Partindo do básico: a Petrobras está indo a mercado levantar dinheiro para investir na exploração do pré-sal. Vai ser, provavelmente, a maior oferta de ações da história (nunca antes na história da humanidade...), podendo chegar a R$ 150 bilhões (mais ou menos o PIB da Bulgária). Só pelo tamanho a operação não seria trivial; para complicar, uma parte grande desse dinheiro virá do Tesouro Nacional, envolvendo uma troca de ações por barris de petróleo no futuro. Para encurtar uma longa história, nada melhor do que olhar para o mercado, que reflete tudo o que já foi digerido sobre o assunto e mais algumas especulações sobre o futuro: as ações da Petrobras caíram 17% desde o início do ano (com o Ibovespa caindo apenas 1,3%, menos ainda se desconsiderarmos o impacto da Petrobras).
Essa queda de 17% pode ser lida de diversas maneiras. Na minha opinião, reflete, sobretudo, o aumento de participação do governo no capital da empresa e o risco de que a Petrobras tenha que aceitar vender as ações a um preço mais baixo por conta de uma demanda mais fraca do que esperada inicialmente. De qualquer maneira, a situação é a seguinte: está todo o mercado esperando o resultado da capitalização (dããã). Há uma certa convicção de que a Petrobras vai fazer a operação mesmo a um preço mais baixo do que o de mercado, e a probabilidade disso acontecer oscila junto com o apetite do mercado por ações mundo afora. No curto prazo, portanto, o investimento na Petrobras parece ser uma aposta mais alavancada no humor do mundo: se tudo estiver bem perto da precificação, as ações devem subir; se não, devem continuar caindo até um nível que atraia os compradores para a oferta (ou que obrigue o governo a aumentar ainda mais sua fatia, o que é igualmente ruim para os preços). Assim, para os próximos meses, acho que o componente especulativo do investimento é muito grande, e não vejo nenhuma assimetria óbvia. Se o mercado estiver bem, pode subir muito; se estiver mal, pode machucar o comprador. Quem quiser arriscar, que faça sabendo desses riscos.
Mais para a frente, o sucesso da Petrobras depende de (pelo menos) dois fatores: o preço do petróleo no mercado internacional e o sucesso na operação do pré-sal. O preço médio do barril de petróleo nos últimos dez anos, é bom lembrar, foi de US$ 54,6, oscilando entre US$ 18 e US$ 145. Todo mundo sabe que as fontes de petróleo no mundo estão se esgotando, que a demanda da China cresce todo ano, etc, etc; ainda assim, há tempos o preço do óleo não sobe de forma sustentada (meu palpite leviano é que o máximo histórico do preço do petróleo ajustado pela inflação já ficou para trás, mas não colocaria um centavo nele). Ninguém sabe a quanto a Petrobras conseguirá vender o óleo quando os poços do pré-sal começarem a produzir, e isso fará toda a diferença para a empresa. A outra questão é SE a Petrobras vai ter sucesso em uma operação inédita, complexa e de alto risco, mas essa deixo para os especialistas.
Um grande amigo que trabalha na Petrobras parafraseou, esses dias, a famosa frase do John Rockefeller: "O melhor negócio do mundo é uma empresa de petróleo bem administrada. O segundo melhor negócio é uma empresa de petróleo mal administrada. A Petrobras é o terceiro melhor negócio do mundo". Rockefeller morreu em 1937; o sucesso da Petrobras nos próximos anos depende de que o mundo não tenha mudado muito desde então.
2 comentários:
Não sabia que era dele... só conhecia uma versão falando de empresa aérea de como deixar de ser milionário...
O da empresa aérea é do Richard Branson
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