quinta-feira, 30 de junho de 2011
Frases do dia - minimalismo
Do manifesto político-sociológico mais importante deste século, até agora. Esse Bruno Maron é brilhante, ainda vamos ouvir falar muito dele.
Leitura do dia - Krugman sobre Keynes
Mr. Keynes and the Moderns, texto que Paul Krugman preparou para a conferência organizada pela Universidade de Cambridge em comemoração aos 75 anos da Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda (no site você encontra os outros papers e apresentações). Depois comento aqui.
h/t Paulo Gala.
h/t Paulo Gala.
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quarta-feira, 29 de junho de 2011
Frase do dia - guerra dos supermercados
"Ao conduzir estas negociações, o Carrefour e o sr. Abilio Diniz ignoraram deliberadamente tanto a lei e os contratos quanto os princípios fundamentais da ética comercial."
Do anúncio de meia página que o grupo Casino pagou em alguns jornais para comentar a baixaria anunciada ontem. As ações do Grupo Pão de Açúcar, amigo do rei, subiram 12.6% e fecharam em sua máxima histórica.
Observação "Brave New World" do dia
A volatilidade realizada (30 dias) dos juros longos brasileiros (DI janeiro / 2017) está CINCO VEZES menor que a dos juros dos títulos de 10 anos do tesouro americano. Who's bad?
terça-feira, 28 de junho de 2011
Proteção contra "cisnes negros": quando é bom comprar?
Nos comentários do último post em que indiquei um paper do Nassim Taleb, surgiu uma discussão muito boa sobre a viabilidade e lucratividade de uma estratégia que se propõe a sempre ficar comprada em proteção contra eventos de baixa probabilidade - tail risk, ou os chamados "cisnes negros". Eu tinha ficado de fazer um estudozinho a respeito, mas enquanto procrastino trato os dados, o James Montier, da GMO, apareceu com esse paper. A conclusão: como com qualquer outro investimento, é bom comprar tail risk quando está barato. Parece óbvio, claro, o que pode levar o leitor a achar que finanças são realmente coisa para imbecis ou que são um domínio muito complexo, que requer muita elaboração para chegar à conclusões simples. Qualquer que seja a opinião, recomendo fortemente a leitura.
A Value Investor's Perspective on Tail Risk Protection
A Value Investor's Perspective on Tail Risk Protection
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E o BNDES não toma vergonha...
... acabou de anunciar que vai contribuir com R$ 1.7 bilhão para a fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour (a BNDESPAR ficaria com 18% da nova empresa). Nada como menos concorrência entre os varejistas para fomentar o desenvolvimento econômico e social.
Update: serão R$ 4 bilhões - 85% do capital para concretizar o negócio, segundo a Folha. Brasil-sil-sil!!!
Update: serão R$ 4 bilhões - 85% do capital para concretizar o negócio, segundo a Folha. Brasil-sil-sil!!!
segunda-feira, 27 de junho de 2011
Leituras da segunda-feira - bolhas, Suécia, vacas...
- A dificuldade de se identificar bolhas antes do estouro: a Slate fala sobre a "hindsight fallacy"; Ezra Klein, do Washington Post, aplica um raciocínio parecido para criticar o Inside Job.
- Um perfil de Peter Thiel, fundador do PayPal, um dos primeiros investidores no Facebook e um desastre como gestor de fundos (Forbes).
- Porque companhias aéreas sempre perdem dinheiro (Freakonomics).
- Câmbio no Brasil, 2002-2010. Dica do Leonardo Monasterio.
- Cinco lições de gestão de crise econômica da Suécia (Washington Post).
- Novo livro de Michael Lewis, sobre suas viagens para países em crise, anunciado para outubro (The Big Picture).
- Chris Blattman indica leituras não óbvias sobre desenvolvimento.
- O Oriente Médio, explicado pela famosa piada das duas vacas. Por aqui, a minha favorita é a versão Eike Batista - Você não tem nenhuma vaca. Vende para um fundo de pensão americano 30% da Centennial Cow LLC por US$1 bilhão de dólares, e compra 1 milhão de vacas por R$ 1.000 reais cada. Você contrata a melhor equipe de engenharia genética do país por US$ 5 milhões de dólares por ano, e estima que os netos das vacas valerão R$ 80.000 cada. Faz um business plan no melhor Power Point e vende 20% da COWX no maior IPO da história, por US$ 10 bilhões. No final você tem 56% da COWX, empresa que vale R$ 80 bilhões na Bovespa, já com a promessa de liderar a consolidação do mercado global de carne. Aparece entre os top 50 da Fortune e avisa Bill Gates que está chegando! (Foreign Policy).
- Um perfil de Peter Thiel, fundador do PayPal, um dos primeiros investidores no Facebook e um desastre como gestor de fundos (Forbes).
- Porque companhias aéreas sempre perdem dinheiro (Freakonomics).
- Câmbio no Brasil, 2002-2010. Dica do Leonardo Monasterio.
- Cinco lições de gestão de crise econômica da Suécia (Washington Post).
- Novo livro de Michael Lewis, sobre suas viagens para países em crise, anunciado para outubro (The Big Picture).
- Chris Blattman indica leituras não óbvias sobre desenvolvimento.
- O Oriente Médio, explicado pela famosa piada das duas vacas. Por aqui, a minha favorita é a versão Eike Batista - Você não tem nenhuma vaca. Vende para um fundo de pensão americano 30% da Centennial Cow LLC por US$1 bilhão de dólares, e compra 1 milhão de vacas por R$ 1.000 reais cada. Você contrata a melhor equipe de engenharia genética do país por US$ 5 milhões de dólares por ano, e estima que os netos das vacas valerão R$ 80.000 cada. Faz um business plan no melhor Power Point e vende 20% da COWX no maior IPO da história, por US$ 10 bilhões. No final você tem 56% da COWX, empresa que vale R$ 80 bilhões na Bovespa, já com a promessa de liderar a consolidação do mercado global de carne. Aparece entre os top 50 da Fortune e avisa Bill Gates que está chegando! (Foreign Policy).
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Correlação do dia - Petrobras x River Plate
Ações preferenciais da Petrobras, preço em 2011:
River Plate, patrocinado pela Petrobras, rebaixado para a segunda divisão do Campeonato Argentino pela primeira vez na história.
River Plate, patrocinado pela Petrobras, rebaixado para a segunda divisão do Campeonato Argentino pela primeira vez na história.
domingo, 26 de junho de 2011
Edição de domingo - Paulo Renato Souza, R.I.P.
Foi meu último voto para deputado federal; um bom economista e um dos poucos políticos que eu conseguia ouvir sem achar que estava sendo enganado e/ou tratado como imbecil. A entrevista abaixo, para a Folha, é de poucos meses atrás.
sexta-feira, 24 de junho de 2011
Devaneios do feriado - o keynesiano e o Fed
Ontem, feriadão, meio gripado e sem nada melhor pra pensar, comecei a lembrar de um professor da graduação. Meio maluco, se declarou keynesiano desde a primeira aula (a matéria, se não me engano, era "Introdução ao Desenvolvimento Econômico"). Tinha uma porção de pós-doutorados, entre Brasil, Inglaterra, Alemanha e Japão. O curso foi cheio de grandes momentos: de vez em quando ele parava a aula e começava a dar conselhos pra carreira, falando pra gente dar um jeito de fazer pelo menos um mestrado no exterior e arrumar um emprego "no FMI, no Banco Mundial, qualquer um desses, são os melhores empregos pra economista, pagam muito bem, você viaja de graça e não trabalha muito" (tenho uma porção de amigos que trabalham ou já trabalharam nesses órgãos e dizem que não é bem assim). Numa outra aula, ele distribuiu uma folha de xerox com vários recortes de textos, uns colados na horizontal e outros na vertical, escritos em alemão (o título era "Das Mundell-Fleming model", não esqueço até hoje), inglês e espanhol. Alguém reclamou que a maioria da classe não lia alemão, ele olhou pro pessoal meio surpreso e emendou o seguinte diálogo:
Mas a história que eu queria lembrar aqui não é nenhuma dessas. Quase no final do curso, rolou uma discussão sobre presença do governo na economia, quais eram as possibilidades e restrições para investimento do estado. Com a aula quase acabando, ele solta:
Acho que tínhamos acabado de sair de alguma aula com um professor monetarista puro-sangue, porque a reação da maioria foi fazer cara de espanto e começar a perguntar:
Ao que ele, sabiamente, respondeu:
Aí acho que a sala caiu na gargalhada e a aula terminou.
Nem tantos anos depois, de algum jeito chegamos no Fed de Ben Bernanke, que pode pensar e se justificar de forma bem diferente, mas, na prática, adota a mesma solução "fácil" que parecia absurda. Não sei se a história tem uma moral: talvez gestão de política econômica tenha mesmo que ser flexível a ponto de não se envergonhar de passar por cima de qualquer dogma estabelecido na academia; talvez a tentativa de preservar um modelo de economia que dá sinais de esgotamento implique em bizarrices que os historiadores do futuro vão quebrar a cabeça para entender; talvez seja mesmo fácil arrumar depois, e Bernanke e meu professor malucão vão rir por último. Daqui a uns anos a gente confere.
- Alemão é fácil, vocês deviam aprender. É só comparar os textos.
- Como assim, professor?
- Você pega um texto em uma língua que você conhece, o mesmo texto em alemão e vai comparando, decorando as palavras.
- Aaaaaah, claro. O senhor também aprendeu japonês assim?
(pausa de uns 20 segundos, professor pensativo)
- Nâo, não, japonês é mais complicado. Não dá. Japonês é mais complicado.
Mas a história que eu queria lembrar aqui não é nenhuma dessas. Quase no final do curso, rolou uma discussão sobre presença do governo na economia, quais eram as possibilidades e restrições para investimento do estado. Com a aula quase acabando, ele solta:
"No fim das contas, é fácil. É só o governo imprimir dinheiro."
Acho que tínhamos acabado de sair de alguma aula com um professor monetarista puro-sangue, porque a reação da maioria foi fazer cara de espanto e começar a perguntar:
"Professor... isso não acaba em hiperinflação?"
Ao que ele, sabiamente, respondeu:
" Talvez, mas e daí? Depois arruma."
Aí acho que a sala caiu na gargalhada e a aula terminou.
Nem tantos anos depois, de algum jeito chegamos no Fed de Ben Bernanke, que pode pensar e se justificar de forma bem diferente, mas, na prática, adota a mesma solução "fácil" que parecia absurda. Não sei se a história tem uma moral: talvez gestão de política econômica tenha mesmo que ser flexível a ponto de não se envergonhar de passar por cima de qualquer dogma estabelecido na academia; talvez a tentativa de preservar um modelo de economia que dá sinais de esgotamento implique em bizarrices que os historiadores do futuro vão quebrar a cabeça para entender; talvez seja mesmo fácil arrumar depois, e Bernanke e meu professor malucão vão rir por último. Daqui a uns anos a gente confere.
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quarta-feira, 22 de junho de 2011
Leituras da véspera de feriado
- A taxa de juro natural e a Amazônia: a contribuição de Delfim Netto para a ótima série de conjuntura econômica que o Valor está fazendo.
- Uma série do UBS comparando as diferenças de crescimento entre China e Brasil e como isso afetou os retornos dos investimentos: partes 1 e 2.
- Para quem ainda aguenta ouvir falar da Grécia: a exposição dos bancos europeus à dívida (Guardian) e a comparação Grécia / Chipre com Argentina / Uruguai (FT).
- A Oaktree Capital deve fazer um IPO de US$ 100 milhões. Um perfil de Howard Marks.
- Um novo paper de Nassim Taleb, de novo sobre fragilidade e anti-fragilidade. O Universa, fundo do qual ele é sócio, pretende lançar um ETF para proteção contra cisnes negros (Forbes). Se virar moda, vai causar uma distorção no preço das opções fora do dinheiro, e, possivelmente, destruir a estratégia. Aguardemos.
- A história econômica recontada por listas (Boston Globe).
- Seguindo o Guardian, o New York Times também fez uma lista dos livros mais importantes de não-ficção.
- Woody Allen, Duke Ellington, Richard Feynman, Milton Friedman, Bertrand Russell, Quentin Tarantino e outros 229 ícones culturais em áudios e vídeos históricos (Open Culture).
- A série de história da música moderna que o Guardian preparou para o verão britânico.
- Uma série do UBS comparando as diferenças de crescimento entre China e Brasil e como isso afetou os retornos dos investimentos: partes 1 e 2.
- Para quem ainda aguenta ouvir falar da Grécia: a exposição dos bancos europeus à dívida (Guardian) e a comparação Grécia / Chipre com Argentina / Uruguai (FT).
- A Oaktree Capital deve fazer um IPO de US$ 100 milhões. Um perfil de Howard Marks.
- Um novo paper de Nassim Taleb, de novo sobre fragilidade e anti-fragilidade. O Universa, fundo do qual ele é sócio, pretende lançar um ETF para proteção contra cisnes negros (Forbes). Se virar moda, vai causar uma distorção no preço das opções fora do dinheiro, e, possivelmente, destruir a estratégia. Aguardemos.
- A história econômica recontada por listas (Boston Globe).
- Seguindo o Guardian, o New York Times também fez uma lista dos livros mais importantes de não-ficção.
- Woody Allen, Duke Ellington, Richard Feynman, Milton Friedman, Bertrand Russell, Quentin Tarantino e outros 229 ícones culturais em áudios e vídeos históricos (Open Culture).
- A série de história da música moderna que o Guardian preparou para o verão britânico.
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terça-feira, 21 de junho de 2011
O termômetro da nova bolha de tecnologia
Acho que desta vez não vamos chegar no nível 10, mas vai ser interessante observar até que ponto a história vai se repetir.
Via Broadstuff. obrigado ao Soneca pela dica do site.
Via Broadstuff. obrigado ao Soneca pela dica do site.
O consenso de Borat
O pior do suposto fim do domínio dos países desenvolvidos na economia e geopolítica mundiais é o que vem depois. Por outro lado, a situação em que todo mundo (até escrevedores de blogs anônimos escondidos em prédios espelhados no Itaim) acha que tem moral para recomendar soluções para o capitalismo gera algumas piadas involuntárias muito boas. Esta semana, por exemplo, um tal Astana Economic Forum pagou uma página inteira na The Economist para mostrar ao mundo as recomendações para os líderes do G20 que saíram do encontro na capital do Cazaquistão. Não bastando, apelidaram a lista de "Astana Consensus". Meus pontos favoritos:
(De um país que teve que renegociar, há menos de dois anos, um calote de US$ 18 bilhões dos bancos locais com credores estrangeiros.)
Nazarbayev, o democrata que preside o Cazaquistão desde a independência, em 1991, e foi reeleito em abril com mais de 95% dos votos. O Cazaquistão, exemplo globalmente reconhecido de desenvolvimento sustentável. A única coisa a fazer é tocar, ao invés de um tango argentino, o hino que celebra esse great success:
A íntegra do Astana Consensus (em Word, porque o pdf ainda não chegou lá) está aqui.
It is thus important that there be a stronger accountability mechanism to monitor the compliance of all G20 countries with their financial regulation and supervision commitments. This will make it possible to determine the causes of high and low compliance, and assess the aggregate effects of the all taken measures on the overall financial stability. An accountability mechanism must be transparent, independent and credible.
(De um país que teve que renegociar, há menos de dois anos, um calote de US$ 18 bilhões dos bancos locais com credores estrangeiros.)
We recommend to include a report of the President of the Republic of Kazakhstan Nursultan Nazarbayev on “Global energy and ecological strategy of sustainable development for the XXI century” in the agenda of the UN Conference on Sustainable Development “Rio +20” in 2012.
(...)
N. Nazarbayev has published monographs devoted to this issue – “The strategy of becoming a postindustrial society and a partnership of civilizations” (Moscow, 2008) and “Strategy for a radical renewal of the global community and a partnership of civilizations” (Astana, 2009) and selected works in 2 volumes in 2010.
Nazarbayev, o democrata que preside o Cazaquistão desde a independência, em 1991, e foi reeleito em abril com mais de 95% dos votos. O Cazaquistão, exemplo globalmente reconhecido de desenvolvimento sustentável. A única coisa a fazer é tocar, ao invés de um tango argentino, o hino que celebra esse great success:
Kazakhstan greatest country in the world.
All other countries are run by little girls.
Kazakhstan number one exporter of potassium.
Other countries have inferior potassium.
A íntegra do Astana Consensus (em Word, porque o pdf ainda não chegou lá) está aqui.
Frases do dia - We are all Keynesians now
"In times of extremis, pushing on the private sector string is ineffective, especially within the context of global marketplace that offers alternative investment locations. Government must temporarily assume a bigger, not a smaller, role in this economy, if only because other countries are dominating job creation with kick-start policies that eventually dominate global markets."
Bill Gross, da PIMCO, em (mais) um ataque enfurecido aos políticos americanos de qualquer credo. Vale a leitura do texto inteiro.
segunda-feira, 20 de junho de 2011
André Lara Resende e os juros brasileiros
O Valor está publicando, diariamente, uma série de artigos de figurões da academia brasileira discutindo a conjuntura econômica atual. Na última quinta foi a vez de André Lara Resende voltar a falar sobre os juros altos no Brasil (a íntegra do texto está aqui), tema tão batido quanto relevante para começar qualquer discussão sobre a política econômica do país.
A pergunta "por que o Brasil precisa manter juros reais tão altos?" já gerou todo o tipo de respostas. Algumas análises (as mais frequentes, temo) pegam uma amostra de países, computam todas as variáveis possíveis e chegam a uma conclusão do tipo: "os juros precisam ser altos porque o Brasil tem a combinação de uma história relativamente recente de calote da dívida, fragilidade cambial, inércia dos índices de preços, incerteza jurídica e passado de hiperinflação". Como qualquer terceiroanista de economia sabe, quanto mais variáveis são adicionadas a uma regressão econométrica, maior é a aderência do modelo aos dados. Essas explicações, aparentemente completas e com baixo grau de abstração, acabam tendo tanto valor quanto dizer que o Brasil tem juros mais altos do que o resto do mundo porque é habitat do quati, foi berço do samba e do chorinho e tem cinco títulos mundiais de futebol. Tudo rigorosamente correto, mas leva à conclusão de que a única ação que resolveria o problema é implodir o país, replicar as condições do paleozóico e começar tudo de novo.
Lara Resende, claro, foge dessa mediocridade. Junto com dois co-autores igualmente conhecidos (Pérsio Arida e Edmar Bacha), foi o primeiro a levantar como a principal responsável pela distorção, em um influente paper de 2004, a chamada "incerteza jurisdicional", decorrente de um "viés anti-credor generalizado". A hipótese foi refutada, primeiro pela observação de que países ainda mais inseguros juridicamente do que o Brasil trabalham com juros significativamente mais baixos, e, posteriormente, por trabalhos que o próprio Lara Resende cita no Valor. No novo artigo, ele volta a atenção para um trabalho de Olivier Blanchard publicado mais ou menos na mesma época, que tenta explicar os juros altos pelos próprios juros altos. Cito, do Valor:
Eu sempre gostei dessa tese, seja porque ela ainda não foi negada pela realidade ou porque, de fato, a situação fiscal brasileira pareceria significativamente mais fácil caso o serviço da dívida não fosse tão caro. Para contornar essa situação, seria possível: i) baixar os juros "artificialmente" e ver o que acontece ou ii) reduzir o tal risco percebido da dívida pública com um esforço fiscal ainda maior do que o realizado nos últimos anos. Aí fica evidente uma escolha de política econômica: os ortodoxos, como Lara Resende defende no texto, enxergam como única solução viável o esforço fiscal, para que a dívida caia ainda mais e o aumento correspondente na poupança privada force os juros para baixo. Heterodoxos de diferentes graus podem argumentar que, comparativamente, o fiscal brasileiro atualmente é dos mais restritivos do mundo, e nem por isso tivemos o benefício de juros mais baixos. A solução, portanto, seria mesmo arrumar um meio para baixar os juros e depois ver o que acontece, sem nenhuma garantia, como o texto adverte, de que isso vá levar a uma situação melhor (de juros mais baixos / inflação controlada). Esse meio depende do grau de heterodoxia do crítico: deve haver quem defenda que todos os membros do Copom sejam guilhotinados e substituídos por alguém que ponha a Selic a 2% no dia seguinte; outras soluções menos radicais devem aparecer, como vou exemplificar logo mais.
Na minha visão, o caminho ortodoxo depende de uma queda na inflação. Explico: com um banco central perseguindo uma meta formal, os juros de um dia, cujo nível depende inteiramente da política escolhida pela autoridade monetária e que influenciam toda a estrutura a termo, só podem ser cortados caso a inflação esperada para o futuro esteja pelo menos próxima à meta. Com um problema de indexação que se agravou nos últimos anos, é difícil ver um cenário onde a inflação esperada no Brasil fique consistentemente perto ou abaixo de 4.5% ao ano: isso só ocorreria com uma queda forte nos preços de bens comercializáveis ou num cenário de forte recessão, que dê alguma folga para o mercado de trabalho. Sem essas rupturas, que praticamente independem de qualquer medida do governo, estaríamos condenados ao patamar de juros atual, pelo menos enquanto o esforço fiscal não produzir mais uma redução considerável na dívida. Ainda que isso aconteça, caso a inflação persista (não parece clara uma relação imediata entre disciplina fiscal e queda na inflação, e é relativamente fácil conceber um cenário em que a dívida como fração do PIB caia mais, digamos, cinco pontos percentuais e a inflação continue incomodamente alta), continuaremos na situação bizarra dos dias de hoje: somos dos países com as contas do governo em melhor situação no mundo, mas pagamos o juro real mais alto.
Assim, creio que o problema mais urgente a ser atacado pelo governo, caso queira levar a sério a intenção declarada de levar os juros reais a 2% ao ano, é a inflação. Curiosamente, parece razoavelmente claro para ambos os lados do debate que não se pode atacar a inflação com meios totalmente ortodoxos, já que a simples aplicação de uma regra de Taylor ou algo do tipo levaria à conclusão de que precisamos de juros ainda mais altos, com todas as distorções consequentes. Creio que a inflação brasileira deve ser combatida nos motivos que levam à sua persistência e rigidez. Choques de desindexação e desoneração deveriam ser perseguidos; o efeito desses choques nos níveis de preços dariam ao BC o espaço necessário para baixar os juros e fugir do equilíbrio perverso descrito por Blanchard.
O texto de Lara Resende tem grande valor no debate atual, sobretudo pela honestidade intelectual de reconhecer que a melhor explicação para a anomalia dos juros brasileiros é uma alternativa à hipótese que ele próprio formulou. Porém, creio que a solução mais imediata para essa anomalia requer um esforço além do puro receituário ortodoxo que ele recomenda. Por um lado, é de certo alívio perceber que a ortodoxia tem deixado de ser a única alternativa de política econômica viável; por outro,é difícil enxergar qualquer possibilidade de ousadia enquanto nós e nossos representantes no congresso compartilharmos da ilusão de que o país já deu certo, e que basta, no futuro, extrapolar a “receita de sucesso” dos últimos anos, o que implica em um imobilismo que só interessa ao status quo. Talvez só haja espaço para mudança quando a situação não parecer tão brilhante (e aí veremos mais claramente de quem são os interesses que estão sendo defendidos). Parafraseando uma frase que li há algum tempo, em outro contexto, economia só é intrigante porque é difícil pra caramba.
A pergunta "por que o Brasil precisa manter juros reais tão altos?" já gerou todo o tipo de respostas. Algumas análises (as mais frequentes, temo) pegam uma amostra de países, computam todas as variáveis possíveis e chegam a uma conclusão do tipo: "os juros precisam ser altos porque o Brasil tem a combinação de uma história relativamente recente de calote da dívida, fragilidade cambial, inércia dos índices de preços, incerteza jurídica e passado de hiperinflação". Como qualquer terceiroanista de economia sabe, quanto mais variáveis são adicionadas a uma regressão econométrica, maior é a aderência do modelo aos dados. Essas explicações, aparentemente completas e com baixo grau de abstração, acabam tendo tanto valor quanto dizer que o Brasil tem juros mais altos do que o resto do mundo porque é habitat do quati, foi berço do samba e do chorinho e tem cinco títulos mundiais de futebol. Tudo rigorosamente correto, mas leva à conclusão de que a única ação que resolveria o problema é implodir o país, replicar as condições do paleozóico e começar tudo de novo.
Lara Resende, claro, foge dessa mediocridade. Junto com dois co-autores igualmente conhecidos (Pérsio Arida e Edmar Bacha), foi o primeiro a levantar como a principal responsável pela distorção, em um influente paper de 2004, a chamada "incerteza jurisdicional", decorrente de um "viés anti-credor generalizado". A hipótese foi refutada, primeiro pela observação de que países ainda mais inseguros juridicamente do que o Brasil trabalham com juros significativamente mais baixos, e, posteriormente, por trabalhos que o próprio Lara Resende cita no Valor. No novo artigo, ele volta a atenção para um trabalho de Olivier Blanchard publicado mais ou menos na mesma época, que tenta explicar os juros altos pelos próprios juros altos. Cito, do Valor:
Existiria uma taxa de juros, mais baixa do que a efetivamente praticada pelo Banco Central, que teria igualmente sido capaz de manter a inflação dentro das metas. O equilíbrio dos últimos anos, desde o Real, seria um equilíbrio perverso, onde alta taxa de juros eleva o custo da dívida pública, agrava o desequilíbrio fiscal, que por sua vez eleva o risco dos títulos públicos e a taxa de juros de equilíbrio. Tudo mais constante, teria sido possível manter a inflação dentro das metas com uma taxa de juros mais baixa e menor risco percebido da dívida pública.
Eu sempre gostei dessa tese, seja porque ela ainda não foi negada pela realidade ou porque, de fato, a situação fiscal brasileira pareceria significativamente mais fácil caso o serviço da dívida não fosse tão caro. Para contornar essa situação, seria possível: i) baixar os juros "artificialmente" e ver o que acontece ou ii) reduzir o tal risco percebido da dívida pública com um esforço fiscal ainda maior do que o realizado nos últimos anos. Aí fica evidente uma escolha de política econômica: os ortodoxos, como Lara Resende defende no texto, enxergam como única solução viável o esforço fiscal, para que a dívida caia ainda mais e o aumento correspondente na poupança privada force os juros para baixo. Heterodoxos de diferentes graus podem argumentar que, comparativamente, o fiscal brasileiro atualmente é dos mais restritivos do mundo, e nem por isso tivemos o benefício de juros mais baixos. A solução, portanto, seria mesmo arrumar um meio para baixar os juros e depois ver o que acontece, sem nenhuma garantia, como o texto adverte, de que isso vá levar a uma situação melhor (de juros mais baixos / inflação controlada). Esse meio depende do grau de heterodoxia do crítico: deve haver quem defenda que todos os membros do Copom sejam guilhotinados e substituídos por alguém que ponha a Selic a 2% no dia seguinte; outras soluções menos radicais devem aparecer, como vou exemplificar logo mais.
Na minha visão, o caminho ortodoxo depende de uma queda na inflação. Explico: com um banco central perseguindo uma meta formal, os juros de um dia, cujo nível depende inteiramente da política escolhida pela autoridade monetária e que influenciam toda a estrutura a termo, só podem ser cortados caso a inflação esperada para o futuro esteja pelo menos próxima à meta. Com um problema de indexação que se agravou nos últimos anos, é difícil ver um cenário onde a inflação esperada no Brasil fique consistentemente perto ou abaixo de 4.5% ao ano: isso só ocorreria com uma queda forte nos preços de bens comercializáveis ou num cenário de forte recessão, que dê alguma folga para o mercado de trabalho. Sem essas rupturas, que praticamente independem de qualquer medida do governo, estaríamos condenados ao patamar de juros atual, pelo menos enquanto o esforço fiscal não produzir mais uma redução considerável na dívida. Ainda que isso aconteça, caso a inflação persista (não parece clara uma relação imediata entre disciplina fiscal e queda na inflação, e é relativamente fácil conceber um cenário em que a dívida como fração do PIB caia mais, digamos, cinco pontos percentuais e a inflação continue incomodamente alta), continuaremos na situação bizarra dos dias de hoje: somos dos países com as contas do governo em melhor situação no mundo, mas pagamos o juro real mais alto.
Assim, creio que o problema mais urgente a ser atacado pelo governo, caso queira levar a sério a intenção declarada de levar os juros reais a 2% ao ano, é a inflação. Curiosamente, parece razoavelmente claro para ambos os lados do debate que não se pode atacar a inflação com meios totalmente ortodoxos, já que a simples aplicação de uma regra de Taylor ou algo do tipo levaria à conclusão de que precisamos de juros ainda mais altos, com todas as distorções consequentes. Creio que a inflação brasileira deve ser combatida nos motivos que levam à sua persistência e rigidez. Choques de desindexação e desoneração deveriam ser perseguidos; o efeito desses choques nos níveis de preços dariam ao BC o espaço necessário para baixar os juros e fugir do equilíbrio perverso descrito por Blanchard.
O texto de Lara Resende tem grande valor no debate atual, sobretudo pela honestidade intelectual de reconhecer que a melhor explicação para a anomalia dos juros brasileiros é uma alternativa à hipótese que ele próprio formulou. Porém, creio que a solução mais imediata para essa anomalia requer um esforço além do puro receituário ortodoxo que ele recomenda. Por um lado, é de certo alívio perceber que a ortodoxia tem deixado de ser a única alternativa de política econômica viável; por outro,é difícil enxergar qualquer possibilidade de ousadia enquanto nós e nossos representantes no congresso compartilharmos da ilusão de que o país já deu certo, e que basta, no futuro, extrapolar a “receita de sucesso” dos últimos anos, o que implica em um imobilismo que só interessa ao status quo. Talvez só haja espaço para mudança quando a situação não parecer tão brilhante (e aí veremos mais claramente de quem são os interesses que estão sendo defendidos). Parafraseando uma frase que li há algum tempo, em outro contexto, economia só é intrigante porque é difícil pra caramba.
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Euro, R.I.P.
Quem diz é a Der Spiegel. Considerando a fama de capas de revista anteciparem movimentos contrários, vou começar a ficar preocupado com a minha opinião.
Em bom Português, a chamada diz: Obituário para uma moeda comum.
Em bom Português, a chamada diz: Obituário para uma moeda comum.
sexta-feira, 17 de junho de 2011
Frases do dia - Grécia e a solidão
"Whether or not a growing number of Greeks believe that the current economic policy is wrong and is aimed only at sucking the blood of taxpayers to the benefit of the permanently privileged (Greeks and foreigners), the fact is that other countries and organizations are trying to support Greece. Whether this continues up to the point where we can stand on our own feet, where we don't need to borrow every month in order to pay wages, pensions and interest on our loans, or whether it ends at the point when the others no longer fear our collapse is a matter of time. One of the two will happen."
Nikos Konstandaras, editor do jornal Kathimerini, no texto mais sensato e sensível que li sobre a crise na Grécia.
Som da Sexta - James Brown
O papa do soul consegue brincar de crooner, quando quer. Do discaço Hell, de 1974.
quinta-feira, 16 de junho de 2011
Leituras da quinta-feira
- Brad DeLong x Jim Grant, sobre a necessidade do QE3.
- Sobre o dólar: Barry Eichengreen e uma das poucas (e boas) mulheres da indústria de fundos, Renée Haugerud.
- A única agência de classificação de risco que deveria ser respeitada sobre a Grécia (Zero Hedge).
- A pipa do vovô não sobe mais? As ações da Berkshire Hathaway parecem baratas (WSJ).
- Uma bolha da qual você provavelmente não ouviu falar: revistas em quadrinhos, em 1993.
- O verdadeiro código de vestimenta de Wall Street (The Reformed Broker).
- Os 100 melhores livros de não-ficção (The Guardian).
- Personagens históricos em encontros inusitados. O Putin de turista está ótimo.
- O (novo) melhor paper do ano: traumatismos cranianos nas histórias do Asterix. Trecho: "The largest group of head-injured characters was constituted by Romans (63.9%), while Gauls caused nearly 90% of the TBIs. A helmet had been worn by 70.5% of victims but had been lost in the vast majority of cases (87.7%). In 83% of cases, TBIs were caused under the influence of a doping agent called “the magic potion”. Genial.
- Cheques artísticos, como este:
- Sobre o dólar: Barry Eichengreen e uma das poucas (e boas) mulheres da indústria de fundos, Renée Haugerud.
- A única agência de classificação de risco que deveria ser respeitada sobre a Grécia (Zero Hedge).
- A pipa do vovô não sobe mais? As ações da Berkshire Hathaway parecem baratas (WSJ).
- Uma bolha da qual você provavelmente não ouviu falar: revistas em quadrinhos, em 1993.
- O verdadeiro código de vestimenta de Wall Street (The Reformed Broker).
- Os 100 melhores livros de não-ficção (The Guardian).
- Personagens históricos em encontros inusitados. O Putin de turista está ótimo.
- O (novo) melhor paper do ano: traumatismos cranianos nas histórias do Asterix. Trecho: "The largest group of head-injured characters was constituted by Romans (63.9%), while Gauls caused nearly 90% of the TBIs. A helmet had been worn by 70.5% of victims but had been lost in the vast majority of cases (87.7%). In 83% of cases, TBIs were caused under the influence of a doping agent called “the magic potion”. Genial.
- Cheques artísticos, como este:
quarta-feira, 15 de junho de 2011
Risco Brasil x Risco EUA
Apareceu a notícia hoje de manhã, para delírio dos pseudopatriotas e do seu Guido Mantega: pela primeira vez na história o risco Brasil é menor que o risco EUA! Isso medido pelo preço do CDS para um ano, cujo prêmio é de 42 pontos-base para o Brasil e 49 para os yankees falidos. É a hora da virada! Ninguém segura o Brasil! Claro que seu Mantega, que provavelmente teria dificuldades em explicar como funciona uma operação de CDS, já foi à imprensa para dizer que "isso mostra solidez da economia brasileira" e que "estamos no caminho certo". Algumas observações realistas (ou ranzinzas):
- O mercado quase não negocia CDS nesse prazo, muito menos para os EUA. A ação relevante está em prazos mais longos (cinco anos) e para créditos mais duvidosos.
- A diferença entre os prêmios é praticamente irrelevante - 0.07%. Ah, o CDS de um ano para o México opera a 34 pontos-base, e não se tem notícia de alguém bradando que o risco da dívida mexicana em dólares é menor do que a dos EUA. O mesmo vale para Indonésia (39 p.b.), Chile (36 p.b.), África do Sul (34 p.b.) e Rússia (44 p.b.), para pegar alguns exemplos do mundinho emergente.
- Todos esses preços representam probabilidades muito baixas - de um evento de crédito (calote, grosso modo) no horizonte de um ano. No caso dos EUA, isso implicaria no tesouro americano deixando de pagar uma dívida em moeda local. Acho que o tal camelo passa pelo buraco da agulha antes.
- No mercado relevante, o de títulos da dívida, os EUA se financiam para um ano em dólares a 0.16%. O Brasil, para os mesmos prazo e moeda, paga algo como 0.9%. Em moeda local... bom, melhor nem começar a andar por aí...
- O velho e bom EMBI, calculado pelo JP Morgan e que costumava ser a medida mais citada para "risco Brasil", vale 176 pontos-base.
Em resumo: vai sair na capa dos jornais de amanhã, mas, como diria o Officer Barbrady, vamos nos mexer, nada para ver aqui.
Update: Bingo! Na capa da Folha de hoje:
- O mercado quase não negocia CDS nesse prazo, muito menos para os EUA. A ação relevante está em prazos mais longos (cinco anos) e para créditos mais duvidosos.
- A diferença entre os prêmios é praticamente irrelevante - 0.07%. Ah, o CDS de um ano para o México opera a 34 pontos-base, e não se tem notícia de alguém bradando que o risco da dívida mexicana em dólares é menor do que a dos EUA. O mesmo vale para Indonésia (39 p.b.), Chile (36 p.b.), África do Sul (34 p.b.) e Rússia (44 p.b.), para pegar alguns exemplos do mundinho emergente.
- Todos esses preços representam probabilidades muito baixas - de um evento de crédito (calote, grosso modo) no horizonte de um ano. No caso dos EUA, isso implicaria no tesouro americano deixando de pagar uma dívida em moeda local. Acho que o tal camelo passa pelo buraco da agulha antes.
- No mercado relevante, o de títulos da dívida, os EUA se financiam para um ano em dólares a 0.16%. O Brasil, para os mesmos prazo e moeda, paga algo como 0.9%. Em moeda local... bom, melhor nem começar a andar por aí...
- O velho e bom EMBI, calculado pelo JP Morgan e que costumava ser a medida mais citada para "risco Brasil", vale 176 pontos-base.
Em resumo: vai sair na capa dos jornais de amanhã, mas, como diria o Officer Barbrady, vamos nos mexer, nada para ver aqui.
Update: Bingo! Na capa da Folha de hoje:
Update 2: Seguindo a linha de um dos comentários, o CDS de 1 ano do Cazaquistão é negociado a 54 p.b. - bem perto do status de menos arriscado que os EUA. Great success!
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terça-feira, 14 de junho de 2011
Gráfico do dia - corrida grega
Não é a maratona, infelizmente. Desde o início do ano passado, os gregos estão sacando seus depósitos dos bancos locais. Dá para achar que isso vai acabar em um "calote coreografado" ou em uma "reestruturação ordenada"?
Mais no WSJ.
Mais no WSJ.
segunda-feira, 13 de junho de 2011
Segunda brava...
Hoje não vai sair nada pra colocar aqui... Amanhã retornamos com a programação normal, o ennui permitindo.
sexta-feira, 10 de junho de 2011
Som da Sexta - João Gilberto, 80
Teve uma época da vida em que eu escutava João Gilberto todos os dias (e o Getz / Gilberto, que o Zuza Homem de Mello tanto odeia, inteiro uma vez por semana, religiosamente). Acho que eu era uma pessoa mais serena.
quinta-feira, 9 de junho de 2011
Leituras da quinta-feira
- A receita de sucesso dos fundos brasileiros: "All you have to do is buy the Bovespa stock index and government bonds". Moleza! (Bloomberg)
- Algumas lendas do mercado de fundos americano estão com dificuldades para oferecer retornos: Bill Gross (WSJ), Paul Tudor Jones e James Simons (Dealbreaker), John Paulson (FT).
- Estrategistas de ações, esses otimistas (WSJ).
- Concordo com Kenneth Rogoff quanto ao futuro do euro (Project Syndicate).
- A lua de mel da The Economist com o Brasil vai acabando (ou somos quentes demais para os frígidos ingleses).
- Colonialismo pós-moderno, baby: hedge funds compram terras na África (BBC).
- A íntegra do The Black Swan of Cairo, de Taleb e Mark Blyth.
- Re-recomendação: assista (ou leia) Geoffrey West (Edge).
- Foto para acompanhar: turminha que ficou na recuperação do supletivo, em 1927:
- Algumas lendas do mercado de fundos americano estão com dificuldades para oferecer retornos: Bill Gross (WSJ), Paul Tudor Jones e James Simons (Dealbreaker), John Paulson (FT).
- Estrategistas de ações, esses otimistas (WSJ).
- Concordo com Kenneth Rogoff quanto ao futuro do euro (Project Syndicate).
- A lua de mel da The Economist com o Brasil vai acabando (ou somos quentes demais para os frígidos ingleses).
- Colonialismo pós-moderno, baby: hedge funds compram terras na África (BBC).
- A íntegra do The Black Swan of Cairo, de Taleb e Mark Blyth.
- Re-recomendação: assista (ou leia) Geoffrey West (Edge).
- Foto para acompanhar: turminha que ficou na recuperação do supletivo, em 1927:
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quarta-feira, 8 de junho de 2011
We Are Traders
Ah, o corporativismo... Ah, o autoelogio... Deve servir para impressionar os estudantes, recém-formados e afins; na vida real, como em quase todas as atividades humanas, o falso glamour vai pelo ralo rapidamente para qualquer um que tenha um mínimo de autocrítica.
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terça-feira, 7 de junho de 2011
Taxa de câmbio, essa desconhecida
Confesso que há tempos não lia um paper de macroeconomia inteiro. Feito esse aviso, gostei bastante do último trabalho do Sebastian Edwards (UCLA), que faz uma boa revisão da literatura sobre taxa de câmbio e levanta, dessa literatura e de alguns testes econométricos feitos por ele mesmo e alguns colegas, algumas regularidades observadas no comportamento das taxas de câmbio da América Latina e do leste asiático. Vale ler o trabalho inteiro; para os mais preguiçosos, aí estão as regularidades. A lista é bem útil para debater com tudólogos e chutadores de plantão (quem trabalha em uma mesa de operações sabe bem do que estou falando):
1. Crises cambiais são muito caras (em termos de desaceleração no crescimento, aumento do desemprego e inflação mais alta).
2. Países com taxas de câmbio mais flexíveis tendem a crescer mais rápido no longo prazo do que países com câmbio fixo.
3. Países dolarizados não têm melhor desempenho (em termos de crescimento mais rápido do PIB e menor volatilidade desta medida) do que países com moeda própria.
4. Países com regimes de câmbio flexíveis são capazes de acomodar choques externos melhor que países com taxas fixas.
5. Com mobilidade de capital e cãmbio fixo, não há espaço para política monetária completamente independente.
6. Ajustes na taxa de câmbio baseados em diferenciais de infllação resultam numa perda de ancoragem e em instabilidade macroeconômica.
7. Programas de estabilização baseados na taxa de câmbio são perigosos, e frequentemente geraram supervalorização da moeda.
8. Desalinhamento de taxa de câmbio real pode ser muito custoso; intervenções do banco central podem se justificar, mesmo sob um regime de câmbio flexível.
9. Há uma assimetria entre supervalorização e subvalorização (sobrevalorizações podem ser mais persistentes).
10. Mesmo sob regime de câmbio flexível, a extensão para política monetária independente é limitada.
11. Houve uma importante quebra estrutural no relacionamento entre a taxa de câmbio real efetiva do dólar americano e a taxa de câmbio real efetiva dos exportadores de commodities.
1. Crises cambiais são muito caras (em termos de desaceleração no crescimento, aumento do desemprego e inflação mais alta).
2. Países com taxas de câmbio mais flexíveis tendem a crescer mais rápido no longo prazo do que países com câmbio fixo.
3. Países dolarizados não têm melhor desempenho (em termos de crescimento mais rápido do PIB e menor volatilidade desta medida) do que países com moeda própria.
4. Países com regimes de câmbio flexíveis são capazes de acomodar choques externos melhor que países com taxas fixas.
5. Com mobilidade de capital e cãmbio fixo, não há espaço para política monetária completamente independente.
6. Ajustes na taxa de câmbio baseados em diferenciais de infllação resultam numa perda de ancoragem e em instabilidade macroeconômica.
7. Programas de estabilização baseados na taxa de câmbio são perigosos, e frequentemente geraram supervalorização da moeda.
8. Desalinhamento de taxa de câmbio real pode ser muito custoso; intervenções do banco central podem se justificar, mesmo sob um regime de câmbio flexível.
9. Há uma assimetria entre supervalorização e subvalorização (sobrevalorizações podem ser mais persistentes).
10. Mesmo sob regime de câmbio flexível, a extensão para política monetária independente é limitada.
11. Houve uma importante quebra estrutural no relacionamento entre a taxa de câmbio real efetiva do dólar americano e a taxa de câmbio real efetiva dos exportadores de commodities.
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segunda-feira, 6 de junho de 2011
Investimentos públicos, lucros privados
Acabou de sair no Bloomberg que o BNDES aprovou um empréstimo de R$ 2,7 bilhões para uma tal Eldorado Celulose. Poupando o trabalho do leitor de recorrer ao Google: a Eldorado Celulose é um "sonho" dos irmãos Batista, da JBS -- outra favorita do BNDES -- e um outro sócio, Mario Celso Lopes (mais aqui). Dos R$ 4,8 bilhões programados para o investimento, a banca pública adiantou mais do que a metade - assim funciona tomar risco no Brasil.
O BNDES vive dizendo que tem critérios técnicos e bem estabelecidos para conceder crédito, mas duvido que qualquer banco comercial com um comitê de crédito minimamente responsável permitiria a concentração dos empréstimos em tantos empreendimentos ligados a commodities ou alocaria tantos recursos para um mesmo credor. Já cansei de escrever sobre isso aqui, a mensagem segue a mesma: se o Brasil quer criar "supercampeãs" de commodities, que declare isso como parte de uma estratégia de política econômica e faça com que o Estado tenha tanto as responsabilidades como os possíveis benefícios. Fazer isso dissimuladamente, via empréstimos a juros subsidiados para empresários "amigos" do governo, que lucrarão caso o investimento prove-se acertado ou renegociarão / deixarão de pagar a dívdia caso algo adverso aconteça deveria pelo menos fazer com que a oposição esperneie, antes que a conta chegue.
O BNDES vive dizendo que tem critérios técnicos e bem estabelecidos para conceder crédito, mas duvido que qualquer banco comercial com um comitê de crédito minimamente responsável permitiria a concentração dos empréstimos em tantos empreendimentos ligados a commodities ou alocaria tantos recursos para um mesmo credor. Já cansei de escrever sobre isso aqui, a mensagem segue a mesma: se o Brasil quer criar "supercampeãs" de commodities, que declare isso como parte de uma estratégia de política econômica e faça com que o Estado tenha tanto as responsabilidades como os possíveis benefícios. Fazer isso dissimuladamente, via empréstimos a juros subsidiados para empresários "amigos" do governo, que lucrarão caso o investimento prove-se acertado ou renegociarão / deixarão de pagar a dívdia caso algo adverso aconteça deveria pelo menos fazer com que a oposição esperneie, antes que a conta chegue.
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51 minutos bem gastos
Vale gastar o maior pedaço de uma hora para ouvir Geoffrey West, professor do Santa Fe Institute, falando para o Edge sobre propriedades fractais aplicadas à biologia e ciências sociais: porque cidades podem crescer indefinidamente (mas com o risco de colapso), porque companhias se assemelham à animais (com limitação de tamanho e um ciclo de vida bem definido) e, extrapolando um pouco, porque pode ser uma boa estratégia vender ações sempre que alguma companhia atingir um valor de mercado próximo a US$ 500 bilhões (a Microsoft atingiu essa marca pouco antes do estouro da bolha de internet / tecnologia, em 2000 e, no final de 2007, tanto a Petrochina quanto a Exxon Mobil chegaram a valer mais do que US$ 500 bilhões). Fascinante.
Para os que preferem ler, no mesmo link tem uma transcrição completa do vídeo.
Para os que preferem ler, no mesmo link tem uma transcrição completa do vídeo.
Humala e os mercados
Aparentemente a turma do mercado não gostou muito do resultado das eleições no Peru... o principal índice da bolsa de Lima cai 11% hoje.
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Foto do dia - Vantagens Comparativas
E chegamos no ponto em que o Brasil importa carvão para churrasco... do Paraguai! É sinal de desenvolvimento ou (mais um) de câmbio supervalorizado?
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domingo, 5 de junho de 2011
Edição de domingo - Palocci, estrategista de câmbio (dos bons)
Da entrevista que saiu ontem na Folha:
Fácil acreditar, né? Se a Aracruz e a Sadia tivessem ouvido ele...
Update: Palocci, titã do capitalismo
O sr. poderia detalhar como era o trabalho de consultoria?
Na época da crise econômica, em 2008, havia no mercado muitas empresas contratando créditos com cláusula cambial, contratos em dólar. Isso eu conversei com praticamente todas as empresas com que eu tinha contratos. Dado que tinha uma crise, sugeri a essas empresas que elas estavam correndo muito risco fazendo contrato de câmbio na medida em que, com a evolução da crise, os níveis cambiais poderiam ficar muito voláteis.
Seus clientes seguiram suas recomendações? Algum teve dificuldades naquela época?
Nesse campo, não. Acredito que tenha ajudado elas a decidir deixar esses contratos. Você sabe quanto esses contratos custaram para as dívidas das empresas nos meses seguintes. Na época não sabiam que haveria a crise com o Lehman Brothers.
O sr. teme que seus adversários digam que o sr. teve acesso a informações do governo sobre a política cambial para orientar seus clientes?
Entre julho e agosto de 2008, havia vários analistas prevendo várias tendências para o câmbio. O que eu dizia para as empresas não é de quanto seria o câmbio futuro. O que fiz foi avaliar para as empresas que havia muito risco de volatilidade cambial, dado que estávamos entrando em uma crise internacional. É essa avaliação, o risco de volatilidade dos contratos de câmbio. Não se trata de informação privilegiada, primeiro porque nem mesmo as autoridades têm informação de quanto será o câmbio futuro. Segundo porque no mercado você encontra todo dia avaliações sobre isso. Eu fiz uma avaliação e poderia ter errado. Naquele momento, eu acertei a tendência.
Fácil acreditar, né? Se a Aracruz e a Sadia tivessem ouvido ele...
Update: Palocci, titã do capitalismo
sexta-feira, 3 de junho de 2011
Frase do dia - everybody hates the US dollar
"I strongly believe that the days of the U.S. dollar as the world's reserve currency are numbered. There is need for us to begin thinking seriously and urgently about introducing a gold-backed Zimbabwean currency which will not only be stable but internationally acceptable."
Gideon Gono, presidente do Zimbabwe Reserve Bank e ganhador do prêmio Ig Nobel de Matemática em 2009, com toda a confiança de quem contribuiu para que a economia local tivesse uma inflação de 5.000.000.000% ao ano, que só terminou quando o país desistiu de ter uma moeda própria. Um sinal contrário (para comprar o dólar) mais claro que esse, impossível.
Gráfico do dia - novas máximas
E agora, seu Bernanke? Sugestão: colocar em prática o plano de despejar dinheiro com helicópteros. Além do estímulo monetário, haveria contratações nos fabricantes e de pilotos para as novas máquinas.
Mais no Zero Hedge.
Mais no Zero Hedge.
quinta-feira, 2 de junho de 2011
Niall Ferguson sobre a Europa
A Bloomberg tem uma boa entrevista com o historiador Niall Ferguson sobre a última tentativa de salvar a união monetária na Europa: a proposta do presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, da criação de um ministério das finanças unificado.
Na minha opinião, o gráfico abaixo é uma boa fotografia estilizada do que está ocorrendo na Europa: enquanto a Alemanha conta com uma moeda mais desvalorizada do que seria um marco alemão para crescer e levar sua economia para a menor taxa de desemprego dos últimos anos, países como a Espanha sofrem com falta de competitividade e o adiamento de um ajuste dos excessos dos últimos anos, com mais de 1/5 da população economicamente ativa sem emprego. Uma consolidação fiscal completa, como ressalta Ferguson, parece ser totalmente inviável do ponto de vista político, e nos resta seguir esperando o momento em que o que parece óbvio -- que a mesma política monetária, cambial e fiscal não serve para uma região com economias tão distintas -- seja reconhecido pelos políticos e pelos mercados.
Na minha opinião, o gráfico abaixo é uma boa fotografia estilizada do que está ocorrendo na Europa: enquanto a Alemanha conta com uma moeda mais desvalorizada do que seria um marco alemão para crescer e levar sua economia para a menor taxa de desemprego dos últimos anos, países como a Espanha sofrem com falta de competitividade e o adiamento de um ajuste dos excessos dos últimos anos, com mais de 1/5 da população economicamente ativa sem emprego. Uma consolidação fiscal completa, como ressalta Ferguson, parece ser totalmente inviável do ponto de vista político, e nos resta seguir esperando o momento em que o que parece óbvio -- que a mesma política monetária, cambial e fiscal não serve para uma região com economias tão distintas -- seja reconhecido pelos políticos e pelos mercados.
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Frases do dia - gestão de dinheiro e física
Da última carta do fundo Eclectica, de Hugh Hendry:
Mais no FT.
I was reading something recently about the Nobel Prize winner Richard Feynman that made me think that money management was perhaps similar to physics in that you advance by accepting absurdities. The history of physics, he claimed, is one of unbelievable ideas proving to be true. "Our imagination is stretched to the utmost not, as in fiction, to imagine things which are not really there, but just to comprehend those which are".
Mais no FT.
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quarta-feira, 1 de junho de 2011
Mercados se preparando para o double dip
Taxa dos títulos americanos de 10 anos caindo 0,10%. Bolsas ao redor do mundo caindo 1%. Franco suíço renovando as máximas históricas contra o dólar e contra o euro. Ouro subindo rumo a um novo recorde. Aparentemente, a economia mundial não terá um segundo semestre muito brilhante. Você, brasileiro mediano, dê-se por satisfeito por poder aplicar em um bom crédito que paga mais de 6% ao ano de juros reais.
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