Para coroar uma semana de grande dedicação ao nobre hábito da procrastinação.
"Procrastination is the soul rebelling against entrapment." - Nassim Taleb
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
Gráfico do dia - custo de crises bancárias
A Autoridade Bancária Européia (EBA) divulgou hoje um teste de stress cujo resultado indica que os bancos europeus precisarão levantar adicionais € 115 bilhões em novo capital. Isso corresponde a pouco menos de 1% do PIB da União Européia (eu tinha escrito 10%, erro grosseiro - obrigado ao anônimo que corrigiu nos comentários), de € 12,3 trilhões. Esse tipo de estimativa parece estar se aproximando mais da realidade, mas acredito que os números ainda sejam otimistas demais: para pegar um caso que me parece mais dramático, os três maiores bancos franceses carregam € 4,7 trilhões em ativos, e pela EBA precisariam de apenas mais € 7,3 bilhões (abertura dos resultados aqui).
Em 2005, o Fed de St Louis publicou o seguinte gráfico, num trabalho sobre crises bancárias:
A tabela abaixo é de um trabalho de 2010, do FMI:
Lembrando que, mesmo antes de resolver o problema dos bancos, os tesouros nacionais partem de níveis de dívida bem pouco confortáveis, para ser generoso com o adjetivo.Cada vez mais parece clara a escolha entre ligar a impressora oucalotar renegociar a dívida. Chamar a situação atual de "crise de confiança" é um insulto à inteligência dos pagadores de impostos europeus.
Em 2005, o Fed de St Louis publicou o seguinte gráfico, num trabalho sobre crises bancárias:
E adicionou (grifo meu):
The fiscal costs of restructuring may seem extremely large at first, but they often pale in comparison to the long-term effects of systemic banking crises. The resources committed to resolving a crisis are diverted from other productive uses, economic reforms are delayed, and stabilization programs are abandoned. The economy suffers from higher interest rates, lower growth, and higher unemployment for a protracted period. Because nearly every citizen is affected by the declining living standards brought on by large banking crises, the public should understand the factors that weaken a banking system and make it susceptible to systemic crises.
A tabela abaixo é de um trabalho de 2010, do FMI:
Lembrando que, mesmo antes de resolver o problema dos bancos, os tesouros nacionais partem de níveis de dívida bem pouco confortáveis, para ser generoso com o adjetivo.Cada vez mais parece clara a escolha entre ligar a impressora ou
A transição de McCloskey
Imaginem a cena (via Marginal Revolution):
Mais aqui.
Back in the mid 1990s, I attended Deirdre McCloskey's first talk at the AEA meetings after her coming out publicly as a transgender person. She had not yet had her subsequent medical procedures, let alone written her telling memoir Crossings. McCloskey stood before a packed room of 500, dressed in a stylish dress and wig, and proudly announced "I am an economist in transition." [pause] "I am transitioning from a Chicago economist to an Austrian economist." Whatever awkwardness or tension that existed in the room was dispelled with that quip, and McCloskey proceeded to give a wonderful talk on the importance of rhetoric within the economy, pursuing a theme she had developed with Arjo Klamer in "One Quarter of GDP is Persuasion".
Mais aqui.
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quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
Agências de classificação de risco ainda importam?
A resposta curta é: não.
- Barry Ritholtz responde, olhando para quando os Estados Unidos perderam a classificação AAA;
- Essa tabela, da última carta para o investidor de J. Kyle Bass, fala por si só:
Para quem a tabela não falou nada: a segunda coluna é a nota dada aos países pela Moody's (uma das três grandes agências de classificação de risco, junto com a S&P e a Fitch - entre as agências, as notas variam muito pouco). A terceira coluna mostra a nota equivalente ao que o mercado precifica como risco de calote (pelos credit default swaps). A última mostra a diferença entre as duas anteriores, em níveis da escala usada pelas agências. O mercado, por exemplo, precifica o risco de calote da Itália equivalente ao de um país com o rating sete degraus pior (Armênia ou El Salvador).
- Barry Ritholtz responde, olhando para quando os Estados Unidos perderam a classificação AAA;
- Essa tabela, da última carta para o investidor de J. Kyle Bass, fala por si só:
Para quem a tabela não falou nada: a segunda coluna é a nota dada aos países pela Moody's (uma das três grandes agências de classificação de risco, junto com a S&P e a Fitch - entre as agências, as notas variam muito pouco). A terceira coluna mostra a nota equivalente ao que o mercado precifica como risco de calote (pelos credit default swaps). A última mostra a diferença entre as duas anteriores, em níveis da escala usada pelas agências. O mercado, por exemplo, precifica o risco de calote da Itália equivalente ao de um país com o rating sete degraus pior (Armênia ou El Salvador).
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Leituras da Semana
A procrastinação anda em níveis críticos, por isso tenho lido muito...
- A PIMCO, maior gestora de fundos de renda fixa do mundo (US$ 1,3 tri de ativos), está abrindo um escritório no Rio de Janeiro (claro que, podendo escolher, alguém criado em Newport Beach não viria para São Paulo).
- O mundo em 2012, por Jim Rogers.
- Richard Koo sobre a Europa.
- Nunca é demais relembrar a contribuição de Benoît Mandelbrot para as finanças...
- ... nem a de Amartya Sen para o desenvolvimento econômico. A Índia batizouum deserto uma sobremesa (obrigado ao anônimo que corrigiu) com o nome dele.
- Como emular o "sucesso" da China: começa com uma insurreição comunista e anos de guerra civil.
- Um raio-x das exportações brasileiras. Impressionante ver que o valor das exportações para a China aumentou quase 40 vezes desde 2000. Quando a China espirrar, o Brasil pegará uma bela pneumonia.
- Lembre-se disso quando reclamar do trânsito: o governo brasileiro é o maior financiador das montadoras estrangeiras que produzem aqui.
- Bom comentário sobre a compra de um pedaço da Companhia das Letras pela Penguin e os rumos do mercado editorial no Brasil.
- Indícios de corrida bancária na Grécia.
- Greg Mankiw está assessorando um candidato republicano, mas não vê o estudo de economia carregado de ideologia.
- Uma cutucada nos austríacos: a (falta de) importância de Hayek para a macroeconomia.
- Efeitos colaterais do liberalismo: uma família do Tennessee não pagou a taxa anual dos bombeiros e assistiu ao próprio trailer ser queimado, sem ter o que fazer.
- A Bloomberg lançou um blog de história econômica (incrivelmente não tem RSS, mas devem arrumar isso logo).
- Um dos "Dois Liberais" sobre blogs de economia.
- John Kay sobre limites do conhecimento.
- Do que se falou em 2011 no Twitter e no Facebook.
- 45 imagens de 2011.
- Porque daguerreótipos do século XIX podem ser mais detalhados do que fotos digitais de última geração.
- Para os quem tem crianças, sugestões de presentes de Natal: os cinco melhores brinquedos de todos os tempos.
- A PIMCO, maior gestora de fundos de renda fixa do mundo (US$ 1,3 tri de ativos), está abrindo um escritório no Rio de Janeiro (claro que, podendo escolher, alguém criado em Newport Beach não viria para São Paulo).
- O mundo em 2012, por Jim Rogers.
- Richard Koo sobre a Europa.
- Nunca é demais relembrar a contribuição de Benoît Mandelbrot para as finanças...
- ... nem a de Amartya Sen para o desenvolvimento econômico. A Índia batizou
- Como emular o "sucesso" da China: começa com uma insurreição comunista e anos de guerra civil.
- Um raio-x das exportações brasileiras. Impressionante ver que o valor das exportações para a China aumentou quase 40 vezes desde 2000. Quando a China espirrar, o Brasil pegará uma bela pneumonia.
- Lembre-se disso quando reclamar do trânsito: o governo brasileiro é o maior financiador das montadoras estrangeiras que produzem aqui.
- Bom comentário sobre a compra de um pedaço da Companhia das Letras pela Penguin e os rumos do mercado editorial no Brasil.
- Indícios de corrida bancária na Grécia.
- Greg Mankiw está assessorando um candidato republicano, mas não vê o estudo de economia carregado de ideologia.
- Uma cutucada nos austríacos: a (falta de) importância de Hayek para a macroeconomia.
- Efeitos colaterais do liberalismo: uma família do Tennessee não pagou a taxa anual dos bombeiros e assistiu ao próprio trailer ser queimado, sem ter o que fazer.
- A Bloomberg lançou um blog de história econômica (incrivelmente não tem RSS, mas devem arrumar isso logo).
- Um dos "Dois Liberais" sobre blogs de economia.
- John Kay sobre limites do conhecimento.
- Do que se falou em 2011 no Twitter e no Facebook.
- 45 imagens de 2011.
- Porque daguerreótipos do século XIX podem ser mais detalhados do que fotos digitais de última geração.
- Para os quem tem crianças, sugestões de presentes de Natal: os cinco melhores brinquedos de todos os tempos.
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terça-feira, 6 de dezembro de 2011
Um possível roteiro para a "nova" União Européia
Dona Merkel e Seu Sarkozy dizem já ter concordado em uma proposta pra uma "nova" União Européia, que teria punições automáticas para os países que desobedecerem uma meta de 3% de déficit fiscal sobre o PIB. Chegaram a sugerir até que isso deveria ser escrito nas respectivas Constituições. Se for esse mesmo o caminho, segue um possível roteiro para os próximos anos:
1. O aperto fiscal aprofunda a recessão que deve começar em meados do ano que vem. A arrecadação de impostos cai e, surpresa, os indicadores fiscais não melhoram;
2. Enquanto a recessão se aprofunda, o desemprego aumenta e, junto com ele, a insatisfação da população;
3. Novamente o mercado reconhece a dívida como insustentável, e a bola volta para a União Européia;
a) A União Européia decide, de algum jeito, que as dívidas dos países passam a ser, total ou parcialmente, continentais (o que já deveriam ter feito este ano);
b) Algum país resolve, por iniciativa própria, se livrar das "algemas de ouro" do euro e voltar a usar uma moeda própria. A iniciativa é seguida, até que a união monetária afunde de vez ou vire o "super euro" hipoteticamente sonhado pela Alemanha.
No fundo, parece mesmo que a Alemanha só aceita salvar a União Européia nos seus termos, o que envolve um grande sacrifício de países que já partem de uma situação muito ruim. Parece muito correto do ponto de vista moral (de um ponto de vista moral específico, na verdade), mas no futuro, creio, vai empurrar para soluções extremas e não-consensuais. Pior para a Europa.
Por fim, achei apropriado (talvez um pouco alarmista) reproduzir aqui um pedaço do discurso de State of Union que Franklin D. Roosevelt fez em 1944 (a Sylvia Nasar cita no Grand Pursuit, para quem tiver um pouco de tempo e paciência, vale ler o discurso inteiro, é uma extraordinária defesa do welfare state e da classe média):
1. O aperto fiscal aprofunda a recessão que deve começar em meados do ano que vem. A arrecadação de impostos cai e, surpresa, os indicadores fiscais não melhoram;
2. Enquanto a recessão se aprofunda, o desemprego aumenta e, junto com ele, a insatisfação da população;
3. Novamente o mercado reconhece a dívida como insustentável, e a bola volta para a União Européia;
a) A União Européia decide, de algum jeito, que as dívidas dos países passam a ser, total ou parcialmente, continentais (o que já deveriam ter feito este ano);
b) Algum país resolve, por iniciativa própria, se livrar das "algemas de ouro" do euro e voltar a usar uma moeda própria. A iniciativa é seguida, até que a união monetária afunde de vez ou vire o "super euro" hipoteticamente sonhado pela Alemanha.
No fundo, parece mesmo que a Alemanha só aceita salvar a União Européia nos seus termos, o que envolve um grande sacrifício de países que já partem de uma situação muito ruim. Parece muito correto do ponto de vista moral (de um ponto de vista moral específico, na verdade), mas no futuro, creio, vai empurrar para soluções extremas e não-consensuais. Pior para a Europa.
Por fim, achei apropriado (talvez um pouco alarmista) reproduzir aqui um pedaço do discurso de State of Union que Franklin D. Roosevelt fez em 1944 (a Sylvia Nasar cita no Grand Pursuit, para quem tiver um pouco de tempo e paciência, vale ler o discurso inteiro, é uma extraordinária defesa do welfare state e da classe média):
We have come to a clear realization of the fact that true individual freedom cannot exist without economic security and independence. "Necessitous men are not free men." People who are hungry and out of a job are the stuff of which dictatorships are made.É, não acordei otimista hoje...
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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
Gráfico do dia - em caso de acidente...
A Nomura estimou o valor das moedas nacionais da Europa caso o euro imploda (clique para aumentar):
Não parece bonito para os ativos da maioria dos países...
Não parece bonito para os ativos da maioria dos países...
domingo, 4 de dezembro de 2011
sábado, 3 de dezembro de 2011
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
Som da Sexta - Andrea Motis, Sant Andreu Jazz Band
A banda é nascida na escola municipal de música de um dos distritos de Barcelona. A vocalista tinha 15 anos quando gravou isso (ah, ela ainda toca saxofone e trompete). Entre os músicos, o mais velho tem 23 e o mais novo tem 8 (a média deve ser uns 15). O resultado é isso aqui:
Obrigado a Luiza por apresentar.
Obrigado a Luiza por apresentar.
quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
A besteira dos BRICs
Num dos primeiros posts deste blog, há longos quatro anos, eu demonstrava meu desespero ao ver uma jogada de marketing de um banco americano ser levada a sério pela diplomacia brasileira. Desde então, o desespero só aumentou: em 2009, em Yekaterimburgo, Rússia, foi realizado o primeiro fórum dos BRICs (que passou a ser anual, em 2012 ocorrerá na Índia) e, no final do ano passado, a África do Sul se juntou ao grupo unido pela cabeça do Jim O'Neill e um "S" foi adicionado ao acrônimo. Ainda estamos para ver algo prático e benéfico sair desses encontros, e assim deve continuar por algum tempo. Pode ter algum valor como ferramenta de soft power, mas não consigo deixar de achar, no fundo, uma distração do que realmente importa pro país.
Tudo isso pra comentar que esta semana apareceram mais alguns que compartilham da minha birra com o conceito, em diferentes frentes:
- Clóvis Rossi, da Folha (em quem eu tinha metido o pau aqui, dessa vez ele acertou a mão - ou simplesmente concordou comigo), pegou os ganchos de uma palavra chinesa (hoyou) citada pelo Elio Gaspari e uma entrevista do Jim O'Neill para contar a história e falar da irrelevância do grupo nas discussões internacionais;
- Albert Edwards, do Société Générale, fala do fracasso que foi investir em BRICs neste ano, e cita a apropriada (re)definição de um amigo: Bloody Ridiculous Investment Concept.
- Update: o Moska indicou esse texto do Financial Times de alguns dias atrás. Já estou me sentindo um visionário.
Tudo isso pra comentar que esta semana apareceram mais alguns que compartilham da minha birra com o conceito, em diferentes frentes:
- Clóvis Rossi, da Folha (em quem eu tinha metido o pau aqui, dessa vez ele acertou a mão - ou simplesmente concordou comigo), pegou os ganchos de uma palavra chinesa (hoyou) citada pelo Elio Gaspari e uma entrevista do Jim O'Neill para contar a história e falar da irrelevância do grupo nas discussões internacionais;
- Albert Edwards, do Société Générale, fala do fracasso que foi investir em BRICs neste ano, e cita a apropriada (re)definição de um amigo: Bloody Ridiculous Investment Concept.
- Update: o Moska indicou esse texto do Financial Times de alguns dias atrás. Já estou me sentindo um visionário.
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Gráfico do dia - Mulheres no congresso
Da reportagem especial da última The Economist; há um tempo, indiquei uma matéria que destacava a alta (para padrões internacionais) proporção de mulheres entre executivos de companhias no Brasil. Infelizmente isso ainda não se repetiu na política.
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