É compreensível que, numa eleição onde o governo tem 80% de aprovação, seja difícil propor qualquer mudança ao modelo em curso. Mas chegamos no ponto em que até as aberrações devem ser mantidas, em nome de uma suposta manutenção da prosperidade: aparentemente ninguém vê problemas em seguir pagando juros de dois dígitos quando até a Turquia (inflação média de 8,7% ao ano nos últimos cinco anos) consegue se financiar em moeda local a menos de 9%. Onde está o progressismo? O Brasil alcançou um relativo sucesso com uma dose de sorte e algumas políticas acertadas; precisamos começar a pensar no próximo passo (é desnecessário listar quanta coisa ainda precisa ser arrumada por aqui), ou pelo menos no que faremos quando a tal sorte virar. Curiosamente, ao mesmo tempo em que o Brasil é um caso de sucesso, o mundo está numa fase tão maluca que pouca coisa seria vista como extravagância; não consigo pensar em momento melhor para experimentar pelo menos conviver com uma taxa de juros compatível com este planeta.
terça-feira, 28 de setembro de 2010
Uma nota sobre progressismo
O Mansueto Almeida soltou uma provocação muito interessante na semana passada, ao comentar sobre uma matéria que o Valor fez com Maria da Conceição Tavares. Vou estendê-la para as possíveis políticas econômicas dos três principais candidatos à presidência. Nenhum deles ousa propor qualquer mudança na santíssima trindade (o tal "tripé de estabilidade" dos últimos anos) metas de inflação, câmbio flutuante e responsabilidade fiscal. Não vejo nada errado nas ferramentas per se, mas do jeito que elas são defendidas parece que o Brasil encontrou o santo graal da estabilidade e do crescimento. O curioso é analisá-las olhando para o resto do mundo. Metas de inflação estão virando rapidamente uma curiosidade histórica: os países desenvolvidos provavelmente vão encontrar dificuldades para estabilizar os preços nominais nos próximos anos, e pelo jeito só vai haver inflação nos países onde alimentos têm um peso grande nos índices de preço -- inflação cíclica e com grande influência do acaso, pouco influenciada por política monetária. Câmbio flutuante também está ficando fora de moda, com o mundo todo aderindo à flutuação "suja" (com forte interferência dos bancos centrais) e o caso de crescimento mais festejado desta geração (China) acontecendo com uma taxa fixa (e notoriamente depreciada) de câmbio. A responsabilidade fiscal é menos "atacável", mas nem o governo brasileiro tem levado tão a sério (disfarçando parte da gastança via empréstimos do BNDES), nem o mundo anda punindo quem soltou um pouco a mão nos últimos anos.
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