Há duas semanas, enquanto eu estava viajando, vi uma manchete em algum portal brasileiro dizendo que, em 2010, as ações da Petrobras caíram mais do que as da BP (British Petroleum), que teve que enfrentar neste ano o maior vazamento de óleo da história da indústria, a um custo estimado (por enquanto) de US$ 32 bilhões. Enquanto a queda da BP foi violenta (chegou a levantar dúvidas sobre a sobrevivência da companhia) e seguida de uma recuperação, a Petrobras vem sangrando desde o início do processo de capitalização, com os investidores aos poucos abandonando a companhia, sem sinal de interrupção. Hoje, de fato, um dólar investido nas duas empresas no começo do ano valeria mais ou menos os mesmos 70 centavos -- 30% de queda, enquanto o preço do petróleo subiu 1,4%, a Exxon caiu 2,8% e a Chevron subiu 9,8%. Outra observação interessante é que o preço atual das ações da Petrobras, em reais, é menor do que no fatídico 9 de março de 2009, quando o S&P500 tocou o demoníaco e proverbial nível de 666 pontos (hoje opera a 1180).
Mais curioso ainda é observar que toda a história do pré-sal, que inicialmente foi vista como uma bonança irrestrita (tanto para o país quanto para o acionista), vem se mostrando uma fonte imensa de preocupações e incertezas e uma grande história de destruição do valor de uma companhia. Se, quando foi anunciada a descoberta (em 2007), o mundo parecia caminhar para uma prosperidade infinita, alimentada por óleo combustível, cuja oferta, todos sabemos, é limitada e cujo preço, portanto, só poderia subir, hoje o petróleo opera 45% abaixo de sua máxima histórica, aparentemente sem força para entrar em uma nova tendência secular de alta. O fator principal, porém, é a desconfiança sobre a capacidade da Petrobras de investir de forma minimamente racional e eficiente a montanha de dinheiro que levantou na maior oferta de ações da história (curioso como os investimentos que envolvem algo "maior do mundo" costumam ser uma fria para quem coloca dinheiro neles).
A escolha da Petrobras parece ter sido extrair o óleo do pré-sal a qualquer custo, gastando o dinheiro levantado na oferta (e, possivelmente, ainda mais, no futuro), desenvolver o que puder da tecnologia do Brasil, enriquecer um monte de gente pelo caminho e, se tudo der muito certo e sobrar alguma coisa, dar lucro e distribuir para o acionista. Guardadas as proporções e as diferenças entre os mercados, a Petrobras parece ter se tornado uma versão da Eletrobras, cujas ações andam de lado há anos. O eventual retorno da exploração do petroleo parece estar muito distante para gerar alguma pressa no mercado, e isso parece estar começando a se refletir nos preços. Por enquanto a Petrobras ainda é bastante negociada e tem um peso relevante no índice Bovespa, o que gera uma demanda relativamente grande dos investidores passivos (que buscam simplesmente replicar a carteira do índice); caso o desinteresse persista, esse fluxo também deve diminuir, outro fator negativo para as ações.
Caso não tenha ficado claro: o mercado parece estar abandonando a Petrobras. Talvez era exatamente isso que o governo planejava: o petróleo é "nosso", e o investidor, se quiser uma participação, vai ter que aceitar entrar em um jogo onde há diversos interesses a serem atendidos antes do lucro. Pior para quem acreditou no oba-oba de "nunca antes na história deste país", e mais uma amostra de que, muitas vezes, quem está do outro lado do lucro do mercado são os governos.
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