sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Vídeo do dia - Hugh Hendry, Simon Schama



Nosso gestor de fundos favorito e o historiador Simon Schama discutem o que está errado com o Reino Unido.

Gráfico do mês - alavancagem e crescimento

Da carta trimestral da GMO que coloquei aí embaixo. Favor encaminhar para senhores Obama, Summers e Bernanke.

Curso Valor de Jornalismo Econômico

Tirando a mania de achar que as pessoas têm que decidir o que querem da vida até os 20 e poucos anos (o curso só aceita formados em 2010 e estudantes dos dois últimos anos de jornalismo, economia e direito), parece uma boa iniciativa. Mais aqui.

Som da Sexta - The Faces

Um dia, antes de se meter a gravar standards e virar músico de elevador e danças de noivos, Rod Stewart foi cantor de rock, dos bons.


quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Quer doar um livro para a FEA-USP?

Pois não. Escolha uma obra da lista de livros desejados (o que implica que os demais são indesejados -- o que diriam se eu aparecesse querendo doar algo como a primeira edição dos Ensaios sobre o princípio da população, do Malthus? Também fica excluída a chance dos alunos se depararem, na biblioteca, com algo contemporâneo além do que os professores querem que eles leiam). A lista tem vários títulos escritos por professores da casa, o que é só uma coincidência. Feito isso, você deposita o valor da tabela e a biblioteca se compromete a comprar a obra. E você pode ter seu nome publicado em uma lista de benfeitores. Bravo!

Nessas condições, será que a famosa biblioteca do professor Delfim Netto vai ter que ser vendida para um sebo? Ou vai parar em uma universidade menos arrogante e mais generosa, da qual ele não seja professor emérito?

Alan Greenspan's Asset Bubble Band

Mais uma brilhante contribuição para a coleção de paródias de uma das capas de disco mais famosas da história.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Pensando alto sobre mercados

(leitores com interesses menos mundanos podem aproveitar o tempo que gastariam lendo este texto aqui)

- Parece claro, pelo menos desde a reação dos mercados aos últimos dados do mercado de trabalho americano, que os preços estão sendo guiados pela expectativa de que o Fed pise ainda mais no acelerador na impressão de dinheiro (QE2, para os íntimos).

- No cenário bom para o Fed, mais dólares no mercado conseguiriam segurar os preços nominais enquanto a economia se recupera (se vai se recuperar ou não é outra história). No cenário dos sonhos, a inflação aceleraria um pouco, afastaria o medo de deflação, sustentaria os preços de ações e destruiria parte da poupança aplicada em títulos do governo. Nesse cenário seria esperada uma alta nas taxas de juros de médio / longo prazo. Em ambos os casos o dólar se enfraqueceria, com o aumento da oferta de moeda e juros curtos ainda muito baixos.

- Esse cenário parecia estar sendo corroborado pelos mercados, com o inconveniente de que tanto os juros quanto as expectativas de inflação seguiam muito baixos. Ou seja, havia uma divergência entre os mercados "de risco" e o de títulos: commodities e ações subindo indicariam uma certa inflação (ou pelo menos sucesso temporário na política do Fed de sustentar preços); juros longos baixos podem ser traduzidos por investidores dispostos a aceitar taxas de retorno baixas por muito tempo, sem preocupação com inflação, em busca de alguma segurança. Os recordes no preço do ouro pareciam também concordar com essa visão.

- Teorias à parte, olhemos alguns dados. A impressão de que o Fed estaria disposto a imprimir mais dinheiro teve início em 22 de agosto, no simpósio econômico de Jackson Hole. Desde então, as expectativas de inflação (medidas pela diferença entre o rendmento dos títulos nominais de dez anos e dos títulos indexados para o mesmo prazo) pulou de 1,55% ao ano para 2,17% e o índice S&P 500 subiu 12%. O dólar (DXY) caiu 6,15%. Até aí, sucesso. A divergência incômoda é que os juros das Treasuries de 10 anos seguiram caindo, pelo menos até o último dia 7, quando fizeram a mínima do ano (a 2,38%).Num mundo "normal", valeria o que eu disse acima: juros baixos são sinal de aversão a risco. O paradigma a ser testado é que o Fed de mr. Bernanke conseguiu criar o maravilhoso mundo onde todos os preços de ativos sobem.

- A tese do Maravilhoso Mundo de Bernanke precisa que entre tanto dinheiro no mercado a ponto de haver comprador marginal para todas as classes de ativos, com pouquíssima diferenciação entre taxas de retorno esperadas. Ou pelo menos que o mercado acredite nisso. O problema é que, no caso dos títulos, isso só vale enquanto a inflação não suba e destrua a taxa de retorno fixa. É acreditar que Deus não só não joga dados como está de muito bom humor e trabalha na Constitution Avenue com a rua 20, em Washington, DC.

- Nos últimos dias vimos: i) os mercados de "risco" (bolsas e commodities) caindo, ii) os juros das treasuries subindo, iii) a inflação esperada subindo, iv) o dólar se fortalecendo. Um possível cenário que justificaria esse comportamento é a inflação subindo -- o contraponto é que os juros curtos subiram relativamente pouco. Outra possibilidade é que estamos perto do limite do que os ativos conseguem se apreciar com dinheiro fácil -- de fato, é de se imaginar que o segundo bilhão de estímulo tenha efeito menor do que o primeiro bilhão, e assim por diante. Uma terceira explicação, mais cínica, é que o mercado está tentando empurrar o Fed para um corner cuja saída seria anunciar (na próxima reunião de política monetária, no início da semana que vem) um volume obsceno para o QE2 -- há duas semanas já se falava em algo entre US$ 500 bilhões e 1 trilhão de recompra de títulos, o volume que satisfaria o mercado seria ainda maior.

- A questão que fica é: o que acontecerá quando o Fed falhar na tarefa de manipular os mercados (manter juros baixos e preços de ativos relativamente altos)? Teoricamente não há limites para quanto dinheiro ele pode imprimir, desde que o risco de inflação esteja afastado (estará, para alguns, enquanto o mercado de trabalho permanecer anêmico). Na prática, a economia americana está desesperada por estímulo, e toda a pressão da sociedade e dos políticos parece ser na direção de alguma ação. O Fed não depende do Congresso para agir, e tem sido o instrumento escolhido para fazer todo o trabalho sujo. Resta saber até onde vai a desonestidade intelectual de Bernanke ao seguir fazendo algo que parece no mínimo ineficiente no curto prazo e de potencial destrutivo no futuro. Ou, para não personalizar a questão, quão doente está a maior economia do mundo para ter como única fonte visível de recuperação a ilusão de que dinheiro barato e ridiculamente mal distribuído pode resolver problemas.

P.S. Em homenagem ao mestre Jason Vieira: hoje apareceu uma marca nova de papel sulfite aqui no escritório. Made in Finland. Sim, estamos importando papel da Finlândia. E, conhecendo a turma de compras, deve estar mais barato que o velho e bom Report (da Suzano).

P.P.S. Hoje o Banco Bonsucesso (eu também não conhecia, até semana passada) captou US$ 125 milhões no mercado internacional, pagando juros em dólar de 9,5% ao ano (por dez anos).

P.P.P.S. No dia do aniversário de 65 anos do Nosso Guia (hoje), aparece a história (ainda a ser confirmada) de que o Brasil anunciará em breve a descoberta do segundo maior poço de petróleo do mundo. Como disse um sábio: "50% of life is luck, the other 50 is mazel".

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Leituras do dia

Enquanto este escriba está numa fase de pouca inspiração (e muita preocupação com os mercados), aproveite para ler as opiniões de duas pessoas que provavelmente já esqueceram sobre mercados mais do que eu vou aprender durante a minha vida:

- Paul Tudor Jones e a sabedoria do tratamento de uma fascite plantar.

- Jeremy Grantham declarando, mais uma vez, seu amor pelas políticas do Fed (abaixo)

Luto

Morreu o maior acertador de previsões do mundo. Agora voltamos a depender da econometria (brrrrrrrr).

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Gráfico do dia - TIPS

E o mercado está disposto a financiar os EUA por quatro anos e meio a inflação menos 0,55% (via os TIPS). Estamos vivendo tempos interessantes, sem dúvida.

Eu não entendo o Bresser-Pereira

Deve estar além da minha generosidade e capacidade de abstração. Ele costumava elogiar a política econômica da Argentina. Ontem destacou "a coragem e a firmeza" do festival de impressão de dinheiro nos EUA, como se fosse uma medida inovadora e de eficácia pelo menos não duvidosa. Disse que as compras de dívida pelo banco central diminuem a dívida pública -- a fonte pode até ser a mesma (dinheiro impresso pelo governo), mas, não, a dívida pública só diminui quando é paga ou recomprada pelo seu emissor (no caso, o tesouro americano). E chamou "quantitative easing" de "facilitação quantitativa" -- o "easing" do termo vem de "ease", afrouxar, o contrário de "tight"; a tradução que eu acharia mais fiel é "afrouxamento". Mas eu não sou linguista, ele é professor da FGV há mais de 50 anos e ex-Ministro da Fazenda, o problema deve ser comigo.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Bye, bye, Petrobras

Há duas semanas, enquanto eu estava viajando, vi uma manchete em algum portal brasileiro dizendo que, em 2010, as ações da Petrobras caíram mais do que as da BP (British Petroleum), que teve que enfrentar neste ano o maior vazamento de óleo da história da indústria, a um custo estimado (por enquanto) de US$ 32 bilhões. Enquanto a queda da BP foi violenta (chegou a levantar dúvidas sobre a sobrevivência da companhia) e seguida de uma recuperação, a Petrobras vem sangrando desde o início do processo de capitalização, com os investidores aos poucos abandonando a companhia, sem sinal de interrupção. Hoje, de fato, um dólar investido nas duas empresas no começo do ano valeria mais ou menos os mesmos 70 centavos -- 30% de queda, enquanto o preço do petróleo subiu 1,4%, a Exxon caiu 2,8% e a Chevron subiu 9,8%. Outra observação interessante é que o preço atual das ações da Petrobras, em reais, é menor do que no fatídico 9 de março de 2009, quando o S&P500 tocou o demoníaco e proverbial nível de 666 pontos (hoje opera a 1180).

Mais curioso ainda é observar que toda a história do pré-sal, que inicialmente foi vista como uma bonança irrestrita (tanto para o país quanto para o acionista), vem se mostrando uma fonte imensa de preocupações e incertezas e uma grande história de destruição do valor de uma companhia. Se, quando foi anunciada a descoberta (em 2007), o mundo parecia caminhar para uma prosperidade infinita, alimentada por óleo combustível, cuja oferta, todos sabemos, é limitada e cujo preço, portanto, só poderia subir, hoje o petróleo opera 45% abaixo de sua máxima histórica, aparentemente sem força para entrar em uma nova tendência secular de alta. O fator principal, porém, é a desconfiança sobre a capacidade da Petrobras de investir de forma minimamente racional e eficiente a montanha de dinheiro que levantou na maior oferta de ações da história (curioso como os investimentos que envolvem algo "maior do mundo" costumam ser uma fria para quem coloca dinheiro neles).

A escolha da Petrobras parece ter sido extrair o óleo do pré-sal a qualquer custo, gastando o dinheiro levantado na oferta (e, possivelmente, ainda mais, no futuro), desenvolver o que puder da tecnologia do Brasil, enriquecer um monte de gente pelo caminho e, se tudo der muito certo e sobrar alguma coisa, dar lucro e distribuir para o acionista. Guardadas as proporções e as diferenças entre os mercados, a Petrobras parece ter se tornado uma versão da Eletrobras, cujas ações andam de lado há anos. O eventual retorno da exploração do petroleo parece estar muito distante para gerar alguma pressa no mercado, e isso parece estar começando a se refletir nos preços. Por enquanto a Petrobras ainda é bastante negociada e tem um peso relevante no índice Bovespa, o que gera uma demanda relativamente grande dos investidores passivos (que buscam simplesmente replicar a carteira do índice); caso o desinteresse persista, esse fluxo também deve diminuir, outro fator negativo para as ações.

Caso não tenha ficado claro: o mercado parece estar abandonando a Petrobras. Talvez era exatamente isso que o governo planejava: o petróleo é "nosso", e o investidor, se quiser uma participação, vai ter que aceitar entrar em um jogo onde há diversos interesses a serem atendidos antes do lucro. Pior para quem acreditou no oba-oba de "nunca antes na história deste país", e mais uma amostra de que, muitas vezes, quem está do outro lado do lucro do mercado são os governos.

Som da Sexta - Richard & Linda Thompson

Depois de uma semana difícil, nada melhor que procurar por uma bagunça na sexta à noite. E é difícil não amolecer o coração depois dessa introduçãozinha preguiçosa de guitarra.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

O futuro da pesquisa econômica

O Institute for New Economic Thinking, apadrinhado pelo George Soros, divulgou hoje os primeiros projetos de pesquisa que vão receber financiamento da instituição. Parece que muita coisa interessante vai sair de lá.

Alguns links para um dia cheio

O dia está atrapalhado, mais ainda trabalhando com a pupila dilatada (fui torturado pelo meu oftalmologista de manhã). Aí vão algumas coisas interessantes lidas recentemente:

- Baruch, do sempre pertinente Ultimi Barbarorum, está confuso. Tim Geithner deve estar mais ainda, a ponto de ligar para o Mantega para discutir sobre câmbio.

- A The Economist publicou o obituário de Benoît Mandelbrot.

- Para os que compartilham o fraco deste escriba por mapas, Chris Blattman mostra os seus mapas favoritos da África.

- A mídia cultural americana só fala do novo romance de Jonathan Franzen (terminei de ler hoje, falo sobre ele em breve). A The Atlantic tem um bom resumo da controvérsia, incluindo uma história em quadrinhos.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Por que o México não é rico?

Porque, no fim das contas, esse negócio de desenvolvimento não é nada fácil -- sobretudo para um país de mais de 100 milhões de habitantes (viu, Brasil?).

Respostas mais objetivas e estudadas estão nesse paper (via Free exchange).

Dose de pessimismo do dia

Como se fosse preciso... De qualquer forma, é o primeiro livro que ouço falar que tem um trailer. Pelo título, já dá para imaginar o tom.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Crônica de um câmbio sobrevalorizado - edição proteína animal

Da Folha:

Segundo a matéria, o preço do quilo de bacalhau Porto extra limpo custa R$ 37, enquanto a picanha é vendida por R$ 44 / quilo. Até onde se sabe, os chineses ainda não são produtores de bacalhau.

Odeio dizer "eu já sabia", mas...

Parabéns à equipe que pensou no novo aumento de IOF para "combater a apreciação do real". Os efeitos no dia foram:

1) Os juros longos (isto é, o custo de refinanciamento da dívida pública) subiram 0,3% (parece pouco, mas é bastante relevante para um mercado que opera em incrementos de centésimo de ponto percentual), descolando da tendência de queda de países com juros semelhantes um pouco menos aberrantes (no gráfico, as linhas branca, vermelha, amarela e verde são, respectivamente, Brasil, México, África do Sul e Turquia):

2) O real foi a moeda que perdeu menos contra o dólar no dia (perdeu 0,7% - dólar canadense perdeu 1,5%, dólar australiano 2,1%, dólar neozelandês 1,3%, rand 1,5%...), descolando do índice DXY (esse é o mesmo gráfico de duas postagens atrás, atualizado):


Em Português claro: novamente o dedo da Fazenda foi ignorado no mercado de câmbio e, efeito colateral (não consigo acreditar que ninguém no Tesouro tenha alertado para essa possibilidade), fez com que o custo da dívida subisse. Até quando vamos continuar fazendo a mesma coisa, esperando resultados diferentes?

P.S. Vou poupar o leitor dos detalhes do estrago no balanço dos bancos que oferecem aos clientes estrangeiros produtos que replicam a taxa de juros local -- mais um efeito colateral.

P.P.S. Pior ainda é torcer para que o real, por qualquer motivo, se desvalorize e sejamos poupados de mais medidas insensatas.

Posted via email from drunkeynesian's posterous

Gráfico do dia - preço do iPad

Alguém sabe quanto vai custar no Brasil? Alguém já me falou em R$ 2,400 (US$ 1,400 pelo câmbio de hoje -- o dobro do preço do mais caro da amostra da The Economist, Brasil-sil-sil), mas não achei nenhuma confirmação.


Para que o leitor não se engane...

Este é o gráfico, nos últimos 5 dias, da cotação do dólar / real e do DXY, que é um índice que representa uma cesta de moedas (euro e iene com pesos maiores) contra o dólar. Estão andando juntos (o real é descontínuo porque não é conversível, só opera nos horários do mercado no Brasil) -- o que sugere que toda a discussão sobre a eficácia do aumento do IOF pode ser só ruído (ao contrário do que vai dizer a Fazenda). De novo, o real e o Brasil não estão isolados do mundo.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Mais IOF e Frase do Dia - Einstein

Do UOL:

Governo aumenta mais uma vez imposto para combater queda do dólar

O que eu tinha para dizer sobre o assunto está aqui. No mais:
"The definition of insanity is doing the same thing over and over again and expecting different results."
A frase é do Albert Einstein. Se o governo persistir na insanidade, vai fazer com que o financiamento externo do país desapareça, e aí nem os exportadores que reclamam do câmbio valorizado vão conseguir achar graça.

Os árabes estão chegando, os árabes

Hoje ficamos sabendo que o fundo soberano do Qatar comprou 5% do Santander Brasil. Deve ser o primeiro de uma onda de fundos soberanos do Oriente Médio comprando pedaços de bancos por aqui. Espero que tenham melhor sorte do que quando fizeram o mesmo com os bancos americanos (como lá, não estão pagando barato)...

Tempo, tempo, tempo, tempo... entro num acordo contigo

Enquanto o governo brasileiro se prepara para "go nuclear" nas intervenções no câmbio (o papo hoje de manhã é que seu Mantega teria ido à BM&F e que as margens de garantia para operações com derivativos poderiam ser dobradas ou triplicadas), a queda global do dólar parece estar encontrando um fundo, e eu não ficaria surpreso se o próximo movimento fosse uma valorização acentuada da moeda americana (e aí podemos nos preparar para ouvir o tradicional autoelogio, "nossas medidas se provaram eficazes", etc). Se eu estiver correto, a melhor intervenção teria sido esperar a definição do mercado, sem afobações -- e pensar em como atacar o real motivo por trás da impressão que estamos sendo sempre alvos de especuladores em busca de taxas altas de juros - as taxas altas de juros (dããã).

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Benoît Mandelbrot, 1924-2010

Nassim Taleb me fez saber há pouco, pelo Facebook, da morte do seu amigo e grande matemático Benoît Mandelbrot.

Mandelbrot foi generoso o bastante para dedicar parte do seu tempo a iluminar as trevas do estudo de finanças. O livro que resume suas conclusões sobre o assunto, The (Mis)Behavior of Markets: A Fractal View of Risk, Ruin, and Reward (na versão em Português, Mercados Financeiros Fora de Controle) é uma aula de honestidade intelectual, humildade e abordagem científica, e deveria ser leitura obrigatória para qualquer um que queira começar a entender sobre mercados financeiros. Não tenho a menor base para analisar o restante de sua obra e do seu impacto, mas sei que o legado é enorme, em diversos campos do conhecimento (de mecânica dos fluidos à computação gráfica -- a Pixar deve muito à descoberta dos fractais). Bom descanso, grande mestre.

"It is beyond belief that we know so little about how people get rich or poor, about how it is they come to dwell in comfort and health or die in penury and disease. Financial markets are the machines in which much of human welfare is decided; yet we know more about how our car engines work than about how our global financial system functions. We lurch from crisis to crisis. In a networked world, mayhem in one market spreads instantaneously to all others—and we have only the vaguest of notions how this happens, or how to regulate it. So limited is our knowledge that we resort, not to science, but to shamans. We place control of the world's largest economy in the hands of a few elderly men, the central bankers."

Som da Sexta - Cat Stevens

É o que eu tenho ouvido pelo menos uma vez por dia há um tempo.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Tinha esquecido de recomendar...

... a leitura do perfil que a piauí fez do presidente do BNDES, Luciano Coutinho (no site está disponível só para assinantes, vale comprar a revista). Coutinho parece ser daquelas pessoas que se leva tão a sério que acha um desperdício gastar tempo explicando suas posições para jornalistas, e por isso, pela matéria, sabe-se pouco do que ele realmente pensa ou acredita. Em compensação, o texto é um bom resumo das lambanças que o BNDES tem promovido e da crítica que se tem feito à atuação do banco (cita bastante o trabalho do Mansueto Almeida).

P.S. Acabei de ver que o Mansueto colocou um link com a íntegra da matéria aqui.

Analistas x moeda

Mais um exemplo de livro sobre a inutilidade de se fazer previsões no mercado financeiro:


38%. O número 1. O número 2 acertou 27%. Mercados difíceis, sim. Mas para mercados fáceis os clientes das corretoras não precisam de analistas para saber o que fazer, não é mesmo?

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Algumas observações desses últimos dias

- Um dos meus escritores favoritos levou o Nobel. E o Chipre tem um ganhador do Nobel antes do Brasil. E o Taleb continua sua cruzada contra o prêmio para economistas.

- Bad news = good news. Os mercados entraram de vez no modo alucinógeno na sexta-feira, depois dos dados do mercado de trabalho americano. O cinismo é absoluto: só vale comprar (qualquer coisa) porque o dinheiro vai ser barato e abundante.

- A campanha do segundo turno por aqui parece ser um concurso de quem se aproxima mais dos ideais da TFP. Progressismo não tem muitos fãs no Brasil, mesmo.

- O National Air and Space Museum me fez rejuvenescer uns 20 anos. Toda criança que cresceu desmontando coisas e apontando para avião no ar deveria fazer uma peregrinação para lá.

- Varicella zoster. Esse é o vírus que eu devo carregar no corpo há décadas e resolveu se manifestar esta semana. Estou no estaleiro por um tempo, então as atualizações aqui devem ser menos frequentes.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Ausência (por um bom motivo)

Este escriba estará nós próximos dias na terra de Duke Ellington (também conhecida como Washington, DC), tentando se inflitrar no mundo mágico das finanças internacionais. Até lá, as atualizações devem ser limitadas (para não dizer inexistentes). Caso a imigração não estranhe os carimbos do Líbano e da Síria no meu passaporte e me mande para uma temporada em Guantánamo, volto no próximo dia 13. Até lá!

Apostas para o Nobel de Economia

Richard Thaler e Robert Shiller são os favoritos, segundo o ipredict. Mas vou torcer para o Eugene Fama, só para ver a reação do Taleb.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Sinal de loucura do dia - México

O governo do México está emitindo um título com vencimento em 100 anos. E tem gente disposta a comprar. Como está na moda deixar a conta para as próximas gerações, ganha um almoço dos meus futuros netos quem acertar quantas vezes essa dívida vai ser renegociada até 2110.

10 sugestões para desvalorizar o real

Como esperado, o aumento de IOF não desvalorizou o câmbio (opera enquanto escrevo abaixo do fechamento de ontem) e fez com que os juros longos subissem (ainda que menos do que muitos observadores esperavam). Já que o governo parece estar sem criatividade para novas medidas, aí vão algumas sugestões com bom potencial para levar o real de volta a um nível mais, digamos, competitivo:

1. Terceirizar a gestão da política monetária para o Banco Central da República Argentina. Ajuda se também terceirizar o cálculo da inflação para o Indec. Na impossibilidade, colocar o Meirelles para anunciar que é um admirador do modo Bernanke e Banco do Japão de controle da oferta de moeda.

2. Implementar o "Bolsa Disney", garantindo uma renda mínima em dólares para que todo brasileiro possa conhecer o Mickey e o Pateta.

3. Permitir que o BNDES conceda crédito em moeda estrangeira, para que a JBS e a Marfrig comprem todos os frigoríficos do mundo, de Labrador a Vladivostok.

4. Anunciar uma política mais agressiva para a gestão das reservas internacionais: trocar metade dos títulos da dívida dos EUA por papéis que oferecem taxas de retorno maiores, como os da Grécia, Irlanda, Portugal e Paquistão.

5. Transferir a gestão do fundo soberano para a GWI (ajuda se acompanhada de um decreto permitindo que o fundo use alavancagem).

6. Conceder a gestão e exploração das reservas do pré-sal para a PDVSA.

7. Anunciar Tiririca como o próximo Ministro da Fazenda e Paulo Maluf para o BNDES.

8. Trocar a arara da nota de dez reais por uma efígie do Zé Dirceu. Criar a nota de 1000 reais com a cara do Lula (será conhecida como "Lulão").

9. Lastrear o real ao minério de ferro.

10. Anunciar o "Minha Casa, Minha Vida" para a alta renda, financiando com juros subsidiados a aquisição de residências de valor acima de US$ 5 milhões em Dubai, Riviera Francesa, Ilha de Capri e Newport Beach.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Mais uma bola fora do governo - IOF para estrangeiros

Seu Mantega avisou hoje que o IOF cobrado de estrangeiros em operações de renda fixa dobrará (passando de 2% para 4%). Isso, segundo ele, fará com que as operações de carry trade sejam menos vantajosas ("Ao invés de ganhar 10,75% [valor da taxa Selic], ele ganha 6,75% (que é menos 4% do IOF). Isso desestimula").

Algumas considerações sobre o assunto:

1) A conta do ministro está errada. Primeiro, o estrangeiro já pagava 2% de IOF. Segundo, o IOF é cobrado do montante da operação, enquanto os juros são cotados em taxas anuais. O aplicador recebe 10.75% (ou qualquer outra taxa da curva de juros) ao ano, e o efeito do IOF é diluído no período em que o dinheiro é mantido aqui.

2) Boa parte das operações de carry trade é de curto prazo, e feita por meio de derivativos (contratos de câmbio futuro e afins), cujos ganhos não são tributados e muitas vezes nem são negociados no mercado local (NDFs). Essas operações vão continuar enquanto o diferencial de juros for atrativo e a volatilidade do mercado continuar baixa o bastante para não assustar o especulador. O governo poderia adicionar volatilidade e equilibrar esse fluxo atuando no mercado futuro (como fez no passado com os swaps cambiais), mas essa opção, aparentemente, não será usada (ainda se fala sobre os questionamentos do TCU sobre os custos desse tipo de operação que, diga-se de passagem, não são muito maiores dos que o de acumular reservas em moeda estrangeira).

3) Do jeito que foi feita, a medida pune o aplicador estrangeiro que tem comprado dívida pública. O fluxo de estrangeiros para renda fixa, num mercado local que ainda é dominado por operações de curto prazo e pela indexação ao CDI / Selic, é um dos fatores que tem ajudado a baixar o custo da dívida de longo prazo do governo (e, por consequência, das empresas), onde muitos dos chamados real money (fundos de pensão, fundos soberanos, etc) concentram seus investimentos. Pode acontecer, portanto, uma piora na qualidade do fluxo de dólares para o país: os ganhos com derivativos e operações de curto prazo seguirão atraindo o hot money, enquanto o dinheiro que estaria disposto a ficar por mais tempo financiando o déficit público é desincentivado. Numa situação em que o país depende da conta financeira para fechar a conta corrente, isso pode ser um fator de desestabilização (e aí, por vias tortas, talvez faça o governo cumprir com o objetivo de desvalorizar o câmbio).

A atitude da Fazenda tem duas possíveis explicações: a equipe desconhece o funcionamento e o mecanismo de formação de preços no mercado de câmbio, ou pensou nisso tudo que escrevi e resolveu tomar a medida assim mesmo, talvez apenas para mostrar que não está assistindo de braços cruzados a valorização da moeda. Novamente fica aquela sensação de que quem está lá não está muito preocupado em tomar as medidas da maneira mais correta, e é guiado ou por ignorância ou pelos holofotes e interesses de alguns setores. Quem sai perdendo, como de costume, é o contribuinte.

Novo figurante dos Simpsons

Quem é?

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Este blog vota em...

Eu já prometi evitar falar de política aqui, mas acho justo que o leitor saiba com quem está lidando (diga-me em quem votas e te direi quem és):

Presidente - Serra (PSDB)
Governador - Alckmin (PSDB) - tapando o nariz, mas vai...
Senadores - Ricardo Young (PV) e Aloysio Nunes (PSDB)
Deputado Federal - Alexandre Youssef (PV)
Deputado Estadual - Legenda PSDB

Momento Mãe Dináh: se a economia não estiver bem em 2014, dona Marina Silva vai pras cabeças. E viva nossa democracia.

E o IgNobel vai para... Catbert

Ontem foram concedidos os prêmios IgNobel de 2010. Na categoria "Administração", o vencedor foi um trabalho que demonstra que as organizações seriam mais eficientes caso fizessem as promoções de cargo de maneira aleatória. Tenho certeza que Alessandro Pluchino, Andrea Rapisarda e Cesare Garofalo são pseudônimos do maléfico diretor de RH da empresa do Dilbert.

Valor entrevista Delfim Netto

Quem é assinante lê aqui. Para quem não é, recomendo fortemente gastar os R$ 3,00 na edição de fim de semana do jornal para ler a entrevista da velha raposa. Alguns trechos:


Valor: As economias desenvolvidas continuam frágeis. Isso vai dificultar a vida de quem for eleito?

Delfim Netto: Não podemos pensar que 2011-2014 vai ser igual a 2003-2008. As condições externas serão inferiores às que tivemos e, para manter o crescimento, vamos precisar de um governo mais ágil, eficiente e amigável com o setor privado. Não teremos mais oito anos de crescimento contínuo de preços de matérias-primas e minerais, ainda que a China continue crescendo 6% a 7%. Há uma acomodação dos preços. O próximo governo não vai navegar em mar tranquilo, como navegou Lula. Vai ser um mar complicado, de vento de frente.

Valor: O que isso vai representar para a política econômica?

Delfim: O Brasil tem que se preparar para uma dependência menor do exterior do que teve nesses anos. Temos que sofisticar nossa indústria. É ilusão pensar que um país como o Brasil, com 240 milhões de habitantes em 30 anos, que vai ter que dar emprego de qualidade para 150 milhões de brasileiros, pode fazer isso com atividades agrícola e mineral, poupadoras de mão de obra. Temos que providenciar uma indústria ultrassofisticada e uma economia de serviços que absorva essa mão de obra. Eu fico desesperado quando alguém diz: olhe a Nova Zelândia, a Austrália, como funcionam com commodities.

Valor: Por quê?

Delfim: A Nova Zelândia é menor que São Bernardo. A Austrália é menor que São Paulo. Em 30 anos serão ainda menores. O Brasil precisa ser pensado de novo e cada vez 20 anos à frente.
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Valor: Voltando à economia, o sr. disse que foram os bons ventos externos que beneficiaram Lula...

Delfim: Veja, até hoje somos apenas 1,3% das exportações mundiais. Exatamente o que éramos nos anos 1980. Entre 1980 e 1984 a China exportava igual ao Brasil. Hoje a China tem 10% do mercado mundial. Nós continuamos com 1,3%. Nunca fizemos esforço exportador. O que teve foi esse bônus vindo de fora para dentro. É simples de ver: nos oito anos do FHC as exportações cresceram em média 4%. No período do Lula cresceram 23%. Mas não por estímulos ao setor empresarial, por uma nova política cambial ou nova política de exportação.

Valor: Foi por quê?

Delfim: Por causa dos investimentos que tinham sido feitos na agricultura e na mineração. O mundo expandiu e veio aqui buscar produto agrícola e mineral. E de devedores, viramos credores do FMI, certo?

Valor: E isso diminuiu bastante a vulnerabilidade externa, não?

Delfim: Fizemos o papel direitinho. Acumulamos reservas cambiais, corretamente. Mas não vamos dizer que isso foi produto pensado de uma política econômica. Isso foi produto de um acidente.
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Valor: E qual o papel adequado ao BNDES?

Delfim: O BNDES é fundamental e seu papel seria financiar os investimentos em infraestrutura com taxa de retorno social maior do que a privada. Tem subsídios? Tem, sim senhor. E está aqui no orçamento da União. Pronto. Pode-se questionar, porém, a qualidade dos investimentos feitos.

Valor: Por exemplo?

Delfim: A cartelização do setor pecuário vai dar muita dor de cabeça. A ideia de que dois ou três grandes grupos frigoríficos podem comprimir 4 mil pecuaristas vai terminar muito mal. Temos experiência disso. Esse é um sistema que tem dentro de si um ciclo. Quando você aperta o pecuarista, a impressão é que não há reação nenhuma. Você acorda três anos depois e vê que não há mais boi para abater. Eles comeram as vaquinhas.

Som da Sexta - Di Melo

O disco de 1975 é uma das grandes preciosidades meio escondidas na história da música brasileira. Os arranjos são do Hermeto Pascoal, que hoje e amanhã se apresenta no SESC Pompéia.