuncional") depois da crise de 2007 / 2008.
- O texto mais recente de Michael Lewis, sobre sua viagem a Alemanha - só porque o autor já conquistou uma reputação, mas o texto é ruim, cheio de estereótipos, teorias sociais furadas e piadinhas sem graça. Ouso dizer que soa algo ressentido pelo sucesso da economia alemã (com tantos "quadrados" viciados em regras e banqueiros burros no comando) após a crise, comparado ao fiasco dos EUA. O Scott Locklin fez uma crítica ácida e muito melhor do que qualquer uma que eu conseguiria escrever (e talvez o texto original valha mais por despertar esse tipo de reação).
- Essa matéria da Der Spiegel, que alimenta a tradicional imagem de especuladores como destruidores de economias e do bem-estar geral - como todos sabem, também são culpados pela extinção dos dinossauros e pelas forminhas de gelo não se auto-encherem depois de utilizadas. Apesar dessa e de outras concepções que são, acho, equivocadas, é um bom exemplo do zeitgeist e traz alguns depoimentos interessantes.
- Os bons estrategistas da Nomura, Kevin Gaynor e Bob Janjuah, atualizam sua visão sobre os mercados e o estado da economia global. A Nomura tem sido, com folga, a casa de research que mais tem acertado o cenário macro, talvez pela boa influência do guru Richard Koo, ou porque o mundo de fato está virando japonês, no mau sentido.
- A melhor coisa que saiu de Jackson Hole este ano foi o trabalho apresentado por Dani Rodrik, da Kennedy School de Harvard. Ele fala da convergência entre os países em desenvolvimento e o mundo desenvolvido em termos realistas, sem extrapolações: ao longo da história, episódios de crescimento acelerado por muitos anos são exceção, não regra; e, choque para os ortodoxos, a transformação estrutural necessária para o desenvolvimento raramente vem do livre mercado e das "boas práticas" de gerenciamento macroeconômico (estas servem para evitar desastres, entretanto). O paper inteiro é excelente; os apressados, como de costume, podem ficar só com a introdução e a conclusão.
- Nassim Taleb e seu sócio, Mark Spitznagel, pregam um ativismo moral contra ações de bancos. O site de Taleb diz que ele está em "indeterminate leave", alguém sabe se a saúde dele está bem?
- Bônus: todo mundo já deve ter visto, mas não custa recomendar de novo o mapa que a The Economist fez comparando os estados do Brasil com países. Paulistanos, muszą uczyć się języka Polski!
segunda-feira, 5 de setembro de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
4 comentários:
Dá uma lida nesse:
http://tpmdc.talkingpointsmemo.com/2011/09/investors-knock-sp-for-giving-subprime-bonds-higher-rating-than-us-debt-4.php?ref=fpa
Surreal... não precisa nem ser expert pra notar algo esquisito.
Certo que li o do Taleb pelo Google Translate.
Mas dá para entender o espírito da coisa.
Se parte dos fatos que e;e aponta são verdadeiros, a coisa está ficando pornográfica.
Se os responsáveis por gerir o sistema, banqueiros e bancários de alto coturno, lucraram mais com a quebra do Lemhan (?), com a crise de 2008, então algo está muito errado.
Não estará errado se o único propósito dessas pessoas for enriquecer a sua própria pessoa física. Neste caso o sucesso é absoluto.
Mas se assim procedendo causaram prejuízo aos acionistas e investidores dos bancos para os quais foram contratados como executivos, então o sistema está errado.
Não se se lucraram mais. Gostaria de saber qual a sua percepção.
Os responsáveis pela quebra de 2008 fizeram um bom negócio pessoal ?
Ou esses que eventualmente lucraram não foram os responsáveis pela quebra ?
O Valor traduziu o texto do Taleb há uns poucos dias, vale procurar.
Acho que dos top executivos, o pior caso foi dos que perderam o emprego e tinham parte da remuneração atrelada ao preço das ações das companhias - ainda assim, estão bem longe de terem ficado pobres.
O que parece ter ficado claro é que o modelo de banco, do jeito que está, incentiva tomada de risco totalmente irresponsável, que gera resultados fictícios para os acionistas por um tempo (e bônus para os executivos), e acaba levando os bancos à falência (e os bônus, obviamente, não são devolvidos). Exemplo de livro texto de risco moral.
Postar um comentário