terça-feira, 30 de novembro de 2010

Quando o liberalismo econômico vira religião...

... seus seguidores acabam atropelando a realidade, e o colocam na mesma categoria de outras crenças que são levadas menos a sério (e que têm defensores mais expressivos, convenhamos).

Rodrigo Constantino, em dezembro de 2007 (notado pela Carta Capital desta semana):

"O caso da Irlanda vem bem a calhar então, pois se trata de um impressionante exemplo do sucesso das reformas liberais, que reduzem a intervenção estatal e aumentam a autonomia individual. A Irlanda aderiu com vontade ao capitalismo global, e isso permitiu um enorme crescimento econômico, levando a renda per capita dos irlandeses para patamares espantosos. O país, que era um dos mais pobres da Europa, mereceu o título de “tigre celta”. Não há milagre por trás deste sucesso, apenas lógica e respeito aos fatos da realidade."

E hoje:

"... o sistema bancário expandiu o crédito sem limites, colocando todas as conquistas em risco. Alguns oportunistas de esquerda aproveitam para atacar... as reformas liberais, como se estas fossem causa dos problemas. Não são! São o motivo do relativo sucesso, que mesmo após esta crise toda, gerada pelos bancos e pela bolha imobiliária mundial, ainda mantém a Irlanda como uma nação próspera."

E o sistema bancário "expandiu o crédito sem limites" por falta ou excesso de regulação / supervisão / liberalismo? Será que algum irlandês médio, vendo a taxa de desemprego sair, em pouco mais de três anos, de 4,8% para 13,6% (o maior desde 1994) e a possibilidade de um ajuste nominal brutal, considera sua nação próspera? Não é preciso ser nenhum oportunista de esquerda para achar respostas para essas perguntas que façam com que as tais reformas liberais pareçam algo sensivelmente pior que um sucesso inequívoco.

When the facts change, I change my mind. What do you do, sir?

3 comentários:

Rodrigo, o Soneca, Pontes disse...

De quem é a citação final?

Anônimo disse...

O Rodrigo Constantino tem uma capacidade incrível de falar bocolices.

Drunkeynesian disse...

A citação é do Keynes, velho safo.

O duro é ele ter coluna em jornal, representar o "liberalismo brasileiro"... Merecíamos coisa melhor.