segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Econometria aplicada 101

Do Estadão hoje:

Bancos refazem cálculos com os modelos de previsão do BC e chegam a inacreditáveis 5%

Mais impressionante do que a possibilidade de uma queda dessa magnitude nos juros é ver esse tipo de "revelação" feita por economistas "top", que ganham salários anuais de 6 ou 7 dígitos. Mais ainda que ela só apareceu depois de o BC ter sinalizado essa possibilidade. Qualquer primeiroanista que aprendeu regra de Taylor pode concluir que, se o PIB cai, digamos, 5% abaixo do potencial, o juro deve cair na mesma proporção (supondo que a inflação não se mexe). Os modelos são versões mais ou menos sofisticadas desse racional, e vão servir para que a ortodoxia consiga, pelas suas cartilhas, justificar um movimento que, por essas mesmas cartilhas, jamais deveria ter acontecido.

Claro que dentro do rótulo de ortodoxos existem ótimos e péssimos profissionais, mas esses episódios devem levar o leitor mais atento a acreditar que a mediocridade reina no mercado financeiro...

25 comentários:

iconoclastas disse...

de vez em quando os economistas deveriam prestar um pouco de atenção nos traders...

Drunkeynesian disse...

Em alguns casos ajudaria, mas acho que o problema é mais embaixo. Nenhum curso de economia ensina que o teste final pra qualquer teoria é a realidade; não à toa os cientistas de verdade não levam a sério.

Fernando A. disse...

Você tem uma explicação para a curva pré não ter steepado nada? Temos inflação corrente pressionada, um BC com o machado na mão e um ambiente externo podre. Os traders morrem de medo de perder a "grande e última fechada" e correm do CDI. Também com os juros externos no chão os estrangeiros então longer than ever. Mas não vejo ninguém contra. O BC deve ver essa curva comportada como um sinal de vitória. E de mais espaço.
Abraço

Drunkeynesian disse...

Até inclinou um pouco - o spread 13-17 mudou de padrão, de um range entre -40 bp a 0 bp para algo entre 20 bp e 60 bp, mas concordo com sua visão, deveria ter inclinado mais. Acho que de fato há um pouco de pressa por parte do estrangeiro, o que é justificado (bem ou mal, 11% de juros aguentam muito desaforo no mtm), e eu também temeria uma corrida dos fundos de pensão pro pré, assim que eles perceberem que só comprar NTN-B não vai mais garantir IPCA + 6%. Outro ponto é que as curvas dos outros países também estão num flattening violento, muita gente parece ter aproveitado a garantia implícita de que os juros curtos não se mexem por um tempo para aumentar as posições de carregamento.

Aqui no Brasil acho muito melhor comprar NTN-B do que pré, mas, no fundo, se de fato o BC normalizar os juros em dois anos, não tem como qualquer coisa com componente de juros nominais não se valorizar - vai ser interessante quando chegar nas hipotecas.

Fernando A. disse...

Em todas contas que eu faço sempre obtenho a mesma resposta: NTNB é melhor. Mas é óbvio, pois sempre trabalho com um range para inflação no longo prazo entre 4,5% e a Argentina... Assim fica difícil gostar do pré.
Quero ver a demanda dos brasucas por títulos públicos com taxinhas chilenas. Até lá muitas bolhas de ativos vão estar na praça. O minha casa minha vida vai financiar casas até 5 milhões de dólares para classes C e D.
Abraço

Drunkeynesian disse...

É por aí... difícil conceber um cenário onde a inflação vai abaixo de 4,5%, ainda mais com a total falta de disposição de mexer na indexação. Pra ajudar, commodities não estão caindo.

Drunkeynesian disse...

O outro cenário estilo argentino é um no qual o IBGE resolve se inspirar no INDEC e o comprador da NTN-B recebe uma inflação, digamos, criativa - mas é totalmente leviano acreditar nisso, pelo menos por enquanto.

Anônimo disse...

Vocês acham que há possibilidade de uma bolha imobiliária à vista? Ou só para depois das Olimpíadas? O Brasil vai repetir a Grécia?

Drunkeynesian disse...

Acho que não tem bolha, por enquanto - pode ter supervalorização, mas nada estilo EUA ou Europa desenvolvida. Tem mais detalhes na minha opinião em alguns posts do passado: http://drunkeynesian.blogspot.com/search/label/mercado%20imobili%C3%A1rio

Daniel V. disse...

O Billion Price Project do MIT divulgada o índice de inflação deles da argentina, e chegava perto do que todos falavam (+- 30%). Venezuela mesma coisa.

Agt não está tão distante disto não.

Drunkeynesian disse...

O que o Indec divulga é algo como 1/3 disso, não? Para os bondholders seria algo como um hit de 20% ao ano no poder de compra.

Anônimo disse...

Ei, Drunkeynesian, pode comentar este artigo:

http://www.valor.com.br/opiniao/1004630/finalmente-independencia-do-bc

Delfim Bisnetto disse...

"Ei, Drunkeynesian, pode comentar este artigo:

http://www.valor.com.br/opiniao/1004630/finalmente-independencia-do-bc"

O BC nunca foi tão independente mesmo... Não precisa nem cumprir a lei do sistema de metas!

Drunkeynesian disse...

Putz, fogueira comentar algo do Nakano, hein? Dessa turma da GV de SP eu nunca sei se não entendi os argumentos ou se eles estão delirando.

Acho a crítica que ele faz à ortodoxia relativamente correta, ainda que seja difícil generalizar os interesses - por mais que quem tenha dado emprego para quase todos os ex-BC nos últimos anos tenha sido o mercado financeiro, acho que a maioria dos diretores que passou por lá realmente acredita que previsibilidade e todo o arcabouço do sistema de metas como era praticado era realmente o melhor jeito de praticar política monetária, não estavam a serviço de nenhum interesse oculto. Claro que eles eram escolhidos um pouco em função dessas convicções, mas aí a história dos interesses vem mais de cima.

Daí pra frente começa o delírio (ou a parte que eu não entendo, para ser mais generoso): ele chega a sugerir que o juro deve ser calibrado em função da inflação mensal anualizada, que é uma insanidade sem tamanho, como se não houvesse nenhuma sazonalidade nas medidas. No final, claro, ele evoca o "desenvolvimentismo"...

Não acho que o BC tenha mudado de postura em função de um modelo econométrico (o tal SAMBA), a decisão de normalizar os juros é de core de política econômica, e foi acordada com a Fazenda. A econometria só justifica uma decisão já tomada, com base numa percepção que, ainda que eu ache correta, está longe de estar provada; vai ser um caso de tentativa e erro.

Drunkeynesian disse...

Tinha esquecido de comentar da independência: acho que o Bisnetto tem razão - ainda que acho que não seja um fenômeno brasileiro, independência de BC foi um fenômeno que valeu só na "great moderation"... no resto do tempo não tem como desvincular o interesse do resto da economia do mandato do BC.

Fernando A. disse...

Mas o problema é que enquanto o BCB estava atrás da curva, com seus milhões de motivos (câmbio, prod industrial, cenário externo, inadimplência, pau no rentista...) a coisa estava mais ou menos estável no front inflacionário. E o BC poderia ter ficado na mesma situação por mais tempo mas a grita bateu forte na Fazenda. Me parece um pouco temerário iniciar um afrouxamento monetário usando uma abordagem mais flexível da política econômica, contando que vai haver alguma deflação nas commodities e ainda assim farto financiamento da conta de capital, que a indexação após 4 anos de inflação em 6% não vai impor uma rigidez e os preços dos ativos e salários vão se comportar bem. você não acha que a inflação perdeu o status intocável? Estamos sem um BC como tínhamos, pode ser até bom no fim das contas, mas será animado sem dúvida.
Abraço

Drunkeynesian disse...

Concordo que é um pouco temerário, e desconfio que, mesmo se o cenário que o BC está pintando se concretizar, a inflação não vai cair tanto quanto estão imaginando. Ainda assim, o que ele está fazendo é adaptar o juro real ao resto do mundo - e podemos chegar numa situação em que o juro real vai ser, sei lá, 4%, com a inflação a 6%, 7% e teríamos um "equilíbrio" com a pré entre 10% e 12%, com os riscos de levar uma inflação estável em um patamar alto.

Fernando A. disse...

Concordamos então. A paciência para a ladainha "reduz a inflação/meta para níveis civilizados e gera poupança pública que em 2 anos os juros estarão em 2%" acabou em Brasília. Inclusive, o Lula já tinha tomado essa decisão ao quase mandar Meirelles para casa, mas acabou ficando para Dilma fazer a mudança. Sendo assim, a equipe econômica vai ter que atacar sem demora a indexação (e como fazê-lo com essa inflação??), sob risco de estarmos expostos a qualquer choque vagabundo ver a inflação em 2 dígitos. Enfim, uma perigosa assimetria que me faz lembrar meu início no mercado. Bons tempos...
Grande abraço

Drunkeynesian disse...

É isso... resolveram atacar os juros antes da indexação. Eu ouvi do Nelson Barbosa há uns 6 meses que não tinha como passar qualquer medida de desindexação antes de a inflação cair; pelo visto vamos ficar desse jeito torto, até a inflação ceder ou desandar de vez.

Anônimo disse...

Obrigado.

Gil Moss Neto disse...

"...eu também temeria uma corrida dos fundos de pensão pro pré, assim que eles perceberem que só comprar NTN-B não vai mais garantir IPCA + 6%."

Não compreendi o raciocínio implícito no comentário, mesmo porque percebi um consenso sobre NTN-B como sendo o papel de melhor retorno, exceto na situação de "inflação criativa" à Argentina. Nessa questão procuro papéis do TD atrelados a Selic desde Novembro/10 e nunca os vi disponíveis pra compra. É assim mesmo ou estou perdendo alguma coisa?

Quanto a independência do Bacen só posso dizer que a instituição ficou independente, dos fatos, da realidade, da inflação e por aí vai, kkk.

Abs, Gil

Drunkeynesian disse...

Oi Gil.

O problema para os fundos de pensão é que, como os juros caíram, a taxa que o tesouro paga nos papéis indexados ficou abaixo de 6% - portanto, se ele comprar e carregar até o vencimento não atinge a meta atuarial (esse problema não existe para o estoque, provavelmente comprado a taxas muito mais altas). Daqui pra frente ou a meta é revista ou eles vão ter que tomar mais risco.

Quanto ao Tesouro Direto, estou vendo LFT 2015 e 2017 para vender, esses papéis são atrelados a Selic.

Gil Moss Neto disse...

Agora entendi o que você disse, novas compras de NTN-B estarão ajustadas ao novo patamar de juros, ok. Entrei e essas duas séries que você citou estão disponíveis mesmo, valeu.

Abs e bom finde, Gil

Gil Moss Neto disse...

Caro "Drunk"

Viajei na maionese quando falei sobre LFT's, na verdade eu venho procurando títulos atrelados ao IGP-M (NTN-C) pra diversificar o índice de inflação. Esses eu acredito que não estejam disponíveis mesmo, vou dar uma olhada na segunda. Desde de novembro/10 venho me perguntando por que o TD não coloca NTN-C à venda? Será um prenúncio de Argentina? Vamos esperar pra ver.

Abs, Gil

Drunkeynesian disse...

Aaaaah... NTN-C novas não são emitidas há anos. Não sabia que ele vendia no Tesouro Direto até o ano passado, mas se o fazia deve ser a sobra de alguma emissão antiga. Não tem a ver com argentinização, faz parte da estratégia de financiamento há bastante tempo - creio que, como o IGP-M tem uma influência relevante do câmbio, acabar com as NTN-C entrou no mesmo racional de não emitir mais dívida cambial.

Em resumo, quem não comprou, não compra mais (pra investidor institucional até dá pra achar no mercado secundário; se você tiver uma conta em um private bank talvez eles consigam comprar pra você, também).