quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Os 12 Trabalhos de Dilma (parte 2 de 3)


5 - Reduzir a dependência de commodities

Todo mundo vê o lado bom de concentrar as exportações em commodities e deixar o câmbio se valorizar quando o mercado é otimista. Extrapolar essa prosperidade para o futuro é, no mínimo, arriscado. O Brasil precisa se preparar para anos em que o preço do minério de ferro, por exemplo, não sobe 80%. Ou para um cenário onde o pré-sal não é financeiramente viável. Enriquecer o país com commodities não é um fenômeno usual; é preciso ter, além de sorte, a disciplina fiscal de uma Noruega ou a abundância de um produto caro a custos de extração ridículos de uma Arábia Saudita. Por mais abençoado por Deus e bonito por natureza que seja nosso país, não nos encaixamos em nenhum desses casos.

6 - Desindexar a economia

Em 1995, dois anos antes de sua morte, Mario Henrique Simonsen escreveu um livro chamado 30 anos de indexação. Os 30 viraram 45, e os efeitos de anos convivendo com um regime de inflação alta seguem na economia brasileira. A fórmula do cálculo do salário mínimo é uma dessas aberrações (não que o salário mínimo não deva subir, apenas que isso não seja função da inflação passada); ainda temos tantas outras, de tarifas de concessionárias a preços de aluguéis. Se a indexação teve algum dia a utilidade de proteger algum poder de compra, hoje é uma maneira de alongar o efeito de choques inflacionários e diminuir o efeito da política monetária (e proteger alguns interesses, claro). Já é hora do país enterrar os anos 1980 também neste aspecto.

7 - Gerar empregos

A parte não tão simples do tal "bônus demográfico" que tanta gente tem atribuído ao país (população jovem, com muita gente entrando no mercado de trabalho nos próximos anos) é: como criar empregos para os novos participantes do mercado de trabalho? A exploração de commodities é muito mais intensiva em capital do que em mão-de-obra, e ainda precisamos investir muito em educação e tecnologia para poder produzir aqui tudo o necessário para a exploração do petróleo, para pegar um exemplo do qual o governo gosta. Enquanto isso não acontece, o país terá que investir muito em setores que empregam grande quantidade de trabalhadores não muito qualificados, como infraestrutura e construção civil.

8 - Domar o BNDES

Já cansei de falar sobre o BNDES aqui, e o Mansueto Almeida faz isso com muito mais propriedade do que eu. Simplesmente o padrão dos últimos anos não pode ser mantido. No futuro, o banco deveria se preocupar efetivamente em fomentar desenvolvimento econômico e social e, muito provavelmente, terá de lidar com as consequências de algumas más decisões de crédito. Como disse o mestre Paulo Vanzolini, os pecados de domingo quem paga é segunda-feira, e o BNDES andou pecando bastante.

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